segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

"Espiritismo" brasileiro e a contradição que deslumbra, mas confunde e nunca esclarece


O joguinho de ideias contraditórias das frases de Francisco Cândido Xavier são vistos de forma mais realista quando as pessoas se despem do véu das paixões religiosas. Tomados de fascinação obsessiva, veem beleza onde não tem e acham que ideias truncadas e confusas podem ser consideradas "simples" e "esclarecedoras" só porque vieram de um ídolo religioso.

As frases de Chico Xavier, no entanto, revelam um caráter bastante simplório. Conselhos baratos de auto-ajuda, que nem precisam ser dados, servindo apenas de um mero joguinho de palavras feito por puro entretenimento e para fazer do "médium" um mito semelhante ao de Madre Teresa de Calcutá - cortesia Malcolm Muggeridge / Rede Globo - , ela mesma uma malabarista de palavras para bancar a dublê de "sábia", como também queria ser o "médium".

As ideias de que "é sendo fraco que se torna forte", "é no silêncio que Deus ouve sua voz", "é no pior sofrimento que se obtém as bênçãos do Alto", entre tantas outras, cria um apelo muito confuso de resignação extrema, sucumbindo ao conformismo excessivo e até à baixa auto-estima.

É sabido que o "espiritismo" brasileiro diz condenar o suicídio, mas contraditoriamente pede a pessoa a aceitar infortúnios e desgraças que condicionam o suicídio. Em muitos casos, os "espíritas" se revelam insensíveis, como na situação de pessoas humilhadas e ameaçadas de morte por cyberbullies, os valentões das redes sociais. Ninguém se suicida por diversão.

As frases contraditórias de Chico Xavier são apenas parte do imenso rol de contradições que mancha terrivelmente o "espiritismo" brasileiro que o deixa em desvantagem até mesmo em relação às piores seitas neopentecostais, que podem ser retrógradas, mas, pelo menos, assumem suas ideias e praticam honestidade doutrinária. Pelo menos os evangélicos dessa corrente assumem que pretendem retroceder a sociedade brasileira para os padrões do tempo de Moisés.

A ideia de aceitar o sofrimento calado porque "o silêncio é a voz dos sábios" e achar que a "fraqueza é a verdadeira força" podem soar muito lindos, deslumbrando muitas pessoas, levando multidões às lágrimas - a tal "masturbação com os olhos" da comoção reduzida a puro entretenimento - , mas refletem o caráter de confusão que sempre marcou o "espiritismo" no Brasil.

Além de nada adiantar falar frases como "é no pior dos sofrimentos que a pessoa consegue as graças de Deus", como se os maiores azarentos fossem os "maiores felizardos da sorte grande", pois seu efeito social é ZERO, ela pode também desnortear as mentes das pessoas.

Afinal, o que é ser fraco ou forte? Não é mais o contexto da situação que vale, mas o prestígio religioso de um "médium" sob o qual representam paradigmas de falso orientalismo místico, falsa sabedoria e supervalorização de recursos metafóricos e poéticos para ditar receitas de vida e supostas fórmulas de salvação pessoal.

FALSO CRISTO

Em muitos casos, as frases seguem o receituário da Teologia do Sofrimento, que os "espíritas" seguem, mas se envergonham em assumir. Mas se a Teologia do Sofrimento tem como função forçar os sofredores a aceitarem as desgraças da vida, seus conceitos também servem para livrar a pele do próprio Chico Xavier diante das enrascadas que ele provocou.

Por exemplo, o discurso da "força da fraqueza", ou da "sabedoria da ignorância", já que Chico Xavier tentou se promover como "ignorante" para glamourizar suas supostas psicografias, foi uma estratégia usada pelo "médium" para forçar a comoção pública diante de situações em que ele era duramente criticado, fazendo com que o coitadismo se convertesse em vantagens para o "médium".

O coitadismo é uma estratégia de dominação às avessas, que transforma um "médium" envolvido em confusões causadas ou apoiadas por ele em pretensa vítima, e que abriu precedente para os "médiuns" virarem os "falsos Cristos" alertados por Jesus de Nazaré em seu tempo e corroborada pela literatura kardeciana.

Com essa pose de vitimismo ou coitadismo, os "médiuns", ao reagirem em silêncio as críticas feitas contra eles em seus sérios erros, eles tentam, através desse processo invertido de dominação, provocar a comoção pública e a absolvição, mesmo quando há provas de culpa e responsabilidade grave pelos atos cometidos.

Enquanto isso, os "amigos espíritas" acabam também forçando os sofredores a suportarem o sofrimento, através desse discurso contraditório de "força X fraqueza", "silêncio X voz", além de confundir desgraça com desafio e derrota com aprendizado. "Pimenta nos olhos dos outros é refresco" parece ser o ditado preferido do "espiritismo" brasileiro.

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