sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Divaldo Franco não é isento de responsabilidade pelo apoio à "ração humana" de João Dória Jr.


Existe um péssimo hábito da sociedade brasileira em acreditar que os "médiuns espíritas" só têm consciência dos seus atos quando eles são positivos. Quando negativos, acreditam as pessoas que os "médiuns" só agiram por "influência de outrem", "não sabiam o que faziam", "foram enganados" ou "tentaram ser manipulados por espíritos inferiores".

Não, não é assim. Ainda mais se o "espiritismo" que temos no Brasil, reduzido a uma atualização do antigo Catolicismo jesuíta, é praticamente divorciado dos postulados espíritas originais. Os "médiuns" devem ser responsabilizados pelos graves erros que cometem e pagar por eles, porque em muitos casos eles assumiram riscos e contribuíram para as consequências.

No caso da "farinata" ou "granulado nutricional", o engodo alimentar que o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., pretendia lançar a partir de um processado industrial de restos de comida - em tese, com prazo de validade próximo ao vencimento - , o fato do indigesto alimento (semelhante a bolinhas granuladas que parecem lanche de baixa categoria), cujo nível nutricional é duvidoso, ter sido lançado oficialmente durante o evento "Você e a Paz", em São Paulo, devia chamar atenção de todos.

O prefeito de São Paulo - cuja reputação decadente lhe vale o apelido jocoso de prefake - estava exibindo o tempo todo a camiseta do "Você e a Paz", e ninguém percebeu a coisa. Mesmo a mídia de esquerda, que costuma perceber as armadilhas mais sutis dos bastidores político-midiáticos, ignorou o respaldo do "movimento espírita" à gororoba "nutritiva" de João Dória Jr..

Pois o lançamento oficial do produto foi feito em 08 de outubro, no Parque do Ibirapuera, durante a edição paulistana do movimento "Você e a Paz" que, embora seja um evento ecumênico, é idealizado pelo "médium" Divaldo Franco. O evento decidiu homenagear o prefeito da capital paulista, mesmo quando ele já era visto como um político decadente em boa parte das páginas da Internet.

ALIMENTO CONDENADO, EM TODOS OS SENTIDOS

O "granulado nutricional" se revelou um grande engodo, comparável a uma "lavagem de porco". Ele é muito mais do que um preparado de comida ruim, condenado pelas mais conceituadas entidades de nutrição e saúde do país. É também um ato ofensivo de elitismo e discriminação social, direcionado supostamente a alimentar as populações mais carentes da maior cidade da América Latina.

Isso porque ela se baseia na suposição, bastante preconceituosa, de que os pobres não têm acesso aos alimentos surgidos na natureza, como verduras, legumes, frutas, cereais e carnes. A realidade mostra que os pobres são os que mais têm acesso a esses recursos alimentícios. As elites é que, tomadas de profundo preconceito e ignorância social, acham que os alimentos naturais "brotam" em supermercados.

A recomendação do Guia Alimentar da População Brasileira recomenda que a ênfase de uma alimentação saudável deve ser dada aos alimentos próximos ao estado em que se encontram na natureza, deixando os alimentos industrializados como opção secundária e nunca exclusiva de uma dieta alimentar.

Segundo especialistas, uma dieta regular, variada e constante de verduras, legumes e frutas é capaz de prevenir os efeitos do câncer, além de ajudar no seu tratamento e no de outras doenças. Cereais como feijão e arroz são considerados básicos para preservar as funções vitais do organismo, ainda que sempre acompanhados de variadas opções de saladas e alimentos dotados de proteínas.

A comida processada de João Dória Jr. não apresenta informações sobre a composição alimentícia - que pode vir de restos de comida de restaurantes, churrascarias e lanchonetes de fast food que trabalham com lanche processado (como McDonald's) e também de comida de hospitais, contaminada pelo contato de consumidores enfermos - e ainda é alvo de denúncias ainda mais sombrias.

Consta-se que surgem notícias de que um abrigo ligado à Arquidiocese de São Paulo, a Missão Belém, está sendo investigado pelas 14 mortes de ex-dependentes químicos e ex-moradores de rua internados no estabelecimento, num curto intervalo de tempo, em junho passado.

A Missão Belém funciona sem alvará e é parceira da Plataforma Sinergia na produção da "ração humana". Os pacientes mortos tiveram sintomas semelhantes de diarreia, vômito, desnutrição, desidratação e intoxicação alimentar. Suspeita-se que eles teriam sido testados como "cobaias" do "complexo alimentício" fornecido por João Dória Jr..

