quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Críticos da deturpação "espírita" e suas hesitações

OS CRÍTICOS DA DETURPAÇÃO "ESPÍRITA" COSTUMAM DEIXAR PASSAR FRAUDES COMO A FALSA PSICOGRAFIA ATRIBUÍDA A HUMBERTO DE CAMPOS.

Há uma espécie de mainstream (corrente principal) dos críticos da deturpação feita pelo "movimento espírita" que adota posturas bastante hesitantes a muitos problemas, mais graves e complexos, e isso contribui para o "espiritismo" brasileiro continuar na mesma pasmaceira de sempre.

Esses questionadores são corretos e consistentes quando apontam erros doutrinários em livros de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, numa comparação com os livros de Allan Kardec, e estabelecem pontos interessantes de análise e discussão de tais erros.

No entanto, eles não vão muito adiante e alguns chegam a dizer que a suposta mediunidade de Chico Xavier e Divaldo Franco são "confiáveis", que eles podem ser aproveitados pela Doutrina Espírita como "ícones de bondade" e que "não há como" questionar trabalhos atribuídos a espíritos do além.

Dessa maneira, eles deixam passar aberrações como a suposta obra "espiritual" atribuída a Humberto de Campos, uma fraude que a Justiça não teve a coragem de reconhecer e que está explícita na disparidade que o "espírito Humberto de Campos" escreveu nos livros e o que o verdadeiro autor maranhense escreveu em vida.

O Humberto de Campos que conviveu com os brasileiros escrevia com prosa fluente, culta mas acessível, constantemente descontraída, prazerosa de ler, e abordava temas laicos. O suposto espírito tinha outro estilo: prosa "muito pesada", forçadamente culta e cheia de vícios de linguagem, narrativa melancólica, difícil de ser lida e só tratava de temas religiosos.

O Humberto de Campos de carne e osso chegava a tratar de temas religiosos com os olhos de autor laico. Além do mais, ele era ateu. O "espírito Humberto de Campos" fazia o inverso, tratava os temas laicos, seja a viagem a Marte, seja uma "entrevista" com o espírito de Marilyn Monroe, sob o prisma religioso, abertamente igrejista.

Não há como ver legitimidade nisso, mas mesmo os contestadores menos vigilantes da deturpação "espírita" deixam isso passar e acham que Humberto de Campos iria mesmo voltar para escrever as bobagens igrejistas que tendenciosamente levaram o seu nome.

A "BONDADE" COMO ESCUDO

Mas a maior hesitação em torno dos contestadores menos vigilantes da deturpação "espírita" é a complacência que eles têm em relação à imagem de "bondosos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares, quase um medo de questionar essa "qualidade admirável" dos dois ídolos religiosos.

"Temos que admitir que Chico e Divaldo são ligados à missão de muito amor e caridade". "Acho válido o 'Você e a Paz' porque é sempre lindo falar de paz e isso Divaldo tem de brilhante". "Pelo menos Chico Xavier ajudou muita gente, consolou muitos infelizes". Estas frases, de profundo deslumbramento, ignoram várias armadilhas e equívocos.

Pois até no âmbito da "bondade" os dois deixam dúvidas sérias. Divaldo Franco é considerado "um dos maiores filantropos do mundo" por nada. Cálculos foram feitos levando em conta os anos de existência da Mansão do Caminho, a população atual de Salvador e a média anual de atendidos, levando em conta o número total de 160.000 beneficiados oficialmente divulgado, e concluímos que a obra de Divaldo não merece sequer metade dessa festa toda.

Os cálculos deram uma porcentagem de 0,08% em relação à população de Salvador. Um índice inexpressivo, que não vale a reputação que se atribui a Divaldo Franco. Além disso, em termos mundiais, é sinônimo de nada. Como é que se faz um "maior filantropo do mundo" com ZERO POR CENTO de ajuda, em termos mundiais?

E a "caridade" de Chico Xavier? Se ele parecia "consolar as famílias que perderam entes queridos", ele no entanto cometeu duas crueldades: uma é a superexposição das famílias que poderiam chorar seus mortos na privacidade, prolongando muitas vezes os efeitos da tragédia, impedindo que as pessoas pudessem tocar a vida sossegadas diante de tanta exploração sensacionalista.

A outra é que as mensagens "mediúnicas" se revelaram uma fraude. Pouco importa se acadêmicos tentem enrolar dizendo que as mensagens eram "verídicas" porque começavam com "Querida mamãe" ou citavam o nome da vovó, em monografias corretas na forma mas irregulares em conteúdo. A fraude se observa pelo próprio conteúdo das cartas.

Elas apresentam o mesmo apelo igrejista de Chico Xavier. O mesmo estilo de mensagem, o mesmo apelo de "fraternidade cristã". Além disso, denúncias de "leitura fria", em que colaboradores do "médium" colhiam informações sutis em entrevistas ou até em conversas informais (como no final de doutrinárias) que seriam trabalhadas em supostas mensagens espirituais, se revelam verídicas.

Isso é fácil porque se analisa o conteúdo, a linguagem, a forma como são escritas as palavras. Se vemos fraude na suposta psicografia atribuída a Humberto de Campos ou a Jair Presente, citando dois exemplos, um de livros e outro de cartas, não é porque ficamos com raiva porque Chico Xavier era "bonzinho", mas porque analisamos conteúdo de texto, linguagem e situações associadas.

Vemos o nosso saudoso Humberto de Campos de deliciosa prosa escrever de uma forma e o suposto espírito do escritor escrever de outra completamente diferente e não podemos aceitar isso, mesmo que as questões do contato dos espíritos sejam mal resolvidas e Chico Xavier é considerado "bondoso".

Quando temos condições de questionar, derrubamos uma questão, como alguém que pode enxergar uma barreira sob o nevoeiro e evitá-la ou derrubá-la com algum trator. Praticamente está fechado o caso de fraude sob o nome de Humberto de Campos, só falta a Justiça dos homens declarar oficialmente que os livros de Chico Xavier que levam o nome do saudoso autor são FALSOS.

Isso não é arrogância. O questionamento e a análise pode ir distante pelo caminho natural da lógica. Não é calúnia, presunção, inveja, perseguição ou coisa parecida. É apenas análise, estudo, averiguação. E isso muitos contestadores da deturpação "espírita" não conseguem ter, hesitantes que estão em relação a certos problemas.

Eles se esquecem que, mesmo quando ainda é um mistério o contato com espíritos, podemos ter condições de identificar fraudes e armadilhas. Não vamos ficar complacentes e fingir que Humberto "mudou seu estilo" quando foi para o além, e achar que o "bondoso" Chico Xavier nunca iria enganar com livros de "mensagens positivas" sob o nome do autor maranhense.

Devemos ser firmes neste caso e perceber que os estilos do Humberto real e do suposto espírito são diferentes. O fato de escrever mensagens "edificantes" não é garantia contra a fraude, e o próprio espírito de Erasto, nos tempos de Kardec, sempre nos alertava para tomar cuidado justamente com as mensagens que transmitissem "coisas boas", por elas esconderem mistificações e outros equívocos.

A análise comparativa dos livros que Humberto deixou em vida e as "obras espirituais" que usaram seu nome é suficiente para identificar as fraudes. Apenas uma leitura. É por isso que Chico Xavier preferiu não usar o nome de Machado de Assis mas o de Humberto, porque este, embora popular, era bem menos badalado e conhecido que o falecido autor carioca. Usar o nome de Machado, portanto, seria escancarar demais e expôr com mais facilidade às identificações de fraude.

Não analisar problemas delicados da deturpação "espírita" e nos acanharmos diante da imagem de "bondosos" de Chico Xavier, Divaldo Franco e similares só faz os contestadores da deturpação menos corajosos e menos vigilantes. E acabam permitindo que os deturpadores continuem fortes, porque eles são poupados de questões bem mais severas.

É por isso que o "movimento espírita" consegue reagir, prometendo "ler melhor Allan Kardec" e bajulando figuras autênticas como José Herculano Pires e Carlos Imbassahy, em muitos casos tratados sob a mesma medida de "admiração" que Emmanuel e André Luiz.

Os deturpadores tentam se fazer de "espíritas autênticos" porque, num dado caminho, os contestadores, hesitantes, se afrouxam. O problema da deturpação é bem mais complexo do que simplesmente "entender errado" a obra de Allan Kardec.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O sado-masoquismo "espírita"


Nós não viemos para sofrer, mas, se sofremos, teremos que aguentar tudo sem queixumes. Essa é a máxima da "moral espírita", princípio de uma doutrina que não está aí para resolver os problemas, mas tão somente a nos oferecer paciência para aguentar qualquer tranco na vida.

Inventando o principio de "Lei de Causa e Efeito", distorcendo as análises de Allan Kardec a respeito de atos e consequências humanos, o "movimento espírita" apenas quer que suportemos as limitações até o momento em que o acaso nos presenteie com alguma coisa "boa", não se sabe quando.

A Teologia do Sofrimento que constituiu na "filosofia" (prestem atenção nas aspas) de Francisco Cândido Xavier é a pedra angular da "moral espírita" brasileira. Dizia Chico Xavier para sofrermos "amando" e "em silêncio", sem queixumes e sem "botar na pauta do outro" o nosso sofrimento.

Em outras palavras, temos que suportar o sofrimento e fingir que não sofremos. Temos que ficar alegrinhos, sorrir para tudo, sorrir para a dor, sorrir para nossos algozes, até que o acaso venha com alguma "libertação", não se sabe quando, talvez até depois de morrermos.

E aí tem Nosso Lar, a fantasia do "mundo perfeito", dos prédios imponentes que se vê aqui na Terra nas propagandas de grandes condomínios ou novos shopping centers, da grande relva verde cheia de árvores imponentes e flores belíssimas, sobre as quais voam pássaros adoráveis. Temos que aguentar o sofrimento sonhando com esse paraíso como prêmio para nossas angústias consentidas.

Pois, a partir dos apelos que Chico Xavier havia deixado para que "aceitássemos o sofrimento", o "espiritismo" constrói seu sadismo através do qual o sofrimento dos infortunados é apenas uma "prova" a ser suportada em nome dos "prêmios" da "vida futura".

A doutrina brasileira não mede necessidades humanas. Se a pessoa tem um excelente diferencial e um potencial para tal atividade importante e todas as barreiras lhe roubam até as mais modestas oportunidades, essa pessoa tem que fazer outra coisa, se sujeitar ao jugo de um imbecil prepotente e esperar que possa aproveitar seu potencial...na próxima encarnação, de preferência.

Só que a outra encarnação não apresentará os mesmos contextos sociais para esse trabalho. Serão outras coisas, talvez melhores, talvez piores. Numa encarnação, a pessoa poderia trabalhar uma causa transformadora, mas não encontra chance para isso. Na encarnação posterior, ele pode até trabalhar esta causa, mas encontrará, em vez de opositores, usurpadores. Valeu a pena?

Em muitos casos, as transformações sociais banalizam certos aspectos da vida, e, em outros, ganham adesões tendenciosas de canastrões, canalhas e cafajestes. O Brasil de Leila Diniz (1945-1972) não é o Brasil das "mulheres-frutas", e se Leila voltasse, talvez renascendo nos anos 80, veria hoje os paradigmas de feminismo serem deturpados de maneira bastante deplorável.

