domingo, 8 de janeiro de 2017

Periódico "espírita" insiste na tese dos "resgates coletivos"

PEDAÇOS DO AVIÃO QUE LEVAVA A EQUIPE DA CHAPECOENSE, DESTRUÍDO NUM ACIDENTE OCORRIDO NA COLÔMBIA, EM 2016.

O "espiritismo" brasileiro insiste em suas teses. O jornal "Correio Espírita", do Rio de Janeiro, em sua matéria principal da edição deste mês, insiste em atribuir o acidente do avião que levava a equipe do clube esportivo Chapecoense à tese de "resgates coletivos".

Em seu juízo de valor, o jornal alega que as vítimas estavam "unidas" pelo Destino para sofrer aquela "reparação espiritual", interpretação dada à tragédia que comoveu não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro.

A tragédia da Chapecoense comoveu tanto que inspirou até um artista plástico estrangeiro a incluir o logotipo do time numa obra reunindo os mortos de 2016 (mais alguns de 2015, como Lemmy Kilmister, músico do Motorhead) e outras referências trágicas (como a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, o "Brexit"), com base na capa de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles.

O "espiritismo", que pelo jeito não tem a individualidade como uma causa amiga, adota a tese absurda dos "resgates coletivos" como se pessoas vindas de diferentes situações, sem intimidade entre si, de repente estivessem "unidas" por uma "sina trágica comum".

GADO EXPIATÓRIO

A tese é absurda porque as pessoas cumprem seus destinos individualmente, e não em grupo. A ocorrência de tragédias coletivas apenas cria uma coincidência de tantas pessoas diferentes sofrerem um mesmo destino trágico, mas isso é apenas um único momento em comum, a não ser em casos de haver relações sociais fora desta circunstância.

Ainda assim, cada pessoa cumpre seu destino pessoalmente. Não há um "gado expiatório". É bastante duvidosa a tese de que todas as vítimas de uma mesma tragédia estejam cumprindo um mesmo destino de "reparação" ou de "encerramento de missão".

A tese dos "resgates coletivos" chegou a inspirar um dos mais cruéis juízos de valor contra pessoas humildes, e vindos, pasmem, do "maior símbolo de amor e bondade do Brasil", o "médium" Francisco Cândido Xavier.

Se esquecendo de seus próprios conselhos - "não julgueis quem quer que fosse" - , ele julgou, em 1966, no livro Cartas e Crônicas, as pobres vítimas do incêndio criminoso que destruiu um circo em Niterói, no final de 1961, de terem sido patrícios do Império Romano que, vivendo na Gália, sentiam prazer em ver hereges sendo reunidos em um estádio para serem queimados ao vivo, diante da plateia ensandecida.

O juízo de valor é perverso e ilógico. Além de expor um suposto passado, anunciado sem provas documentais nem argumentos lógicos, ofendendo as famílias das vítimas que só queriam ver um espetáculo circense e sofreram uma tragédia traumática, o juízo de valor de Chico Xavier ainda botou na responsabilidade de Humberto de Campos, para o "médium" livrar-se de culpa.

OLHE SÓ QUEM FALA

O mais irônico é que o juízo de valor menciona autoridades romanas que recolhiam acusados de suas respectivas residências para reuni-las no estádio para o triste espetáculo das queimas de pessoas vivas. Os próprios "espíritas" adoram "recolher" pessoas aqui e ali para atribuir supostas falanges espirituais e supostos "resgates coletivos" em ocorrências infelizes, não somente trágicas.

Os "espíritas" criticam tanto os imperadores romanos que recolhiam pessoas de suas casas para aprisionamento ou punições coletivas, mas eles fazem o mesmo quando, em pretensas pinturas mediúnicas, também "recolhem" aqui e ali supostos espíritos de pintores falecidos, de diferentes épocas, como se fosse fácil juntar fulano, sicrano e beltrano tirados daqui e dali.

A atribuição de "resgate coletivo" da tragédia da Chapecoense não procede, mesmo quando suas vítimas tinham alguma relação social comum, como os jogadores de futebol e os jornalistas esportivos que estavam juntos no voo. Mesmo com tal relação, os destinos só são cumpridos individualmente, e não de forma grupal, como se fosse um "gado expiatório".

A tese do "resgate coletivo" vai contra a visão de Allan Kardec, que afirmava que os reparos morais eram da natureza individual de cada pessoa. E isso não é difícil de compreender, vide o exemplo dos atentados terroristas que ocorrem no Oriente Médio.

Neles, há muitas ocorrências realizadas em ambientes comerciais ou em praças públicas. Pessoas que nem se falam morrem juntas diante de um atentado a bomba. Como atribuir um destino comum a pessoas que nem trocam um "bom dia" entre si e às quais estão atribuídas uma mesma missão de "reparações espirituais"?

Usar a vida espiritual para tanto não faz sentido, porque isso não explica nem justifica a pretensa atribuição dos "espíritas", que lembra mais um juízo de valor baseado numa avaliação especulativa, e que não corresponde à realidade, porque os indivíduos cumprem seus destinos individualmente.

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