quinta-feira, 2 de junho de 2016

O Brasil sucumbiu à ditadura dos ignorantes, moralistas e corruptos

SOZINHO, O SENADOR AÉCIO NEVES FEZ MUITO MAIS CORRUPÇÃO DO QUE A QUE SE ATRIBUI A TODO O PARTIDO DOS TRABALHADORES. MAS OS BRASILEIROS ACHAM ISSO NATURAL.

Com o afastamento de Dilma Rousseff e a posse de seu vice Michel Temer, o Brasil passou por um período sombrio, de retrocessos e de escândalos piores do que se atribui ao Partido dos Trabalhadores, muitas vezes sem provas consistentes.

Com Michel Temer, chegaram ao poder não apenas políticos do PMDB e PSDB e não somente a bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia), como também não somente tecnocratas e técnicos neoliberais. Chegaram ao poder também troleiros, machistas, obscurantistas religiosos, jornalistas reacionários, militantes juvenis truculentos ou estúpidos, moralistas de elite, criminosos ricos e outros tipos entre pitorescos e retrógrados.

O Brasil se insere num contexto em que o Estado do Rio de Janeiro, que paga pela "façanha" de dar ao país figuras truculentas como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro, tem que lidar com um amargo maniqueísmo eleitoral com o ex-secretário e apadrinhado pelo prefeito carioca Eduardo Paes, Pedro Paulo Carvalho, acusado de espancar a ex-mulher, e o fascista Flávio Bolsonaro, filho de Jair.

Está em jogo a oferta de um amargo coquetel para o país, movido por uma degradação de processos legislativos ou de compreensão da realidade trazida pela decadência do Poder Judiciário e da grande imprensa. Junto a isso, há propostas de desqualificação do mercado de trabalho, da delimitação da estrutura familiar aos moldes do patriarcado medieval e outras restrições.

Há também a desculpa do corte de gastos. Para um governo que derrubou Dilma Rousseff sob acusação, sem fundamento jurídico, de que a presidenta maquiou dados fiscais, um Henrique Meirelles que inventou R$ 50 bilhões para inflar as metas fiscais e sugerir um rombo acima do real, coerência é algo que não existe em seu dicionário.

Uma série de irregularidades e infrações legais é cometida não só pela equipe ministerial de Michel Temer, por ele próprio e pelos parlamentares que o apoiaram desde 17 de abril, quando foi aprovada a abertura do processo de impeachment de Dilma, mas de setores do Judiciário, dos grandes grupos de Comunicação e de movimentos ativistas como o Movimento Brasil Livre.

É uma sucessão de escândalos que, se estivéssemos em um país sério, teria tirado Michel Temer no poder com um simples ato jurídico. Só para entender a situação, citemos quatro dos gravíssimos incidentes que tinham tudo para derrubar Temer e reverter o impeachment:

1) Gravação do ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras (empresa pública investigada pela Operação Lava-Jato), Sérgio Machado, e o senador Romero Jucá, então ministro do Planejamento do governo Temer, deixou clara a intenção de forjar uma campanha para tirar Dilma Rousseff do poder para evitar o avanço das investigações da referida operação. O diálogo deixou claro que a derrubada de Dilma era um golpe tramado pela oposição à presidenta.

2) O juiz federal Sérgio Moro, natural do Paraná, apareceu em eventos promovidos pelo PSDB e pelas Organizações Globo, comprometendo sua alegada imparcialidade e apartidarismo. De acordo com sua função, ele deveria ter evitado aparecer ao lado de políticos do PSDB, vários envolvidos na corrupção da Petrobras, ou em cerimônias com executivos de televisão. Outro membro do Poder Judiciário "partidarizado" é Gilmar Mendes, que em várias vezes demonstrou ser aliado do PSDB e afins e, recentemente, foi jantar na casa do presidente Temer, na noite de sábado.