Mas isso os "espíritas" não entendem. Para eles, a pessoa sofre porque "fez alguma coisa para isso", e aí eles até vem com um comentário sádico: "Talvez o irmãozinho tenha feito algo em outra vida, o jeito é ter paciência, amigo, aguentar tudo isso, baixar a cabeça e orar, de preferência em silêncio ou em sussurro mais baixo".

Para os "espíritas", vale a vida qualquer nota. Eles não enxergam as individualidades humanas, A pessoa tem que receber uma oportunidade qualquer nota, pouco importa se o aspirante a historiador tem que trabalhar como flanelinha de rua e ser ameaçado pelos seus concorrentes.

O "espiritismo" não aceita a intervenção do espírito nas imposições da vida material e dos materialistas, por isso há sempre os apelos de que "não queixais", "não reclames", "não questiones". Acham que até o mais tranquilo quesitonamento é "veneno da revolta" e a doutrina, complementando a trinca "disciplina, disciplina e disciplina" do jesuíta Ismael, pede para os infortunados que sofrem para "aceitar, aceitar e aceitar".

De um lado, o sadismo dos mercadores das belas palavras, que acham o sofrimento "lindo", desde que seja com os outros. Não é o líder "espírita" que tem sua mulher morta em um assalto, vê sua filha morrer num acidente de moto, vê seu filho morrer afogado numa praia, ver seu tio sendo assaltado depois de ganhar na loteria e vê seu avô sofrer um sequestro-relâmpago num canto da cidade.

Os sacerdotes à paisana que são os palestrantes e articulistas "espíritas" apenas dão piruetas e cambalhotas com suas palavras bonitas. Circenses da retórica, sempre arrumam um malabarismo para dizer como é "lindo" o sofrimento, e são capazes de adotar um discurso alegando que "não nascemos para sofrer, mas temos que aguentar o sofrimento e não sofrermos com isso".

Eles são sádicos achando que podemos sofrer infortúnios e tragédias e depois ter "cabeça" para olharmos passarinhos. E nós temos que ser masoquistas e "agradecer a Deus" pelo sofrimento contraído, mesmo quando estamos com o nome sujo na "praça" por conta de algum mal-entendido ou alguma trolagem de Internet.

Falam que Madre Teresa de Calcutá era o "anjo do inferno" por ter pregado que o sofrimento humano era uma "dádiva divina". Corretíssimo e de contundente veracidade. Mas temos que ver também o mesmo com Chico Xavier, que apelava para não comunicar nosso sofrimento para os outros, aconselhando a gente a sofrer em silêncio. Algo tão cruel quanto a declaração de Madre Teresa.

Esse é o sado-masoquismo "espírita" que explica por que as pessoas sempre têm algum prejuízo quando entram em contato com a doutrina. Isso não é maledicência, é algo observado até nos devotos mais entusiasmados do "espiritismo", que sem saber acabam "sacrificando" seus filhos, que não bastassem a morte prematura sem necessidade, ainda têm seus nomes roubados por "médiuns" que forjam da própria mente as supostas mensagens espirituais.

Tanta desonestidade só pode dar nisso: a má energia do "espiritismo" e o moralismo retrógrado e igrejista de seus ideólogos, sempre jogando com as palavras para defender o obscurantismo sob a máscara do esclarecimento e da consolação.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A Igreja dos Ônibus Padronizados


No jornal A Crítica, de Manaus, em uma edição recente, uma leitora, a estudante de psicologia Elaine Regina, de 20 anos, criticou o fato de ônibus circularem com dizeres como "Feliz Natal" fere princípios constitucionais do Estado laico, já que se trata de uma evocação de uma data religiosa.

A leitora acrescenta que a exibição da frase impede que os ônibus, ao fazerem isso, atrapalham a informação dos destinos das linhas de ônibus, obrigando os passageiros a esperarem acabar a exibição para saberem os locais que as linhas se dirigem através dos letreiros digitais.

Mas as autoridades não estão aí. Afinal, é a Igreja dos Ônibus Padronizados. Embora a exibição de frases como "Feliz Natal", "Feliz Páscoa" e "Muita Paz" não tenham a ver com pintura padronizada, assim como o "Bom Dia" e "Boa Tarde", ela segue a "lógica" de um sistema de ônibus antiquado, próprio da ditadura militar e que insiste em prevalecer quase como uma "religião".

A Igreja dos Ônibus Padronizados gerou até um "Estado Islâmico" no Rio de Janeiro, com busólogos cariocas fazendo trolagem e empastelando até petições na Internet, porque, para eles, pouco importa o que sofre o povo, os medievais busólogos - que parecem viver no tempo do carro de boi - só defendem o que Eduardo Paes e seus sucessivos secretários de Transporte decidem e impõem à população.

Amarrar diferentes empresas de ônibus na camisa-de-força politiqueira dos "consórcios" e impor uma pintura padronizada às mesmas virou uma doença nacional. Virou uma "religião" medieval de tecnocratas e políticos que não estão aí para as leis e o interesse público, atropelando-os com sua demagogia em torno de uma "mobilidade urbana" própria do período ditatorial.

Eles acham que, se a população pode decorar capítulos e versículos da Bíblia, podem muito bem decorar a sopa de números e letras que é adotada nos códigos numéricos dos ônibus nas cidades. Pouco importa, se na correria do dia a dia, não há como diferir D58506 e D53605 ou esperar a "overdose de informações" de um letreiro digital, tem que se aceitar tudo isso e pronto.

A Igreja dos Ônibus Padronizados, que é a obsessão sobretudo de cidades que implantaram a pintura padronizada nos ônibus durante a ditadura militar - Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte - e, mesmo decadente, é forçada a se multiplicar pelo resto do país a partir do nefasto exemplo do Rio de Janeiro, é uma "tendência" que só interessa a políticos e tecnocratas e apenas alguns empresários de ônibus.

A atitude de colocar diferentes empresas de ônibus para exibir a mesma pintura, que viola diversas leis - a medida atropela artigos da Lei de Licitações, Código de Defesa do Consumidor e até da Constituição Federal - , é uma obsessão de prefeitos e governadores que não abrem mão de transformar frotas de ônibus em verdadeiros outdoors políticos.

As autoridades concedem linhas de ônibus, mas não dão direito às empresas de apresentar sua identidade visual. Em outras palavras, "dão" as linhas, mas "ficam" com a imagem. As frotas de ônibus em circulação acabam expressando o poder político dos secretários de Transportes, criando uma crise de representação política e administrativa nos sistemas de ônibus.

Dessa maneira, os secretários de Transportes concentram ainda mais seu poder. Confundem fiscalização com autoritarismo, numa confusão comparável a de um porteiro de prédio com um síndico. O sistema de ônibus se "partidariza" e, se os empresários de ônibus deixam de ter autonomia operacional, acabam se tornando manipuladores do jogo político eleitoral.

As pessoas não percebem que esse modelo lançado pelo "deus" Jaime Lerner - divinizado com seu status quo de tecnocrata, mesmo sendo um político reacionário originário da ditadura militar - está decadente e piora o que estava ruim nos sistemas de ônibus.

Todos os defeitos dos sistemas de ônibus, como frotas mal conservadas, ônibus lotados e outras irregularidades acabam se agravando sob o véu da pintura padronizada, que faz as pessoas terem dificuldade de diferir uma empresa boa de uma empresa ruim, se bem que, com a mão-de-ferro dos secretários de Transportes, até empresas boas acabam piorando seus serviços diante dessa crise de direitos e deveres, representatividade e responsabilidade.

Trata-se de um sistema de ônibus confuso. Uma intervenção estatal não-assumida, na qual a secretaria de Transportes dá a falsa impressão de que empresas particulares continuam existindo e operando normalmente. Um desfile de discursos demagogos e mentirosos das autoridades que num momento sugerem que o sistema foi estatizado e em outro não. Contradição solta na pista.

Mas a Igreja dos Ônibus Padronizados e suas liturgias medievais que prometem uma "mobilidade urbana" digna dos "coronéis" do tempo da República Velha se garante pelas promessas de "milagres" sobre rodas como ônibus com ar condicionado, de comprimento longo (BRTs) e chassis de marcas suecas (Volvo e Scania).

Há os sermões de tecnocratas prometendo "maior agilidade" no esquema. Há o fundamentalismo dos busólogos associados que, como num disco riscado, disparam contra quem discorda deles comentários repetitivos como "pare de falar besteira". Há a propaganda divinizadora que tenta afirmar que "tudo vai melhorar" e que "havendo problemas, tudo será resolvido".

Esse reacionário sistema de ônibus, impróprio para o Brasil de hoje, é o resíduo do ideal do Estado autoritário e centralizado, que está fora da rota dos novos princípios, em que até políticas de esquerda admitem que o poder estatal não pode ser exercido de maneira centralizada e autoritária, com todos os malabarismos discursivos que tentem desmentir tais práticas.

Não se amontoam empresas de ônibus numa mesma pintura, num mesmo grupo político-empresarial (os "consórcios"), como se amontoa gado bovino e coloca o carimbo da fazenda do "coronel" de plantão. Sabe-se que, como gado bovino, as frotas de ônibus a serviço de linhas municipais e metropolitanas recebem o carimbo da prefeitura ou do governo estadual de ocasião, geralmente um logotipo de fantasia que evoca "Cidade de Tal Lugar" ou "Governo de Estado Tal".

Há até maior burocracia, sobretudo quando empresas tentam transferir carros de frota intermunicipal para municipal, que demoram para fazer registros, gastam dinheiro com mudança de pintura e deixam a renovação de frota mais lenta. Em certos casos, veículos de um consórcio circulam em linhas de outro porque a mesma empresa operadora não tem tempo nem dinheiro para botar outra pintura.

Tudo são desvantagens, transtornos, prejuízos. Como acontece no Rio de Janeiro que, cinco anos depois da implantação desse modelo caquético de sistema de ônibus, a situação piorou consideravelmente, pois até empresas antes consideradas boas como Alpha, Real e Matias circulam com frota sucateada, mesmo com poucos meses de uso.

Mas as autoridades e tecnocratas, o "alto clero" de uma "mobilidade urbana" de padrão ditatorial, não quer saber e eles se apegam às frotas de ônibus a ponto de "rachar" uma empresa de ônibus em diferentes pinturas, porque ela opera em linhas de município A, município B, Zona Sul de tal município, Zona Norte do mesmo, tem serviço de ônibus BRT etc etc etc.

Na Grande Belo Horizonte, tem empresa de ônibus com até cinco ou seis pinturas diferentes, o que deixa seus administradores à beira de um ataque de nervos. Com o desequilíbrio de pinturas e empresas, com diferentes empresas tendo a mesma pintura e uma empresa tendo pinturas diferentes, os passageiros piram na hora de pegar um ônibus.

Além disso, os letreiros mostram muita informação. Para a pessoa saber do destino de uma linha, tem que esperar pela saudação de "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite", pela saudação religiosa "muita paz", "deus lhe abençõe", dos bairros que passam a linha "via Largo Tal", "via Praia Qual", havendo também o dado da hora certa e até o demagógico crédito da empresa de ônibus "Viação Tal", porque a mesma está proibida de apresentar sua própria identidade visual, que poderia facilitar as coisas.

