sexta-feira, 31 de março de 2017

A crueldade de julgar severamente os refugiados do Oriente Médio


O juízo de valor, da mais extrema gravidade, dado "inocentemente" por um doce Divaldo Franco durante uma entrevista no XXIII Congreso "Espírita" Nacional na Espanha, é uma atitude deplorável, se levarmos em conta que o prestígio religioso, ao fazer com que seus detentores falem o que querem, levados por suas crenças, acabam cometendo erros preocupantes.

Divaldo Franco, se valendo das caraterísticas do "espiritismo" deturpado que temos, do qual ele é um dos artífices - dissolvendo igrejismo roustanguista num suposto "kardecismo autêntico" - , foi julgar os pobres refugiados dos países em guerra no Oriente Médio, que nem sempre conseguem se mudar para a Europa, de terem sido "tiranos europeus" em encarnações passadas e longínquas. Vejamos o depoimento do anti-médium baiano:

"No campo das deduções e de acordo com o meu pensamento, penso que aqueles que estão hoje, de volta à Europa, são os antigos colonizadores que deixaram, até hoje, a América Latina na miséria.
Como foi negado todo o direito aos seus residentes, como aculturaram os silvícolas, destruindo culturas veneráveis, pela Lei de Causa e Efeito aqueles estão retornando hoje à pátria, no estado de miséria, e que ameaçam os próprios países de onde saíram, para, um dia, buscarem a fortuna para o conforto europeu. Mas, também me recordo dos grandes problemas que estão a acontecer no antigo Levante, graças às tropas muçulmanas. “O Homem é o lobo do Homem” e, verificamos que estamos a transformar este lobo em cordeiro. Como sou otimista, acredito que em breve, o lobo e o cordeiro beberão no mesmo regato, em fraternidade. Já vemos muitas dessas uniões, através da educação que é proporcionada, e nós vemos isso na Internet, diariamente. Porque não, na realidade, amanhã?".

Isso é de extrema gravidade. Allan Kardec ficaria totalmente envergonhado. Jesus de Nazaré, completamente indignado. O espírito Erasto também confirmaria os alertas sobre os deturpadores do Espiritismo.

É uma declaração do tipo morde-e-assopra. Primeiro, Divaldo, seguro de sua "sabedoria", diz na cara dura que os pobres refugiados dos países em conflito "são os antigos colonizadores que deixaram a América Latina na miséria". De maneira generalizada, expõe a duvidosa tese dos "resgates coletivos", do "gado expiatório" que, só por compartilhar uma mesma situação e um mesmo infortúnio, são tidos como "portadores de um destino comum".

Em seguida, Divaldo faz um comentário bastante prolixo sobre a ideia de que o "homem é o lobo do homem", que mais confunde do que esclarece, falando sobre "transformar o lobo em cordeiro" não se sabe em que sentido Dito da forma como se deu, Divaldo, mais preocupado em pregar a "fraternidade" sob um contexto igrejista e moralista, não nos disse se os lobos virarão cordeiros ou os cordeiros virarão lobos ou talvez lobos e cordeiros se uniriam na "educação" sociopata da Internet.

Divaldo cita a "aculturação dos silvícolas" que destruiu "culturas veneráveis" e ignora que um dos que fizeram isso com gosto foi o padre Manuel da Nóbrega, que voltou através de Francisco Cândido Xavier, de quem o baiano é discípulo, sob o nome de Emmanuel. E quem imagina que Emmanuel - um servo de colonizadores que, pelo jeito, "voltou" de maneira "mais feliz" que os coitados dos refugiados - se arrependeu de seus métodos, está redondamente enganado.

O método de deturpação da Doutrina Espírita se assemelha muito com a catequização dos jesuítas sobre os índios. Fingia-se a assimilação das culturas do "outro", e as "devolvia" descaraterizadas pelos dogmas católicos medievais. O próprio Divaldo contribuiu com gosto com essa "aculturação" que desfigurou o legado kardeciano com dogmas do mesmíssimo Catolicismo jesuíta.

