segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Espiritolicismo xinga vítimas de Santa Maria de "nazistas"


Há exato um ano, aconteceu o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, município do interior do Rio Grande do Sul, que se tornou uma das piores tragédias da cidade e também do Brasil, com 242 mortos diretamente ligados ao evento.

A tragédia, considerada a quinta maior da História do Brasil, foi consequência de um impróprio espetáculo pirotécnico da banda de tchê-music (ritmo que mistura breganejo, axé-music e forró-brega e que teria inspirado o "sertanejo universitário") Gurizada Fandangueira, que teve um integrante falecido na ocasião do incêndio.

Numa dessas coincidências, um casal que deixou de ir ao evento e era ligado aos universitários que o realizaram morreu em um desastre de carro nas proximidades do município. E um bombeiro que havia socorrido as vítimas também faleceu em um outro problema de saúde.

O Espiritolicismo, com seu moralismo com "sede de sangue", prestes a glamourizar as mortes precoces e interpretar, de forma tendenciosa, a "lei de causa e efeito", encontrou um gancho para despejar suas acusações infundadas, mas atribuídas às "forças do além".

Esse gancho foi uma simples coincidência histórica com o dia 27 de janeiro, dia em que ocorreu o trágico incêndio, com a ocupação pelo exército soviético (momentaneamente aliado dos EUA e Grã-Bretanha na luta contra o nazi-fascismo) do campo de concentração em Auschwitz, na Alemanha, em 1945. Foi o marco para a derrota do governo nazista de Adolf Hitler e o fim da Segunda Guerra Mundial.

Com isso, o "espiritismo" brasileiro arrumou então uma interpretação para a tragédia de Santa Maria, a pretexto de ser um "reajuste de contas de vidas passadas" e alegando que as vítimas fatais do incêndio eram quase todos jovens, como boa parte dos judeus que morriam nos campos de concentração.

E aí, o que essa doutrina de "luz", de "amor" e de "bondade infinita", comandada pelos "espíritos superiores" que "tudo sabem" e o "melhor" querem para nossa humanidade vão fazer? Vão logo xingando as vítimas do incêndio de "nazistas".

Diferente de outras acusações espiritólicas, que atribuem as vítimas de infortúnios de terem sido romanos sanguinários, esta pelo menos varia na acusação de que os infelizes teriam sido alemães que regojizavam com o extermínio de judeus no Holocausto.

Mais "realista" na atribuição de vidas passadas, sem apelar pela generalizada acusação de que "todo brasileiro foi um romano em outra vida", a acusação mesmo assim não deixa de ser infundada nem ofensiva, mesmo quando uma mensagem "consoladora" havia sido enviada num dito centro espírita de Santa Maria, o Centro Bezerra de Menezes, com os seguintes termos:

"Queridos irmãos, obrigada pela colaboração, eis aí um momento de muita dor, eis aí um momento de transformação. Já sabeis que o vosso planeta... passa por momentos de transformação e regeneração, este é um dos processos.

Passam todos vós por momentos de reflexão. Esta tragédia, como chamais aí na Terra, no mundo espiritual é a passagem para uma nova fase evolutiva. Estes jovens que passaram por esta prova, já haviam se preparado e agora juntos fazem o que prometeram, e há uma razão justa, eles desejavam um mundo melhor, onde pessoas se respeitam e se amam, onde famílias se unam por um propósito de Deus, e não um propósito material e, famílias não são só pelos laços da carne e sim pelos laços de Deus, pois não é ele o pai de todos nós?

Queridos irmãos, é preciso muita prece, muita união para que as energias positivas possam limpar o clima energético planetário. Unam-se irmãos e orem, fortaleçam-se no amor, na solidariedade, na compreensão, colocando-se no lugar do outro, pois somos uma só família perante Deus nosso pai.

Procurem intensificar os trabalhos nesta casa, pois haverá muita necessidade de socorro.

Fiquem na paz de Jesus."


A mensagem carrega em si um forte conteúdo católico, inclusive o hábito de se dirigir a outras pessoas pela segunda pessoa do plural, como se dirige também a Deus e Jesus com base na Santíssima Trindade (Deus, Espírito Santos e Jesus) acreditada pelos católicos.

Voltando à acusação de que as vítimas de Santa Maria teriam sido "nazistas", os pregadores espiritólicos, não bastassem usar a coincidência da data, citam o gás Cianeto, identificado no incêndio, mas por alguma coincidência também usado no extermínio de judeus através das câmaras de gás.

Mas isso é tão banal quanto dizer que fulano se engasgou com um copo de água porque, na vida anterior, ele não socorreu uma tia que morreu levada por uma enchente depois de um temporal ocorrido em uma cidade. Quanta tolice!!

Tais acusações de "karma coletivo", tão defendidas de maneira moralista pelos "justiceiros" do Espiritolicismo, mostram o quanto tem de anti-caridoso e vingativo essa forma deturpada de "espiritismo" feita no Brasil.

Seus "amorosos" pregadores tanto condenam que antigos tiranos tenham recolhido tantas pessoas inocentes para espetáculos de extermínio coletivo ocorridos em tempos passados, conforme registram os dados históricos que chegaram até nós.

No entanto, esses "pregadores do amor infinito" também "recolhem" pessoas inocentes para um mesmo lugar, para sofrerem tragédias coletivas para "resgate coletivo" na suposta "superação da dor e do sofrimento". Pimenta nos olhos dos outros é refresco!

Os pregadores "espíritas" não gostariam que os outros lhes acusem de tiranos, ou que lhes apontem algum papel sanguinário em outra vida. Sem saber julgar, esses "espíritas" fazem o julgamento condenatório das vítimas de infortúnios, com base em "coincidências históricas" aleatórias.

A acusação de que as vítimas teriam sido "nazistas" não representa qualquer tipo de consolo para as famílias que choram a perda de seus entes. Pelo contrário, fica uma impressão de um moralismo cruel que se sobressai a qualquer suposta piedade trazida pelo Espiritolicismo, como na mensagem "catolicizada" acima reproduzida.

Portanto, o "morde-e-assopra" do "espiritismo" brasileiro, de pregadores que agem para culpar vítimas de tragédias e inocentar os culpados, usando como medida a interpretação grosseiramente moralista da "lei de causa e efeito", só põe em dúvida a sua pretensa superioridade doutrinária, na medida em que seu moralismo só traz ainda mais lágrimas e tristeza para os que ficam.

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