quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Chico Xavier e Divaldo Franco, os inimigos internos do Espiritismo
A constatação trazida por este texto é chocante para muitas pessoas, devido à imagem glamourizada que Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco possuem na opinião pública. Mas a ideia de que os dois são considerados inimigos internos da Doutrina Espírita não se baseia em calúnias, mas na própria literatura espírita original.
Quem leu com muita atenção os livros doutrinários de Allan Kardec, saberá que isso é verdade. Chocante, mas é verdade. A própria recomendação do espírito Erasto em O Livro dos Médiuns, de que é preferível recusar dez verdades do que aceitar uma única mentira, condiz com isso: infelizmente, o Brasil aceitou uma única mentira, a ilusão dos "médiuns espíritas", deturpadores mas dublês de filantropos, mistificadores mas divulgadores de palavras açucaradas.
O Brasil vive ainda na infância de sua percepção da realidade, e ainda é apegado, de maneira bastante doentia, a muitas convicções. Muitos acreditam em tolices como uma ditadura supostamente resolver uma crise político-econômica ou a venda das nossas riquezas para estrangeiros irá promover o crescimento da nossa Economia.
A crença fanática (embora tida como "sem fanatismo") dos "médiuns espíritas" é também um reflexo dessa infância perceptiva, dessa absoluta falta de discernimento das pessoas. Afinal, os "médiuns" deturparam e ampliaram a deturpação do Espiritismo, e isso se torna grave em si, porque os desvios doutrinários feitos em relação à Doutrina Espírita representam a avacalhação de um trabalho solitário, árduo e oneroso. Ninguém sabe o nível da gravidade com que os "médiuns" deturparam a doutrina.
Os dois "médiuns", Chico Xavier e Divaldo Franco, personificam o misto de vendilhões do templo com os sacerdotes fariseus que Jesus reprovou em seu tempo. A aparente gratuidade de suas atividades é apenas um aparato, pois há outros meios de lucratividade que não atenuam as imagens desses religiosos. Documentários, seminários, premiações são alguns dos tesouros pomposos que os "médiuns espíritas" costumam receber, dados pelo apoio entusiasmado de ricos e poderosos.
Os "médiuns" apenas se dizem "humildes" por jogo de cena. Vivem do culto à personalidade e do estrelato e a simples fama lhes vale como uma fortuna, equiparando-os aos aristocratas, se não pela aparente posse do dinheiro, mas pela fama conquistada, a níveis hollywoodianos. E ainda recebem mordomias, como viagens em aviões de primeira classe, fazem turismo pelo planeta e recebem hospedagem em hotéis cinco estrelas, além de fazer palestras para as elites em troca de prêmios.
TRAJETÓRIA DIFÍCIL
Para quem não sabe, a trajetória do pedagogo francês Hippolyte Leon Denizard Rivail, o Allan Kardec, foi muitíssimo difícil. Apesar do reconhecimento como estudioso da Educação e professor discípulo do suíço Johann Heinrich Pestalozzi, Kardec, ao decidir estudar os fenômenos espirituais, encontrou grande repúdio da sociedade.
O pedagogo de Lyon só tinha como seu apoio estável a esposa, Amèlie Gabrielle Boudet, pois ele tinha que pagar as viagens com seu próprio dinheiro, tinha que manter sozinho a Revista Espírita e procurava explicar pacientemente suas ideias e conhecimentos, baseados em pesquisas solitárias e análises muito criteriosas.
O que os brasileiros não sabem é que os "médiuns espíritas" têm todo o conforto, os holofotes e as mordomias em suas mãos. Tanto Chico Xavier e Divaldo Franco não se tornaram humildes nem simbolizam a imagem de "gente simples" que virou pretenso consenso entre os brasileiros, mas são sustentados pelas elites que lhes financiaram viagens confortáveis, hospedagens generosas e uma blindagem midiática, jurídica e empresarial de dar inveja.
Os dois, além de desfigurarem o legado kardeciano original, inserindo nele ideias que Kardec reprovou de maneira explícita, por serem místicas e fora da lógica e do bom senso, se tornaram beneficiados de uma idolatria religiosa que envergonharia até Moisés, que veria, chocado, nos "médiuns espíritas", a idolatria que se deu ao velocino de ouro.
Não há como comparar as viagens patrocinadas de Divaldo Franco pelo mundo afora, para fazer palestras para ricos e poderosos em seminários de grande porte em hotéis cinco estrelas, com a peregrinação de Jesus de Nazaré ou as viagens de pesquisa feitas por Allan Kardec com o dinheiro do próprio bolso. E ainda assim para divulgar conceitos duplamente anti-doutrinários, tanto baseados no Cristianismo medieval (que deturpou o legado de Jesus) quanto na deturpação espírita.
SE O ELETRICISTA BOTA FOGO NA SUA CASA AO FAZER CURTO-CIRCUITO, VOCÊ ADMITIRIA SEU TRABALHO SÓ PORQUE ELE É BONZINHO?
A deturpação de Chico Xavier e Divaldo Franco em relação ao Espiritismo é um processo da mais extrema gravidade. Os dois não deturparam por "acidente", "sem querer" nem por "entusiasmo demais com suas origens católicas". Os dois fizeram com plena consciência de seus atos, monitorados pela FEB, e contribuíram, com gosto, para a desfiguração doutrinária que rebaixou o Espiritismo a um sub-Catolicismo de moldes jesuítas e medievais.
Mas as pessoas aceitam tudo isso a ponto de acreditar que, assim como quem aposta nas raposas para a reconstrução do galinheiro, Chico e Divaldo iriam recuperar as bases doutrinárias originais, tese absurda que foi sustentada pela blindagem de alguns amigos pessoais de Chico, anti-roustanguistas um tanto ingênuos, que se esqueceram do ditado "amigos, amigos, negócios à parte" e pensavam que o anti-médium mineiro era "uma figura simples e imaculada".
No entanto, Chico Xavier cometeu das suas. Há indícios de que ele teria se vingado de Humberto de Campos, devido a resenhas que o "médium" não gostou e, assim que o autor maranhense morreu, o mineiro se apropriou de seu nome para inventar obras inéditas. Chico já fez julgamentos de valor perversos contra vítimas de um incêndio num circo em Niterói e atribuiu o juízo a Humberto. O "médium" também defendeu abertamente a ditadura militar, na sua pior fase.
