domingo, 2 de julho de 2017

"Caridade" defendida por "espíritas" é conservadora

"ESPÍRITAS" PRATICAM ASSISTENCIALISMO, QUE NÃO CURA A DOENÇA DA POBREZA MAS SÓ "ALIVIA" A DOR DA MISÉRIA EXTREMA.

No Caldeirão do Huck exibido há pouco mais de uma semana, houve o caso do vendedor de balas que sonhava ser juiz. Explorando dramas pessoais para reforçar sua imagem de "bom moço", Luciano Huck deixou passar uma certa ponta de cinismo: "A história é boa". O drama foi relatado com muitos momentos de intensos choros por parte do jovem vendedor, de origem humilde.

Os brasileiros ainda não conseguem entender o oportunismo de muitas pessoas que se promovem com a suposta proteção aos pobres. O Assistencialismo, medida que promove mais o benfeitor e até ajuda os necessitados, mas realiza ajudas pontuais, em baixa quantidade de pessoas e baixa qualidade de benefícios, ainda precisa ser informado para mais pessoas.

O Assistencialismo é uma "caridade" cujo valor está mais na "assinatura" do suposto benfeitor do que nos benefícios trazidos, muito poucos e medíocres. Pouquíssimos são os "emancipados", e, mesmo assim, de maneira mediana. E a maioria dos "benefícios" é provisória, como os mantimentos que terminam em duas semanas.

No caso dos mantimentos, ocorre até uma coisa desrespeitosa. Enquanto os pobres voltam a posição de carência anterior, os "filantropos" continuam comemorando "aquela caridade" que praticaram. Quanto cinismo, travestido de tantas "demonstrações de amor"!!

As pessoas ainda ficam presas às paixões religiosas. Até mesmo a turma do "não é bem assim", que tenta sempre arrumar um discurso "racional" para suas convicções. E, no "espiritismo" brasileiro, a "caridade" virou um escudo para proteger o estrelismo dos "médiuns" e fazer manter o culto à personalidade que eles recebem, sob o rótulo de "humildade".

A deturpação do Espiritismo é, assim, legitimada, e a "caridade" vira uma grande carteirada para que se permitissem as traições preocupantes feitas com o legado de Allan Kardec. Verdadeiras desonestidades doutrinárias são feitas, mas elas se deixam passar incólumes no Brasil porque as pessoas se rendem facilmente à paixão religiosa e sua cegueira emocional.

Alguns tresloucados até surgem, dizendo "Pouco importa a desonestidade ou não, tudo é amor!!", com um certo cinismo e uma cegueira emotiva das mais doentias. Pessoas que vivem a masturbação com os olhos das comoções fáceis, que sem querer acaba revelando o caráter sombrio das "estórias de superação": o fato de pessoas se divertirem às custas do sofrimento dos outros, mesmo daqueles que "conseguem sair" desse sofrimento.

Isso revela outro aspecto bem mais duro: a sociedade brasileira é ultraconservadora. Ela só aceita a "caridade" quando ela se submete ao institucionalismo religioso ou algo parecido. Uma "caridade" que tem mais a cara do "filantropo" do que uma marca de resultados transformadores. É certo que a retórica dessa "caridade" exagera, dizendo que ela é "transformadora" e "revolucionária", mesmo quando os resultados são medíocres e inexpressivos.

Vivemos numa sociedade moralista que, em parte, se traveste de "moderna" e "progressista" mediante diversas conveniências sociais. O Brasil é marcado pelo "jeitinho", pelo jogo de interesses que transforma pessoas antiquadas em "modernas" e faz causas novas sempre serem desfiguradas ao sabor dos interesses conservadores.

O "espiritismo" brasileiro é um exemplo. Da novidade originalmente lançada por Allan Kardec, a doutrina se reduziu a uma reles formalidade, a um jogo de aparências na qual seus palestrantes ignoram escrúpulos em produzir textos que se contradizem entre si, uns bajulando Erasto, outros elogiando Emmanuel, se valendo mais por palavras soltas e tendenciosamente utilizadas, como "solidariedade", "paz", "amor", "fraternidade" e "caridade".

No nível ideológico, o "espiritismo" brasileiro até regrediu em relação ao original francês. Enquanto a doutrina original de Allan Kardec seguia o rumo do Iluminismo e do Século das Luzes na França (um período de profundos avanços tecnológicos, científicos e culturais no país europeu do século XIX), o "espiritismo" brasileiro caminhou para trás, se aproximando mais e mais do velho Catolicismo jesuíta português, de moldes medievais, que vigorou no Brasil durante o período colonial.

A falsa imagem de "moderna" e "progressista" a que oficialmente está associado o "espiritismo" brasileiro é uma fantasia trabalhada pela grande mídia, que, com sorte, pode juntar em seu discurso uma estrutura verossímil de teorias e imagens que fazem com que essa visão seja amplamente aceita e garanta uma pretensa unanimidade e uma aparente estabilidade na opinião pública.

Mas isso não se condiz na prática, porque tudo no "espiritismo" brasileiro é conservador. O moralismo igrejeiro, popularizado pelas ficções "espíritas", e a espetacularização dos "médiuns", transformados em ídolos religiosos à maneira medieval, não raro personificando a condição de pseudo-sábios, comprova o quanto o "espiritismo" brasileiro é conservador, e, digamos, até mesmo ultraconservador.

Ideologicamente, a defesa do golpe militar de 1964, da ditadura militar, dos movimentos "Fora Dilma" e do programa do governo Michel Temer - as reformas trabalhista e previdenciária estão bem ao gosto dos "espíritas" - e as parcerias com veículos de mídia conservadores como TV Tupi e Rede Globo também eliminam a tão celebrada imagem "progressista" do "espiritismo" brasileiro.

A apreciação da Teologia do Sofrimento e seus mitos - "aceitar o sofrimento", "combater o inimigo dentro de você mesmo", "aguentar mais desgraças possíveis em troca de bênçãos futuras" - revela essa inclinação medieval do "espiritismo", nunca oficialmente constatada, pelo horror que os "espíritas" têm em ver a visão oficial e fantasiosa, que mostra um "espiritismo de conto de fadas", até porque a dissimulação e a aversão ao questionamento são caraterísticas comuns entre os "espíritas".

A situação do "espiritismo" é de tal forma tão aberrante que a Igreja Católica abraçou um progressismo que os "espíritas" não conseguiram abraçar. Ver que o papa Francisco adota posturas avançadas, ainda que dentro dos limites dogmáticos do Catolicismo, é algo para envergonhar os "espíritas", afundados na areia movediça do medievalismo.

E isso se tornou o preço caro da catolicização do Espiritismo no Brasil, porque isso contaminou a doutrina de tal forma que agora ser "espírita", no nosso país, está mais próximo do imperador romano Constantino do que de Allan Kardec, muito bajulado e quase nunca devidamente estudado. O "espiritismo" já se tornou até mesmo ultraconservador, e um dia a máscara de "progressista" irá cair.

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