A pintura padronizada nos ônibus é defendida com a mão-de-ferro similar à que os fundamentalistas islâmicos defendem no uso de burcas das mulheres. E essa restrição visual é o cartão de visitas de um sistema retrógrado, que oferece, no seu conjunto, a dupla função de motoristas e cobradores, a eliminação de linhas diretas por zonas e a redução das frotas de ônibus em circulação.

Sim, isso mesmo. Se você, passageiro comum, reclama pela demora da chega de um ônibus após longa e impaciente espera, e isso é sua pior queixa sobre um sistema de transporte público, é bom saber que esse grave defeito é visto como "qualidade positiva" pelos tecnocratas de ônibus que costumam ser endeusados como divindades messiânicas.

Vivendo nos mosteiros modernos de seus escritórios, esses "sacerdotes" da "mobilidade urbana" medieval que seguem os mandamentos do "papa" Jaime Lerner ignoram que muitas pessoas usem automóveis e acham que podem eliminar até 50% dos ônibus nas ruas que o sistema será "milagrosamente" melhorado. Dito isso em público, nem chega a ser conversa para boi dormir, porque o povo sofre muito esperando tanto tempo por um ônibus que demora a chegar.

A demissão de rodoviários por causa da dupla função do motorista-cobrador também é um drama que é puxado por ônibus padronizados nesse "trem político" de secretários de Transportes com poderes ditatoriais. Sob a desculpa de "simplificar" o embarque dos ônibus, usam a "hóstia" do Bilhete Único (um cartão eletrônico cuja eficácia é bastante duvidosa) para justificar o fim da função do cobrador.

Com tal decisão, rodoviários vão para o olho da rua aos montes. Mas tudo na surdina. Os governantes tentam desmentir, dizem que eles serão deslocados para outras funções, mas, não havendo lugar para todo mundo, muita gente vai embora. E o assessor da respectiva Secretaria de Transportes apelando para a imprensa não dar um pio sobre as demissões.

Ir e vir da casa para o trabalho ou estudo, ou para outras casas, virou um pesadelo. Mas esse calvário faz parte dos ritos da Igreja dos Ônibus Padronizados, que prometem o "milagre" dos ônibus longos e refrigerados com chassis suecos.

A não ser que a opinião pública possa reagir contra esse obscurantismo sobre rodas, no qual somos proibidos de saber a empresa de ônibus por sua identidade visual, autoridades que se acham divinizadas continuarão impondo esse sistema de ônibus retrógrado.

Daí que esse modelo ditatorial de sistema de ônibus tenta continuar de pé, depois de sucatear os sistemas de Recife, Florianópolis, Niterói, Campos dos Goytacazes e outras cidades, causando muitos prejuízos e sacrifícios para os rodoviários e a população, atropelando as leis e tirando o interesse público de circulação.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

PMDB carioca e sua forma de dizer "Fora Dilma"

"DONA DILMA, QUEREMOS DINHEIRO", DIZEM O GOVERNADOR PEZÃO E O PREFEITO PAES.

O Rio de Janeiro anda falido, em todos os sentidos. O Estado e sua capital passam por uma decadência vertiginosa sem precedentes, inimaginável até nos tempos da República Velha, quando a antiga capital do país procurava fazer reformas urbanas e sociais para superar seu antigo provincianismo.

É o Rio de Janeiro da intolerância social dos "coxinhas", do fanatismo do futebol carioca, das baixarias intelectualmente consentidas do "funk", dos ônibus com pintura padronizada, do comercialismo pseudo-roqueiro da Rádio Cidade, do exibicionismo grotesco das "popozudas", do excesso de fumantes nas ruas, da poluição que supera São Paulo e faz o Grande Rio preocupantemente superaquecido.

Pois não é mais o Rio 40 Graus, mas o Rio rumo aos 50 graus, que sofre o caos da saúde pública e a violência que "acidentalmente" mata milhares de inocentes, principalmente pobres, o que faz técnicos e especialistas da ONU falarem em "limpeza social" com tantos e tão descontrolados incidentes que parecem terem sido feitos de propósito pela truculência policial.

É o Rio de Janeiro reacionário em que antigos baderneiros da Internet, os troleiros, passam agora a hostilizar famosos e influentes nas mídias sociais e até nas ruas, e geram episódios mais típicos de cidades primitivas do interior, com jovens "tudo de bom" linchando um vendedor de gelo na antes cosmopolita Ipanema.

Vive-se um contexto em que os cariocas só tardiamente se arrependeram de eleger como deputado federal o reacionário e prepotente Eduardo Cunha, um religioso que prometia moralizar o Legislativo e, transformado num Joseph McCarthy dos trópicos (alusão ao senador estadunidense que perseguia comunistas e que inspirou o termo "macartismo"), agora é investigado por corrupção.

O Rio de Janeiro teve um 2015 horrível, tragicômico, em que personalidades de destaque, com um histórico de tabagismo no passado, como a jornalista Sandra Moreyra e a atriz Marília Pera, morreram para avisar aos cariocas que não é divertido ficar fumando e espalhando fumaça de nicotina (que inclui substâncias usadas em combustíveis de carros e veneno de rato) nas ruas.

Foram tantas notícias que variavam entre gafes, tragédias, escândalos e graves transtornos, que puseram em xeque a condição de "cidade-modelo" que o Rio de Janeiro, depois da falência social de São Paulo, passou a ter para o resto do país.

Se os desastres do maluf-tucanato e da imprensa brutamontes (não só os Cidade Alerta e Brasil Urgente da vida, mas também a Veja e os jornalões paulistanos) tiraram da Av. Paulista o símbolo máximo do "paraíso brasileiro" de prédios imponentes e cidadãos engravatados decidindo por todo o país, é a vez da ex-Cidade Maravilhosa deixar de ser vista como o "paraíso brasileiro".

E aí vemos o decadente grupo político do prefeito carioca Eduardo Paes e do governador fluminense Luiz Fernando Pezão, tentando sobreviver sacrificando o amigo Eduardo Cunha, que se tornou um "anel" apertado demais para os dedos dos detentores do poder no Rio de Janeiro.

Nem a família Picciani - o presidente da Assembleia Legislativa estadual, Jorge Picciani e seus filhos, o líder do PMDB na Câmara Federal, Leonardo Picciani, e o secretário de Transportes carioca, Rafael Picciani (que queria eliminar a ligação direta Zona Norte X Zona Sul para "otimizar" o sistema de ônibus) - , que jurava eterna lua-de-mel com Eduardo Cunha, quer mais ficar com ele.

Todos os envolvidos agora passaram a posar de "progressistas" e pretensos "amigos" da presidenta Dilma Rousseff, sobretudo com as bajulações baratas de um demagogo como Eduardo Paes, que pouca gente se lembra ter sido uma cria do pouco expressivo PSDB carioca.

Esse falso engajamento em prol da tendenciosa postura "fica Dilma", se opondo aos empenhos do vice-presidente Michel Temer e Eduardo Cunha em se voltarem contra a chefe do Executivo federal, não é todavia uma postura gratuita, como se fosse uma jura de amor fiel à presidenta.

Toda essa postura "fica Dilma" do PMDB carioca tem um propósito: arrancar do Governo Federal as verbas públicas para socorrer o Estado do Rio de Janeiro, que com toda sua farra política usando como pretexto a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, deixou um grande rombo nos cofres públicos que quase pôs o setor da Saúde para a paralisação definitiva, transformando hospitais públicos em verdadeiros abatedouros de gente.

Foi revelado, por uma série de reportagens do Jornal da Record, em série intitulada "O Rio de Janeiro na Lama", que o grupo político de Eduardo Paes estabeleceu um esquema de favores e acordos com grandes empreiteiros, de forma que transferisse grandes somas de dinheiro para as fortunas pessoais dos envolvidos, políticos e empresários (sobretudo empreiteiros).

Os cariocas, geralmente marionetes da "imparcialidade midiática" dos jornais O Dia e Meia Hora, que pautam o "gosto cultural" do "povão" no Grande Rio, acharam que as denúncias não passavam de "lorotas" feitas pela Rede Record, cujo dono Edir Macedo apoia a carreira política do colega Marcelo Crivella, com intenções de vencer as próximas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro, embora não se tenha ainda chegado sequer a hora de lançar pré-candidatos.

Só que os "parciais" jornalistas da Rede Record que denunciaram os escândalos de Paes e companhia são conhecidos por investigar vários escândalos políticos, independente de partidos políticos, tendo mostrado a corrupção de dirigentes esportivos da CBF e FIFA e o esquema de propinas e desvio de dinheiro público do PSDB paulista, através das concessões e obras do metrô paulistano e de alianças com empreiteiros que fizeram os tucanos turbinarem suas contas em paraísos fiscais no exterior.

Claro, a "boa sociedade" carioca, que sempre se achava com a palavra final para tudo - vide, sobretudo, a turma da trolagem na Internet - , acha que investigar dirigentes esportivos e políticos cariocas é "perda de tempo" de gente que "não pensa em favor do Rio de Janeiro".

Essa "boa sociedade" é que é responsável direta pela tragédia que acontece no Estado e consentiu com a falência de valores e princípios, que não quer que a crise seja denunciada e, irritada com as revelações da decadência do Rio de Janeiro, queria que nós esquecêssemos tudo isso e procurássemos os "anos dourados" cariocas até em videocassetadas no Whatsapp e nos glúteos das "popozudas".

Só que a "boa sociedade" tem que engolir a decadência do Estado do Rio de Janeiro, promovida pelos políticos cariocas que ela elegeu. A própria imprensa tem que relatar essa decadência, por mais que tenha vontade de esconder tudo sob o tapete.

Quanto ao PMDB carioca, seu aparente apoio a Dilma Rousseff, até pela associação com o desgastado grupo político de Eduardo Paes, soa como uma outra forma de dizer "Fora Dilma", forçando o agravamento político da crise do governo petista com o vínculo a autoridades estaduais tão corruptas, autoritárias e demagogas.

Enquanto isso, a crise fluminense se agrava mais e mais, derrubando a reputação do Estado do Rio de Janeiro e sua capital para os demais Estados do país. Alguém tem coragem de ver, na outrora imponente cidade do Rio de Janeiro, cidade-modelo para alguma coisa?

domingo, 27 de dezembro de 2015

Por que os cariocas têm a mania de endeusar as coisas?

RÁDIO CIDADE "ROQUEIRA", PINTURA PADRONIZADA NOS ÔNIBUS, "FUNK" (NA FOTO, DJ MARLBORO) E FUTEBOL CARIOCA - Alvos de devoção religiosa fora da igreja.

Por que os cariocas (e, por conseguinte, os fluminenses em geral) têm a mania de "religiosizar" as coisas? Às vezes uma decisão política ou um fenômeno de mídia não são lá grande coisa, mas lá vêm o pessoal do Rio de Janeiro louvá-los como se fossem divindades.

Essas pessoas louvam tais coisas sem apresentar razão consistente para isso. São tomados mais pela emoção do que por qualquer motivo e chegam a mandar a coerência às favas, porque aquilo que acreditam é pura paixão e por isso não cabe questionar isso, mas aceitá-los com todos os seus absurdos.

Em muitos casos, a "religiosização" é estimulada por "prêmios". A pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro e seus fanáticos defensores - já jocosamente chamados de "beatos de carimbo de prefeitura" ou "devotos de São Carimbo" - é defendida com unhas e dentes (já houve casos de trolagem envolvendo esta causa) visando ônibus longos como BRT ou adoção de ar condicionado e uso de chassis de marcas suecas (Scania e Volvo).