Infelizmente, usa-se a desculpa da "caridade" - um mero Assistencialismo que se proclama ser "assistência social" - para blindar os "médiuns espíritas" e minimizar os efeitos das contestações. Só que vamos fazer uma comparação.
Uma família contrata um eletricista. Pessoa muito simpática, religiosa etc. De repente, ele faz um péssimo trabalho, arrumando mal uma fiação elétrica. Isso faz com que, num dado momento, ocorra curto circuito e a casa pegue fogo, arrasando com tudo. O eletricista é processado e ele acaba perdendo ofertas de emprego pela má repercussão de seu desastre.
E olha que, digamos, ele havia feito, neste hipotético caso, o erro sem querer. Os "médiuns espíritas" erraram de propósito e são mantidos como representantes do Espiritismo e há quem os aproveite na ilusão de tê-los em alta diante da recuperação dos postulados kardecianos originais.
ASPECTOS SOMBRIOS
O grande problema é que os "médiuns espíritas" apresentam aspectos sombrios. Sua "medinuidade", diante do vício da falta de concentração dos brasileiros, em maioria incapazes de ler um livro "difícil" e músicas de qualidade, produz resultados quase sempre fakes. Suas ideias religiosas ocorrem à revelia dos ensinamentos espíritas, além da defesa de vários dogmas e práticas que contrariam frontalmente a Ciência Espírita e sua correspondente lógica.
Chico Xavier e Divaldo Franco tiveram origem arrivista, começaram com pastiches e plágios literários e defendem posições ideológicas bastante reacionárias. Chico Xavier mostrou indícios de valores machistas, racistas e até anti-semitistas em suas obras, além de defender abertamente que os sofredores devam suportar calados suas desgraças, sem reclamar para outras pessoas. E ainda defendeu a ditadura militar.
Divaldo Franco, por sua vez, andou defendendo posturas e procedimentos que acabaram derrubando sua fama de "sábio, pacifista, humanista e altruísta" de uma só vez, através de ocorrências e atividades recentes.
Primeiro, Divaldo derrubou a imagem de "sábio" ao difundir de maneira ainda mais confusa a já ridícula tese das "crianças-índigo", além de contrariar os ensinamentos espíritas tentando determinar datas para progressos profundos na humanidade. Sem falar que não é missão de um sábio autêntico a pretensão de ter respostas prontas para tudo, o que desqualifica a série Divaldo Responde. Um sábio geralmente tem mais questões do que respostas para temas específicos.
Divaldo derrubou a imagem de "pacifista" quando acusou de terem sido "tiranos colonizadores" os refugiados do Oriente Médio, juízo de valor dado numa entrevista à imprensa portuguesa após o fim de um "congresso espírita" na França, em dezembro de 2016. Isso porque os pobres dos refugiados estavam fugindo de países em guerra, com muita dificuldade, alguns morrendo no meio do caminho, e queriam viver em paz em algum país europeu, ainda que sob condições bastante modestas.
Divaldo derrubou a imagem de "humanista", quando ofereceu o Você e a Paz para homenagear uma figura desumana como João Dória Jr. - capaz de reprimir usuários de drogas com violência policial e de mandar jogar jatos de água para acordar moradores de rua, humilhando-os e causando risco de doenças devido ao choque térmico - e o permitiu lançar oficialmente a "farinata" ou "ração humana", que nutricionistas definiram como "ofensa à dignidade humana".
Divaldo derrubou a imagem de "altruísta", quando, em recente entrevista num "congresso espírita" em Goiânia, condenou a ideologia de gênero, definindo-a como uma "imoralidade ímpar" e defendeu o juiz Sérgio Moro, chamando-o de "presidente da República de Curitiba" por "desnudar a hipocrisia", agindo ao arrepio do Direito e da Constituição Federal, e investindo em práticas truculentas como a condução coercitiva para depoimentos na Polícia Federal.
Há muitos pontos sombrios a mais dos "médiuns espíritas" que dariam grossos volumes de livros. E nem a "caridade", desculpa usada para atenuar a culpa dos "médiuns", tem o mérito que atribuem: ela nunca trouxe efeitos sociais profundos nem definitivos, e a grandeza com que se atribuem os "médiuns" e seu poder de influência na sociedade sugere que o Brasil teria atingido níveis escandinavos de qualidade de vida, se essa "caridade" realmente funcionasse.
Com base nos alertas de Herculano Pires, a "caridade espírita" é só uma desculpa para os "médiuns" fazerem o que quiserem com o Espiritismo, blindados por esse pretexto. Mas essa "caridade" é aceita sem provas consistentes de seus resultados, que, em verdade, são ínfimos, porque o Brasil nunca saiu de sua situação subdesenvolvida e miserável de maneira definitiva.
Como deturpadores do Espiritismo, os "médiuns espíritas" têm mais que ser questionados, contestados e até repudiados, como traidores dos ensinamentos originais de Kardec. São traidores do Espiritismo não porque eram espíritas autênticos, mas porque estão associados a um compromisso que disseram assumir e nunca cumpriram de maneira honesta e coerente.
Nem a caridade pode ser usada para atenuar esses erros e abafar críticas. Pelo contrário, essa caridade fajuta dos "médiuns espíritas" serve mais para promoção pessoal, e isso se torna ainda mais deplorável, porque usar a caridade para esconder outros erros é ainda mais criminoso e mostra o cinismo com que agem os deturpadores do Espiritismo, que se apoiam em qualquer desculpa ou pretexto para continuar ao mesmo tempo traindo Kardec e se autoproclamando seus herdeiros. Isso é lamentável.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
"Memória curta", jeitinho brasileiro e fábrica de consenso beneficiaram "médiuns espíritas"
É muito perigoso o ato de manipular o discurso, transformando pessoas traiçoeiras ou levianas em pretensas unanimidades, produzindo uma narrativa que é coerente na aparência e que só apaga os fatos originais sombrios da vida de alguém, promovendo sua imagem à semelhança de um mocinho de contos de fadas, forçando a unanimidade e o consenso popular.
A combinação de "memória curta", do jeitinho brasileiro e das técnicas de fabricação de consenso na opinião pública protegem os "médiuns espíritas", divulgadores de um suposto espiritismo deturpado e igrejeiro. A blindagem foi tanta que havia a esperança de recuperação doutrinária dos postulados espíritas originais sob a liderança dos próprios deturpadores, como a eterna esperança de que somente as raposas têm a missão de reconstruir o galinheiro que destruíram.
