sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Faz sentido apenas expor a teoria original de Allan Kardec?

NEM A LEITURA DAS TRADUÇÕES DE JOSÉ HERCULANO PIRES FARIA OS DETURPADORES DO ESPIRITISMO ESTAREM EM DIA COM ALLAN KARDEC.

O "espiritismo" brasileiro acumulou muitos problemas que foram escondidos debaixo do tapete. A opção igrejeira do roustanguismo fez com que uma série de más decisões fossem feitas, e, diante de muitos impasses, resultar em posteriores dissimulações.

Hoje o "espiritismo", na prática, se afastou de Allan Kardec. O professor de Lyon foi reduzido a um objeto de bajulação e sua apreciação se dá por conta de traduções catolicizadas das editoras FEB e IDE, o que não corresponde ao pensamento original da Codificação.

A hipocrisia acabou reinando entre os "espíritas" que cometem traições gravíssimas a Allan Kardec, mas juram de pés juntos que são "rigorosamente fiéis" a ele, algo que só pode ser definido como leviandade.

Não estamos dizendo isso por intolerância religiosa, mas por intolerância à farsa, à mentira e à dissimulação. A liberdade religiosa não pode ser usada como desculpa para que se cometam traições e deslizes e depois se esconda a sujeira debaixo do tapete.

Os "espíritas" fazem o que querem, mas querem sair pela porta dos fundos. São beneficiados pelo mito de que só podem ser responsáveis por seus atos quando eles são positivos e acertados. Mas, quando se tratam de erros e atitudes danosas, eles fogem de qualquer responsabilização mesmo quando dizem "assumir seus erros". Só que "assumem" para não serem punidos, e isso mais parece uma demonstração de orgulho: "Quem nunca errou na vida? Todos erram, nós somos que mais erramos na vida!".

Não há autocrítica e os "espíritas" se corrompem em vaidades imensas. Reduzem o suado trabalho de Allan Kardec a um engodo, desmoralizando o trabalho do pedagogo, que investiu nas pesquisas sem apoio alheio, senão o de sua esposa, e tirando o dinheiro do próprio bolso, diferente dos festejados "médiuns", que vão fazer turismo sob patrocínio de empresas ou desviando o dinheiro da caridade, só para falar coisas inócuas para os ricos e receberem medalhas dos poderosos.

O "espiritismo" chega a ser mais vergonhoso do que as seitas "neopentecostais". Elas, de fato, são retrógradas, obscurantistas e muitos de seus pastores, em suas pregações, parecem ensandecidos, mas o neopentecostalismo pelo menos não comete desonestidade doutrinária. A desonestidade pode ser pelo âmbito financeiro, cometendo estelionato religioso arrancando dinheiro dos fiéis. Mas eles, pelo menos, assumem que seus valores são retrógrados e voltados ao Velho Testamento.

Os "espíritas" seguem muitas contradições. A principal delas é alternar seu igrejismo entusiasmado, sua "vaticanização" convicta na prática mas nunca assumida no discurso, com eventuais exposições, aparentemente corretas, da teoria espírita original.

A interpretação correta dos textos de Allan Kardec, no entanto, não é garantia que os "espíritas" estejam realmente sendo fiéis aos postulados espíritas originais. Em muitos casos, há até mesmo uma alternância contraditória, em que num momento os "espíritas" expõem as ideias kardecianas autênticas (ainda que com base em traduções igrejeiras), em outro "soltam a franga" e expõem o mais derramado igrejismo.

Geralmente os "espíritas" só querem soar "corretos" em momentos mais discretos, mas dos quais são voltados a um público mais criterioso. São entrevistas em programas de TV - em boa parte, por assinatura - , canais da Internet, periódicos diversos e bastidores de seminários.

Mas quando se tratam de congressos "espíritas", lançamentos de livros e outros eventos nos quais existe um acolhimento mais caloroso das pessoas, eles ostentam o mais escancarado igrejismo, marcado por uma visão, herdada do Catolicismo medieval, sobre temas como religiosidade, fraternidade e caridade. Aí se mostram os "Constantinos" que em outros momentos fingem rejeitar a "vaticanização do Espiritismo".

Essa atitude contraditória revelou o fracasso da promessa que os deturpadores do Espiritismo fizeram, há mais de 40 anos, que é a de "aprender melhor o legado deixado por Kardec". Uns, exageradamente, falavam até em "viver Kardec", mas eram os primeiros a manter a deturpação em dia. O fracasso se deu porque a simples exposição das ideias kardecianas não impediu que seus expositores, em outras situações, manifestassem sua paixão pela deturpação igrejista.

São contradições assim que mancham o "espiritismo" brasileiro, que agora vive a sua mais aguda crise, agravada por circunstâncias recentes, como o apoio de Divaldo Franco à "farinata" de João Dória Jr.. E mostra o quanto a promessa de "aprender Kardec" não foi mais do que uma conversa para boi dormir.

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