O episódio suspeito já começa a ser comparado com campos de extermínio nazistas. O caráter duvidoso do alimento, se for comprovado seu uso na Missão Belém, seria um agravante que demonstraria o teor nocivo da "ração humana", lançada oficialmente num evento comandado por um "renomado médium espírita", muito amigo dos figurões católicos ligados ao prefake.

CONSCIÊNCIA DOS ATOS

Há muito falamos que Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, não são inocentes de seus atos. Eles deturparam o "espiritismo" brasileiro de propósito, não por acidente ou falta de tempo para estudar a doutrina kardeciana. Pelo contrário, o longo período, a grande repercussão e o enorme alcance de público revela o quanto Divaldo e Chico tinham plena consciência de seus atos ao decidirem transmitir conceitos que contrariam os postulados espíritas originais.

A crença de "espíritas" ou mesmo de leigos de que os "médiuns" não têm culpa pelos erros que fazem, só agindo conscientemente quando se tratam de acertos ou atos positivos, é uma falácia e uma fantasia que não tem pé nem cabeça e que, confrontado com argumentos lógicos, é de fácil demolição, sobretudo diante da suposta imagem de "sábios" oficialmente associada aos "médiuns".

Divaldo Franco agiu com plena consciência de seus atos. O entusiasmo com que João Dória Jr. vestiu a camiseta do "Você e a Paz", quando divulgou a "farinata", não foi um ato do acaso, havendo também um propósito de divulgar o evento e, portanto, há um vínculo de imagem da "farinata" com o "Você e a Paz" e a pessoa de Divaldo Franco. Essa a mídia de esquerda ignorou completamente, preferindo apenas questionar a figura do arcebispo paulista dom Odilo Scherer, defensor da "ração".

Divaldo não pode dizer que foi desavisado ou não sabia sobre o "alimento". Ele teve responsabilidade no apoio a João Dória Jr.. Ou então Divaldo é um desinformado completo, o que derruba de vez a postura de "sábio" tão associada a ele a ponto de haver até mesmo os livros pedantes da série "Divaldo Responde". Seus seguidores chegam a exagerar chamando Divaldo de "filósofo" e "cientista".

Quando Divaldo decidiu homenagear João Dória Jr., o prefeito da capital paulista já vivia um desgaste político profundo, por diversas razões. A violência policial a dependentes químicos na cracolândia, a liberação de velocidade que aumentou as mortes no trânsito e o descaso com moradores de rua, além das viagens constantes e sem motivo de João Dória Jr. contribuíram para o desgaste de sua imagem e a redução de chances de êxito na corrida presidencial de 2018.

A organização do evento também se deu após as denúncias de que a "farinata" de João Dória Jr. tinha valor nutricional duvidoso e que potencialmente ofereceria riscos à saúde da população carente. Antes do "Você e a Paz", entidades de nutricionistas e movimentos sociais alertaram para a ameaça que o "composto alimentar" pode trazer à população carente, apontando riscos de subnutrição e intoxicação alimentar que podem ser fatais.

Os defensores de Divaldo Franco definem ele como "sábio". Se basearmos nessa hipótese, suporíamos que o "médium" teria sido avisado por "benfeitores espirituais" sobre a figura nefasta de João Dória Jr. e retirado a homenagem. Pela imagem de "grandeza", "firmeza" e "coragem" tão associadas ao "médium", tido também como suposto ativista social, ele seria capaz de convencer os parceiros católicos e evangélicos a retirar a homenagem, diante do desgaste de imagem do prefeito.

Mas não. Divaldo levou tudo adiante e deve ter elogiado o "alimento", naquela sua crença de que "tudo é válido para matar a fome dos necessitados". Consentiu que João Dória Jr. divulgasse o produto exibindo a camiseta do evento e demonstrou, com isso, apoio à iniciativa.

A própria aliança entre Divaldo Franco e João Dória Jr. revela também uma sintonia vibratória. É a chamada "lei de afinidade". Divaldo pode até dizer que "acolhe todos independente do nível ideológico" e que o "Você e a Paz" existia quando o petista Fernando Haddad era o prefeito paulistano. Só que os "espíritas", quando acolhem esquerdistas, é por mera formalidade cordial, enquanto que os direitistas são acolhidos com mais calor e maior entusiasmo, indicando preferência.

Portanto, foi um ato de muita responsabilidade. E isso, com certeza, é mais um escândalo envolvendo um ídolo "espírita", que pode repercutir negativamente em breve. A crise do "movimento espírita", que construiu suas bases traindo Allan Kardec, entra em mais um e gravíssimo capítulo, quando um "médium" badalado apoia um político decadente e assina embaixo no lançamento de um projeto alimentar de gosto duvidoso e que pode representar consequências nefastas para a saúde alimentar.

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