No caso da Rádio Cidade - que não apresenta razões consistentes para prevalecer como "rádio de rock" - , o fanatismo em torno de sua suposta causa roqueira (trabalhada de maneira medíocre e com graves equívocos) é motivado pelo "milagre" dos cariocas receberem sempre todo ano os maiores medalhões da cultura rock do mundo, com a histeria de católicos esperando que todo "santo ano" o Papa chegasse para realizar uma missa na Candelária, em plena Av. Pres. Vargas.

O "funk carioca" também foi alvo de endeusamento, que a tendenciosa "etnografia de resultados" de uma elite de intelectuais festivos só fez agravar, diante da promessa que as favelas "melhorariam" com o "milagre" de glúteos empinados e MCs desafinados que fariam a "dança da chuva de dinheiro" com seus rebolados "caindo até o chão".

E o futebol carioca? Essa é a maior "religião" que existe no Rio de Janeiro? Tanto que o fanatismo faz o hábito de torcer por um dos quatro times (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) ser critério obrigatório para as relações sociais. Há casos de cariocas que, de maneira agressiva, como em todo fanático, já perguntam para os outros: "Você é de que time?".

Por que essa "religiosização"? Por que, por exemplo, executivos de rádio orquestraram uma "campanha volta Rádio Cidade" para voltar aquele pastiche grotesco de rádio de rock que só deslumbrava uma elite de fanáticos da Barra da Tijuca, Recreio e Zona Sul ou alguns baba-ternos da Baixada Fluminense, São Gonçalo e Niterói? A emissora nunca fez sua história no segmento rock e sempre atuou no gênero de forma desastrosa, no conjunto da obra.

Ou então a "devoção" do "funk" nas favelas, em que os meninos não podem tocar violão nem compor melodias, em que as meninas são obrigadas a fazer o papel de mulheres-objetos para se darem bem na vida, porque isso é que trará o "milagre" da prosperidade social, através de uma imagem idiotizada das periferias trabalhada pelo gênero. Por que isso ocorre?

Por que essa devoção sem motivos coerentes, sem explicação, mas defendida com unhas e dentes? Por que esse espírito de fanatismo e intolerância - em que o intolerante só clama "tolerância" para seus radicalismos surreais, Por que cariocas se aborrecem quando amigos afirmam que não torcem por um dos quatro times e, não obstante, nem futebol curtem?

Por que secretários de Transporte ligados a grupos políticos corruptos, como Alexandre Sansão, Carlos Roberto Osório e Rafael Picciani se transformam em "semi-divindades", discípulas do "deus" Jaime Lerner, pelo ritual de "amarrar" diferentes empresas de ônibus na camisa-de-força de consórcios, impor pintura padronizada que confunde os passageiros mas que garante as "bênçãos" de BRTs, ônibus com ar condicionado em geral e chassis de marcas suecas?

Até o Bilhete Único vira a "hóstia sagrada" da liturgia turística dos passeios no Rio de Janeiro, em que se prometeu o "sacrifício" do fim das linhas diretas entre Zona Norte e Zona Sul - imposição por enquanto suspensa devido a uma ação do Ministério Público - , para que os "fiéis" fizessem sua peregrinação sob rodas dentro de um sistema "integrado" de ônibus.

Endeusamos BRTs, Bilhetes Únicos, rádio comercial que promete tocar "só rock" (mas que geralmente só tocam os "sucessos" do gênero), glúteos de funqueiras, times de futebol e tantas coisas mais, dentro de uma dicotomia sagrado-pagão que a "religiosização" no Rio de Janeiro promove ao transferir a histeria religiosa para fora das igrejas.

Dentro do âmbito religioso, a explicação provável é a força das religiões expressa na devoção católica que enfatiza feriados como o dia de São Jorge, em que só falta fechar a Av. Rio Branco para a realização de procissões.

Da mesma forma, há o fervor religioso que faz a novela bíblica Os Dez Mandamentos da Rede Record superar a audiência do Jornal Nacional, antes objeto de devoção religiosa dos "fiéis", que achavam que Deus é que dava notícias do Brasil e do mundo através de Cid Moreira ou William Bonner.

Ou então, no caso dos "espíritas", se vê o Rio de Janeiro como "principal cozinha" para as pregações igrejistas da religião brasileira, sobretudo porque é a cidade da antiga sede da Federação "Espírita" Brasileira, a "casa-máter" da Av. Passos, jocosamente chamada de "Vaticano espírita", que atualmente é considerada a principal filial da federação.

Isso para não dizer a combinação de valores religiosos com dogmas moralistas que influiu nas vitórias eleitorais de pessoas reacionárias como Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha. Não fosse uma entidade "divinizada" combatendo a outra, como as Organizações Globo e seu imponente "globo" divino da Rede Globo de Televisão, o "divino", mas corrupto, Eduardo Cunha, não passaria a ser hostilizado pelos próprios cariocas que o elegeram sob a bandeira da "moralidade".

Fora do âmbito religioso, o que se observa é o deslumbramento que atinge até mesmo fenômenos "pagãos" - mesmo os "corpos siliconados" de Geisy Arruda, Solange Gomes e Mulher Melão seguem esse contexto - , em que até boates e casas noturnas se tornam "templos" de uma curtição obsessiva, e expressam o quanto cariocas e fluminenses levam a "devoção religiosa" para fora dos ambientes litúrgicos.

Da cerveja à gíria "balada", do rock qualquer nota que o que importa é a "sonzeira" que faz, das diferentes empresas de ônibus envoltas numa mesma pintura, do time de futebol que tem sempre que mostrar a imagem de "campeão", tudo é incarado pelos cariocas e fluminenses como se fossem totens religiosos, com todo o fanatismo a que se acham com direito de sentir.

Esse fanatismo é tão notório que é no Rio de Janeiro que se encontram a maioria dos desordeiros digitais, chamados de "troleiros" (ou trolls, em inglês), ou os principais líderes dessas campanhas de humilhações digitais contra aqueles que não compartilham desse fanatismo em prol do "estabelecido".

Não por acaso, são esses "fascistas dentes-de-leite" que, atuantes já desde os tempos pré-Orkut e emergentes no auge deste portal social, viraram embriões tanto de movimentos como Revoltados On Line quanto nos ataques raciais contra negras famosas.

Empolgados em "derrubar" anônimos que, entre outras coisas, diziam que a Rádio Cidade nunca teve vocação para "rádio de rock", a pintura padronizada nos ônibus confunde os passageiros e favorece a corrupção político-empresarial, a gíria "balada" não era expressão de jovens inteligentes e futebol expressa alienação mental, os troleiros acharam que podiam também "derrubar" atrizes negras e blogueiras feministas.

No BRT sem freio de suas trolagens, os troleiros foram atropelados pelos camburões. Presos no seu itinerário de humilhações humanas, reagindo sempre com risadas a qualquer aviso do risco que sofriam ("Não se preocupe. Sei me virar sozinho. KKKKK. Acho que o delegado só vai me chamar para tomar um café, sou legal demais para ser preso. Huahuahuahuah", é o que dizem), eles ignoram que a sociedade mudou em seu caminho e a trolagem hoje é considerada um crime digital.

O que acontece no Rio de Janeiro é que as pessoas extraem da prática religiosa o modo de ver as coisas. E isso faz o Estado do Rio de Janeiro sucumbir vertiginosamente a um provincianismo inimaginável, que joga no lixo todo esforço de se tornar a cidade mais cosmopolita do Brasil. Como São Paulo, que sucumbiu a sua decadência um pouco antes, depois da tentativa, em vão, de virar "cidade-modelo" para o Brasil, a ex-Cidade Maravilhosa agora cai em semelhante provincianismo.

Isso porque, quando se vê as coisas sob o método do fanatismo religioso, em que ônibus com pintura padronizada, gírias festivas como "balada", subcelebridades como Solange Gomes ou a postura supostamente roqueira da Rádio Cidade, para não dizer a "divinização" de Flamengo e os demais três "grandes times" cariocas, as pessoas passam a ver as coisas com pensamento único, e reagem com intolerância quando tudo aquilo que acreditam tem sua validade contestada.

Eles mostram o seu lado "meio devoto de capela, meio jagunço", com o deslumbramento cego por aquilo que acreditam, e com sua fúria cega contra aqueles que questionam tais valores. Autistas em seus processos de deslumbramento e fúria, acham que podem até fazer blogues ofensivos contra suas vítimas, usando levianamente seu legado, para só serem chamados à delegacia para "tomarem um cafezinho".

Essa postura revela o provincianismo que acontece no Estado do Rio de Janeiro. É ilustrativo que um episódio que ocorreu na mundialmente conhecida Ipanema, um linchamento que matou um vendedor, tenha partido de uma "galera tudo de bom" que fazia um luau e realizou uma prática típica de desordeiros de uma isolada cidade rural do interior do país, dessas que mal conseguem ser consideradas cidades com uma praça, uma capelinha, uma farmácia e um armazém.

Daí o grande problema. Que as pessoas possam ter suas religiões, ainda vai. É direito delas, que em seus estágios evolutivos dependem da crença religiosa para se sentirem bem. Mas quando a fé religiosa intervém na realidade e ultrapassa seus templos, ela se torna um problema.

A "religiosização" das coisas no Rio de Janeiro cria um foco de fanatismo e intolerância, o que faz o Estado e sua antes imponente capital afundarem numa decadência de valores, princípios e práticas, algo que nem os jornais chapa-brancas conseguem esconder. O Rio de Janeiro pode estar falido financeiramente, mas ele está muito mais falido em valores e princípios. Que "cidade-modelo" se esperará de sua capital para o resto do Brasil?

sábado, 26 de dezembro de 2015

Por que o "espiritismo" despreza tanto a Ciência?


O "espiritismo" valoriza a Ciência? Não. Sua aparente apreciação aos assuntos científicos e à atividade de busca do Conhecimento é apenas tendenciosa e pedante, e não são os desfiles de fatos e personalidades científicas mais manjados que resolverá os problemas que o "espiritismo" comete em relação às ideias científicas.

O fato aberrante que é o desprezo a personalidades científicas sérias, como Franz Anton Mesmer - cuja obra foi crucial para o professor Rivail, depois conhecido como Allan Kardec, estudar a temática espírita - , Percival Lowell e Wolgang Bargmann, só porque não são tão conhecidas quanto Galileu Galilei, Isaac Newton e Charles Darwin, faz os "espíritas" inventarem falsas façanhas científicas.

É digno de uma gafe o que o presidente da Rádio Rio de Janeiro, o "espírita" Gerson Simões Monteiro, fez ao atribuir a Francisco Cândido Xavier um falso pioneirismo na suposta previsão de haver vida em Marte, atribuído a cerca de 80 anos.

Antes que os "espíritas" julguem "triste" e "lamentável" essa constatação, "ferindo" um radialista que "apenas promove o trabalho do bem", é bom deixar claro que a ideia que ele lançou sobre Chico Xavier é uma gafe por razões puramente lógicas, e não por raivinhas e condenações.

Bem antes de Chico Xavier nascer, o assunto da possibilidade de haver vida em Marte era fartamente discutido, no século XIX, por muitos cientistas. Até o amigo de Allan Kardec, Camille Flamarion, era um dos estudiosos.

