quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Para Emmanuel, Allan Kardec queria "restaurar" o Catolicismo

O "MOVIMENTO ESPÍRITA" BRASILEIRO DISCORDA DA POMPA E DO LUXO DO CATOLICISMO APOSTÓLICO ROMANO.

O "espiritismo" brasileiro sempre se identificou como Catolicismo medieval português, a não ser pelos excessos correspondentes a rituais pomposos e acúmulo de tesouros. E, tal qual os generais da ditadura militar brasileira contra os abusos do DOI-CODI e a direita brasileira contra os exageros do deputado Eduardo Cunha, o "espiritismo" também se voltou contra os excessos do Catolicismo medieval.

Isso é de praxe quando o conservadorismo vê, nos métodos de repressão e retrocessos que tanto apoia em primeira instância, um perigo quando elas são feitas sem controle. A arrogância do DOI-CODI. amtes um órgão "guardião" do governo militar, representou um risco quando os assassinatos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, respectivamente jornalista e líder sindical, sinalizavam para uma atuação autônoma do órgão, ameaçando quebrar a hierarquia militar.

No caso do presidente da Câmara dos Deputados, a atuação de Eduardo Cunha, não bastasse a comprovação de seus atos de corrupção como documentos que mostram sua assinatura em contas na Suíça, as suas "pautas-bombas", inicialmente defendidas pelos conservadores, começam a incomodar quando elas representam retrocessos sociais que nem os conservadores moderados aceitariam.

No "espiritismo", a reprovação ao Catolicismo medieval é superestimada por seus seguidores, que chegaram a apostar num maniqueísmo entre a Igreja Católica e o ídolo "espírita" Francisco Cândido Xavier.

Mas eram apenas setores rigidamente católicos, que não aceitavam um paranormal de índole esquisita, por mais que Chico Xavier fosse também um católico fervoroso, rezador de terços, adorador de imagens de santos.

A reprovação se limita apenas a aspectos ritualísticos pomposos, como o uso de trajes pesados, como batinas, com decorações a ouro, e o acúmulo de tesouros imensos, além da tortura e repressão ostensivas e exageradas. Até mesmo o enforcamento em cela era tido como "pena branda" em relação às queimadas ostensivas nas ruas ou nos estádios.

Fora isso, o "espiritismo" brasileiro sempre se manteve identificado com o moralismo medieval. A doutrina, afastada dos ensinamentos originais de Allan Kardec, foi um catolicismo revisitado, combinando valores moralistas medievais com práticas hereges, os primeiros usados para evitar o "excesso de ciência" kardeciano, as segundas para compensar a falta de estudos sérios sobre mediunidade.

Kardec é um nome muito bajulado, mas terrivelmente ignorado. Os "espíritas" brasileiros, no fundo, acham ele um "chato de galocha", uma figura insuportável, mas arrumam um jeito para "suavizar" sua linha de pensamento e criar um falso Kardec domesticado, igrejista e complacente com as deturpações da doutrina do próprio pensador francês.

Uma amostra disso é o livro A Caminho da Luz, de 1939 - mas cujo texto foi escrito ainda em 1938 - , em que Emmanuel, por intermédio de Chico Xavier, descrevia "fatos históricos" para explicar a "missão fraterna" do "movimento espírita", num livro travestido de História Geral, assim como Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho era disfarçado de História do Brasil.

Nele Emmanuel descreve o Império Romano como um projeto da "espiritualidade superior", como se as guerras e combates de conquistas de territórios pelos romanos fossem uma "missão unificadora de paz e fraternidade". Está descrito no livro, no capítulo XIII, O Império Romano e Seus Desvios:

"Reportando-nos ainda às conquistas romanas, antes da chegada do Senhor para as primeiras florações do Cristianismo, devemos lembrar o esforço despendido pelas entidades espirituais, junto das autoridades organizadoras e conservadoras da República, no sentido de orientar-se a atividade geral para um grande movimento de fraternidade e de união de todos os povos do planeta.

Os pensadores que hoje sonham a criação dos Estados Unidos do Mundo, sem os movimentos odiosos das guerras fratricidas, podem sondar os desígnios do plano invisível naquela época. (...) Todos os esforços foram despendidos, nesse particular, pelos emissários do plano invisível, e a prova desse grandioso projeto de trabalho unitário é que a obra do Império Romano foi das mais primorosas, em matéria educativa, com vistas à organização das nacionalidades modernas. O próprio instinto democrático da Inglaterra e da França, bem como as suas elevadas obras de socialização, ainda representam frutos da missão educativa do Império, no seio da Humanidade.

