sábado, 22 de abril de 2017

Deturpar Allan Kardec é muito mais grave do que se pensa


Quando falamos que os deturpadores da Doutrina Espírita cometeram graves erros, as pessoas choram apavoradas, bradando que "se está desmoralizando o trabalho do bem", "perseguindo pessoas bondosas" etc e tal.

Mas as críticas em torno da deturpação devem ser levadas a sério. Esqueçamos o recreio das "palavras de amor", da "filantropia" que beneficia mais o benfeitor do que o beneficiado, graças  ao  seu prestígio religioso.

Também vamos deixar de lado as paixões religiosas e o entretenimento das comoções fáceis do derramamento desnecessário de lágrimas, como s fôssemos chafarizes humanos. Deixemos as orgias da fé e seu prazer oculto pela desgraça alheia. E paramos de sonhar com gozos prometidos para "pátria espiritual".

A deturpação do Espiritismo é do mais alto nível de gravidade. Somos acostumados a conviver com uma suposta Doutrina Espírita que soa como um produto pirata do qual se foi obrigado a adquirir. Mas a situação deveria ser de preocupação e não de alívio.

Afinal, dois pontos muito importantes devem ser considerados. Um é que os ditos médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco não deturparam a Doutrina Espírita por ingenuidade ou boa-fé, mas com todo o propósito e, podemos dize, ma-fé. E isso se constata com uma razão bem simples.

Não se pode considerar como um errinho ingênuo algo que foi feito com muitíssimos livros. Chico Xavier e Divaldo Franco registraram, em uma grande quantidade de livros, conceitos e valores que causariam vergonha ao professor de Lyon, e não é de hoje que se denuncia os dois "médiuns" como deturpadores do Espiritismo.

"Ah, mas são as palavras de amor, mensagens de esperança, tem tanta história linda... É, muitas ideias contrariam o pensamento de Kardec, mas prestemos atenção na caridade, mas boas lições de vida...", costumam reagir muitas pessoas, se esquecendo dos avisos do espírito Erasto sobre as "coisas boas", que ele definiu como armadilhas para a transmissão de ideias levianas.

Outro ponto importante a ser considerado é que Allan Kardec teve um duro trabalho para desenvolver suas obras. Era praticamente ele sozinho, com o apoio de sua esposa Amelie Gabrielle Boudet, a desenvolver um arrojado sistema de ideias lógicas e coerentes que nem sempre eram bem recebidos pela sociedade francesa.

Kardec não tinha patrocinador para suas viagens de pesquisa. Ele mesmo as bancava do próprio bolso. A Revista Espírita era feita por ele, dando muito duro para explicar e esclarecer muitas ideias por ele divulgadas e muitos mal-entendidos que vinham do caminho. Até quando suas energias físicas estavam se esgotando, o pedagogo buscava dar o máximo de esclarecimentos sobre a nova doutrina.

Chico Xavier e Divaldo Franco são "filhos" de Jean-Baptiste Roustaing, o deturpador do Espiritismo que primeiro lançou conceitos igrejeiros. Não se compara os eventuais sofrimentos de Chico e Divaldo e suas vidas com os de Kardec, porque os dois "médiuns" viveram como beatos católicos e com os sofrimentos próprios destes.

Por outro lado, comparado com o trabalho do pedagogo francês, os dois "médiuns" tiveram a "cama feita" para "deitar e rolar". Viraram astros da idolatria religiosa, símbolo das tentações emotivas das paixões religiosas - tão traiçoeiras quanto os "gozos mundanos" do sexo, do dinheiro e das drogas - e fizeram a fortuna dos chefões da Federação "Espírita" Brasileira.

Chico e Divaldo fizeram turismo patrocinados por outrem, principalmente este último. Muito diferente do professor lionês que pagou suas próprias viagens. E fizeram isso espalhando mentiras e conceitos que em muitos aspectos desmoralizaram os conhecimentos trazidos por Kardec, o que significa, em parte, uma ofensa ao trabalho árduo do Codificador.

Muitos de nós, mesmo quando criticamos a deturpação da Doutrina Espírita, somos tentados a sucumbir às paixões religiosas e temos medo de criticar severamente Chico e Divaldo. Ainda somos movidos por velhos padrões de religiosidade, coisas do tempo da vovó, e preferimos, em nome da fé, deixarmos para lá as graves irregularidades que mancham seriamente o legado da Doutrina Espírita.

Temos que deixar de lado essas paixões e não cair na sina vergonhosa de Humberto de Campos Filho, que recebeu um abraço de Chico Xavier que mais parecia o "beijo da morte". O homem que chegou a processar o suposto médium pela apropriação indébita do nome de seu pai, ter que ser tomado pelo processo de fascinação obsessiva, uma armadilha emocional alertada por Kardec, é uma demonstração de como as paixões religiosas podem consistir em uma perigosa tentação.

Criticar a deturpação e poupar os deturpadores não irá recuperar as bases originais do Espiritismo. Sermos "fraternos" com os deturpadores não é defender a verdadeira solidariedade, mas usar o "amor" e a "caridade" a serviço da deturpação e da desonestidade doutrinária. Romper com a deturpação sem romper com os detupadores é cortar o mal pelo caule, visto que, com a consideração dada aos detupadores, a deturpação volta ainda com mais força. E, aí, adeus Kardec.

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