Destaca-se o trabalho de Percival Lowell, astrônomo que fundou um observatório no Arizona, em analisar todos os elementos que, no Brasil, foram atribuídos tão tolamente a Chico Xavier: construção de canais fluviais artificiais, civilizações adiantadas, seres humanos bastante inteligentes.

Chico Xavier nasceu dois anos depois de Lowell lançar o último livro de sua trilogia de Marte. Os livros da trilogia foram Mars (1895), Mars and its Canals (1906) e Mars as the Abode of Life (1908), todos sem tradução em português, infelizmente.

Como é que ficam os "espíritas" diante de revelação tão verídica? Que moral eles têm para sustentar um suposto pioneirismo de Chico Xavier, diante de uma realidade que os envermelha de vergonha? Triste ver que o Brasil que brilhantemente foi pioneiro, na aviação, como Alberto Santos Dumont, ter que sucumbir a esse "mico".

Daí que os estadunidenses, que erram ao atribuir o pioneirismo da aviação para os irmãos Wilbur e Orville Wright, deram o troco quando o Brasil "pisou na bola" e inventou que Chico Xavier "descobriu vida em Marte". Pois neste caso os EUA quase ganharam a partida, pois em parte Percival Lowell é que fica com os louros, por sistematizar o trabalho do cientista italiano Giovanni Schiaparelli iniciou sobre a vida em Marte.

O que dirão os "espíritas", diante disso? Dirão que a visão foi "mal interpretada". Talvez se contradizessem quando falaram que Chico Xavier "não descobriu vida em Marte" mas a revelou "com brilhantismo, ainda que tardiamente", sem saber direito dizer se Chico foi ou não pioneiro ou porque deu uma abordagem "fraternal" da suposta descoberta.

O ridículo pioneirismo do suposto espírito de André Luiz em relação à glândula pineal pode não ser uma gafe aberrante como no caso da vida em Marte, mas também chama a atenção pelos equívocos de um trabalho acadêmico e da reação patética de um grupo de "espíritas" que "comemorou" o suposto "pioneirismo científico".

Sabe-se aqui, mas não custa repetir, que o livro Missionários da Luz, de 1945, é tido pelos "espíritas" como "pioneiro" nas pesquisas de glândula pineal, o que é totalmente ridículo. A razão, adotada pelos acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora comandados por Alexander Moreira-Almeida, foi que a bibliografia da época (anos 1940) sobre o assunto era "muito escassa".

O grande problema é que a equipe chegou a essa conclusão através de fontes de terceiros, sem adotar o rigoroso método de pesquisa nas próprias fontes da década. Eles se serviram de fontes secundárias, publicadas a partir de 1977, o que não é correto para acadêmicos que se comprometem em buscar embasamento científico para suas teses.

O caso patético foi por conta de um grupo de "espíritas", entre eles Marlene Nobre, já falecida, que comemoraram o "reconhecimento científico" de Chico Xavier como se fosse um "milagre", com um deslumbramento e uma euforia típicos de fanáticos religiosos. Extremamente constrangedor.

Esses são apenas dois casos, que deveriam ser amplamente divulgados. Afinal, no caso da glândula pineal, um assunto também discutido fartamente antes de Chico Xavier nascer, tinha uma bibliografia, nos anos 1940, significativa, se não na aparente quantidade, mas na qualidade, e um destacado autor do período foi o injustiçado cientista alemão Wolfgang Bargmann.

O "espiritismo", através desses dois exemplos, cometeu o ridículo de desprezar a Ciência quando ela foge dos clichês mais manjados. Os "espíritas" só apreciam assuntos e personagens manjados da História da Ciência, fazem abordagens superficiais e pedantes e não se aprofundam em estudos, sobretudo em artigos feitos às pressas e com pesquisas feitas de forma ligeira e sem conhecimento de causa.

Falar em Sol, em astros, em fenômenos biológicos e psicológicos é fácil, da maneira com que os "espíritas" tratam esses assuntos. Mas é tudo sem profundidade, e de maneira que apenas dê a impressão de uma compreensão no assunto que, para os leigos, soa aprofundada, mas na verdade é cientificamente superficial e sem embasamento teórico confiável.

Essa abordagem "espírita" só tem como objetivo dar o aparato "científico" de uma doutrina igrejista, que é o "espiritismo" brasileiro que se distanciou do pensamento de Allan Kardec e faz tudo errado ao confundir mistificação com conhecimento.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Fé religiosa tenta impedir avanço da Ciência

TÃO METIDO A CIENTÍFICO, O "ESPIRITISMO" NÃO CONSEGUE EXPLICAR POR QUE TESOURAS ENFERRUJADAS PODEM SER INSTRUMENTOS PARA CIRURGIAS "ESPIRITUAIS".

A fé religiosa é um problema na medida em que ela tenta se sobrepôr à realidade concreta. Quando começa a invadir o terreno da razão e interferir, com seu surrealismo, em fenômenos que deveriam ser observados à luz da lógica, a fé, que é o equivalente adulto das fantasias e sonhos da infância, torna-se bastante perigosa.

Recentemente, um suposto caso de cura milagrosa aconteceu atribuído a Madre Teresa de Calcutá. Em 2008, um homem de 35 anos, morador de Santos, sentiu-se mal durante a lua-de-mel com sua esposa na cidade gaúcha de Gramacho.

Ele foi para o hospital da cidade e o exame aparentemente deu hidrocefalia, com oito infecções no cérebro. O paciente foi levado às pressas para um hospital em Santos e, supostamente em estado terminal, ele teve sua cirurgia marcada para o dia seguinte.

A esposa foi para uma igreja em São Vicente, cidade próxima de Santos, por fazer parte da Baixada Santista, falou com um padre e este deu uma medalha de Madre Teresa e a aconselhou a rezar por ela. A mulher do enfermo colocou a medalha sob o travesseiro do marido. No dia seguinte, ele estava lúcido, levantou-se e tomou o café sozinho. Ele foi depois identificado como Marcílio Haddad Andrino.

Tudo parece história linda, afinal, a fé trabalha os sonhos e as emoções de pessoas que, na vida cotidiana complexa, são muito inseguras. A religião torna-se a muleta de pessoas que não sabem decidir por conta própria, "acredita-se" nos totens religiosos como se eles fossem as "únicas alegrias possíveis", quando na verdade é a insegurança que se dissimula no apoio à fé religiosa.

O caso aparentemente teve 15 testemunhas e um documento de 400 páginas com "evidências". Uma associação de médicos considerou a cura do homem "cientificamente inexplicável" e considerou, com unanimidade, o caso um "milagre".

O Vaticano decidiu que irá canonizar Madre Teresa de Calcutá, em que pese aspectos sombrios de sua trajetória, como deixar doentes e enfermos à própria sorte nas chamadas "casas de moribundos", baseada na Teologia do Sofrimento, em que as angústias e infortúnios são vistas como "necessárias" para conseguir as "bênçãos futuras" da "vida eterna" ("vida futura", para os "espíritas").

As ideias de "milagre" e "paz" confortam as pessoas. São a água com açúcar emocional, com suas fantasias que prometem a realização da esperança. Há em muitas pessoas medo de questionar totens como Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco e Madre Teresa de Calcutá, até pelo apego a estereótipos de "amor e bondade" que servem como analgésicos para suas inseguranças na vida.

O Brasil está refém da mistificação da fé, do apego a estereótipos de "amor e bondade", de uma ojeriza ao raciocínio lógico, um dom diferenciado da espécie humana que setores da sociedade amaldiçoam. Isso trava o avanço social, mesmo quando o obscurantismo religioso aqui vigente seja expresso de maneira politicamente correta, diferente da crueldade explícita da Idade Média.

Por isso, é surreal que as pessoas se sintam seguras quando curas acontecem de maneira inexplicada. Como é que se pode sentir qualquer segurança com fenômenos que acontecem sem explicação é algo que não dá realmente para explicar. Mas esse é o espírito da coisa: e tais fenômenos não são feitos para serem entendidos ou explicados, eles são feitos para serem apenas "acreditados".

Isso causa um sério problema. Afinal, há o lado "muito bonito" das realizações da fé e do "milagre", que comove, conforta e faz as pessoas dormirem tranquilas. Mas, de outro, está a Ciência, injustiçada e incapaz de buscar curas para as doenças graves humanas, e que realiza o "milagre" de avançar seus estudos sem o respaldo financeiro público e privado e sem o respaldo pleno da sociedade.

Quando "curas" são anunciadas sob a realização da fé, seja ela católica, evangélica ou "espírita", as pessoas comemoram, aplaudem, louvam. Não fossem as denúncias contra seitas neopentecostais, que forjavam falsos paralíticos que "voltavam" a andar durante os cultos, a parte "evangélica" desses processos teria a mesma "legitimidade" das demais.

As pessoas se apegam a estereótipos de "amor e bondade" e, por isso, se conformam que fenômenos tenham que o ocorrer "sem explicação". E isso nos faz pensar na diferença que existe entre o desconhecimento de alguma coisa e a recusa do saber.

Na Ciência, certas coisas não são diagnosticadas nem descobertas porque não existe explicação conhecida para as mesmas. Só que isso acontece em razão de não termos atingido um nível de conhecimento que possa compreender tais fenômenos.

Já na religião, o que acontece é a recusa do saber, e a arrogância em acreditar em fatos surreais, quando eles estão associados ao messianismo religioso, à filantropia aparente e e à devoção mística que faz com que pessoas se subordinem a totens religiosos consagrados.

A fé religiosa, no Brasil, tenta impedir o avanço da Ciência. Setores da Igreja Católica, dos movimentos neopentecostais ou mesmo do "movimento espírita" são os que mais resistem às necessidades de investir na Ciência, na valorização plena de seus intelectuais e no apoio aos trabalhos que se tem em prol da verdadeira conquista do Conhecimento.

No caso "espírita", a Ciência só é apreciada nos seus limites mais manjados. Esses limites são estabelecidos para que não se aprofundem os trabalhos do pensamento lógico. A única diferença, em relação ao Catolicismo medieval, é que o "espiritismo" só admite a Ciência pelo legado que se chegou até agora.

É como se o "espiritismo" dissesse à Ciência: o que foi feito, já foi feito, não tem volta e por isso deixaremos passar. O que se tem que fazer só poder ser feito quando não ameaçam o âmbito da fé religiosa.

Isso quer dizer que a fé religiosa pode intrometer no âmbito da Ciência, competindo com esta na busca de curas de doenças graves. Mas a Ciência não pode interferir na fé religiosa, questionando os absurdos desta, e, quando muito, todos os seus estudos só servem para dar uma fachada de "polêmica" de certos fenômenos para eles depois serem legitimados.

Sob o ponto de vista católico, por exemplo, não podemos questionar a "partição" do Mar Vermelho, na famosa passagem de Moisés. Ver o mar se "rasgando" num processo que nem a Informática consegue forjar é um absurdo que precisa ser "acreditado", mesmo vindo de uma época bem primitiva como a de muitos anos antes de Jesus nascer.

Sob o ponto de vista "espírita", não podemos questionar as irregularidades das atividades "mediúnicas". como os falsetes de Divaldo Franco e o mesmo discurso solene que ele faz para qualquer falecido que "incorpora", ou as "leituras frias" das cartas de Chico Xavier ou coisa parecida.