O caminho dos romanos ficou juncado de sementes e de luzes para o porvir".

Sim, o Império Romano era um "projeto divino", da "espiritualidade superior", para promover a "união e a fraternidade" dos povos. Portanto, considerando a visão do "padre espírita" compartilhada por Chico Xavier, um grande império construído sob banho de sangue era "criação do Alto".

Territórios foram conquistados pela espada e pelo fogo, dizimando não só rivais, mas também inocentes, e no entanto esse império era fruto da "ação dos benfeitores" para promover uma nação de "solidariedade e união", nas palavras de Emmanuel, suposto "senador romano" que não sabia latim.

Aí entra Allan Kardec e Emmanuel finge concordar com as transformações da Ciência, chegando a citar que o "laboratório afastava-se definitivamente da sacristia", uma declaração hipócrita, pois, como se viu, o "movimento espírita" só aceita a Ciência quando ela se ajoelha diante da Fé ou quando sua atuação não desafia os novos dogmas religiosos trazidos pela doutrina brasileira.

Emmanuel e Chico Xavier nunca foram com a cara e as ideias de Allan Kardec, mas tinham que se apropriar dele, como quem domasse uma fera indomável. Era dessa forma que eles viam o professor francês, atribuindo seu cientificismo a uma pretensa "overdose da lógica" que ameaçava os campos serenos do Coração.

Tinham eles que "suavizar" Kardec e tudo fizeram para que o pensamento do pedagogo francês fosse pasteurizado para que a essência original praticamente se anulasse e reduzisse o grandioso educador e cientista a um mero pregador religioso, quase um teólogo.

No Capítulo XXIII, intitulado O Século XIX, nos subtítulos "Allan Kardec e seus colaboradores" e "A tarefa do missionário", Emmanuel, não bastasse descrever a Ciência sob o prisma da religião, como forma de promover a "união e a fraternidade", afirma que a "missão" de Kardec teria sido recuperar o Cristianismo, como é o que as crenças do jesuíta conhecem como Catolicismo.

Seguem as seguintes passagens que confirmam as pregações do igrejista Emmanuel, corroboradas por Chico Xavier, que reduzem o pedagogo francês a um ativista religioso que nunca foi, Notem o oportunismo do jesuíta, com seu habitual discurso rebuscado, no seu falso apoio aos avanços científicos:

ALLAN KARDEC E OS SEUS COLABORADORES

Livro A Caminho da Luz - Francisco Cândido Xavier - pelo espírito Emmanuel

O século XIX desenrolava uma torrente de claridades na face do mundo, encaminhando todos os países para as reformas úteis e preciosas. 

As lições sagradas do espiritismo iam ser ouvidas pela Humanidade sofredora. Jesus, na sua magnanimidade, repartiria o pão sagrado da esperança e da crença com todos os corações. 

Allan Kardec, todavia, na sua missão de esclarecimento e consolação, fazia-se acompanhar de uma plêiade de companheiros e colaboradores, cuja ação regeneradora não se manifestaria tão-somente nos problemas de ordem doutrinária, mas em todos os departamentos da atividade intelectual do século XIX. A Ciência, nessa época, desfere os vôos soberanos que a conduziriam às culminâncias do século XX.

O progresso da arte tipográfica consegue interessar todos os núcleos de trabalho humano, fundando-se bibliotecas circulantes, revistas e jornais numerosos. A facilidade de comunicações, com o telégrafo e as vias férreas, estabelece o intercâmbio direto dos povos. A literatura enche-se de expressões notáveis e imorredouras. O laboratório afasta-se definitivamente da sacristia, intensificando as comodidades da civilização. Constrói-se a pilha de coluna, descobre-se a indução magnética, surgem o telefone e o fonógrafo. Aparecem os primeiros sulcos no campo da radiotelegrafia, encontra-se a análise espectral e a unidade das energias físicas da Natureza. Estuda-se a teoria atômica e a fisiologia assenta bases definitivas com a anatomia comparada. As artes atestam uma vida nova. A pintura e a música denunciam elevado sabor de espiritualidade avançada.

A dádiva celestial do intercâmbio entre o mundo visível e o invisível chegou ao planeta nessa onda de claridades inexprimíveis. Consolador da Humanidade, segundo as promessas do Cristo, o Espiritismo vinha esclarecer os homens, preparando-lhes o coração para o perfeito aproveitamento de tantas riquezas do Céu.

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