quarta-feira, 29 de março de 2017

O gravíssimo juízo de valor do pretenso sábio Divaldo Franco


Quão atrasado está o nosso Brasil quando se consideram como paradigmas de sabedoria engodos igrejistas, místicos e rebuscados, uma mistureba de ideias, umas boas, outras absurdas, que pretensos sábios servem para uma plateia deslumbrada que não se encoraja de contestá-los.

Um dos dois maiores deturpadores da Doutrina Espírita, o anti-médium baiano Divaldo Pereira Franco, chega a parecer verossímil em muitos momentos, mais dissimulado que Francisco Cândido Xavier. Pois Chico Xavier não teve a habilidade em usar o verniz de "kardeciano autêntico", envolto em uma trajetória cheia de confusões e marcada por um catolicismo escancarado.

Divaldo, mais esperto, adota um verniz intelectual, ainda que seu ar professoral remetesse aos padrões dos antigos professores da Educação hierarquizada e conservadora que era predominante no Brasil até os anos 1940. Sua verborragia e ainda apoiada por uma aparente filantropia, que mal conseguiu ajudar menos de 0,1% da população brasileira.

Em uma entrevista dada à mídia portuguesa, em dezembro de 2016, durante um congresso "espírita" na Espanha, ele deu aquele mesmo discurso de pretenso profeta, misturando igrejismo com pedantismo científico, e contrariando a natureza dos verdadeiros sábios que nem sempre vem com certezas prontas de bandeja em seu cardápio de ideias.

Embora ele tenha veiculado ideias agradáveis ligadas à "felicidade" e "fraternidade", Divaldo Franco lançou ideias estranhas aos postulados kardecianos, como a atribuição de "resgates coletivos" que transformam multidões em "gado expiatório". Além disso, Divaldo disparou um gravíssimo juízo de valor contra os pobres cidadãos que saem de países africanos ou do Oriente Médio em geral para tentarem a sorte na Europa. Vejamos:

"No campo das deduções e de acordo com o meu pensamento, penso que aqueles que estão hoje, de volta à Europa, são os antigos colonizadores que deixaram, até hoje, a América Latina na miséria.
Como foi negado todo o direito aos seus residentes, como aculturaram os selvícolas, destruindo culturas veneráveis, pela Lei de Causa e Efeito aqueles estão retornando hoje à pátria, no estado de miséria, e que ameaçam os próprios países de onde saíram, para, um dia, buscarem a fortuna para o conforto europeu".

Como deturpador da Doutrina Espírita, é duvidoso que Divaldo Franco fique falando com absoluta certeza das vidas anteriores dos infortunados que morrem a caminho da Europa, fugindo de países em guerra, como a Síria, a Nigéria, Iraque, Jordânia e Líbano. De maneira generalizada e investindo apenas no sofrimento das vítimas, Divaldo se preocupou mais na alegação de uma vida passada do que das raízes e do mérito da fuga de países em sangrentos conflitos.

O juízo de valor é uma constante nos ídolos "espíritas" e já fez uma médica adepta da doutrina igrejista recusar atendimento a uma menina vítima de estupro. A ideia da culpabilidade da vítima, própria do moralismo "espírita", não deve ser confundida com constatações como a de que o Brasil virou um "balneário" de espíritos atrasados reencarnados, porque aqui se refere ao âmbito das ideias e não do julgamento dos castigos sofridos.

Divaldo Franco, além disso, comete o equívoco em defender o mito de "resgates coletivos", uma ideia sem a menor coerência, mas que faz os "espíritas" atribuírem um mesmo destino a pessoas, estranhas entre si, que estão num mesmo local e sofrem alguma tragédia.

Esse é o grande perigo. Divaldo Franco é "sábio" num Brasil marcado pela ignorância e que, mal conseguindo sair de seus atrasos, está condenado a sofrer retrocessos ainda piores do que os da ditadura militar.

Antes que os seguidores de Divaldo Franco, ou mesmo os críticos da deturpação da Doutrina Espírita que tem medo de contestar este deturpador, reclamem deste texto, apresentamos trechos das obras de Allan Kardec que se referem aos pseudo-sábios, cujas caraterísticas, para desespero dos divaldistas e simpatizantes, se encaixam perfeitamente nos equívocos cometidos pelo anti-médium baiano.

Os textos abaixo apresentados são de traduções de José Herculano Pires, fiéis ao texto original, que, diante do escândalo das acusações de que Divaldo Franco, em seus primeiros livros, teria plagiado o (também plagiador) Chico Xavier, havia chamado o anti-médium baiano de "impostor". Vejamos então os trechos de duas obras kardecianas:

Do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo:

Capítulo 02 - Autoridade da Doutrina Espírita, Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos:

"Sabe-se que os Espíritos, em conseqüência das suas diferenças de capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais do que os homens; que há, entre eles, como entre estes, presunçosos e falsos sábios, que crêem saber aquilo que não sabem; sistemáticos, que tomam suas próprias idéias pela verdade; enfim, que os Espíritos da ordem mais elevada, que são completamente desmaterializados, são os únicos libertos das idéias e das preocupações terrenas. Mas sabe-se também que os Espíritos embusteiros não têm escrúpulos para esconder-se atrás de nomes emprestados, a fim de fazerem aceitar suas utopias. Disso resulta que, para tudo o que está fora do ensino exclusivamente moral, as revelações que alguém possa obter são de caráter individual, sem autenticidade, e devem ser consideradas como opiniões pessoais deste ou daquele Espírito, sendo imprudência aceitá-las e propagá-las levianamente como verdades absolutas".

