sábado, 14 de dezembro de 2013

A mania do Espiritolicismo em dizer que todos fomos cidadãos romanos


O "espiritismo" à brasileira tem muitas manias. Uma delas é a de atribuir aos brasileiros o passado remoto de ter sido cidadão romano, de preferência vivendo nos tempos de Jesus Cristo, mesmo que seja do lado dos "vilões" do Império Romano.

A imaginação fértil, aliada a um moralismo um tanto vingativo, fez com que Chico Xavier e Woyne Figner Sacchetin, usando, respectivamente, os nomes de Humberto de Campos e Santos Dumont, atribuir às respectivas tragédias do circo de Niterói, no final de 1961, e do acidente da TAM em São Paulo, em 2007, ao suposto vínculo das vítimas ao povo sanguinário do Império Romano.

Mas não somente as vítimas - quase sempre tratadas como "culpadas" pelo Espiritolicismo - são atribuídas, sem qualquer verificação séria e cautelosa, ao passado de cidadãos romanos. Mesmo os astros do Espiritolicismo seriam também, nesse reencarnacionismo delirante e distorcido, antigos cidadãos que teriam vivido no famigerado império internacional.

Bezerra de Menezes teria sido, supostamente, o cobrador de impostos Zaqueu, que em conhecido episódio bíblico teria sido avisado por Jesus que este iria visitá-lo, depois de avistar o cobrador, que tinha estatura baixa, entre os galhos de uma árvore, para avistá-lo diante do acolhimento das pessoas em sua volta.

Joana de Angelis, a suposta orientadora de Divaldo Franco, atribuiu como uma de suas encarnações uma tal de Joana de Cusa, que havia sido esposa de Cusa, procurador de Herodes Antipas, e havia se identificado com a figura de Jesus, vindo a ser pregadora de suas lições, conforme registram as fontes oficiais.

Emmanuel atribuiu para si a estranha figura de Públio Lentulus, um suposto senador romano, estranhamente subserviente ao governador da Judeia, Pôncio Pilatos, seu subordinado político, de uma personalidade branda demais para um enérgico político da época.

Ele chegou a atribuir seu "protegido" Chico Xavier como sendo sua filha Flávia (?! - o nome da filha deveria ser, conforme a casta romana a combinação dos nomes dos pais, e a esposa de Públio teria sido Lívia). Públio, já viúvo, e Flávia, estariam, conforme relatou Emmanuel, entre as vítimas da erupção do vulcão Vesúvio, na atual Itália, no ano de 79 da nossa era.

Quanto à encarnações passadas, o espiritismo verdadeiro, aquele trazido para nosso mundo pelos ensinamentos cautelosos do professor Allan Kardec, não recomenda a preocupação exagerada a respeito das mesmas. Além disso, não existem ainda meios totalmente seguros para garantir se fulano havia sido sicrano numa encarnação anterior.

A tese do esquecimento de vidas passadas é uma maneira, segundo Kardec, de permitir que as pessoas, não se lembrando de suas existências passadas, evitem sofrer vaidades, constrangimentos ou até mesmo ódios deixados no passado, criando um contexto "limpo" em que possa ser desenvolvido o bom entendimento entre as pessoas.

Outro detalhe é que nem todo mundo foi romano no passado. Existem diferentes idades espirituais. Aquele espírito que jurava que foi um deputado romano que mandava cristãos aos leões pode não ter surgido sequer na Idade Média, ou talvez nem tenha sido um terráqueo. Existem milhares de mundos, "muitas moradas", como havia dito Jesus, metaforicamente.

Portanto, seria melhor que as pessoas se preocupassem mesmo é na compra de fantasias de romanos para o próximo baile de Carnaval. E que seja feito tão somente para brincar na folia. Se havíamos sido, ou não, políticos romanos ou cristãos devorados por leões ou pelo fogo, pouco importa. Vivamos nossas vidas e cultivemos as esperanças que existem dentro de nós.

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