segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Toda hipótese desqualifica a "presença" de Humberto de Campos na obra de Chico Xavier


Não há hipótese que possa salvar a suposta obra espiritual de Humberto de Campos lançada por Francisco Cândido Xavier. Quem tem um mínimo de hábito de leitura e conhecimento de nossa história literária, saberá que a suposta obra do "espírito Humberto de Campos" foi, realmente, um pastiche literário, e dos mais grotescos.

Essa constatação não se dá pela raiva a quem quer que seja, mas por uma análise bastante objetiva na comparação entre o que Humberto havia escrito em vida e o que foi lançado sob seu nome através de Chico Xavier. Mesmo os admiradores do "médium" podem ficar decepcionados se tiverem maior atenção nesta comparação.

A narrativa de Humberto de Campos nas obras deixadas em vida - inclusive trabalhos póstumos - era ágil, descontraída, culta mas acessível, muito bem escrita, com uma gramática impecável. A obra "espiritual" destoa de tudo isso, com uma narrativa pesada e cansativa, deprimente, linguagem culta mas forçada e cheia de vícios de linguagem, e não raro tinha parágrafos mais longos do que Humberto, em vida, foi capaz de escrever.

Essa comparação é certa. Não tem saída. O "Humberto" de Chico Xavier é falso. Depois que os deslumbrados chiquistas chorarem, feito crianças birrentas, é bom parar para pensar e ver que, antes de mais nada, somos seres lógicos, e não podemos atribuir abordagens ilógicas aos planos astrais, como se a burrice pudesse se tornar, no além-túmulo, sinônimo de mais perfeita inteligência.

As hipóteses que tentam legitimar a "obra espiritual" atribuída a Humberto de Campos, não bastasse a carteirada religiosa que cerca Chico Xavier, não têm o menor senso de lógica. A tese simplória das "mensagens de amor" e "lições de vida" são absolutamente risíveis, e constrangem quando vindas de uma religião que é a "espírita" que, no Brasil, tanto diz defender a lógica e o bom senso que, na prática, despreza profundamente.

Primeiro, não há como considerar que uma pessoa de talento refinado como Humberto teria "perdido" seu talento quando regressou no além-túmulo. Como espírito despojado das vestes materiais, suas faculdades intelectuais e seus talentos teriam crescido e não diminuído, não há espírito de grande talento na Terra que, no regresso ao mundo espiritual, tenha se tornado medíocre e inexpressivo, descontadas as "palavras de amor" que enchem os incautos de lágrimas derramadas à toa.

São completamente ridículas alegações como a de que Humberto teria "doado seu talento para a caridade", que se "esqueceu do talento de tão tomado pelas energias do amor" ou que "passou a escrever a linguagem universal do amor", como se a individualidade não fizesse parte do espírito. São avaliações completamente subjetivistas que nem para hipóteses plausíveis devem ser consideradas.

Segundo, não há como atribuir um suposto cansaço espiritual a Humberto por causa da morte prematura, aos 48 anos. Isso não procede. Ele pode ter ficado triste com tão repentina partida, mas como espírito sem corpo não ficaria cansado a ponto de escrever "de forma menos inspirada", sob o pretexto da "urgência de transmitir mensagens humanitárias".

Neste caso, há uma contradição grave. Até porque há uma pretensão de que Humberto estaria "iluminado" para "produzir obras tão edificantes". Se ele está cansado, contradiz essa disposição, e, sendo cansado e exausto, estaria em posição mais desanimadora. Como alguém tão desanimado e possivelmente triste iria transmitir mensagens que muitos consideram "consoladoras" e "animadoras"?

São, portanto, graves alegações que tentam "legitimar" a obra do "espírito Humberto". Desculpas esfarrapadas que não têm pé nem cabeça. Um Humberto que "reduz seu talento" porque foi "tomado pela energia do amor", porque "fala uma linguagem universal", porque "está cansado pelo fato de ter morrido cedo" etc. Isso faz com que não se decida se o "espírito Humberto" está disposto, animado e otimista ou se ele está cansado, chateado ou tristonho.

Daí que a suposta obra espiritual é uma fraude. E essa desonestidade deveria derrubar Chico Xavier de vez, e a Justiça de 1944 ter condenado o "médium" por falsidade ideológica e usurpação do prestígio alheio de alguém falecido.

Devemos abrir mão da paixão religiosa e termos a consciência de que somos seres racionais e que a fé religiosa, ainda que tenha seu lugar de apreciação, não está acima da razão. Conhecer não é sinônimo de acreditar, porque a crença, muitas vezes, se basta nos terrenos da fantasia e da mistificação. Abrir mão dessas quimeras é doloroso para muitos, mas é realista e trará benefícios futuros quando passarmos a ver as coisas fora do deslumbramento religioso, muitas vezes cego.

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