OBS.: O texto em questão simplesmente desqualifica aberrações como "Divaldo Responde", já que o verdadeiro sábio não tem essa pretensão de poder responder tudo.

"Toda teoria em contradição manifesta com o bom-senso, com uma lógica rigorosa, e com os dados positivos que possuímos, por mais respeitável que seja o nome que a assine, deve ser rejeitada".

OBS.: Ideias como "crianças-índigo", "resgates coletivos" ou a presunção em determinar datas determinadas para transformações na humanidade correspondem a conceitos que contrariam a lógica e o bom senso, pois a primeira ideia é discriminatória (crianças "fora do comum"), a segunda é absurda (pessoas sem relação entre si que compartilham uma situação comum não podem ter um mesmo destino), e a terceira impossível, porque a realidade é cheia de imprevistos.

Capítulo 07 - Bem-aventurados os pobres de espírito; Mistérios ocultos aos sábios e prudentes:

"Pode parecer estranho que Jesus renda graças a Deus por haver revelado essas coisas aos simples e pequeninos, que são os pobres de espírito, ocultando-as aos sábios e prudentes, mais aptos, aparentemente, a compreendê-las. É que precisamos entender pelos primeiros os humildes, os que se humilham diante de Deus e não se consideram superiores aos outros; e, pelos segundos, os orgulhosos, envaidecidos com o seu saber mundano, que se julgam prudentes, pois que eles negam a Deus, tratando-o de igual para igual, quando não o rejeitam. Isso porque, na antiguidade, sábio era sinônimo de sabichão. Assim, Deus lhes deixa a busca dos segredos da Terra, e revela os do Céu aos humildes, que se inclinam perante Ele".

OBS.: Nota-se que, apesar da postura aparentemente "humilde" de Divaldo Franco, ele demonstra ser um tipo extravagante, "ilustrado", que faz palestras para os ricos e a estes faz lisonja e não cobranças de caridade, até presumindo no discurso que os ricos "já praticam caridade". O ar verborrágico, as pretensas profecias e as fantasias místicas que Divaldo lança o fazem uma atualização dos ditos "sábios e prudentes" que eram duramente criticados por Jesus em seu tempo.

O Livro dos Médiuns:

Capítulo 24 - Identidade dos Espíritos:

Alguns conselhos sobre a qualidade dos espíritos trazidos pela mensagem do espírito São Luís, que mostram os defeitos observados nas atividades e ideias de Divaldo Franco. Entenda aqui "maus espíritos" aqueles que, embora não cometam atrocidades e pareçam bons e simpáticos, são inclinados a cometer leviandades:

"7º) Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar coma verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.

8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação".

Este trecho se refere justamente à verborragia e à linguagem pretensamente erudita de Divaldo Franco, sobretudo em palestras, depoimentos e entrevistas, em que se observa a oratória empolada, enfeitada mas cheia de pretensões e ideias místicas e igrejeiras:

"9º) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das idéias e das expressões, claro, inteligível a todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos inferiores ou pseudo-sábios escondem sob frases empoladas o vazio das idéias. Sua linguagem é freqüentemente pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de parecer profunda".

O trecho abaixo se refere à "mentora" de Divaldo Franco, Joana de Angelis, provavelmente o espírito Máscara de Ferro se convertendo de obsessor a mensageiro igrejista, se valendo do uso de um nome ilustre de outrem, no caso a sóror Joana Angélica, para obter prestígio. Observa-se que, diferentemente de Joana Angélica, "Joana de Angelis" foi marcada pelo jeito autoritário e pela intolerância em relação à tristeza prolongada das pessoas. Vejamos:

"10°) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição.

São exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a razão lhes tiraria a máscara".

Neste caso, ela corresponde a uma atitude que Divaldo faz com maior sutileza, mas, mesmo assim, não é difícil de ser identificada, sobretudo em palestras em eventos internacionais e para gente rica, onde a lisonja e a pompa são exercidas, não raro com entusiasmo, e sob o aparato da humildade:

"11º) Os Espíritos bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira prudente. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade, embora pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que desejam conquistar".

Capítulo 23 - Da Obsessão:

Embora pareça uma contradição com o que se citou acima sobre "maus espíritos", devemos entender, para nossa análise, a distinção de essência e forma, pois "maus espíritos", no sentido de que causam algum prejuízo com suas ideias mistificadoras, podem não serem maus na forma, parecendo bons, gentis e simpáticos. Mesmo assim, podem atuar esbanjando pretensa sabedoria, trazendo ideias que contrariam a lógica e o bom senso.

Entende-se aqui a descrição do caso do espírito se comunicando com um médium, mas ele pode também ser entendido na relação entre um suposto médium e seu público, conforme o processo de emissão-recepção da teoria da Comunicação:

"246. Há Espíritos obsessores sem maldade, que são até mesmo bons, mas dominados pelo orgulho do falso saber: têm suas idéias, seus sistemas sobre as Ciências, a Economia Social, a Moral, a Religião, a Filosofia. Querem impor a sua opinião e para isso procuram médiuns suficientemente crédulos para aceitá-las de olhos fechados, fascinando-os para impedir qualquer discernimento do verdadeiro e do falso. São os mais perigosos porque não vacilam em sofismar e podem impor as mais ridículas utopias. Conhecendo o prestígio dos nomes famosos não têm escrúpulo em enfeitar-se com eles e nem mesmo recuam ante o sacrilégio de se dizerem Jesus, a Virgem Maria ou um santo venerado".

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