É muito perigoso isso, porque figuras bastante levianas podem se tornar, em questão de décadas, pretensas unanimidades contra as quais há muita dificuldade de se agir. A ampla aliança de diversos setores da sociedade garante a blindagem e a impunidade e mesmo os piores abusos podem ser justificados por atenuantes ou por outras desculpas, mesmo que seja sob o preço de sacrificar a ética, a lógica, o bom senso e a moral.
Isso fez com que o "espiritismo" brasileiro se transformasse num grande nó de marinheiro, difícil de ser desamarrado. Não foi por falta de empenho, pois, desde os primórdios do "movimento espírita" se combateu os germes do igrejismo roustanguista, que atualmente persiste sob o disfarce de "kardecismo autêntico", uma farsa que mais parece um confuso "roustanguismo com Kardec".
Desde as ações de Afonso Angeli Torteroli, há cem anos, se combateu o igrejismo no "movimento espírita". Infelizmente, o igrejismo prevaleceu, a ponto do contemporâneo de Torteroli, Adolfo Bezerra de Menezes, o "dr. Bezerra", ter hoje uma biografia adocicada, quase um conto de fadas.
Isso é lamentável, se considerarmos que mesmo figuras admiráveis que viveram na mesma época que Bezerra, como os escritores Machado de Assis, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, também têm aspectos sombrios em suas biografias. Bezerra, que teria sido temperamental, corrupto e demagogo, passou para a posteridade quase como se fosse a versão brasileira do Papai Noel (?!).
OS "MÉDIUNS ESPÍRITAS" E SUA BLINDAGEM
A maioria das pessoas se esqueceu que os "médiuns espíritas", tão alvos de adoração extrema, a níveis da fascinação obsessiva e da subjugação e movidas pelo perigoso apelo emocional do "bombardeio de amor", são severos deturpadores dos ensinamentos espíritas originais, que foram rebaixados a um mero receituário igrejista de um moralismo conservador e medieval.
Espécie de "sacerdotes medievais" à paisana, os "médiuns espíritas" são beneficiados por essa tripla estratégia, na qual se combina a memória curta, esquecendo os pontos sombrios que eles tiveram no início da carreira, criando o jeitinho brasileiro de desenvolver um aparato de caridade e amor ao próximo, com um forte tom persuasivo que conseguiu fabricar consenso e pegou muita gente desprevenida.
As pessoas foram vítimas de pegadinha. Passaram a acreditar em "médiuns espíritas" pela suposta caridade e pela pretensa superioridade moral, fazendo ampliar a deturpação do Espiritismo e levar à ruína o legado trabalhoso de Allan Kardec.
Essa pegadinha não é difícil de ser diagnosticada, porque os "médiuns espíritas", a partir de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, apresentam muitos pontos sombrios e, no começo da carreira, foram denunciados como oportunistas, usurpadores da Doutrina Espírita e plagiadores e escritores de obras de valor literário muito duvidoso, embora de apelo religioso bastante atraente para muitos.
Os dois arrivistas cresceram tanto através do jeitinho brasileiro da promoção publicitária da FEB, com a ajuda midiática da TV Tupi e, depois, da Rede Globo de Televisão. Criou-se nos dois deturpadores do Espiritismo uma imagem de pretensos filantropos, criando uma narrativa que chegou ao nível da pieguice e da promoção do culto à personalidade, e que mais parecia enredo de novela do que alguma realidade concreta e objetiva.
Foi uma publicidade tão engenhosa e tão sofisticada em suas técnicas que, durante anos, muita gente boa passou a acreditar que os "médiuns espíritas" eram pessoas realmente iluminadas e batalhadoras. Alguns, idiotizados, acreditavam que eles só deturparam o Espiritismo por acidente, "empolgados demais" com a origem católica, e que por isso creem tolamente que os próprios "médiuns" deturpadores podem recuperar as bases espíritas originais, o que é impossível.
Isso fez camuflar os dados sombrios originais. Chico Xavier, um plagiador e pastichador de obras literárias que atuava sob a colaboração de uma equipe de editores e consultores literários, sob a coordenação de Antônio Wantuil de Freitas. Divaldo Franco, um verborrágico mercador das palavras, um palestrante pavoneador a se exibir para ricos e poderosos e que começou as carreiras plagiando livros do já plagiador Chico Xavier.
A memória curta apagou isso e os dois venderam uma imagem pretensamente adocicada que acobertou esses dados sombrios, que continuaram acontecendo, como se observa em muitas obras e em muitas posições reacionárias que os "médiuns" transmitiam em suas entrevistas. Os dois defendiam ideias medievais que se baseavam na aceitação submissa e masoquista do sofrimento humano, sendo Chico mais explícito com isso, pois ele falava até em "sofrer calado, sem queixumes".
NEM A CARIDADE SALVA OS "MÉDIUNS ESPÍRITAS"
Do contrário do que se pensa, os "médiuns espíritas" não têm na caridade seu atenuante. Costuma-se dizer que eles "deturpam, sim, o Espiritismo" ou que "eles são realmente conservadores", mas se argumenta que "pelo menos temos que aceitá-los porque eles praticam a caridade". Só que esse mito de caridade, um dogma transmitido sem provas consistentes, como que uma versão invertida da "corrupção do ex-presidente Lula", não trouxe resultado algum para o Brasil nem para o mundo.
A "caridade espírita", embora denominada oficialmente Assistência Social, é mero Assistencialismo. A Assistência Social é a caridade que transforma a sociedade a ponto de ameaçar os privilégios abusivos dos mais ricos. Só que o "espiritismo" brasileiro nunca realizou essa transformação. O que o "espiritismo" fez foi Assistencialismo, a "caridade paliativa" que só trouxe efeitos pontuais, superficiais e medíocres, e isso se comprova com fatos que escapam da publicidade "espírita".
Se essa "caridade" que blinda os "médiuns espíritas" - mais blindados que os políticos do PSDB, denominados "tucanos" - realmente desse certo, o Brasil teria atingido elevados padrões de vida. Isso não tem como escapar.
Não adianta dizer que "caridade" não é obrigada a trazer qualidade de vida, como enrolam, em confusas desculpas, os seguidores dos "médiuns" que, sob o pretexto de desvincular política e religião, veem "progresso" na "caridade espírita" até quando o Brasil mostra piora nos quadros de pobreza e miséria.