Além disso, quando houve a crise da fase abertamente roustanguista do "movimento espírita", quando Luciano dos Anjos denunciou que Divaldo Franco havia plagiado obras de Chico Xavier, os "espíritas" sofreram um racha, isolando a alta cúpula da FEB e criando uma falsa aliança entre "místicos" regionalistas (Chico e Divaldo) e "científicos" (como Herculano Pires) que deu origem à "fase dúbia", houve uma grande manobra.

Forjando "mensagens espirituais" de Bezerra de Menezes, os "místicos regionalistas" se dirigiram à alta cúpula dac FEB mostrando um suposto espírito de um de seus fundadores se dizendo "arrependido" do roustanguismo. e, pretensamente identificado com as bases espíritas originais, pedia aos "espíritas" para "kardequizar", uma clara corruptela do termo "catequizar", um trocadilho que diz muito em si.

OS REFUGIADOS

Ignoram os "espíritas" a agonia dos refugiados dos países em conflito, como Iraque, Líbano e Síria. São pessoas que não podem viver nesses lugares. Elas têm o risco de serem atingidas por bombas dentro de casa, ou serem vítimas de atentados durante uma inocente saída de casa.

Ainda em seu juízo de valor, Divaldo Franco ainda fala dos refugiados como "aqueles estão retornando hoje à pátria, no estado de miséria, e que ameaçam os próprios países de onde saíram, para, um dia, buscarem a fortuna para o conforto europeu", como se dissesse que os refugiados "estão pagando pelo que merecem", um punhal disfarçado em tão dóceis palavras.

Exemplos similares deste juízo de valor já renderam processos judiciais. O médico paulista Woyne Figner Sacchetin, acusando as vítimas do acidente com um avião da TAM (atual LATAM) de terem sido romanos sanguinários, rendeu um processo por danos morais. Uma médica de Rondonópolis, Mato Grosso, também foi processada por recusar-se a atender uma criança vítima de estupro alegando que ela "pagava reajustes morais".

Mas o mais deplorável foi o caso de Chico Xavier, que acusou as vítimas da tragédia de um circo em Niterói pelo mesmo motivo apresentado por Woyne, décadas depois. Afinal, Chico, tido como "símbolo da humildade plena", acusou pessoas humildes de terem sido romanos sanguinários, cometendo uma atrocidade moral, pois as vítimas não tinham dinheiro para processar o "médium" e, por sua inocência, nem tinham noção de como foram ofendidas pelo "bondoso homem".

No caso dos refugiados, esquecemos da alegria que muitos homens têm em alcançar o solo europeu. Quantos sírios, libaneses, egípcios, nigerianos, gente de cor, feliz apenas em arrumar um trabalho, por mais modesto que seja, uns solitários, outros com famílias, apenas para se livrar de áreas tomadas pela guerra.

Quão cruel é a visão de um "espírita" é acusar, na cara dura, pessoas assim de terem sido tiranos num passado remoto, e isso diante de uma doutrina brasileira mais preocupada com pregações igrejistas, como se fosse um Catolicismo à paisana, e não cumpre adequadamente qualquer preceito sobre mediunidade, vida espiritual e moral reencarnatória!

Proteger-se sob o manto confortável do prestígio religioso, acostumado a um clima de adoração subserviente de fiéis seguidores ou simpatizantes não é garantia de estar sempre com a verdade e a razão em suas mãos. Principalmente no caso de Divaldo Franco, que, como Chico Xavier, deturpou de propósito os ensinamentos de Kardec, afinal ninguém faz sem querer um erro transmitido em centenas de livros ou palestras.

Fica a nossa consideração com os refugiados dos países em guerra. Independente deles terem sido ou não tiranos europeus, é positivo que eles cheguem à Europa e reinventarem o continente, já abalado com a crise da União Europeia, diante do processo de oficialização da saída da Grã-Bretanha.

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