domingo, 4 de setembro de 2016

As piores paixões terrenas estão no âmbito da religião


Boa parte de quem ocupa o topo da pirâmide social, no Brasil, está sofrendo os piores deslizes. Um exemplo é juízes e advogados que integram o Poder Judiciário ou o Ministério Público cometendo erros propositais, selecionando quem deve ou não ser investigado ou condenado perante as convicções pessoais.

Há os empresários que querem tudo e não abrem mão de ceder um centavo de suas fortunas, só se livrando dos bens quando suas vontades pessoais assim desejam. Há os executivos de mídia que querem ser os senhores da opinião pública. Há os tecnocratas que decidem arbitrariedades cruéis e nocivas, motivados pelo envaidecimento do diploma e da roupagem técnica de seus atos.

Mas há também os religiosos, que se consideram representantes do "Criador", para os quais não cabe qualquer tipo de contrariedade. É certo que católicos e evangélicos, estes da linha pentecostal, começam a enfrentar sérias crises, mas hoje se observa que os "espíritas" ainda estão imunes, mesmo quando suas irregularidades sejam aberrantes.

Recentemente, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) está envolvido num escândalo em que é acusado de assédio sexual a uma jovem jornalista. Outros personagens estão envolvidos e, mesmo quando a ilusão de imunidade permite que o processo se inverta e Feliciano tente processar a denunciante, acusada de suposto suborno, seu escândalo já repercutiu negativamente perante a opinião pública.

No "espiritismo", porém, não há um escândalo que oficialmente se repercuta com amplitude nos meios de comunicação. Sabe-se que as instituições já sucumbiram ao processo obsessivo que Allan Kardec chama de "subjugação", já que o deslumbramento religioso acaba cegando juristas, jornalistas e acadêmicos que têm medo de investigar com isenção as irregularidades "espíritas".

Num dado momento, chega o recurso falacioso do Ad Passiones, o "apelo à emoção". Quando se tenta investigar alguma irregularidade, os "espíritas" reagem com seu "canto da sereia". falando em "bondade" e "caridade" e se aproveitando dessa carteirada moral quando tenta convencer de que "erra muito, sim, mas pelo menos pratica caridade".

Esse "rouba mas faz" do "espiritismo" beneficia figuras como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, e mostra o quanto a carteirada beneficia certos setores sociais. Se você quiser ser impune, pode escolher duas coisas: filiar-se ao PSDB e ser "espírita". Você pode até furtar a bolsa de uma senhora numa rua movimentada que ninguém mexe consigo.

As fraudes literárias que Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram, e a usurpação do nome de Allan Kardec para dar um verniz "racional" aos livros "psicográficos", dotados do mais gritante igrejismo medieval, são deixadas para lá, impunemente.

Ficamos imaginando se o senador Aécio Neves pudesse também exercer atividade de "médium espírita", e lançasse livros supostamente mediúnicos com mensagens igrejistas. Aí seria a consagração, ele alcançaria o "paraíso" presumido pelos seus apaixonados seguidores e abaixo-assinados de milhares de páginas seriam lançados pedindo o Nobel da Paz.

A carteirada religiosa faz com que se use e abuse de uma suposta superioridade social. E isso é ruim porque o religioso acaba deixando de lado suas responsabilidades, se é que a religião, essa ilusão que faz os homens se acharem "embaixadores de Deus", pode fazer alguém responsável por alguma coisa.

Vendo os últimos textos produzidos pelas páginas "espíritas" na Internet, verifica-se uma pregação moralista que, embora parecesse "sábia", é desumana. Revelam a nunca assumida Teologia do Sofrimento, corrente católica medieval que pregava que as pessoas devessem suportar um maior número de desgraças para atingir as "bênçãos divinas".

São textos que não conseguem dizer claramente a que vieram. Viemos para sofrer ou não? Temos que ser perseverantes ou não? Temos ou não temos talentos? Nossas vocações são luxúria terrena? Nossas necessidades são caprichos levianos? Exigimos demais quando queremos apenas o que precisamos? Devemos ou não mudar nossos pensamentos?

O que chama a atenção é que os "espíritas" não entendem a individualidade humana. Eles deixam subentendido que as individualidades são apenas meros caprichos materialistas, porque no fundo os espíritos não passam de um rebanho de ovelhas que depois vai para a pátria espiritual viver apenas na "fraternidade".

Quantas ilusões foram produzidas sob o rótulo de "espiritismo" no Brasil e quantas paixões terrenas têm os "espíritas" sem que eles mesmos pudessem admitir, tomados pela "santa" vaidade de se acharem os "paladinos da moral cristã".

Para piorar, a impunidade de Chico Xavier em se apropriar dos mortos, produzindo, sob o nome deles, mensagens que destoam dos respectivos aspectos pessoais, torna-se, infelizmente, inabalável, garantida a carteirada religiosa diante da qual nenhum esforço definitivo se faz para combater.

Mas a coisa chega ao ponto deplorável de Chico Xavier ter seduzido, com sua estratégia falaciosa do Ad Passiones, tanto a mãe quanto o filho de Humberto de Campos, respectivamente Ana de Campos Veras e Humberto de Campos Filho, com o agravante de que este último chegou a ter uma postura extremamente cética em relação às supostas psicografias que levavam o nome do pai.

A religião "espírita" é a que mais sucumbe às paixões terrenas do que mil orgias aristocráticas. A ilusão da riqueza espiritual não é muito diferente do acumular de moedas e títulos, porque é tão abundante quanto aquelas e tão pomposo quanto estes.

A ilusão do juízo de valor diante do sofrimento alheio, a ilusão da presunção de existência de um "ente superior" concebido pelos preconceitos materiais da sociedade ocidental, chamado "Deus", para o qual não se comprova existência, a ilusão dos prêmios dos ricos ao suposto trabalho da "caridade", a ilusão da suposta humildade, tudo isso deslumbra os "espíritas".

É essa ilusão, que os "espíritas" não consideram desta forma, que os corrompe e os faz vulneráveis a uma desencarnação que, depois, será muito dolorosa. Já se observa a surpresa desagradável que um Divaldo Franco terá quando falecer, a exemplo das dores e do choque sofridos por Chico Xavier quando encerrou sua encarnação.

O próprio Divaldo se valeu da carteirada religiosa diante dos prêmios que a aristocracia dava a ele, e ao título de "maior filantropo do país" dado assim de graça, quando as atividades da Mansão do Caminho, não bastasse um método pedagógico inócuo e de acordo com os preceitos da Escola Sem Partido, só conseguiram beneficiar menos de 0,01% de toda a população brasileira.

Isso é desagradável para muitos, mas é essa a realidade dura e dolorosa de quem, iludido com as luzes artificiais do status religioso, elas em si holofotes não menos levianos que muitos que iluminam mansões em vaidosas orgias, não sabe o choque que terá, ao perceber que a fé também acoberta tantas e tantas paixões, tantos e tantos sentimentos de sensualismo, vaidades estremas, orgulho e omissão.

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