Outro dado a considerar é que a "maior caridade" de Chico Xavier foi, na verdade, um ato de crueldade e leviandade. As "cartas mediúnicas", atribuídas aos parentes mortos de pessoas comuns, revelaram uma série de irregularidades: fraudes psicográficas, exploração leviana das tragédias familiares, estímulo ao sensacionalismo midiático, espetacularização da perda dos entes queridos, promoção pessoal do "médium", catarse emocional a níveis de morbidez e obsessão pelos mortos.
Os "médiuns espíritas" também estão associados a juízos de valor perversos contra pessoas humildes, um dado a ser levado em conta devido à imagem de pretensa humildade associada a esses ídolos religiosos.
Chico Xavier, em 1966, acusou as vítimas do incêndio no Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, no final de 1961, de terem sido "gauleses sanguinários" no século II. Por acusação semelhante, em 2009, o médico e "médium" Woyne Figner Sacchetin, que acusou as vítimas do acidente com um avião da TAM em 2007 de terem sido "gauleses sanguinários" no século II, foi processado por danos morais e teve que retirar o livro que contém essa acusação das livrarias.
Em ambos os casos, os "médiuns" tentaram atribuir o dedo acusatório a espíritos desencarnados. No caso de Chico Xavier, através do livro Cartas & Crônicas, de 1966, atribuiu a sórdida acusação ao espírito de Irmão X, um pseudônimo que Chico arrumou para manter sua apropriação do nome do escritor maranhense Humberto de Campos. Woyne, no livro O Voo da Esperança, de 2009, fez a mesma atribuição com o nome do "pai da Aviação" Alberto Santos Dumont.
Divaldo Franco fez acusações igualmente severas contra refugiados do Oriente Médio. Numa entrevista dada a um veículo de imprensa português após o fim de um evento "espírita" na Espanha, acusou os refugiados de terem sido "colonizadores sanguinários", o que se subentende que Divaldo se sente horrorizado em ver pessoas saindo de países como a Síria e a Nigéria para viverem na Itália em busca de paz.
Divaldo, com isso, contradiz sua fama de "pacifista", como contradisse sua fama de "humanista" apoiando um estranho composto alimentar do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., justamente no evento Você e a Paz. O alimento foi considerado por várias entidades ligadas aos movimentos sociais (que envolvem gente humilde) uma "ofensa à dignidade humana". O composto, chamado de "farinata" ou "ração humana", foi descartado por Dória após repercussão negativa.
Com esses aspectos sombrios, não há como usar a "caridade" como atenuante para as irregularidades dos "médiuns espíritas", erros tão graves para serem compensados por filantropias tão frouxas e tão tendenciosas. Ainda mais se observarmos que os locais "protegidos" pelos "médiuns", como Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, são cenários de muita violência e miséria extrema. Chega de tanta carteirada blindando os "médiuns espíritas"!
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
Caridade: o "Rouba Mas Faz" do "movimento espírita"?
Virou clichê dizer que os "médiuns" do "movimento espírita" deturpam o legado de Allan Kardec com desvios doutrinários sérios, suas obras "mediúnicas" apresentam irregularidades nos aspectos pessoais atribuídos aos mortos e, além disso, há a defesa de ideais moralistas bem conservadores, mas há o tal atenuante da "caridade".
A "caridade" virou uma desculpa para relativizar os "médiuns espíritas" de qualquer coisa. Alegações de "bondade verdadeira" ou "caridade genuína" são ditas de maneira vaga, sem provas. E isso blinda Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco e similares, fazendo com que o "médium espírita" fosse mais blindado do que os tucanos, como são conhecidos os sortudos políticos do PSDB.
Esse é um problema do senso comum nos últimos anos. Assim como se fala que o ex-presidente Lula "roubou os brasileiros", assim de maneira vaga, sem base em provas e pela catarse emocional, fala-se que Chico Xavier e Divaldo Franco "praticam caridade", sem perceber se realmente essas ações trazem resultados profundos e definitivos.
Na verdade, ambas as alegações, nos dois casos sem provas consistentes e baseadas apenas nos impulsos emocionais, mostram o problema dos brasileiros, em julgar a realidade com o próprio umbigo sem perceber se os supostos fatos alegados são verídicos ou não. Ter verossimilhança, ou seja, parecer-se com a verdade, não significa que seja realmente a verdade.
MITO DE "CARIDADE" FOI "FABRICADO" PELA MÍDIA. CASO LUCIANO HUCK EXPLICA
Não há motivo para usar a "caridade" como suposto atenuante para os "médiuns espíritas", acusados de fraudes psicográficas, deturpação doutrinária e ter opiniões reacionárias sobre muitos aspectos da vida social e política do Brasil.
Primeiro, pela grandeza com que os "espíritas" atribuem aos ídolos Chico e Divaldo, era para essa suposta caridade apresentar resultados REALMENTE concretos, transformadores e definitivos. Desculpas como "eles não têm tantos recursos assim e fazem por onde" não procedem, porque eles são suficientemente adorados pelas elites o que, em tese, garantiria grandes investimentos e resultados até mesmo imediatos de progresso social amplo e surpreendente.
Mas nada disso aconteceu. Pior. Lugares "protegidos" pelos "médiuns", como Uberaba, em Minas Gerais, Abadiânia, em Goiás e o bairro de Pau da Lima em Salvador, na Bahia, sofrem problemas de miséria e violência. Até pioraram nos últimos anos, e não foi desprezo aos "ensinamentos" dos "médiuns", muito pelo contrário. Eles são valorizados até o extremo dos extremos, e mesmo assim ocorrem crimes e miséria que fazem desses lugares verdadeiros umbrais terrenos.
O mito de "caridade" dos "médiuns espíritas", para quem não sabe, foi plantado pela mídia. É um modelo conservador de ajuda ao próximo: uma sutil lógica de cativeiro de pobres e doentes, sem que haja uma ruptura no sistema de hierarquias sociais nem ameace os privilégios dos mais ricos.
Muita gente faz ouvidos de mercador e quer endeusar os "médiuns espíritas" por uma suposta caridade que não traz efeitos sociais expressivos. A "ajuda a muita gente" é um mito transmitido de forma vaga, como um boato solto por aí. Não há provas, não há dados precisos nem consistentes, e há idiotas que, quando falam que "as provas estão aí", apontam para o "médium", deixando claro que setores da sociedade medem a "filantropia" não pelos resultados conquistados, mas pelo prestígio religioso do suposto benfeitor.