3) O Movimento Brasil Livre, que se diz "apartidário", foi revelado por uma das gravações de que se articulava com divisões juvenis do PSDB, DEM, PMDB e similares, recebendo, dos partidos, ajuda na impressão de camisetas, faixas e panfletos, organização de passeatas, pagamento de lanches e caravanas, entre outros custos. Pior: o dinheiro dos partidos contraria a Lei 9.096/1997, que disciplina o Fundo Partidário, por financiar movimentos de protesto que fazem alusão ao fascismo, com mensagens pedindo o golpe militar e exibição de suásticas e outros símbolos nazistas.

4) Enquanto o presidente Michel Temer pregava urgência máxima para políticas enérgicas de corte de gastos e investimentos, em sua família a fortuna estava garantida. Enquanto Temer anunciou o fim dos investimentos para populações carentes pelo Minha Casa, Minha Vida, seu filho caçula, Michel Temer Jr., do casamento com a primeira-dama Marcela Temer, recebeu, mesmo com apenas sete anos de idade, um patrimônio de imóveis no valor de R$ 2 milhões.

IGNORÂNCIA SOCIAL

O mais grave disso tudo é que boa parte da sociedade brasileira está satisfeita ou, quando apenas desavisada da realidade, resignada com os retrocessos. Existem ameaças de nivelar o mercado de trabalho ao chamado "trabalho informal", eliminando encargos, garantias sociais e outros benefícios e ameaçando até "afrouxar" a Carteira de Trabalho, e as pessoas no entanto vão jantar felizes achando que "tudo vai melhorar".

As pessoas "legitimam" o governo ilegítimo de Michel Temer - uma figura que seria incapaz de ser eleita pelo voto popular - acreditando que ele não seria pior do que "a quadrilha do PT" sem saber da gravidade extrema que os escândalos que atingiram o governo em duas semanas de governo pode representar.

Para quem acredita que a corrupção só existe no PT, é bom destacar que uma única pessoa como o senador mineiro Aécio Neves é capaz de cometer, sozinho, muito mais atos de corrupção do que aquela atribuída ao Partido dos Trabalhadores como um todo.

Existem provas da participação dele na corrupção da Petrobras e vários garantem que Aécio Neves é muito ambicioso na cobrança de propinas. Romero Jucá, na famosa gravação conversando com Sérgio Machado, afirma que Aécio Neves seria o primeiro a cair se as investigações da Lava-Jato avançarem.

Mesmo assim, quando a corrupção está fora do PT, por pior e mais abjeta que seja, ela é vista como "natural". Até Jair Bolsonaro pratica seus esquemas de corrupção e tem até filho que ganha dinheiro sem trabalhar, mas as pessoas nem estão aí para isso, enquanto, por outro lado, a honesta Dilma Rousseff "paga" por crimes que não cometeu e cujas denúncias não vão além dos boatos.

As pessoas estão sofrendo um surto de ilógica, incompreensão, reacionarismo, teimosia e ganância. Entre dissimulados, retrógrados e reacionários, fingidos ou chantagistas, as pessoas que deixaram Temer chegar ao poder e o apoiam ou consentem com seu governo, pagam agora pelo contexto ultraconservador em que deixaram o Brasil cair.

Ignorantes, moralistas e corruptos tomaram as rédeas do país, e farão com que as classes mais ricas fiquem mais ricas, enquanto as classes trabalhadoras terão que lutar mais, com menos direitos, menos garantias e muito menos dinheiro, só para se manterem no mercado de trabalho que pretende ser precarizado para os padrões anteriores à Era Vargas.

Uma silenciosa catástrofe social poderá atingir até mesmo as elites que apoiaram Temer. O Brasil entrou numa fase caótica de sua História, dentro de um quadro político confuso que muitos acreditam que irá salvar o país, mesmo indo na contramão das conquistas sociais das últimas décadas. E essa credulidade vai custar caro sobretudo para quem mais acredita nelas.

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