As pessoas até consideram "verídica" a suposta psicografia de Humberto de Campos, pouco importando se o antigo membro da Academia Brasileira de Letras, de prosa descontraída e fluente, "voltou" com narrativa de padre católico com textos prolixos, pesados e tristonhos. O "mistério da fé" faz as pessoas aceitarem qualquer coisa.

O mais grave perigo disso tudo é que o verniz de "ciência" que o "espiritismo" traz, com seus líderes e palestrantes jurando "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, faz com que um quadro pernicioso seja feito e oculto diante do deslumbramento de pessoas extasiadas com verbetes como "amor", "paz", "caridade", que deslizam deliciosamente em almas invigilantes das mistificações religiosas.

O Brasil, país famoso pelos constantes esforços de mistificação e deturpação e pelo hábito viciado de tentar afirmar uma coisa e praticar outra que lhe é oposta, é um ambiente propício para casos como o do homem em Santos, e nos últimos tempos o Brasil tornou-se o exílio de visões retrógradas que no Velho Mundo eram próprias da Idade Média.

Daí a credulidade, o apego à fé religiosa, o medo de confrontar totens como Divaldo Franco, Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá. Daí a insegurança que faz as pessoas buscarem repouso nas fantasias de gente grande da fé religiosa, que em si não constituem problema algum.

O problema é quando a fé religiosa quer estar acima da realidade e se sobrepôr à Ciência. Quando a fé impede que busquemos entender melhor as coisas, ela se torna muito perigosa.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Defensora de Madre Teresa de Calcutá escreve texto rancoroso

MADRE TERESA DE CALCUTÁ ACHAVA O PRESIDENTE DOS EUA, RONALD REAGAN, QUE PATROCINAVA "BANHOS DE SANGUE" NA AMÉRICA CENTRAL E ORIENTE MÉDIO, DE "DEFENSOR DA PAZ".

Defender estereótipos de "amor e bondade" não é garantia de se proteger contra o ódio. As manifestações mais rancorosas vêm justamente daqueles que dizem "incapazes de qualquer rancor". A espuma da raiva se solta das mesmas bocas que, quando embebidas de mel, só evocam "palavras de amor".

A vida humana é complexa, e soa simplório querer associar ideias de bondade e altruísmo a aspectos como a caridade paternalista ou o silêncio diante do sofrimento. E muitos desses aspectos tão populares e consagrados de "amor e bondade" soam tão falsos e hipócritas, que a gente pergunta se até seus seguidores não passam de pessoas inseguras que correm atrás de qualquer aparato de "bondade plena" e "perfeição espiritual"?

Os fanáticos religiosos são inseguros. E no Catolicismo e mesmo no "espiritismo" se observa isso. No caso do sobrinho de Francisco Cândido Xavier, Amauri Xavier Pena, misteriosamente morto em 1961, revelou um caso de texto rancoroso que um conhecido "espírita" mineiro despejou, feito um cão raivoso.

E para quem acha que tudo isso terminou na virada dos anos 1950 para os 1960, é bom deixar claro que as explosões de rancor dos seguidores de Chico Xavier acontecem até hoje, nas mídias sociais, da maneira que parece inimaginável e inconcebível, mas ocorre de maneira verídica e explícita.

O texto que reproduzimos também segue este sentido. Foi reproduzido do blogue católico A Catequista. Enfurecida com as denúncias de Christopher Hitchens, a blogueira não consegue explicar seu amor por Madre Teresa de Calcutá e repisa nos mesmos clichês do discurso em favor da madre albanesa.

Ela não consegue explicar o caso dos pobres e doentes mal-tratados por Madre Teresa, ironiza o fato do YouTube não dispor do documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God), de Malcolm Muggeridge e ainda amaldiçoa Hitchens só por ele ter sido ateu.

Pior: como nesses textos hipócritas, os fanáticos dizem que seu ídolo "errou", apelando para o discurso da "imperfeição dos perfeitos". A blogueira se contradiz, dizendo que Madre Teresa "não era perfeita" mas afirmava que "era mesmo santa", o que, sob o ponto de vista católico, é sinônimo de "perfeição".

A blogueira segue esse caminho e ainda tem o cinismo de supor que Hitchens "era fascinado" pela Madre Teresa, como se empurrasse o detrator para ser um propagandista de quem ele contesta, o que é uma grave hipocrisia da blogueira.

Além disso, a blogueira não explica por que os pobres e enfermos permaneciam assim nas casas criadas por Madre Teresa. A blogueira usa argumentos estúpidos, como "Madre Teresa não faz trabalho social" e defende como "materialista" a ideia de querer que os pobres saiam da pobreza.

Seguindo com sua hipocrisia, a blogueira disse que Madre Teresa "não fundou uma ONG", quando instituições assim devem ser reconhecidas como tais, porque, em tese, são instituições feitas sem o vínculo formal com governos. E, mais hipócrita ainda, a blogueira pergunta se houve algum santo que promoveu a ascensão social dos pobres, como se ter saúde e renda para sobreviver fosse "luxo", e argumenta que os pobres e enfermos já tinham na Madre Teresa a "sua riqueza".

O texto é, podemos dizer, deplorável. Mostra a hipocrisia que os vendilhões de belas palavras fazem, sob as vestes da fé religiosa. Mostra o quanto pessoas que falam tanto em amor e caridade na verdade agem com ódio, quando preciso, e manifestam o desprezo ao próximo.

Ao achar que os pobres e enfermos não tinham necessidade de "ascensão social" - o que "a catequista" define pejorativamente como "ascensão social" - a "bondosa" blogueira mostrou a que veio, preferindo defender um ídolo religioso do que a qualidade de vida dos miseráveis.

Talvez a "bondosa catequista" admirasse também o ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan, que deu a Medalha da Liberdade a Madre Teresa e ela definiu o político estadunidense (membro do reacionário Partido Republicano) como "defensor da paz".

Só que Reagan patrocinava genocídios nos países da América Central e Oriente Médio e ameaçou fazer uma guerra nuclear, em dimensões atmosféricas, com a União Soviética, que foi chamada "guerra nas estrelas".

Mas, para "a catequista", que se revelou anticomunista, isso não faz diferença, afinal os mortos dos países da América Central e Oriente Médio sejam apenas "comunistas" e "árabes", como talvez tivessem sido "comunistas" as vítimas do acidente em Bophal, na Índia, e os próprios doentes e pobres que morriam sob nutrição e falta de higiene nas "casas de caridade" da "bondosa freira".

Depois desse longo comentário, reproduzimos o referido texto, para dar a ideia de que quando o amor fica preso na boca, ele nem sempre consegue alcançar o coração, muitas vezes envenenado pelo ódio que seus fanáticos seguidores não imaginam ter mas o têm até em altas doses.

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Quem não gosta de Madre Teresa, bom sujeito não é

Do blogue A Catequista - Publicado em 11 de fevereiro de 2014.

Uma freira pequenina trabalhava como professora em uma escola católica, para meninas ricas. Até o dia em que, nas ruas de Calcutá, ela ouviu o clamor do Cristo sedento, faminto e doente. Após insistir, recebeu autorização para fundar uma nova ordem e, sozinha, deixou uma vida razoavelmente confortável e segura para viver entre os mais pobres dos pobres.

Aos poucos, se juntaram a ela antigas alunas, que se tornaram as primeiras missionárias da caridade. Madre Teresa procurava Jesus nos lugares onde ninguém O buscava: no lixão, ela ia quase todos os dias revirar a imundície, e muitas vezes recolhia ali pessoas doentes, já roídas pelos ratos, e até bebês, um dos quais conseguiu “ressuscitar” com um boca a boca (fato captado pelas câmeras da BBC).

Certamente, não foi uma mulher perfeita… deve ter tido lá os seus erros. Mas, dentro do coração de milhões de pessoas, católicas ou não, há uma convicção: se aquela mulher me visse em dificuldades, ela se comoveria e me ajudaria. Ela era mesmo santa. Tanto que seu nome virou sinônimo de virtude e bondade.

Suas rugas profundas eram como o leitos de um rio, onde corria amor e sofrimento. Mas o escritor ateu Christopher Hitchens não se comoveu com essa mulher; antes a odiou. Escreveu um livro e produziu um documentário – “Anjo do Inferno” – afirmando que Madre Teresa era “uma fanática, fundamentalista e uma fraude”. Em um programa de TV, foi além, e a xingou de bitch.

Como militante do socialismo, Hitchens não poderia mesmo entender o bem que a Madre fazia aos pobres. Sua visão materialista de mundo o impedia de ver além do que os olhos podem enxergar. Cadê os hospitais de ponta? Cadê os pobres saindo da pobreza? Perguntava ele.

Hitchens acusava a Madre de não ajudar os pobres a sair de seu estado de pobreza. De fato, Madre Teresa não fundou uma ONG, ela não fazia trabalho social; ela fazia CARIDADE, ela amava cada pobre como um filho saído de seu ventre. A mesma acusação que se fez a ela, poderia-se fazer a São Francisco de Assis: quem aí ouviu dizer que o santo levou algum pobre a ascender socialmente? E, no entanto… ele era a maior riqueza dos pobres, em seu tempo.

Alguns leitores nos pediram para refutarmos o documentário “Anjo do Inferno”. Curiosamente, a BBC deixa disponível esse filme no Youtube, mas não o estupendo Something Beautiful For God, produzido pela mesma emissora, em 1969 (se alguém achar no Youtube, por favor me avise). O interesse da BBC em encobrir as boas obras da Madre e jogar lama em sua memória fica ainda mais claro quando a emissora se recusa a autorizar a exibição do documentário de 1969 em um festival de cinema gratuito realizado em 2010, para celebrar o centenário de nascimento de Teresa (Fonte: The Hindu).

Alguns dizem que Hitchens era obcecado pela figura de Madre Teresa. Eu prefiro pensar que ele era fascinado por ela, mas se revoltava contra esse fascínio, tentando sufocá-lo com fúria. Fúria e amargura era só o que ele tinha, já que seu livro e seu documentário são pobres, muito pobres em fundamentação. Que Deus tenha misericórdia de sua alma. Espero que, ainda que em seu último suspiro, ele tenha se arrependido de seus erros.

Em vez de rebater o documentário de Hitchens, em que Madre Teresa é ate mesmo acusada de combater fortemente o aborto e o divórcio (eita mulé marvada!), preferimos deixar aqui o testemunho do nosso leitor Harun Salman. Ele aprendeu a amar Jesus no convívio com a freirinha de Calcutá. Então, os ateus socialistas ladram, e a caravana da caridade passa!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

"Milagre" brasileiro atribuído a Madre Teresa de Calcutá tem pontos estranhos


Um caso de suposta cura religiosa, atribuída ao "milagre" de Madre Teresa de Calcutá, pode ser, muito provavelmente, um dos maiores factoides religiosos do mundo. Embora seja comemorado como uma grande façanha religiosa, o episódio conta com muitos pontos estranhos, sem falar que ele se situa num contexto de "guerra religiosa" das grandes corporações de Comunicação.

Oficialmente, o "milagre" corresponde a uma suposta cura de um engenheiro de 35 anos que vivia em Santos e estava passando a lua-de-mel com a esposa (com quem vive hoje no Rio de Janeiro, junto com dois filhos), quando teria passado mal e internado num hospital. Só agora ele foi revelado como Marcílio Haddad Andrino, hoje com 42 anos.