Recentemente, temos a Rede Globo desenvolvendo uma imagem pretensamente filantrópica do apresentador Luciano Huck, que originalmente havia sido um colunista televisivo de jovens ricos e um grande divulgador do "funk" no Brasil. Ultimamente se falou que Huck se tornaria candidato à Presidência da República, mas o apresentador do Caldeirão do Huck desistiu, há cerca de uma semana.
Pois o que a Globo faz com Luciano Huck ela havia complementado com Chico e Divaldo. Os mitos "filantrópicos" dos dois foram uma invenção conjunta da FEB com os Diários Associados, como meio para abafar acusações de fraudes mediúnicas. A ideia é criar um discurso, com uma insistência hipnótica (lembrando a frase do lamentável publicitário nazista, Joseph Goebbels, de que uma "mentira reproduzida mil vezes se torna verdade") que faça todo mundo acreditar na falácia exibida.
Ações supostamente filantrópicas expressas em espetáculos comemorativos de instituições "espíritas" revelam isso. Pobres e doentes que, em geral, nunca são assistidos passam a comparecer, poucas vezes por ano, em festas "filantrópicas" bastante ostensivas, que ocorrem raras vezes ao ano e são feitas mais como propaganda dessas instituições e dos respectivos "médiuns".
Atividades filantrópicas são poucas e medíocres e, em muitos casos, servem mais para captar dinheiro público para os "espíritas" - cujas instituições são registradas como "instituições filantrópicas", portanto, sendo livres de pagar impostos - , não raro havendo superfaturamento. E isso sem falar de que tais instituições exercem o culto à personalidade, com a propaganda exacerbada do respectivo "médium" e suposto benfeitor de cada instituição.
A "caridade" é trabalhada como enredo de novela. A "dedicação ao próximo" segue os clichês do paternalismo religioso e conservador. Essa "caridade" é espetacularizada, dotada de uma mistificação e mitificação piegas. Mais uma peça de marketing do que uma realidade. É uma ajuda ao próximo de baixíssimos resultados, não por falta de recursos, mas porque o "espiritismo" brasileiro, que prega a Teologia do Sofrimento, não se interessa mesmo em ir longe e fundo nas ações filantrópicas.
PROMOÇÃO PESSOAL DO "BENFEITOR"
O que se deve chamar a atenção é que a "caridade" acaba servindo não só para a promoção pessoal dos "médiuns", mas também como "carteirada religiosa". Daí as alegações de que os "médiuns" de fato "deturpam o Espiritismo, mas pelo menos praticam a verdadeira (sic) bondade". Isso permite deixar a deturpação como está, pois a "filantropia" acaba permitindo todo tipo de abuso.
Nos anos 1970, o jornalista José Herculano Pires, autoridade do Espiritismo autêntico no Brasil, declarou, em carta para um amigo, fez um comentário sobre Divaldo que chocaria muitos que estão acostumados com a imagem glamourizada do anti-médium baiano:
"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); CONDUTA CONDENÁVEL NO TERRENO DA CARIDADE, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".
O trecho destacado por nós revela o motivo que devemos questionar a "caridade" dos "médiuns espíritas", porque ela é um artifício para os "médiuns" esconderem seus defeitos e suas irregularidades, não obstante muito graves. A "caridade" não deveria ser usada como "moeda" para calar a boca dos que questionam os desvios doutrinários e mediúnicos desses ídolos "espíritas". Mas, infelizmente, é usada e abusada.
ROUBA MAS FAZ E A "CARIDADE" COMO CRIME ELEITORAL
A analogia da complacência social com os "médiuns espíritas" com o mito do "Rouba Mas Faz" de certos políticos - o termo foi usado para favorecer governantes, no passado, como os paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf e o baiano Antônio Carlos Magalhães - é certeira.
Esse mito se deu para garantir a mesma blindagem. Era um meio de dizer que, embora os políticos referentes fossem personalidades marcadas pela corrupção, eram aceitas por causa de realizações consideradas pomposas ou paliativas, como construção de viadutos, embelezamento de praças e programas paliativos de fornecimento de merenda escolar.
Recentemente, a Lei Eleitoral estabeleceu crime eleitoral a doação de cestas básicas ou outras vantagens em troca de votos. Isso significa que supostos atos de "caridade" feitos por motivos tendenciosos são considerados crimes, mas infelizmente são medidas similares que protegem os deturpadores do Espiritismo, que, protegidos pelo "escudo filantrópico", acabam abafando as críticas aos erros graves que eles cometem, como a traição ao legado original de Allan Kardec.
A "caridade espírita" tornou-se, então, o "Rouba Mas Faz" do "movimento espírita", porque protege até mesmo as psicografias fake, aquelas que nem de longe lembram as personalidades originais dos autores mortos alegados. Isso é terrível, e a complacência das pessoas acaba se tornando um consentimento muito criminoso.
É fácil um escrevinhador dotado de muita esperteza se passar por um morto, usar o nome de, digamos, da cantora irlandesa da banda Cranberries, Dolores O'Riordan, escrevendo em português bem brasileiro e supondo que o Brasil irá comandar o mundo na próxima década. Ou então um suposto médium que, usando o nome de Marisa Letícia Lula da Silva, apelar para quem for cristão evitar votar em Lula para prevenir de "muitos dessabores" para o país.
Basta ter uma casa e jogar uns pobres e doentes dentro, e criar um projeto assistencial medíocre, embora anunciado enganosamente como "transformador". Se até mesmo em casos como Chico Xavier e Divaldo Franco, vemos irregularidade em tudo, da mediunidade à filantropia, imagine então os mais recentes aventureiros dessa "pseudografia" que pegam os mortos da moda para inventarem mensagens igrejeiras supostamente "em nome do pão dos pobres".
Devemos questionar até mesmo a suposta caridade dos "médiuns espíritas". Sabe-se que as "cartas mediúnicas" de Chico Xavier não foram caridade, mas perversidade, num processo traiçoeiro que combinou fraudes psicográficas, exploração das tragédias familiares e promoção de sensacionalismo na grande mídia, além da própria promoção pessoal do "médium".
