segunda-feira, 16 de outubro de 2017

João de Deus usou atriz global para se promover e abafar investigações

JOÃO DE DEUS JÁ SE PROMOVIA ÀS CUSTAS DE FAMOSOS DO BRASIL E DO EXTERIOR, COMO A APRESENTADORA ESTADUNIDENSE OPRAH WINFREY.

Muitos ainda têm medo de enfrentar a deturpação do Espiritismo. Mesmo os questionadores mais dedicados recuam com medo quando chegam a um certo ponto, muitas vezes seduzidos pelas paisagens fantasiosas que ilustram as fotos dos "médiuns espíritas", ilustrações cheias de crianças sorridentes, céus azuis com brancas nuvens e jardins floridos. Em certos casos, os "médiuns" aparecem cercados de coraçõezinhos vermelhos e fofinhos.

Esse "cenário de Teletubbies" que desarmou muitos dos críticos da deturpação espírita, fazendo com que os deturpadores, com uma certa arrogância, disparassem falácias do tipo: "Viram? Nosso trabalho do bem (sic) desarma até os mais céticos, que podem resistir durante décadas, mas um dia são tomados pela força da fé", é resultante do recurso falacioso mais usado pelos "espíritas", o Argumentum Ad Passiones, ou simplesmente Ad Passiones.

Pois é o Ad Passiones, sobretudo na sua forma mais perigosa, o "bombardeio de amor" - expresso pela simulação de afetividade e generosidade que os "espíritas" fazem ao acolher visitantes - que fez com que o esperto Francisco Cândido Xavier, o "Aécio Neves da fé espírita", tenha seduzido Humberto de Campos Filho e, assim, evitado os processos recorrentes dos herdeiros do escritor maranhense.

Há muito mais corrupção nos bastidores do "espiritismo" brasileiro do que nos porões do que a direita imagina ser o Partido dos Trabalhadores. Ninguém desconfia, por exemplo, quem paga para os palestrantes "espíritas" ficarem excursionando pelo Brasil e pelo mundo para expor um repertório de palavrinhas bonitinhas e piegas, em troca de medalhas e outros prêmios. A situação chega a ser pior do que as seitas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus.

Isso se deve porque, embora as seitas neopentecostais estejam comprometidas com um projeto retrógrado de país, tentando frear na marra os avanços sociais e fazer prevalecer valores sociais antiquados - através de projetos educacionais como a Escola Sem Partido - , elas não têm o pior defeito praticado pelos "espíritas": a desonestidade doutrinária, que faz com que os "espíritas" entrem em contradição e dissimulem o tempo todo.

A situação chega ao ponto de reduzir o legado de Allan Kardec a uma doutrina mitômana, dissimuladora, mistificadora. Os críticos da deturpação espírita, que admitem que o "espiritismo" brasileiro é catolicizado, mesmo assim se sentem ofendidos, sem razão, quando há necessidade de ir adiante com os questionamentos. Eles se contentam com a promessa vã de que os próprios deturpadores vão "aprender melhor o pensamento de Kardec", algo que se revelou inútil.

O igrejismo que contaminou o "espiritismo" brasileiro tornou-se tão intenso - mesmo sob a verborragia pseudocientífica de Divaldo Franco e o carisma forjado de Chico Xavier - que a figura do "médium" passou a assumir caraterísticas dos antigos escribas e sacerdotes reprovados por Jesus de Nazaré em seu tempo, como o culto à personalidade, a falsa humildade e o discurso rebuscado.

E quem acha que criticar os "médiuns espíritas" e outras figuras da doutrina brasileira é ato de "intolerância religiosa" e "ódio ao trabalho do bem", é bom deixar claro que tais críticas se baseiam em alertas e questionamentos trazidos pelo próprio Allan Kardec, que preveniu ao mundo a deturpação que, infelizmente, encontrou um campo fértil no ingênuo e complacente Brasil.

