CHRISTOPHER HITCHENS INVESTIGOU E ENCONTROU IRREGULARIDADES NA TRAJETÓRIA DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ.
Depois de tantos anos barrado por polêmicas referentes a um milagre que não existiu, um outro suposto milagre atribuído a Madre Teresa de Calcutá fez o Vaticano decidir por sua canonização, que já tem data marcada, em setembro de 2016.
O processo foi encaminhado pelo Padre Caetano Rizzi, de Santos, com base num suposto caso ocorrido em 2008 com um homem morador de Santos, cidade do litoral paulista. Ele estava passando uma lua-de-mel com a mulher em Gramado, no Rio Grande do Sul, quando se sentiu mal, foi levado ao médico e diagnosticado com hidrocefalia, excesso de líquido no cérebro.
Transferido às pressas para um hospital em Santos, o paciente estava inconsciente. Foram diagnosticadas oito infecções no cérebro. Uma cirurgia de drenagem chegou a ser marcada para o dia seguinte, mas assim que esse dia veio o homem já se sentia curado e tomou o café sozinho.
A esposa do homem foi para a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em São Vicente, falou com um padre e disse que o marido estava em estado terminal. O padre lhe deu uma medalha da Madre Teresa de Calcutá e ela decidiu colocá-la no travesseiro onde o marido estava internado. Ela voltou para casa e orou para a freira albanesa.
Membros da Ordem dos Médicos, meses depois, teriam realizado um exame e constataram que a suposta cura era "cientificamente inexplicável" e, por unanimidade, reconheceram que era um "milagre" de Madre Teresa. Outras 14 testemunhas foram entrevistadas, além do padre Rizzi. Um documento de 400 páginas foi enviado para o Vaticano.
A estória foi relembrada numa época em que foi lançado, nos EUA, o filme The Letters, que mostra a vida de Madre Teresa com ênfase nas cartas que ela escreveu no decorrer de 40 anos. O episódio também tenta compensar um "fracasso" de um suposto milagre que depois foi comprovadamente contestado.
Foi em 2002, quando houve o caso da indiana Monica Besra, que havia sido diagnosticada com um câncer. Ela sentia dores abdominais intensas e os médicos identificaram tuberculose e tumor no quisto dos ovários. Foi colocada uma medalha da Madre Teresa sobre seu abdome e ela foi curada, mas não por conta do milagre, mas porque seu tumor era pequeno e pôde ser curado com o uso regular de medicamentos.
Até que ponto o caso do homem de Santos, cuja identidade não foi revelada, teria realmente sofrido a hidrocefalia? Ele não teria tomado um medicamento que teria causado a cura? Ou houve algum mal entendido quanto aos resultados do exame ou às sensações do paciente?
HISTÓRICO SOMBRIO
A madre albanesa que está prestes a virar santa é a mesma que alojou pobres e enfermos de qualquer maneira, lhes dava apenas aspirina ou paracetamol para aliviar as dores e permitia o uso de poucas seringas que, usadas, só eram "lavadas" com água de torneira e reutilizadas depois, algo que normalmente se vê em usuários de drogas que compartilham seringas infectadas.
O jornalista Christopher Hitchens (1949-2011) investigou as "casas dos moribundos" de Madre Teresa de Calcutá e observou irregularidades diversas, como as descritas acima. O que ele constatou foi publicado tanto no livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), de 1995, e no documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), de 1997.
"Madre Teresa não é amiga dos pobres. Ela é amiga da pobreza. Ela disse que o sofrimento era um presente de Deus. Ela passou sua vida se opondo à única cura conhecida para a pobreza, que é o poder das mulheres e sua emancipação de uma forma animal de reprodução compulsória", afirma Hitchens.
Embora o livro de 1995 tenha revoltado a Igreja Católica, pesquisas posteriores comprovaram dados sombrios de Madre Teresa: sua cumplicidade com tiranos políticos e magnatas corruptos, a falta de cuidado no alojamento dos pobres e doentes, e suas opiniões conservadoras a respeito de aborto e família, não bastasse a Teologia do Sofrimento que diz que "sofrer é lindo".