É hora de parar de usar a "caridade" para atenuar os erros dos "médiuns espíritas", que devem ser repudiados com muita firmeza, até porque eles se escondem no "véu da caridade" para evitar serem profundamente questionados e para manter o poder que eles têm como ídolos religiosos, que lhe garantem privilégios exorbitantes na sociedade, se não financeiros, mas, ao menos, de dominar as massas populares com um igrejismo medieval e ultraconservador.
domingo, 25 de fevereiro de 2018
Carlos Bacelli teria inventado que Chico Xavier foi examinado pela NASA
Embora tão reacionário quando os "espíritas" igrejeiros, o analista Francisco Amado, espécie de "Olavo de Carvalho" da crítica espírita, publicou este texto questionando o rumor de que o "médium" Francisco Cândido Xavier teria sido examinado pela NASA, agência espacial dos EUA, com o objetivo de estudar a sua aura.
O rumor foi divulgado vagamente, como um boato espalhado visando o carisma do "médium", e indícios mostram que teria sido o amigo Carlos Baccelli que teria plantado a notícia, falando de um suposto "Paul Hilde" que nunca teria existido.
A tese é tão ridícula quanto atribuir como "comprovação" da "profecia" de Chico Xavier (atribuída a 1969), episódios ufológicos ocorridos em 1964 e 1967 em bases estadunidenses. Como uma profecia pode comprovar um fato ocorrido antes da mesma? Vamos ao texto abaixo:
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NASA ESTUDA A AURA DE CHICO XAVIER (LENDA URBANA)
Por Francisco Amado - Rede Amigo Espírita e República dos Espíritos
Em uma pesquisa para saber que foi, quando foi, como foi e onde foi feito a pesquisa
sobre a aura de mais de 10 metros atribuída a Chico xavier.
Encontramos apenas um relato que diz que em um encontro anônimo, onde não é citado ano, nem mês muito menos dia.
Um dia um engenheiro da Nasa, usando de aparelhos sofisticados, examinou a aura de Chico Xavier e ficou impressionado, porque detectou irradiação num raio de 10 metros do corpo físico dele.
Mais adiante encontramos uma data que não se sabe ,qual é origem e fonte.
Em experiências realizadas pela NASA, em Uberaba, Minas Gerais, Brasil, em 1978, o Engenheiro Paul Hild constatou que a aura de Francisco Cândido Xavier era sentida num raio de dez metros, enquanto a de outros médiuns pesquisados se ficou por alguns centímetros?”
O curioso é que um fato revelador deste, teve apenas uma pequena divulgação em jornais espíritas.
Agora outra questão que passa desapercebida e que J. Herculano Pires, jamais falou de tal assunto em seus livros, onde sempre citava pesquisas e pesquisadores da ciência.
Já Sheila Ostrander e Lynn Schroeder contam em seu livro “Experiências Psíquicas além da Cortina de Ferro”
Que no fim do ano de 1939, uma comissão de cientistas russos convidou Francisco Cândido Xavier para ir à Rússia por 6 meses, para se submeter a vários testes relacionados com seus “poderes“.
Para isso, além da viagem, pagar-lhe-iam a quantia de trezentos contos de réis, soma que daria, na época, para pagar a construção de 50 casas populares!
Chico sentiu-se tentado. Estava quase aceitando quando Emmanuel apareceu e lhe disse: - Se queres ir podes, eu fico!
Bem fazendo uma pesquisa sobre Paul Hilde não encontramos absolutamente nada.
Indo direto na fonte ou seja a NASA também lá nada consta sobre o misterioso Paul Hilde que veio no anonimato fazer tal pesquisa, que ficou em segredo e rodeada de mistérios.
Fico sem saber os materiais e os métodos usados, onde foi realizada a experiência, quais os fundamentos teóricos suportados pela ciência em que se baseia e muito seriamente, se este senhor existe sequer.
Sim por que a duvida sobre a existência de misterioso Paul Hilde?
Ao pesquisar "Engenheiro americano Paul Hilde" no Wikipedia inglês este é o resultado
.
There were no results matching the query.
Não houve resultados correspondentes a consulta.
You may create the page "O Engenheiro americano Paul Hilde", but consider checking the search results below to see whether it is already covered.
Você pode criar a página "O Engenheiro americano Paul Hilde", mas considere verificar os resultados de pesquisa abaixo para ver se ele já está coberto.
Ao pesquisar Paul Hilde no google a única coisa que aparece são resultados do facebook.
Paul Hilde é um fã de: TV Shows Programas de TV
Beavis & Butthead Beavis & Butthead
Mais uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos e que é conhecida como LENDA.
A questão que deveria ser tratada sem sentimentalismo por quem diz que é ESPIRITA e a seguinte.
O QUE ESTA POR TRÁS DESSAS INFORMAÇÕES.
1º Chico foi Kardec
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2º Nasa pesquisou Chico
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3º As duas informações duvidosa tem a mesma GÊNESE o ILUSTRÍSSIMO Sr Carlos Bacceli
Depois de postar estes questionamentos em uma comunidade do Orkut o pessoal teve um piripak pois, a maioria não compreendeu que o objetivo da critica não era direcionado ao Chico Xavier.
O alvo da critica é a informação e o informante pois, não se encontra nem um dado da existência deste engenheiro Paul Hilde.
Mas, como no meio espírita é um sacrilégio duvidar de qualquer obra mediúnica se colocar o nome Francisco Candido Xavier então, é motivo para ser excomungado, com agravantes de perda de bônus-hora isto se não te transformarem em um ovóide.
sábado, 24 de fevereiro de 2018
Sônia Abraão é condenada pela Justiça por alegar que menina era um "espírito desencarnado"
A apresentadora Sônia Abrão e a emissora Rede TV! foram condenadas a indenização, por danos morais, devido a um quadro veiculado no programa A Tarde é Sua, em 2013. No programa, Sônia recebia a suposta médium Márcia Fernandes, convidada para analisar fotos em que supostamente aparecem "fantasmas".
Uma das fotos mostrava a menina, então com 13 anos, Luana da Conceição Sousa, junto a familiares. A imagem da menina aparece borrada e Márcia Fernandes alegou ser um "fantasma", fazendo comentários bastante agressivos atribuindo a imagem a um "fantasma assustador". As duas faziam comentários alegando que a imagem "era apavorante" e isso constrangeu a menina.
Luana passou a receber gozações violentas na escola e ser humilhada por ser tida como "menina-fantasma". Chamaram ela de "bruxa", "espírito" e "encosto". Traumatizada, Luana foi levada pelos pais para tratamento psicológico, abalada pela situação vexatória e humilhante que sofreu. A veiculação da imagem em rede nacional aumentou ainda mais os efeitos do dano moral.
