sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Fascinação obsessiva e subjugação protegem "médiuns espíritas" no Brasil


Infelizmente, questionar as irregularidades do "espiritismo" brasileiro é um ato muito difícil. Isso é assim não porque essas irregularidades não passam de falácia ou fofoca de bastidor, mas porque as pessoas, num dado momento, deixam de ter a firmeza necessária e recomendada pelo próprio Allan Kardec, em seu tempo.

Mesmo os críticos da deturpação do Espiritismo chegam a um ponto em que se afrouxam. Num dado momento, são tomados do apelo à emoção que os ditos "médiuns espíritas" recorrem quando são duramente questionados, e o coração mole das pessoas se rende a essa retórica de sonho e fantasia, mas que é reconhecida, lá fora, como o recurso falacioso do Argumentum Ad Passiones, o "apelo à emoção".

Aí, alegações constrangedoras, vindos dos próprios espíritas autênticos, mas de vontade débil e movidos pela complacência fácil, vêm à tona: uns chegam a dizer bobagens como "Deixa pra lá, tudo é Amor!", e chegam mesmo a acreditar que os próprios deturpadores tenham condições para recuperar as bases espíritas originais.

Uns acabam se irritando quando há uma tentativa de desqualificar os "médiuns" deturpadores, mesmo se os questionamentos contra estes se baseiam na obra kardeciana original, sobretudo O Livro dos Médiuns. Sim, pessoas que deveriam zelar pela Doutrina Espírita original ficam defendendo os deturpadores pela habitual desculpa de que eles "pelo menos, fazem caridade". É uma espécie de "rouba mas faz" dos "espíritas".

Vivemos, no Brasil, uma sociedade viciada e presa em velhos paradigmas. É uma sociedade conservadora, que prefere sacrificar o novo e salvar o velho. E, num momento de crise em que se vive, quando a tendência deveria ser sacrificar velhos paradigmas, ainda que muito agradáveis, o que ocorre é praticamente o inverso.

As pessoas são tomadas de sensações emocionais como a "fascinação obsessiva" e a "subjugação", processos obsessivos que já haviam sido alertados por Allan Kardec, de forma bastante explícita, clara e concisa, para todo mundo estar bem informado.

Só que não. As pessoas se sentem fascinadas com os deturpadores do Espiritismo, "médiuns" que aparecem ao lado de crianças sorridentes e dóceis, cumprimentados com pompons, rosas e buquês de flores e cujas fotos são inseridas em paisagens de céu azul ou de jardins floridos. Tudo isso parece agradável, mas é muito, muito traiçoeiro. Só no Brasil é que isso é aceito sem qualquer questionamento.

Aqui os próprios questionadores da deturpação espírita deixam seus questionamentos no meio do caminho, quando a coisa ameaça se aprofundar. Em vez de seguirem os alertas da própria obra kardeciana, que apela para um questionamento firme e rigoroso, as pessoas melam e, cheias de dedos, investem sempre nas mesmas desculpas: "mas ele (o deturpador) é tão bonzinho", "ele ajudou muita gente", "ele nunca defendeu baixarias" e outros argumentos falaciosos.

Os brasileiros chegam a inverter avisos trazidos pela obra kardeciana original. "Melhor cair um homem do que cair uma multidão", dizia Kardec sobre o combate aos deturpadores da Doutrina Espírita. Em vez disso, os brasileiros preferem defender: "Melhor cair a população inteira do Brasil do que cair um ídolo religioso".

Numa época de profundo reacionarismo social, a "queda de multidões" é defendida pelo higienismo social que é movido por catarses diversas. Seja a pistolagem que dizima trabalhadores, a truculência policial que mata jovens negros e pobres, a ignorância que estimula matanças familiares, o feminicídio em que o primeiro caso inspira centenas de outros, e a onda dos "bolsomitos" que promete matar "comunistas".

Diante desse banho de sangue que acontece em todo o Brasil, o apego à religiosidade faz com que os "espíritas", tomados da mais profunda fascinação obsessiva ou, em certos casos - como nos profissionais de Justiça - , a subjugação, sintam-se reféns dos próprios deturpadores do Espiritismo, endeusados por diversos artifícios, seja a retórica "amorosa" do Ad Passiones e sua forma mais perigosa, o "bombardeio de amor", e a caridade superficial do Assistencialismo.

Os brasileiros não têm ainda uma educação social que os faça abrirem mão da zona do conforto de complacências mil. Preferem manter suas fantasias, porque questioná-las é motivo de aparente confusão. Se comportam como adultos que se irritam quando falam que Papai Noel não existe e reagem com ginástica mental (nome dado à mania de argumentar ideias sem coerência) a todo questionamento que derrubasse suas crenças fantasiosas e idealistas.

Os "médiuns espíritas" não são as "fadas-madrinhas" que muitos acreditam ser, tão falsamente associados a uma ideia de meiguice e altruísmo que não passam de retórica igrejista. Eles deveriam ser abominados só por difundir ideias que traem, frontalmente, os postulados espíritas originais, pois não é com os discursos de "vamos defender a paz" e "somos todos irmãos no amor ao Cristo" que a desonestidade doutrinária será inocentada e livre de qualquer responsabilidade.

Devemos também considerar que o ato de aprender melhor o Espiritismo nem de longe é uma punição para os deturpadores. Arrivistas, eles veem nessa condição um atenuante para seus erros e um estímulo para suas vaidades e ambições, e devemos também prestar atenção na contradição que eles fazem por trás da promessa de "não só entender Kardec, mas vivê-lo diariamente", como falam alguns deturpadores mais demagógicos.

Pois, se num momento eles expõem, na palavra "desencarnada", o texto correto de Kardec e as ideias corretas da Ciência Espírita, em outro voltam a pregar o igrejismo mais gosmento, o mais catolicizado, vaticanizado e dotado da mais enjoativa pieguice, dessas que parecem com certos doces que são gostosos quando ingeridos mas depois causam dor de cabeça e náuseas profundas.

As pessoas deveriam abrir mão dessa imagem adocicada dos "médiuns espíritas" que mais parecem vindas de novelas da TV. Se muitas pessoas se decepcionam até quando seus próprios familiares e amigos de infância cometem alguma traição, por que vamos consentir com as traições diárias que os deturpadores do Espiritismo fazem com Allan Kardec?

Devemos nos lembrar do aviso de Erasto, espírito mensageiro, em O Livro dos Médiuns. Com base nele, observa-se que os deturpadores do Espiritismo podem às vezes apresentar coisas boas, mas é aí que se deve tomar maior cautela. Afinal, quanto veneno não pode estar por trás no açúcar de "palavras de amor" e "gestos de caridade" trazidos pelos "médiuns espíritas" e outros palestrantes que se comprometem a deturpar o trabalhoso legado de Allan Kardec?

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