domingo, 18 de setembro de 2016

O "espiritismo" também "não tem provas, mas convicções"


O que poderia ser um "golpe certo" contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva acabou se tornando uma grande gafe. O discurso do procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, com seus simplórios esquemas gravados em arquivos de Power Point, que foram alvo de muitas gozações nas redes sociais.

Ele até tentou colaborar com a plutocracia. Com seu juízo de valor e uma linguagem duvidosa no âmbito jurídico - mas compreensível se percebermos o quanto Gilmar Mendes e Sérgio Moro também fazem com as leis, manipulando-as tendenciosamente - , Dallagnol definiu Lula como "comandante máximo da corrupção" e usou adjetivos nada objetivos como "maestro" e "general".

Sobre a acusação de que Lula seria proprietário de um triplex no Guarujá - na verdade um modesto apartamento de classe média, do qual Lula e Marisa desistiram de comprar - , Dallagnol partiu para a gafe: "não temos provas, mas convicções".

A mídia de direita tentou desconversar, dizendo que "não foi exatamente isso que foi dito", mas se juntar as peças do quebra-cabeça discursivo do homem do esquema simplório do Power Point, verá que é justamente isso: condena-se alguém sem provas, mas por "pura convicção" de que esse alguém é culpado.

No "espiritismo", vemos a mesma coisa, só que "pelo bem". Vide Richard Simonetti, um dos "sábios" palestrantes "espíritas" que havia atribuído levianamente ao ateísmo um estímulo ao suicídio no seu artigo "Os que matam a esperança", que em determinado trecho diz, através destas palavras:

"Admitindo que haja leis que regem a Natureza, pergunta-se: quem as instituiu? Quem as sustenta? É só usar o bom senso para perceber que a presença de um Criador se impõe, por mais sofisticados sejam os raciocínios dos que pretendem justificar a existência do ovo sem a galinha, do Universo sem Deus.

O grande problema é que, como diz a sabedoria popular, para aquele que crê nenhuma prova é necessária; para o que não crê, nenhuma prova é suficiente.

E na medida em que a Humanidade segue pelo perigoso caminho da Ciência sem Deus, amplia-se o número dos que afundam no materialismo, com perturbadora concepção de que a vida termina no túmulo".

Buscando misturar um suposto cientificismo dotado de muito pedantismo e um igrejismo convicto, Simonetti tenta parecer neutro, mas na sua retórica, quando compara que "para aquele que crê nenhuma prova é necessária" e "para o que não crê, nenhuma prova é suficiente", estabelece uma preferência à primeira opção.

A criminalização do raciocínio questionador já se observou sobretudo no caso de Francisco Cândido Xavier e suas obras mistificadoras, quando a crescente observação de irregularidades nas atividades "mediúnicas" do anti-médium mineiro faziam os "espíritas" ficarem preocupados com tamanhas repercussões.

Daí que o próprio Chico Xavier sempre pregava, através de suas palavras dóceis ou pelo ditado do espírito de Emmanuel, para que ninguém questionasse, ninguém reclamasse, ninguém contestasse. Muita gente acha isso muito lindo, mas há um motivo nada nobre nesses apelos, que é o de Chico Xavier salvar sua própria pele.

As observações sobre irregularidades nas obras "psicográficas", sejam livros que envolvem nomes de autores famosos falecidos, se acumularam com provas consistentes, agravando ainda mais os escândalos e deixando Chico Xavier em grande desvantagem.

O marketing religioso que, por sorte, encontra respaldo na sociedade, é que permitiu que Chico Xavier contornasse os obstáculos usando de coitadismo e triunfalismo, no primeiro caso se posando de vítima, no segundo achando que será um vencedor através de muitas derrotas.

Daí que se percebe o apelo medieval do "tóxico do intelectualismo", dos "males da ciência", da "overdose de raciocínio" e do "perigo de pensar". Acham que o pensamento científico, por estar sujeito a erros, não pode ir adiante, mas isso se compara a alguém que, por tropeçar uma vez, é proibido de continuar andando.

O caso de Humberto de Campos, nome associado à maior farsa literária que foi beneficiada pela impunidade, já mostra o jeito "Dallagnol" do "movimento espírita", que, embora se autoproclame "simpatizante" da Ciência e do pensamento questionador, sempre reage com indignação medieval quando os questionamentos atingem o terreno da fé religiosa dos "espíritas".

Daí que os "espíritas" gostam dessa ideia de "não ter provas, mas convicção". Logo a doutrina que se diz "ligada à lógica e o bom senso" os desrespeita, de maneira constrangedora, quando aceita obras irregulares em nome de mitos, dogmas e totens relacionados aos estereótipos de "bondade" e "caridade".

A aceitação de Chico Xavier, mito religioso patrocinado pela mesma Rede Globo que aplaudiu Dallagnol e seu Power Point de aluno de primeira série, preocupa diante dessa carteirada religiosa e da complacência com irregularidades, quando elas são feitas sob o pretexto da "bondade" e outras qualidades semelhantes.

No entanto, a espécie humana, dotada da capacidade de raciocínio, deve colocar a lógica e a coerência acima até mesmo do deslumbramento religioso, sob pena de ver o conceito de "bondade" corrompido diante da complacência com a fraude e com a mistificação.

Nem sempre o amor pode tudo, como no caso da cumplicidade com obras duvidosas e irregulares que envolvem falsidade ideológica, fanatismo religioso e outros vícios. Nunca se pode justificar o amor e a caridade para enganar e iludir as pessoas.

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