A juíza da 39ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Paula do Nascimento Barros Gonzalez Teles, acatou a ação judicial dos familiares de Luana e determinou que Sônia e a Rede TV! pagassem uma indenização de R$ 30 mil a Luana e R$ 15 mil a cada familiar responsável pela ação judicial. Sônia Abrão também foi intimada a fazer retratação, o que foi feito no programa de 19 de fevereiro de 2018, acessível pelo link trazido por mensagem no Twitter:
Sônia Abrão condenada a pagar processo por ter informado q uma imagem distorcida numa foto era um espírito (confirmado pela sensitiva Márcia Fernandes) e a menina está mais viva do q eu e vc q está lendo, com direito a pedido formal de desculpas no programa #ATardeÉSua pic.twitter.com/aCCKSDRtv2
— Brun (@Paixaobrunosou) 19 de fevereiro de 2018
NEM TUDO É "IMPRESSÃO MEDIÚNICA"
É muito comum os "espíritas" falarem que "todos somos médiuns" e que toda imagem que parece um espectro é necessariamente de um espírito. Nem tudo isso ocorre. Podemos sofrer truques visuais como imagens desfocadas de pessoas, por causa da qualidade da câmera fotográfica ou por problemas de foco no manejo da mesma.
Da mesma maneira, há também a pareidolia, que é a vista de um objeto qualquer que apresenta ideias diferentes, como a combinação de sombras ou de formatos de objetos que podem sugerir, falsamente, uma aparição espiritual. Em muitos casos, a correria cotidiana faz as pessoas verem objetos que lembram aparições de espíritos, numa ligeira e falsa impressão.
Infelizmente, as "casas espíritas" tentam alegar que essas aparições "de fato existem" e tentam interpretar as pareidolias desse tipo - quando a ilusão visual sugere falsos espectros - como se fossem "aparições espirituais autênticas", como se cada pareidolia fosse um indício de "presença espiritual" de alguém. Mas não é, pois, nesses casos, foi apenas uma ilusão de ótica.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
Divaldo Franco manifestou posições reacionárias em "congresso espírita" de Goiânia
Reproduzimos o depoimento do "médium" Divaldo Pereira Franco, durante o 3º Congresso Espírita (sic) de Goiânia, no qual ele e o juiz e "palestrante espírita" Haroldo Dias Dutra - que trabalha no Tribunal de Justiça de Minas Gerais - foram os principais convidados.
O depoimento é chocante, para aqueles que viam em Divaldo a figura melíflua e progressista que ele nunca foi, e comprovam os avisos, de quatro décadas atrás, do autêntico espírita Herculano Pires sobre a "carreira sombria" do anti-médium baiano, suposto líder pacifista que acha que um simples malabarismo de palavras rebuscadas fosse capaz de encerrar as guerras na Terra.
O depoimento abaixo, comparável ao que o próprio Francisco Cândido Xavier deu ao programa Pinga Fogo - a propósito, o programa é citado, jocosamente, por uma pessoa no congresso de Goiânia - em 1971, é de uma sinceridade que não pode ser revertida pelo wishful thinking que muitos deslumbrados até pouco tempo mantinham.
Vale lembrar que não se pode fazer "Fla X Flu" entre Chico Xavier e Divaldo Franco, porque ambos sempre foram figuras conservadoras e até reacionárias. Não há como dizer que um era reacionário e outro, progressista. Não há como uns dizerem "ah, mas Chico Xavier pelo menos não diria isso" ou, vendo o Pinga Fogo, "ah, mas pelo menos Divaldo, mais intelectual, seria progressista". Sem essa!
Lembremos que Chico Xavier também havia sido homofóbico, pois em 1969 ele havia comentado sobre o homossexualismo e atribuiu a essa postura humana um estado de "confusão mental". Recentemente, o "Correio Espírita", de Niterói, também adotou uma postura homofóbica, alegando que Deus ofereceu as condições biológicas para determinada sexualidade.
O depoimento está todo reproduzido abaixo, com um eventual deslize de concordância e pequenos equívocos de linguagem, e parêntesis indicando o momento em que Divaldo foi aplaudido por suas posturas. Ele adota posturas firmemente homofóbicas, reprova radicalmente o "aborto" e elogia o juiz Sérgio Moro, de práticas juridicamente duvidosas e feitas ao arrepio do Direito em geral e da Constituição em especial.
Na ocasião, um jovem chamado Fernando, de 18 anos, perguntou a Divaldo Franco a respeito de ideologia de gênero. Depois da pergunta, alguém citou, rindo, a palavra "Pinga Fogo", talvez aludindo ao programa em que Chico Xavier expressava seu conservadorismo ideológico.
É bom lembrar que os "espíritas" são muito mais explícitos no seu conservadorismo do que as seitas neopentecostais, embora ambos rejeitem com igual radicalismo o aborto e a ideologia de gênero. Divaldo encerra seu depoimento de maneira grosseiramente irônica, apelando para o francês "jamais" (pronunciado "jamé").
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DEPOIMENTO DE DIVALDO PEREIRA FRANCO SOBRE IDEOLOGIA DE GÊNERO E SÉRGIO MORO
Congresso Espírita (sic) de Goiás, 13 de fevereiro de 2018, em Goiânia
Fernando, 18 - O que dizer sobre a ideologia de gênero?