Um grupo de acadêmicos do Canadá comprovou esses dados, diferente do que fazem os acadêmicos das universidades brasileiras, sempre buscando respaldar ícones religiosos. Sem temer idolatrias religiosas, as pesquisas acadêmicas buscam nos fatos e na lógica o sentido de veracidade, enquanto no Brasil o preocupante apego à fé impõe limites ao raciocínio investigativo de muitos.
Aliás, por que foi no Brasil que o suposto milagre aconteceu? Por que aqui o raciocínio é quase sempre visto como um mal, ou como uma "virtude" a ser domada pelas rédeas da fé e da mistificação religiosa?
Isso se mostra tão preocupante que vemos um caso aberrante de Francisco Cândido Xavier, que de plagiador e imitador de estilos literários passou a ser visto como "super-médium" e um "santo" informalmente declarado, sem a chancela do Vaticano, mas sob a histeria de seguidores fanáticos tão exaltados e deslumbrados quanto os católicos.
Pessoalmente, nada temos contra Madre Teresa de Calcutá. Mas, diante de fatos que comprovam suas irregularidades, temos que admiti-las com imparcialidade e sem complacência, sem a "peninha" com que se sente diante de totens religiosos que parecem intimidar as pessoas com seu aparato de pretensos amor, bondade, caridade e humildade.
Se Madre Teresa alojou os pobres e doentes sem qualquer cuidado e não lhes dava o devido socorro, se ela pregava que o sofrimento era uma "bênção", se ela chegou a elogiar a "vocação pacifista" de Ronald Reagan, então presidente dos EUA, enquanto este mandava assassinar ativistas sociais de qualquer tipo - até padres e freiras progressistas - , na América Central, não podemos consentir com a imagem de "santa viva" que teve Madre Teresa de Calcutá.
É como fazemos com Chico Xavier, que cometeu plágios e pastiches literários que temos que admitir devido a comparações sérias que apresentam aberrantes disparates entre o que os alegados autores fizeram em vida e as obras tidas como "espirituais". Um Humberto de Campos falando como padre é inadmissível! E não podemos nos omitir por causa da imagem de "bonzinho" de Chico Xavier.
Chico e Teresa, além disso, eram adeptos fervorosos da Teologia do Sofrimento. Eles sempre defenderam que os sofredores não deveriam reclamar, que deveriam aceitar os infortúnios de bom grado, em nome de uma recompensa futura, geralmente póstuma, da qual não se sabe como é e nem se sabe se realmente haverá.
Isso é muito grave. E ver que a Madre Teresa de Calcutá, mesmo permitindo que se usem seringas infectadas para o tratamento dos enfermos, será canonizada. Até que ponto os padres da Terra, os sacerdotes, com seus critérios materiais, podem decidir se fulano é "superior" ou não, isso é absolutamente duvidoso.
Mas isso não difere muito do "espiritismo" brasileiro que permite que se façam cirurgias espirituais com tesouras enferrujadas e sujas, mediante consentimento de muitos que comemoram milagres e curas "espirituais" como se fosse a vitória da Fé sobre a Ciência.
Daí que, diante dessas curas "milagrosas", o que existe é, na verdade, um grande conflito. É a Fé querendo ser mais curadora de doenças do que a Ciência, impedindo que se realizem estudos sérios para descobrir a cura de doenças graves.
Desta forma, a religião faz um grande prejuízo aos cientistas, que com todo seu trabalho de estudos e pesquisas, não conseguem ter dinheiro suficiente para levarem adiante pesquisas que levassem a descobertas de curas e tratamentos. Enquanto isso, se é a fé religiosa que "realiza curas", a sociedade dá maior apoio e, se possível, lhe investirá com o dinheiro que falta tanto aos nossos cientistas.
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