quarta-feira, 12 de abril de 2017

"Bondade" que sobrepõe a imagem do benfeitor é duvidosa


O "espiritismo" brasileiro tem uma desculpa pronta para levar todas as deturpações e outras irregularidades para a frente: a "caridade". Em muitos casos, se autopromove como a "religião da bondade", com apelos que chegam ao ponto da pieguice mais enjoativa mas suficiente para deixar as pessoas conformadas com esse "atenuante" da doutrina que traiu Allan Kardec.

Quantos palestrantes realizam todo um balé de palavras bonitas! Quantos apelos à fraternidade e à paz, com palavras do mais puro gosto de mel! Quantos apelos à beleza, à simplicidade, ao amor! Quantos, quantos e quantos discursos que desarmam até o mais ácido questionador da deturpação da Doutrina Espírita, se ele não estiver preparado para enfrentar esses cantos-de-sereias!!

O Brasil, país tão atrasado que hoje abriga espíritos cujo comportamento sugere que muitos brasileiros tenham sido reencarnações de espíritos retrógrados - dos aristocratas do Império Romano aos macartistas dos EUA, passando por medievais e nazi-fascistas - , o que se comprova pelo "espírito do tempo" marcado pelas ações que geraram esse quadro político, midiático e sócio-econômico viciado dos últimos anos, ainda não consegue entender a verdadeira natureza da bondade.

A bondade é vista aqui como um empreendimento vinculado a uma instituição religiosa de "livre escolha". Esse empreendimento é de propriedade de um ente chamado Deus e qualquer pessoa pode adquirir essa franquia, de forma "livre" e "ilimitada", desde que haja algum vínculo institucional ou uma relação com algum ídolo religioso.

As pessoas acabam caindo em tentações movidas pela paixão religiosa. De repente, diante de certos projetos filantrópicos, se esquecem dos beneficiados, diante da exaltação do benfeitor. E, no "espiritismo", a "caridade" é usada mais para legitimar os deturpadores que, em termos de prática espírita, fazem tudo errado, mas se sobressaem por causa da "bondade", a ponto dos críticos da deturpação do Espiritismo aceitarem de bom grado os deturpadores.

Quando a "bondade" expõe o benfeitor sobre o beneficiado, é bom desconfiar. No "espiritismo", pouco se fala de beneficiados, embora a realidade mostre que a doutrina ajudou muito pouco, investindo em meras ações paliativas que nem de longe transformam a vida das pessoas. Os necessitados são quase sempre os mesmos. E projetos pedagógicos se limitam a formar cidadãos corretos, mas beatos e inócuos, simpáticos porém medíocres.

Fala-se demais do benfeitor. Claro, é uma forma de minimizar as responsabilidades que o deturpador deveria assumir pela traição ao pensamento de Allan Kardec, algo que muitos subestimam, mas é um ato de desonestidade explícita.

Ignora-se que Allan Kardec fez sozinho todo seu sistema de valores, procurando selecionar as mensagens espirituais que solicitou de outros médiuns. Vale lembrar que os médiuns a serviço de Kardec eram pessoas discretas e quase anônimas, sem o culto à personalidade e o messianismo associados a gente como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.

Kardec pagou suas próprias viagens, sem patrocínio alheio. Passava altas horas da noite respondendo dúvidas e questionamentos. Recorria à própria esposa, Amelie Gabrielle Boudet, para pedir conselhos em situações difíceis. Nos momentos finais da vida, ainda escrevia sofrendo febre alta e portando um aneurisma cerebral.

Tudo isso foi feito com muita dificuldade para depois a Doutrina Espírita servir para as diversões igrejistas dos grandes detupadores Chico Xavier e Divaldo Franco, seguidores nunca assumidos do pioneiro deturpador Jean-Baptiste Roustaing, o primeiro que quis "catolicizar" o legado kardeciano.

Os dois "médiuns" fizeram tudo errado, transformaram o Espiritismo num engodo, num bacanal religioso marcado por péssimos romancistas, cientistas fracassados e paranormais de fraca concentração mental que recorrem à "mediunidade de faz-de-conta", inserindo apelos religiosos para afastar qualquer desconfiança de fraude, porque raramente alguém tem coragem de investigar "mensagens de amor".

A "bondade" serve de escudo para deturpadores, que se armam de projetos "filantrópicos" aparentemente "admiráveis", mas que pouco trazem de benefícios. Em muitos casos, os benefícios são menores do que certos projetos filantrópicos bancados por gente rica e famosa, que, com toda a ostentação de seus benfeitores, ainda faz "algo mais" do que os tão festejados "espíritas". Como educação cultural e um ensino de História com um pouco mais de análise crítica.

Um bom termômetro disso é Uberaba, a cidade adotiva de Chico Xavier. Tão "beneficiada" pelo suposto carisma do anti-médium mineiro, tão "protegida" por suas "boas energias" e tão transformada" por sua aparente filantropia, a cidade do Triângulo Mineiro caiu 106 posições, em Índice de Desenvolvimento Humano, nos levantamentos de 2000 e 2010 e, no centenário de nascimento do "bondoso homem", Uberaba ficou em 210º lugar com índices de pobreza e violência.

Nos últimos anos, os assassinatos que ocorreram em Uberaba atingiram índices tão preocupantes que foi feita até foto-montagem com a famosa "dama encapuzada com seu foice" andando por uma rua da cidade. E ocorreram até passeatas pedindo Justiça e mais policiamento. Os "espíritas" devem achar isso "injusto", porque em Uberaba só morre de violência quem tiver sido patrício de Roma...

A verdade é que, infelizmente, a "bondade" é usada para abafar a gravidade dos deturpadores da Doutrina Espírita, que praticam o roustanguismo seu de cada dia, com o igrejismo mais viscoso, cheio de fantasias em torno de "crianças-índigo", "colônias espirituais" e a redução da emotividade humana a um mero entretenimento.

E tudo isso apoiado não no legado de Kardec, mas na medieval Teologia do Sofrimento católica, aquela que diz que "é bonito sofrer". Até porque é necessário haver desgraçados para que se acione a "indústria de bondade" que garante a propaganda de exaltação aos deturpadores convertidos em "missionários". Kardec estaria envergonhado se visse tudo isso.

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