JOÃO DE DEUS

O "espiritismo" brasileiro, além disso, é blindado pela mesma Rede Globo de Televisão que defendeu a ditadura militar e combate os movimentos progressistas. A Globo blinda Chico Xavier para concorrer com os "pastores eletrônicos" das concorrentes.

Para a Globo, a figura do "médium espírita" lhe é vantajosa, por ser um "sacerdote sem batina" cuja penetração social aparentemente independe de institucionalismo religioso. Com isso, a Globo vê no "espiritismo" um "Catolicismo à paisana", podendo persuadir religiosamente as pessoas sem despertar qualquer desconfiança a respeito disso.

A habilidade da Globo manipular as pessoas não pode ser subestimada: ela manipula até uma parcela de seus próprios detratores, inserindo-lhes valores, gírias, crenças e paradigmas culturais que são próprios da emissora, e que podem ser, no futuro, a herança da família Marinho, tida erroneamente como um patrimônio "acima do poder midiático e ideológico dominantes".

Com Chico Xavier morto e Divaldo Franco aposentado, a Globo promove seu mais novo "médium-sacerdote", o latifundiário e curandeiro João Teixeira de Faria, o João de Deus. Exposto a celebridades estrangeiras, através de um lobby mais ambicioso no qual se inclui uma afiliada da Globo em Goiás, João de Deus se expôs até a personalidades estrangeiras como a apresentadora Oprah Winfrey. Shirley MacLaine e Naomi Campbell também fizeram consultas com o "médium".

Há aspectos muito sombrios em torno de João de Deus, que o establishment religioso promove como um cruzamento de Zé Arigó com o curandeiro do programa O Povo na TV (SBT), Roberto Lengruber, depois desmascarado como charlatão.

João de Deus é latifundiário e teria acumulado riquezas e adquirido propriedades com o desvio de parte do dinheiro da caridade para a Casa Dom Inácio de Loyola, localizada em Abadiânia, interior de Goiás, Estado brasileiro considerado um dos mais conservadores do país.

Por outro lado, assim como Chico Xavier pode estar associado à "maldição dos filhos mortos", João de Deus estaria associado também a energias negativas, sobretudo quando a Marisa Letícia Lula da Silva, mulher do ex-presidente Lula, sofreu um AVC e, internada, parecia ter alguma chance de cura. Foi João de Deus orar por dona Marisa, para ela depois falecer. Consta-se que o jornalista Marcelo Rezende também teria sido "beneficiado" pelas energias de João de Deus ao morrer.

As energias negativas seriam seletivas, apenas atingindo personalidades que causam risco às energias conservadoras respaldadas pelo "espiritismo" brasileiro, atualmente fundamentado para recuperar as bases do Catolicismo jesuíta do Brasil colonial.

Daí que muitos que recorrem a Chico, Divaldo e João sofrem alguma maldição ou ela atinge algum ente querido. Recentemente, o desenhista Maurício de Souza perdeu um filho prematuramente depois que criou animações da Turma da Mônica com Chico Xavier. Famosos como Nair Bello, Ana Rosa e Augusto César Vannucci, adeptos de Xavier, tiveram históricos de perda prematura de filhos.

O episódio de Camila Pitanga, que perdeu o amigo e colega de novela Domingos Montagner, deveria chamar a atenção. Ateia e de esquerda, ela recorreu a João de Deus para agradecer o fato de ter sido salva da tragédia. Ela em si recebe boas energias, mas também foi indicada por alguém - a novela, Velho Chico, teve no elenco o "espírita" e ativista de direita Carlos Vereza, que viveu Adolfo Bezerra de Menezes no cinema, e é um dos membros do reacionário Instituto Millenium.

Com isso, Camila acabou sendo usada como garota-propaganda não só de um cambaleante "espiritismo" igrejeiro praticado no Brasil, como também de um "médium" de valor duvidoso que é blindado pela Rede Globo de Televisão, que, sabe-se, recorre ao "espiritismo" para exercer seu poder, através de um respaldo religioso feito para enfrentar, de maneira sutil, as seitas neopentecostais.