Aparentemente sofrendo de hidrocefalia, que é o acúmulo de líquido no cérebro, ele foi levado para um hospital em Santos e, em "estado gravíssimo", seria submetido a uma cirurgia. Ele chegou a "entrar em coma" e, durante sua internação, sua esposa foi para uma paróquia em São Vicente para falar com um padre.

Este ofereceu uma medalha da Madre Teresa de Calcutá e recomendou para a mulher rezar para ela. Em seguida ela foi para o hospital de Santos e pediu para enfermeiros guardarem a medalha sob o travesseiro onde estava o marido. No dia seguinte ele se levantou e, bastante lúcido, tomou o café e se "sentia totalmente curado".

Os médicos do hospital teriam, por unanimidade, declarado a cura "cientificamente inexplicável" e atribuíram o feito ao "milagre" de Madre Teresa de Calcutá. Com isso, cerca de 15 testemunhas deram depoimento, que gerou num documento de 400 páginas enviado para o Vaticano, que já marcou a canonização da freira albanesa para setembro de 2016.

O fato tenta abafar as denúncias contra Madre Teresa feitas a partir de pesquisas do falecido jornalista inglês Christopher Hitchens. Através de um livro e um pequeno documentário, nos anos 90 e ainda com a madre viva, ele denunciou a "missionária" pelo tratamento desumano a pobres e doentes que alojava em "casas de moribundos", por corrupção e aliança com tiranos e magnatas.

A freira albanesa (seu nome de batismo era Anjezë Gonxhe Bojaxhiu) que foi considerada "anjo do inferno" por pregar o sofrimento e deixar os seus "assistidos" em condições desumanas - eram mal alimentados, só eram remediados com aspirina e paracetamol, eram alojados juntos sob risco de contágios e, sem higiene, recebiam injeções de seringas infectadas e reutilizadas - tem o caminho livre para virar "santa" e ser divinizada pelo imaginário popular mundial.

Diante da celebração do "admirável milagre", que pretende "calar a boca" dos que questionavam a "missão" de Madre Teresa, o episódio mostra, porém, aspectos muito estranhos, que põem em xeque a validade do "milagre".

1) REVELAÇÃO TARDIA

O episódio ocorreu em 2008 e só foi devidamente divulgado sete anos depois. Para um fato considerado "excelente", foi tempo demais de espera para tamanha revelação. Por que será? Porque o papa de plantão era um alemão, pouco receptivo a "milagres" brasileiros? E agora, com um argentino no Vaticano, a situação ficou mais fácil?

Uma possível desculpa seria que o caso só seria revelado depois de um exame minucioso. Mas um caso desses não levaria sete anos para ser examinado, mas cerca de seis meses, quando muito. É estranho que uma aparente boa notícia tenha demorado para ser revelada, ante a ânsia dos devotos de Madre Teresa de vê-la canonizada.

2) HOSPITAL CATÓLICO

Foi divulgado que o engenheiro, hoje identificado como Marcílio Haddad Andrino, foi internado no Hospital São Lucas, de Santos. Portanto, é um hospital católico. Os médicos, a serviço de sacerdotes locais, podem ter forjado o laudo médico para forjar o milagre.

É possível que o problema real de Marcílio tenha sido menos grave que o que se diz, e ele pode ter tido um enjoo, um problema de refluxo ou uma dor de cabeça e a "hidrocefalia" pode ter sido um problema de gazes que causou uma séria dor-de-cabeça.

É bom demais para ser verdade uma doença terminal ter sido curada assim de repente, ainda mais num hospital católico que, puxando a brasa para sua sardinha, pode ter inventado o incidente para forçar a santificação da Madre Teresa.

3) FATO OCORRIDO NO BRASIL

País ainda vulnerável ao deslumbramento religioso, do contrário do mundo desenvolvido - que pôde dar ouvidos às denúncias do ateu Christopher Hitchens - , o Brasil é cenário propício para pretensos milagres, casos sensacionalistas que forjam curas "inexplicáveis" de supostas doenças graves, já que o país dá mais valor à fé religiosa do que ao trabalho científico.

O Brasil é considerado um dos países mais religiosos do mundo e, por isso, está inclinado a tantas fantasias relacionadas aos ícones e dogmas religiosos, com apetite digno de Idade Média, apesar dos contextos serem diferentes.

4) DESLUMBRAMENTO RELIGIOSO DESENCORAJA INVESTIGAÇÕES SÉRIAS

O deslumbramento religioso, que é a fascinação mórbida, fantasiosa e sedutora por estereótipos de "amor e bondade", fenômeno muito comum entre os brasileiros, impede que investigadores sérios sejam bem sucedidos ao questionar fenômenos atribuídos a ídolos religiosos.

Em 1944, Francisco Cândido Xavier foi poupado da condenação por fraude e usurpação do nome do escritor Humberto de Campos por uma hesitação dos juízes diante de ícones religiosos. Com isso, o mito de Chico Xavier ganhou impulso e se agigantou de forma que é difícil investigar suas irregularidades. Pior: Chico Xavier praticamente virou "dono" do legado simbólico de Humberto de Campos, que não "vive mais" na memória brasileira sem a sombra do "médium" brasileiro.

Esse é apenas um exemplo de como investigadores e estudiosos não conseguem derrubar totens religiosos, por mais que mostrem provas, argumentos consistentes e teses lógicas. A supremacia da Fé sobre a Ciência e a Lógica é estarrecedora, e mesmo advogados, juristas e acadêmicos ficam intimidados em desafiar reputações de pessoas consideradas "símbolos de amor e caridade".

5) BRASIL NÃO CONTA COM UM CHRISTOPHER HITCHENS

O mercado da visibilidade no Brasil é um horror. Temos uma mídia majoritariamente reacionária (Globo, Folha etc). Em locais como a Bahia, temos uma mídia coronelista enrustida, através de barões midiáticos como Marcos Medrado e Mário Kertèsz, que tentam castrar o pensamento de esquerda através da cooptação e controlam o mercado da fama e do reconhecimento público no Estado.

Isso é prejudicial na formação de pessoas influentes e dotadas de prestígio e popularidade. É através dessa mídia doentia, por exemplo, que a fama e o prestígio cabem quase que exclusivamente para pessoas medíocres e incompetentes, que não representam ameaça ao poder dominante. Até mesmo a mídia de esquerda foi empastelada pela invasão de intelectuais culturais de centro-direita (como Pedro Alexandre Sanches e Paulo César de Araújo) para castrar os debates culturais.

Entre os formadores de opinião, vemos exemplos aberrantes como um riquinho reacionário como Luciano Huck, posando de "filantropo" no seu programa de TV (carro-chefe de seu pretenso bom-mocismo) e promovendo a sua gíria "balada" para além de seus espectadores e fãs, o que mostra um poder de influência que ele tem até entre seus "detratores".

Há também sub-celebridades, cantores popularescos, musas "popozudas", e uma fauna de pessoas sem talento e sem visão de mundo humanista, que ficam enrolando na mídia tentando justificar seu desmerecido sucesso, principalmente através de fotos de qualquer nível apelativo no Instagram.

É isso que faz com que faltem pessoas influentes como Christopher Hitchens e analistas sérios que possam ter também visibilidade. Até temos um Vladimir Safatle, mas ele é ridicularizado pela intelectualidade centro-direitista camuflada de esquerda (como a turma de Pedro A. Sanches).

Por isso, o poder de influência de intelectuais progressistas é neutralizado e praticamente anulado, permitindo a degradação de valores morais e culturais que ocorre de maneira avassaladora no Brasil, tanto para o lado da libertinagem erótica quanto para o lado do obscurantismo religioso.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Por que a Globo é responsável pela popularidade do "espiritismo"?

FAMÍLIA MARINHO, DAS ORGANIZAÇÕES GLOBO: OS VERDADEIROS BENFEITORES DE CHICO XAVIER.

Muita gente não sabe, mas muitas crenças, hábitos e atitudes que são tomadas pelo público médio no Brasil, mesmo as convicções que tentam todo tipo de justificativas e argumentos para encontrarem validade, ocorrem por influència do poder das Organizações Globo, em especial a Rede Globo de Televisão.

As gírias "balada" e "galera", os sucessos musicais radiofônicos, o discurso "ativista" do "funk carioca", os vestuários influenciados pelas novelas, o fanatismo pelo futebol, o anti-petismo, tudo isso se torna popular porque a Rede Globo decidiu. Inútil dizer odiar Luciano Huck, Fausto Silva, William Bonner e Galvão Bueno se eles influenciam seus "detratores" até na forma de vestir, falar e comer.

O poder da Rede Globo se entranhou de tal forma no inconsciente coletivo das pessoas que elas deixam de perceber isso. O hipnotismo tem sua eficiência plena quando o hipnotizado se esquece de tal manipulação. Quando o manipulado tem a falsa impressão de que só age por conta própria, sem saber que seu manipulador o decidiu fazer, pensar e agir de tal forma, a hipnose deu certo.

Daí haver o grande problema. Pessoas que se julgam esclarecidas, mas são desinformadas. Pessoas que se julgam modernas, mas são antiquadas. Pessoas que se julgam "diferentes", mas se apegam à mesmice. Pessoas que fazem tudo para parecerem avançadas na forma, mas são atrasadas no conteúdo.

No "espiritismo", então, as pessoas deveriam se surpreender consigo mesmas da forma com que foram manipuladas sem ter qualquer tipo de consciência disso. O "Boa Noite Cinderela" midiático, que quase sempre pega as pessoas desprevenidas, tem nos "espíritas" suas vítimas ainda mais fáceis.

Daí que foi um sucesso a estratégia perfeita a parceria, antes inimaginável, da Federação "Espírita" Brasileira com as Organizações Globo para o relançamento do mito de Francisco Cândido Xavier, depois que a FEB tentou transformar a TV Tupi - ironicamente, dos mesmos Diários Associados que investigavam irregularidades do anti-médium mineiro - num reduto chiquista.

Tomando como base o que Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá, a Globo fez de Chico Xavier, antes um esquisito católico, de crenças ortodoxas mas com inclinação paranormal vista com desconfiança por católicos ultraortodoxos, um "filantropo" com os mesmos elementos trabalhados para a freira albanesa.

Todos os elementos ideológicos e todo o padrão conservador de "caridade" e "filantropia" foram explorados, com base no documentário inglês: Chico Xavier acolhido por multidões, abraçando bebês, falando com velhinhos miseráveis, vendo crianças carentes tomando sopa. Malcolm Muggeridge poderia ter sido co-autor dessa campanha toda. Ele fez tudo isso com Madre Teresa.

E aí as pessoas não percebem isso e se incomodam quando o mito de Chico Xavier é contestado. Repetem o mantra de que ele "era bondoso e ajudou muita gente", algo feito sem muita justificativa, com mais convicção do que argumentos, sendo um apego obsessivo à imagem materializada do "bom velhinho", um desespero de ver um mito se desfazer como castelo de areia.

São pessoas que aparentemente não possuem vínculos ideológicos com a Globo, mas de certa forma sofrem sua influência. Até esquerdistas, ateus e kardecianos autênticos, mas todos sem muita convicção ou firmeza, acabam sentindo complacência com Chico Xavier e o colocam como centro de toda uma ideologia ligada a ideias aparentes de amor e caridade.

