segunda-feira, 24 de abril de 2017

Pretensas mediunidades refletem carência materialista diante das mortes prematuras

HUMBERTO DE CAMPOS - Usurpação de seu nome por Chico Xavier atende à obsessão materialista por obras que os mortos não podem produzir.

Na ausência de pesquisas mediúnicas que poderiam permitir uma comunicação efetiva com os mortos, já que o "espiritismo" brasileiro praticamente surgiu rompendo com os postulados de Allan Kardec - só nas últimas décadas há a "fase dúbia" que exalta o pedagogo francês mas se pratica o igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing - , não há como receber obras novas confiáveis dos espíritos falecidos.

A estranha facilidade de haver supostos médiuns e de surgir, em quantidade industrial, trabalhos supostamente mediúnicos, inclusive a aberrante "reunião" de pintores do além-túmulo de diversos lugares e épocas, já faz comprovar o quanto a mediunidade é fraudulenta, porque o contexto não nos permite que surjam trabalhos em série e médiuns em grande quantidade.

As paixões religiosas que fazem as pessoas aceitarem todos esses absurdos, apenas porque apresentam uma retórica e um aparato associados a supostas ações e ideias de bondade, fazem com que a emotividade cega peça para que surjam "novas obras" atribuídas a personalidades falecidas. Isso cria um mercado voraz, em que qualquer famoso que morre passa a ter seu nome apropriado por um terceiro, sem autorização e sob a desculpa do "pão dos pobres".

O que poucos percebem é que os supostos trabalhos mediúnicos acabam atendendo a uma obsessão materialista. Como os mortos já não exercem as atividades que faziam na Terra, no caso deles terem sido escritores ou pintores quando eram vivos, eles não têm condição para lançar trabalhos inéditos, cabendo meios sérios de possibilitar essa comunicação, inexistentes devido à falta de estudos sérios e consistentes.

O que se vê como "obra mediúnica" no Brasil é uma aberração. As obras não refletem o estilo do autor morto alegado, mas expressam fielmente o pensamento pessoal do suposto médium e todo o estilo deste. Pior: para evitar acusação de fraude, as obras são sempre acompanhadas de algum apelo religioso, ainda que implícito, porque, assim, dificilmente desperta alguma desconfiança.

E isso acaba seduzindo e aliciando as pessoas, se tornando uma pegadinha tão bem sucedida que até os familiares do morto alegado acreditam. É um truque tão engenhoso que dificilmente é desmascarado, embora aspectos de fraude não sejam difíceis de serem identificados.

A saudade dos mortos faz com que as pessoas, movidas pela carência materialista de novos trabalhos e mensagens, aceitassem como "autênticas" as mensagens apócrifas que carregam os nomes dos entes queridos ou dos ídolos famosos, sob o pretexto de que elas trazem "mensagens positivas" e portanto "não causam a menor ofensa".

Só que isso revela uma obsessão doentia. Ver, por exemplo, que Humberto de Campos faleceu prematuramente, aos 48 anos, as pessoas sentem falta de material novo relacionado a ele. Poucos trabalhos póstumos Humberto deixou em vida: dois livros de memórias, um deles deixado incompleto, e um diário secreto. Além destes, diversas coletâneas foram lançadas.

Então, surgem trabalhos "espirituais" que aparentemente sugerem "continuidade" da obra inédita do autor maranhense. Só que se sabe que são trabalhos que destoam do estilo original do autor maranhense. Mas, num Brasil de hábito de leitura irregular, intelectualmente medíocre e frágil e apegado às paixões religiosas, as pessoas aceitam como "autênticas" as supostas psicografias de Humberto.

Sendo então o "médium" uma figura cercada de muitos fanáticos, como Chico Xavier, as pessoas então sucumbem à mais cega credulidade. E aí Chico faz uma verdadeira farra aos materialistas, que sem perceber as nuances do espírito, aceitam que venha do "bondoso homem" toda uma carga de supostas mensagens do além, que na verdade refletem o estilo e o pensamento pessoal do "médium".

Com isso, até a certeza da vida após a morte é submetida ao capricho das paixões materialistas, nas quais as paixões religiosas, cobertas pelo verniz de uma suposta espiritualidade, dissimulam as ânsias vorazes e a adoração voluptuosa àqueles que têm a "façanha" de morrer cedo. Com isso, eles têm que estar associados a supostas mensagens inéditas que, em verdade, saem das mentes dos "médiuns".

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