O que chama a atenção é que a atriz foi convidada para tal ato de propaganda quando João de Deus é alvo de investigações criminais. Um texto do Jornal Opção, com detalhes, fala dos crimes de morte causados por exercício irregular da função, já que a "cirurgia mediúnica", atividade do "médium", é feita à revelia da ciência e sob métodos e técnicas duvidosos até sob o ponto de vista higiênico.

A técnica de usar apenas tesoura ou outro objeto cortante para perfurar a barriga e retirar um caroço é até um clichê dessa sub-medicina cuja credibilidade poderia ser posta em xeque (e podemos dizer xeque-mate) por um simples aspecto: João de Deus não realizou cirurgia em si mesmo, quando estava sofrendo de câncer.

Isso se torna vergonhoso e deplorável se percebermos que, em condições muito mais adversas, o cirurgião russo Leonid Rogozov, em 1961, realizou cirurgia em si mesmo, só precisando de dois assistentes, um para fornecer os instrumentos, e outro para mostrar o espelho para Rogozov olhar a área de sua cirurgia. Leonid sobreviveu e só faleceu 39 anos depois, com os efeitos naturais da velhice, em 2000, aos 76 anos de idade.

Duas pessoas haviam morrido depois que João de Deus realizou as "cirurgias". O norte-americano de ascendência latina Javier Villa Real Bustus (ironicamente, Javier é "Xavier" em espanhol) e a austríaca Martha Rauscher morreram após recorrerem à "cirurgia". A morte de Martha chegou a ser noticiada pelo portal G1, da Globo, sem que o nome dela nem o de João de Deus seja citado, o que sugere a blindagem da corporação da família Marinho ao "médium".

Quase não há investigações contra João de Deus. Segundo uma delegada de Abadiânia, ele não é denunciado. Como de praxe no "espiritismo", ninguém se atreve a denunciar os "médiuns" achando que é "intolerância religiosa" e "impiedade ao trabalho do bem", vide o famoso caso de Chico Xavier, cujo histórico de confusões e irregularidades, causadas por decisão, vontade ou consentimento do "médium" mineiro, o fizeram um equivalente religioso do conterrâneo Aécio Neves.

Há apenas uma investigação, em Abadiânia, contra João de Deus, que ocorre em segredo de Justiça, e a que está em andamento contra Javier Bustus, na qual o "médium", por sua atividade irregular, poderá responder por homicídio doloso ou culposo. Um texto explicando os problemas da "cura mediúnica" aponta problemas legais que podem indicar crimes diversos, não só o de charlatanismo, mas também de lesão corporal, entre outros.

O uso de uma atriz, ateia e de esquerda, para visitá-lo, a pretexto de agradecimento por uma graça, foi o recurso que João de Deus, blindado pela Globo, usou para abafar a má imagem trazida pelas denúncias que, se não são muitas, são graves, como a de charlatanismo ou de acúmulo abusivo de bens.

João de Deus também acumula uma fortuna surpreendente para alguém que vive "só da caridade".Tem um latifúndio, no interior de Goiás na divisa com Mato Grosso, com área equivalente a 18 parques do Ibirapuera (em São Paulo): 597 alqueires. Só a propriedade é avaliada no valor de cerca de R$ 2 milhões.

O "médium" não cobra por consultas e cirurgias na Casa Dom Inácio de Loyola. Mas ele já cobrou consultas em vários consultórios que administra, também cobra dinheiro por seus remédios e já cobrou taxas para uma palestra e amostras de suas atividades em eventos "espíritas" no exterior. É um bilionário com muita fome de dinheiro para alguém que quer ser associado à humildade e à simplicidade, não bastasse o culto à personalidade tão caraterístico dos "médiuns espíritas".

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