sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Complacente a Divaldo Franco, imprensa de esquerda perdeu boa oportunidade de investigá-lo


A imprensa progressista, considerada de esquerda, deixou passar uma boa pauta, ao ignorar o envolvimento do anti-médium baiano, Divaldo Franco, no episódio da "farinata" do prefeito João Dória Jr., lançada oficialmente durante o evento Você e a Paz.

A complacência dos esquerdistas ao "espiritismo" brasileiro, apesar de tantas posturas sombrias - o apoio à ditadura militar, a condenação generalizada do aborto até em caso de estupro e a blindagem da Rede Globo de Televisão - , deixou perder uma grande oportunidade de investigar os bastidores de uma doutrina aparentemente límpida, supostamente fiel à matriz francesa, mas que esconde aspectos tenebrosos de deturpação e traição doutrinária dos mais graves.

Nem mesmo o apoio que os "espíritas" deram ao golpe político de 2016, elogiando o "combate à corrupção" do juiz Sérgio Moro, exaltando o "despertar político" comandado pelo Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua e Revoltados On Line (!), saudando o "pacificador" presidente Michel Temer e saudando as terríveis reformas trabalhista e previdenciária, fez com que essa doutrina deturpada que traiu Allan Kardec fosse alvo de investigações, tal qual as seitas neopentecostais.

Há inúmeros ganchos para os "espíritas" serem investigados e contestados pelos esquerdistas, não na inócua finalidade de descrever atividades de "casas espíritas", meros relatórios acríticos que a chamada mídia patronal já fez, mas investigar pontos sombrios dos "médiuns", o impacto da apropriação de Humberto de Campos por Francisco Cândido Xavier etc.

A entrevista de Chico Xavier ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi de São Paulo, em 1971, na qual o "médium" esculhambou comunistas e desqualificou os movimentos operário e camponês, deveria ser o ponto de partida para os jornalistas progressistas questionarem o "espiritismo" com o mesmo empenho em que investigam seitas neopentecostais e figuras como Edir Macedo, Marco Feliciano, Silas Malafaia e outros.

Um dos veículos mais destacados, Diário do Centro do Mundo, que perdeu seu fundador Paulo Nogueira, por ironia, no mesmo 30 de junho em que se comemorou os 15 anos de falecimento do "médium" mineiro, havia lançado um texto questionando uma entrevista com a escritora de auto-ajuda, Maria Tereza Maldonado.

Intitulado Cenas do novo normal do Brasil: "Dá para ser feliz desempregado e com boletos a pagar", diz psicóloga, o texto desqualifica uma declaração da psicóloga e escritora, que, lançando o livro Construindo a Felicidade, afirma que a felicidade em situações pós-traumáticas é "possível", seguindo a cartilha da Teologia do Sofrimento.

Não temos informações sobre a orientação religiosa de Maria Tereza, mas suas obras são bastante valorizadas pelos "espíritas" e a autora sente simpatia pelo "espiritismo" brasileiro. Alguns outros livros da autora, ligados a comportamento social, são vendidos na livraria nas sessões de "livros espíritas".

Reproduzimos o trecho que o DCM reproduziu e confrontamos com outro, dito por Divaldo Franco para o jornal Zero Hora, em 06 de novembro de 2017, em razão do 9º Congresso Espírita do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

As declarações de Divaldo sobre a felicidade em situações adversas é rigorosamente idêntica à de Maria Tereza, como o "crescimento pós-traumático" dito pela autora e a "possibilidade de ser feliz na situação deplorável" dita pelo "médium". O DCM perdeu de investigar o "médium", talvez com medo de atingir um ídolo religioso associado a apelos emotivos fortes. Mas não se entende o silêncio que os esquerdistas tiveram com Divaldo, que homenageou o decadente João Dória Jr. no Você e a Paz.

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TRECHO DE ENTREVISTA DE MARIA TEREZA MALDONADO AO GAZETA ON LINE - NOVEMBRO DE 2017

Dá para ser feliz em situações bem adversas? Como, por exemplo, estando desempregado(a) e com muitos boletos a pagar?

Sim. Fazendo uma construção interior de que problemas são a oportunidade de se descobrir novos recursos internos. Desempregados descobrem novos talentos nesse momento. Existe o crescimento pós-traumático.

Felicidade, então, não é a ausência de problemas?

De jeito nenhum. Felicidade é estarmos bem interiormente para lidar com eles. Há várias maneiras de construir a felicidade. A menos duradoura é através da euforia, quando se consegue ou se ganha algo. Isso é passageiro. Se for ligada ao consumo, então, dá uma insatisfação permanente.

A senhora entrevistou 190 pessoas para o livro. Descobriu o que traz felicidade?

Não é prestígio profissional, status ou dinheiro, mas construir bons relacionamentos (com filhos, amigos, etc), o que dá a alegria de estar vinculado. Descobrir o sentido da sua vida, viver com propósito, se dedicar a uma causa também é construir felicidade serena. Pessoas que levam uma vida mais simples, em contato com natureza, alcançam uma felicidade mais perene.

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TRECHO DE ENTREVISTA DE DIVALDO PEREIRA FRANCO AO JORNAL ZERO HORA, EM 06 DE NOVEMBRO DE 2017

Em 2014, o senhor publicou o livro "Seja Feliz Hoje". Como ser feliz hoje?

Ao realizar o estado de paz interior. Confundimos a felicidade com o prazer. O prazer é fugidio, resultado da vida sensorial. A felicidade é o aprofundamento de valores. Podemos ser felizes na doença, na pobreza, na situação deplorável. Mas logo vem a ânsia do prazer. A verdadeira felicidade é dar-se para que a vida seja útil. Quando ela se torna útil a alguém, torna também ao indivíduo. É a proposta de Jesus Cristo: ele veio para servir, e não se serviu de nós para evoluir. A lição dele está no espiritismo, que nos oferece, na caridade, o meio de exaltação do self. Buscamos sempre o prazer e esquecemos da felicidade. Muitas vezes temos as respostas físicas, mas não temos a paz interior para a plenitude. 

Há quem diga que hoje existe uma obsessão pela felicidade e que é por isso que as pessoas se frustram. Como o senhor avalia isso? 

A felicidade é pelo ter. Corremos atrás de coisas e esquecemos dos valores individuais. Muitas vezes renuncio a determinado prazer para encontrar a paz. Somente quando nos preenchemos de valores éticos é que as coisas perdem o significado. Elas têm o valor que nós atribuímos. No momento em que a dor nos surpreende, esses valores desaparecem. Mas quando temos certeza de que a dor é um apelo do universo para que nos tornemos melhores, a felicidade aparece. 

A felicidade envolve renúncia?


Sim. Sem a renúncia, não há felicidade. A renúncia é prova de amor, não exigir que o outro seja como nós queremos, mas ser feliz com aquilo que o indivíduo tiver. 

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