sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Intolerância religiosa e intolerância à mentira


Incidentes eventualmente ocorrem em casas religiosas, dentro do cenário lamentável de convulsões sociais que domina na Internet mas, com muita certeza, vai além dos limites digitais até pelos impulsos temperamentais de muitas pessoas.

Há poucos dias o centro de umbanda Casa do Mago, no bairro de Humaitá, Rio de Janeiro, foi alvo de ataques e tentativa de incêndio. Não é o primeiro ataque. O caso mostra indícios de intolerância religiosa, um mal que contamina o mundo e atinge o Brasil.

Condenamos a intolerância religiosa. Quando criticamos o "espiritismo" brasileiro, a nossa intolerância não é religiosa, mas contra as mentiras e desonestidades praticadas pela doutrina, que originalmente se fundamentou nas bases de Jean-Baptiste Roustaing e se consolidou com os arrivismos do roustanguista Antônio Wantuil de Freitas, durante muito tempo presidente da FEB.

Estas são más escolhas que cobraram o preço caríssimo aos "espíritas" brasileiros. Foi um caminho de perdição no qual os "espíritas" tentam dissimular, não medindo escrúpulos de cometer contradições e equívocos graves, cobrando coerência dos outros mas praticando suas próprias incoerências.

Hoje os "espíritas" tentam reparar tudo. Se na véspera defenderam a Teologia do Sofrimento, depois se atrevem a dizer que "ninguém veio para sofrer". Num momento dizem que as pessoas devem abrir mão de suas necessidades, noutro citam o ensinamento cristão "Pedi e obtereis". Há muito dizem renegar o nome de Roustaing cujas ideias continuam seguindo inteiramente. Deturpadores, os "espíritas" brasileiros querem comandar a recuperação das bases espíritas originais.

É sempre assim. Corre-se atrás do próprio rabo e, mais uma vez, temos a velha e mofada promessa dos "espíritas" brasileiros em recuperar as bases doutrinárias. Pessoas que se formaram nas ideias roustanguistas e que, oportunistas, dizem reprovar a deturpação, bajulam até Erasto e, furando a fila, querem liderar o processo de recuperação das ideias kardecianas que eles mesmos traíram e distorceram com muito gosto.

E isso não envolve só "peixes pequenos". Esquecemos que as piores mordidas não vêm de "sardinhas", mas de "tubarões". Mesmo os tão adorados Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco não são inocentes na deturpação do Espiritismo. Afinal, Chico Xavier e Divaldo Franco deturparam com muito prazer e consciência de seus atos, porque seu igrejismo feito ao arrepio dos ensinamentos de Allan Kardec foi feito durante anos, com obras de grande repercussão.

Ninguém faz isso por acidente ou boa-fé. Se observarmos bem, Chico Xavier, por exemplo, professou seu igrejismo até o fim. Um catolicismo medieval, dos tempos do Brasil-colônia, existente até em obras produzidas nos anos 80 e 90 e em depoimentos então dados. Isso não é algo feito sem querer, até porque o igrejismo xavieriano era alvo de duras críticas desde meados dos anos 1930.

A intolerância religiosa é um erro condenável, por representar um ato violento, de ódio, de egoísmo e de disputas entre seitas religiosas rivais. Mas o grande perigo também está quando se tolera religiões comprometidas com a falsidade, com a cupidez, com a ganância, mesmo quando se traveste do mais verossímil verniz de humildade, de modéstia, de despretensão.

O que não se pode tolerar é a falsidade, as contradições, a dissimulação. E o quanto o "espiritismo" fez para Kardec virar refém dos próprios deturpadores, que se servem do Assistencialismo exibindo as populações carentes como troféus para tentar calar os críticos.

Os "espíritas" tentam dizer que "são os que mais praticam caridade". Mas o Brasil só mergulha numa decadência sem fim, aumentando as populações de miseráveis nas ruas, crescendo os assaltos que, por ironia, desafiam justamente a gula das elites em retomar seus privilégios, defendendo propostas retrógradas como a reforma trabalhista para que os patrões ganhem tudo e os empregados, quase nada.

Afinal, são justamente as elites que estão mais vulneráveis aos assaltos e latrocínios, pois o que os patrões deixam de pagar, em salários e encargos, para manterem seus altos padrões de vida, é o que acaba sendo cobrado pelos ladrões, muitos deles antigos miseráveis aos quais lhes foram negadas todas as oportunidades de trabalho.

O moralismo severo dos "espíritas", que, afeitos à Teologia do Sofrimento, nunca se mostraram sensíveis às dificuldades dos sofredores e infortunados da sorte. Em vez disso, ficam entre a indiferença, o egoísmo e a falsidade. Dizem que os sofredores "pagam pelos próprios erros", apelam para eles suportarem e até amarem suas desgraças, mas, depois, hipócritas, os "espíritas" tentam trazer um discurso de "esperança", pedindo para os sofredores ficarem olhando passarinhos.

Quantos erros que fazem o "espiritismo", em muitos aspectos, pior do que as seitas neopentecostais! Pelo menos as seitas neopentecostais (como a Igreja Universal do Reino de Deus), retrógradas e grotescas, oferecem situações bastante cômicas, pois figuras como Edir Macedo, R. R. Soares, Silas Malafaia e Waldomiro Santiago são tão pitorescas que, às vezes, soam até cômicas.

Como tolerar isso? Moralismo retrógrado, fakes mediúnicos - só o "Humberto de Campos" trazido por Chico Xavier simboliza esses "espíritos" que não condizem ao que eram na Terra - , tantas dissimulações, tanto charlatanismo (sim, os "espíritas" são charlatães), isso mancha a história do que se entende como Espiritismo no Brasil, e do qual até seus "heróis" estão associados a fraudes e erros vergonhosos, que fariam Kardec passar a mão na testa de tanta preocupação.

Voltando a Casa do Mago, ela é definida como "centro espírita", mas era um cento de umbanda que assimilava elementos esotéricos e católicos. E os ataques devem ser sofridos por desafetos de lideranças da casa. Ataques como estes devem ser combatidos de acordo com a lei e não se devem fazer vandalismos em hipótese alguma, por eles serem deploráveis em sua própria natureza.

Mas, tenhamos bom senso. A tolerância religiosa, por outro lado, também não deve ser a tolerância da mentira e da mistificação. Que as religiões construam suas fantasias e lendas, é compreensível, mas elas não devem exercer supremacia nem mesmo monopólio sobre a realidade.

As religiões não podem estar acima dos homens, acima das sociedades. Elas podem ser extintas e podem ser duramente criticadas. As religiões refletem os interesses de uma parcela de homens que se acha "com vínculo direto com Deus". Em muitos casos, isso revela ilusões e ambições materialistas muito maiores do que sugere seu pretenso espiritualismo e divinização.

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