Dessa forma, um chicoxaviercentrismo é feito por pessoas que não podem ser naturalmente boas nem naturalmente caridosas. Precisam de uma "muleta" ideológica, de um símbolo, de um totem. Não têm condição de respeitar os próprios velhinhos, e precisam idolatrar um velhinho famoso, ainda que falecido, que se torna o símbolo de bondades e caridades que tais pessoas são incapazes de ter por si mesmas.

Daí o mal estar que se tem quando Chico Xavier é criticado, mesmo com provas consistentes. Os plágios e pastiches literários, as irregularidades ligadas a sua "mediunidade", os ideais conservadores, a defesa da Teologia do Sofrimento, são fatos e constatações verídicos, mas que os chiquistas se recusam a admitir.

Eles não conseguem sequer explicar se Chico Xavier pode ser um líder, mesmo quando alegam que ele foi "manipulado" pela FEB ou por oportunistas como Otília Diogo, ou se defendeu a ditadura para "agradar as pessoas". Chico Xavier virou um boneco de massa de modelar ao qual seus próprios seguidores moldam ao seu gosto. E isso já é um ponto a mais para contestação desse mito.

E tudo isso se deve às Organizações Globo, que trabalhou um mito de Chico Xavier mais "limpo" do que as tentativas anteriores, que sempre esbarravam em alguma confusão e escândalo, fazendo com que o êxito do mito chiquista só pudesse ser feito passando por cima de qualquer polêmica.

O paranormal que forjava psicografias, psicofonias e materializações, que fazia plágios e pastiches literários, que adotava a "leitura fria" para forjar cartas dos mortos e defendia a ditadura militar foi substituído pelo "homem bondoso" que "ajudava as pessoas", era "humilde" e "gentil" e um processo "sóbrio" de propaganda era feito, sem o apelo sensacionalista explícito das campanhas anteriores.

O aspecto religioso era trabalhado, e até visualmente Chico Xavier teve que mudar. O caipira de cabelos crespos deu lugar a um homem de ternos claros e peruca, com voz de pároco de capela do interior, temperamento aparentemente manso, gentil e piedoso, que se tornou bastante sedutor às mentes ainda pouco vigilantes de muitos brasileiros.

O marketing deu certo e, como em outros casos, como a gíria "balada" inventada por Luciano Huck e o discurso "social" do "funk carioca", mostra como o poder das Organizações Globo consegue manipular as pessoas sem dar a elas a consciência nem uma vaga noção de que foram manipuladas.

Tudo é veiculado como se isso fizesse parte da sociedade, do imaginário popular, das tradições sócio-culturais. quando na verdade são valores decididos nas quatro paredes dos escritórios da Rede Globo. E como é que a Globo consegue trabalhar o inconsciente coletivo até de parte de seus "detratores" é algo muito, muito engenhoso.

A serviço da Globo existem psicólogos, consultores de diversos tipos, publicitários e outros especialistas. Eles pesquisam os instintos humanos e os trabalham de forma que um mito que fosse criado pela Globo, ou uma moda, um hábito, fossem adotados pelos brasileiros sem que eles percebam que foi esta mídia que os influenciou.

E isso é um legado que a Globo deixará, se caso seu poder midiático diminuir. Haverá uma multidão de "globais" que sobreviverão à queda da Globo, porque serão pessoas manipuladas pelo seu poder, mas de forma tão sutil que aquilo que dizem ser de "vontade própria" é, na verdade, a vontade da Globo.

Seus corações batem no ritmo do plim-plim. E tais pessoas serão a sociedade conservadora e reacionária do futuro, defendendo valores e costumes retrógrados que eles continuarão pensando que são "acima dos tempos".

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Chico Xavier usou Meimei para "ensinar" Evangelho no Lar para crianças


Até que ponto o Evangelho do Lar pode ser considerado "obrigatório"? Até o ponto de seu próprio limite ideológico, a pespectiva igrejista do "espiritismo" brasileiro, que tem nesta prática um dos ritos comparáveis ao do Terço católico.

O culto do Evangelho em casa é um dos ritos de influência católica no "espiritismo" brasileiro que, no entanto, se apoia também no verniz "intelectual" desta doutrina igrejista. Adota-se a prática sob o pretexto de "estudar o Espiritismo", quando se sabe que tal alegação é conversa para boi dormir.

A prática chega a ser muito mais aconselhada para os "espíritas" do que o Terço ou a Novena para os católicos, já que estas normalmente só envolvem devotos, e aquela é vista como "compromisso necessário" para o que os "espíritas" acreditam ser "o equilíbrio familiar" e a "energização do ambiente doméstico".

Há quem diga que o "culto" influi também na energização do quarteirão, como se uma simples leiturinha, da forma meramente religiosa, fosse trazer boas vibrações para as vizinhanças de onde a família reside, o que não faz sentido algum.

Como forma de propaganda, Francisco Cândido Xavier usou o nome da jovem Irma de Castro Rocha, a Meimei (1922-1946), professora mineira precocemente falecida devido a uma grave doença, para "sistematizar", através de estorinhas em narrativa infantil, a prática deste tipo de reunião.

O livro, Evangelho em Casa, foi lançado pela Federação "Espírita" Brasileira em 1959, numa década em que Chico Xavier tentava ser "versátil", forjando processos de materialização e psicofonia e estabelecendo parcerias com Waldo Vieira e Arnaldo Rocha, este viúvo de Meimei.

Essa pretensa versatilidade é uma forma de abafar os escândalos causados pelo processo judicial dos herdeiros de Humberto de Campos, o famoso escritor que foi usurpado pelo anti-médium mineiro. Diante da indignação de renomados escritores e críticos literários, Chico Xavier tinha que adotar outras atividades para forjar a hoje famosa reputação de pretenso filantropo.

E aí a coitada da professora Meimei passou a ter seu nome associado ao oportunismo de Chico Xavier, sob o consentimento do viúvo da jovem. Embora tenha sido católica, mesmo assim ela nunca iria aderir a esse embuste "mediúnico", até pelo fato de Chico Xavier ter sido consagrado por pastiches e plágios literários.

Meimei teria sido uma moça séria, discreta, e não iria participar desse processo. Além disso, os livros atribuídos a ela mostram uma clara linguagem de Chico Xavier, não muito diferente da linguagem usada em Nosso Lar, por exemplo.

Além do mais, soa bastante oportunista um livro infanto-juvenil para dizer que "é necessário fazer o culto do Evangelho no Lar", um projeto de persuasão bem típico de Chico Xavier, mas que, para atingir o público infantil, adota-se uma linguagem do gênero que, por razões estratégicas, atribuiu-se a Meimei.

Esta, em verdade, se afastou completamente desse processo. Como um Humberto de Campos que, após ter morrido, não teve mais a oportunidade de dizer que não foi ele quem escreveu os tais livros "mediúnicos".

Meimei teria se decepcionado com seu viúvo, e se envergonhado com o uso de seu nome para livros aparentemente "bem intencionados", mas tendenciosos demais para a personalidade da jovem professora.

Do mundo espiritual, ela deve ter sido informada das ilusões materialistas dos encarnados que legitimam a pretensa mediunidade de Chico Xavier, que aqui é visto como "porta-voz dos mortos", mas fora das percepções terrenas ele é apenas um homem que inventa mensagens da própria mente e põe tudo no crédito dos falecidos, mas é quase tudo o mesmo tipo de mensagem, provavelmente com a exceção de Emmanuel, que teria ditado os livros sob sua autoria.

Se, do além, o espírito de Meimei toma noção do que realmente foi a farsa "mediúnica" trazida pelos casos de Parnaso de Além-Túmulo e dos livros do suposto espírito de Humberto de Campos, verdadeiros pastiches ou plágios literários comprováveis mediante leitura atenta mas simples, ela teria realmente coragem de participar da elaboração dos livros que levaram seu nome?

ESTORINHA EM CINCO PARTES

A introdução do livro, feita pelo traiçoeiro Emmanuel, revela o caráter igrejista e apela para o "culto do Evangelho" usando como pretextos a ideia de que os cultos da limpeza, do pão, do carinho, da segurança e do bem-estar são insuficientes para o equilíbrio moral das pessoas. Ele apela para a leitura religiosa como "prática obrigatória" para promover esse "equilíbrio".

Emmanuel chega a investir na contraditória visão do "espiritismo" brasileiro, através de um apelo igrejista que contraria a natureza original da Doutrina Espírita, mas à qual é vinculada de maneira tendenciosa pelo persuasivo padre do além-túmulo:

Se abraçares realmente a Doutrina Espírita, não podes ignorar que o culto do Evangelho te ensinará a valorizar todos eles, porquanto, com o Cristo, a limpeza começa na consciência, o pão do conhecimento nutre a alma antes do corpo, a segurança é harmonia moram, o carinho é entendimento fraterno e o bem-estar é realmente a consagração de cada um ao bem de todos.

Pensando nisso, oferece-te Meimei as páginas deste livro.

Possa ele, pois, ajudar-te na formação do teu núcleo de Evangelho entre as paredes do próprio lar, porque, se a Doutrina Espírita é o Cristo em luz para a Humanidade, acima de tudo é a luz do Cristo no coração.

O enredo mostra todo o procedimento do "culto", em cinco partes. O livro é bem pequeno, vinte e oito páginas, seu núcleo central gira em torno de Dona Zilda, Senhor Veloso, dos filhos de ambos, Sílvia, Lina e Cláudio, entre outros.

Há a empregada doméstica Marta, como também a Dona Júlia, irmã viúva de Dona Zilda, e amigos visitantes como Dona Romualda e a filha Milota, que tiveram a "sorte" de estar em casa num dia de muita chuva e serem "beneficiados" pelo convite de participarem do "culto".

Esse "culto" é servido de dois livros: o Novo Testamento da Bíblia e O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, evidentemente a tradução de Guillón Ribeiro, da FEB, muito apreciada pelos chiquistas.

As reuniões são uma vez por semana. O dia escolhido foi o domingo. Há preces iniciais, bem igrejistas e que lembram preces católicas. Na primeira reunião, apenas os membros da casa de Dona Zilda estão presentes. Na segunda, os visitantes são acrescidos ao grupo reunido para o "culto".

Na terceira reunião,há também uma outra convidada, Dona Matilde. Na quarta reunião,  a mesa é ornamentada de flores. Na quinta reunião, os familiares da casa conversavam animadamente mas se lembraram, quase em cima da hora, da "obrigação do horário".

O tom católico é muito mal difarçado. Em todas as partes, o que se observa é o mesmo processo: prece inicial a Jesus, leitura do Novo Testamento, leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo, comentário do mediador do culto, conversação e prece final a Jesus.

O que chama a atenção na arbitrariedade "espírita" desta prática é que o culto ao Evangelho no Lar difere do Terço e da Novena porque estas são práticas geralmente individuais, enquanto o rito "espírita" é tido como "obrigatório" para todos que estiverem em casa. Pouco importa ser ateu, agnóstico etc, o "espiritismo" geralmente "aconselha" que todos que estiverem numa casa participem do "culto" se alguém tomar iniciativa para isso.

O livro tem um apelo fortemente católico, mas acaba sendo mais católico do que o original. A Igreja Católica sugere que o Terço e a Novena sejam praticados de maneira opcional ou só por quem estiver realmente necessitando de tais penitências.

Já o "culto" do Evangelho "espírita" é sempre visto como uma obrigação, uma penitência que envolve até quem não tem a ver com ela, e um igrejismo doméstico que usa a desculpa do "estudo" para forçar a adesão de qualquer pessoa.
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