sexta-feira, 16 de setembro de 2016

"Espíritas" insistem em servir a dois senhores


Que coerência espírita se espera para aquele que se serve a dois senhores, apreciando o cientificismo de Allan Kardec mas exaltando o igrejismo medieval de Francisco Cândido Xavier? Nenhuma, por mais que o palestrante "espírita" da ocasião insista em falar numa coerência que ele mesmo ignora.

Jesus de Nazaré havia dito que ninguém pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Mas os "espíritas" insistem em desobedecer os ensinamentos do próprio Jesus, sobre o qual derramam palavras viscosas e gosmentas de bajulação.

Por um lado, falam da "propriedade e atualidade" dos ensinamentos kardecianos. No outro, se referem a Chico Xavier como "profeta da sabedoria universal". Num momento, dizem que Erasto tem razão. No outro, afirmam ver coerência em Emmanuel, cujo perfil Erasto reprovaria sem hesitação.

É lamentável que os palestrantes do "movimento espírita" insistam com tamanhas contradições, logo eles que se dizem os "paladinos da coerência". Chegam mesmo a dizer que as obras de Chico Xavier "ampliam" e "atualizam" os postulados da Doutrina Espírita, quando percebemos a inconsistência dessa tese tão absurda, embora agradável a muitos.

De que adianta, por exemplo, os palestrantes que juram defender o rigor científico de Allan Kardec, apelar para Emmanuel e o fictício André Luiz, cujos livros não apenas rompem com os postulados kardecianos como inserem absurdos para os quais não há uma hipótese plausível?

Sobre a suposta realidade espiritual que se observa no livro Nosso Lar, o próprio Allan Kardec renegaria esta obra, por verificar que, do mundo espiritual, não se tem qualquer ideia que possa ser considerada cogitável, pois faltam estudos sérios a respeito, como faltavam nos tempos do pedagogo francês e ainda são muito precários até os nossos dias.

Portanto, não há provas cabíveis que mereçam sequer a condição de palpites sobre a suposta existência de colônias espirituais. Além disso, a presunção dos "espíritas" da existência desses lugares, uma pretensa "compensação" para os sofrimentos e amarguras que se acumulam nas pessoas, revela um materialismo gritante.

Há até uma contradição, na qual há um desgosto com a vida material daqui, com o "mundo cão" que os próprios "espíritas" comprovam serem impotentes para resolver. Há uma ojeriza sutil a tudo que seja qualidade de vida na Terra, em que até ter um emprego de acordo com o talento de alguém é visto como "extravagância" e, namorar alguém por afinidade, uma "luxúria".

A vida "qualquer nota" defendida pelos "espíritas", que não veem individualidades e acham que todos somos uma multidão de nadas querendo fingir falsos papéis sociais, revela a insensibilidade dos "espíritas" quanto à necessidade de aproveitar a brevíssima encarnação não para aguentar desgraças, mas para buscar progressos.

Muitos "espíritas" se contradizem - contradizer é, aliás, a única coisa que fazem - quando tentam omitir a Teologia do Sofrimento, alegando que "ninguém nasceu para sofrer" e tentam verdadeiros dribles retóricos para manter a razão sempre ao seu lado, ainda que digam não ter pretensão para tal finalidade.

Acham que a pessoa "pode trabalhar seus talentos", mas não explicam por que certas pessoas só conseguem sofrer desgraças e infortúnios, e com dificuldade descomunal só conseguem superar depois de tanta dor, tanto martírio e conseguindo um benefício aquém do esperado.

Essas contradições todas partem porque os "espíritas" tentam usar Allan Kardec para explicar o igrejismo. E tudo isso com traduções malfeitas, como as das editoras FEB e IDE. Fica fácil ficar pregando através de tais traduções, pois nelas o pedagogo francês é transformado, tendenciosamente, num padre, e o que se vê nesses livros são os postulados da "igreja do padre Kardec".

Que conselhos, portando, os "espíritas" têm moral para dar? Num momento, dizem que ninguém nasceu para sofrer. Num outro, dizem que as desgraças mais pesadas são necessárias para "dissolver paixões terrenas". Num momento, exaltam Erasto, no outro louvam Emmanuel. Numa ocasião, falam em Ciência, noutra pregam a Religião.

Com tantas contradições, não há coerência que encontre morada. A palavra coerência pode ser até evocada, milhões e milhões de vezes, bajulada, acariciada, com textos enfeitados, perfumados, açucarados, ou até fazendo mil poemas a respeito. Mas, onde tem contradição e confusão, a coerência pode ser chamada aos berros que ela nunca virá. Ela não encontra morada nesses ambientes.

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