Eu diria em frase muito breve, que é um momento de alucinação psicológica da sociedade. (Aplausos) Em uma entrevista que recomendamos, Iraci Campos, do Centro Espírita (sic) Joana de Ângelis, na Barra da Tijuca, entrevistou um nosso aluno a esse respeito, e as respostas como as perguntas, muito bem elaboradas, propiciaram a Haroldo (Dutra Dias) a abordar a questão no ponto de vista legal, moral, espírita e social. Vale a pena, portanto, procurar na Internet, esse encontro de Iraci Campos com Haroldo Dutra. Haroldo disse em síntese, eu peço licença a ele, que se trata de um momento muito grave da cultura social da Terra, e que é naturalmente algo que deveremos examinar em profundidade, mesmo porque nós vamos olhar a criança, graças à sua anatomia, como sendo o tipo ideal. E a criança, nesse período, não tem discernimento sobre o sexo. A tese é profundamente comunista. E ela foi lançada por Marx sob outras condições, que a melhor maneira de submeter um povo não é escravizá-lo economicamente, era escravizá-lo moralmente. Como nós vemos, através de vários recursos que vêm sido aplicado no Brasil nos últimos nove anos, dez, em que o poder central tem feito todo o esforço para tornar-se o padrão de uma sociedade em plena miséria, econômica e moral, porque os exemplos de algumas dessas personalidades são tão aviltante e tão agressivo (sic) que se constítuíram legais, e, porém, nunca morais. Todas essas manifestações que estamos vendo graças à República de Curitiba, cujo presidente é o dr. Moro (aplausos), e deve ser o desnudar da hipocrisia e da criminalidade. Aliás, o Evangelho recomenda que não deveremos provocar escândalo, e o nosso venerando juiz não provocou escândalo, atendeu a uma denúncia muito singela e no entanto levantou o véu que ocultava crimes hediondos, profundos, desvio de dinheiro que poderia acabar no Brasil com a tuberculose, com as enfermidades que vêm atacando recentemente, poderia educar toda a população e dar-lhe o que nossa Constituição exige, trabalho, repouso, dignidade, cidadania. Mas determinados comportamentos de alguns do passado muito próximo estabeleceram o marxismo disfarçado e a corrupção sob qualquer aspecto como princípio ético. A teoria de gênero é para criar, na criança, no futuro cidadão, a ausência de qualquer princípio moral. Uma criança não sabe discernir, somente tem curiosidade. No mesmo banheiro, um menino e uma menina irão olhar-se biologicamente, sorrir e perguntar o de que se tratava aquele aparelho genésico, que é desconhecido. Então nós defendemos repudiar de imediato e apelar para aqueles em quem nós votamos e somos responsáveis e gritar para eles que somos contra, totalmente contra, essa imoralidade ímpar. (aplausos) Vão me perdoar uma blasfêmia, agora, para adultos. Os espíritas somos muito omissos. No nome falso e na capa da humildade, achamos que tudo está bem, mas nem tudo está bem. É necessário que nós tenhamos vós. O apóstolo Paulo jamais silenciou ante o crime e a imoralidade, e Jesus, muito menos. Ele deu a César o que era de César, mas não deixou de dar a Deus o que é de Deus. Muitas aberrações nós silenciamos. Afinal, disfarçadamente, vivemos numa república democrática, e os nossos representantes lá chegaram pelo nosso voto. Já está na hora de acabar de votar por uma alpercata japonesa, já está na hora de deixar de votar por causa do emprego que vai dar ao nosso filho, pensarmos na comunidade, numa comunidade justa não faltará emprego para todos, uma sociedade justa, de homens de bem, de mulheres dignas, naturalmente estabelecerá as leis de justiça e de equidade, então nós evitaremos essas aberrações, o aborto provocado, esse crime hediondo, que está sendo tentado tornar-se legal, por mais que seja legal, nunca será moral. Nós somos contra quem aborta por essa ou aquela razão, falamos, em tese, matar é crime, seja qual for a aparente justificativa. E agora, com a tese de gênero, estamos indiferentes e, de momento para outro pela madrugada, os nossos dignos representantes adotam. Falávamos ontem a respeito de cartilhas do Ministério da Educação, depravadas, para corromper as crianças, e que as escolas estão demovendo ao Ministério. Que Ministério da Educação é esse, que estabelece fatos (aplausos) de uma indignidade muito grande. Os pais devem vigiar os livros dos seus filhos, e naturalmente recusarem. Nós temos o direito de recusar. Nós temos o dever de recusar. Vítor Hugo hoje, já nos falava há mais de 150 anos, "o grande pecado é a omissão". E Kardec nos falou que não era nobre apenas o fazer o mal, porque não fazer o bem é um crime muito grande. Então precisamos ser mais audaciosos, espíritas, definidos, termos opinião. A Doutrina nos ensina e, para os jovens, eu direi que há uma ética: liberdade. O sexo é livre. Livre-se (?). Mas ele não tem a liberdade de indignificar a sociedade. Poderemos, sim, exercer o sexo, é uma função do corpo e também da alma, mas com respeito e com a presença do amor. Portanto, à teoria de gênero, 'jamais'".
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Desinformação, cegueira e idolatria no movimento espírita
Felizmente, a mídia de esquerda acordou e as circunstâncias permitem isso. Afinal, tantas pessoas que vestiram a capa de "progressistas" passaram a defender o golpismo político de 2016, de setores do antigo PMDB e partidos satélites, como PP, PR e PTB, ao "movimento espírita", o que cria uma série de desilusões.
Na boa-fé, as forças progressistas veem seus pretensos aliados se transformarem, gradualmente, em traidores, como o próprio vice-presidente Michel Temer diante do segundo governo Dilma Rousseff. Em 2010, até as esquerdas mais empenhadas acreditavam que Temer seria uma espécie de Juscelino Kubitschek do Século XXI e sua jovem (e bota jovem nisso) esposa Marcela Temer seria símbolo de empoderamento feminino, antes de revelar-se a "bela, recatada e do lar".
Não há como esconder os fatos e houve muito wishful thinking entre as esquerdas. Por muita boa-fé. No "funk" e no "popular demais", ainda há muita complacência desse tipo, mesmo quando a pretensa "guevariana" Jojo Toddynho decide conhecer Sílvio Santos, empresário e apresentador que, a exemplo de Divaldo Franco, está se revelando cada vez mais reacionário e apoiando aberta e escancaradamente as reformas excludentes do governo Temer.
Mas até alguém flagrar o DJ Rômulo Costa, da Furacão 2000 - que viveu seus quinze minutos de "amigo da presidenta Dilma" - conversando animadamente com Luciano Huck, os funkeiros serão ainda considerados como uma pretensa "força bolivariana" e a estranha manifestação de 17 de Abril de 2016, o "ápice dos movimentos sociais progressistas no Brasil". Será preciso Rômulo Costa apertar a mão de João Roberto Marinho, um dos donos da Globo, para a realidade vir à tona?
Pelo menos, a questão do "espiritismo" brasileiro está sendo acolhida pelas esquerdas. Não há como aceitar que a religião difunda conceitos conservadores e fingir que isso é progressismo. Como uma religião que apela para os sofredores aguentarem tudo calados vai dialogar com ideologias que falam em favor da denúncia e do repúdio à opressão humana?
Segue o texto da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, alertando sobre as posturas reacionárias de Divaldo Franco. Só se deve tomar cuidado para evitar o Fla X Flu de Divaldo e Francisco Cândido Xavier. Afinal, Chico Xavier também foi historicamente um sujeito reacionário, e não é por estar morto que ele possa ser moldado pelo pensamento desejoso de seus seguidores e ser transformado num esquerdista que o "médium" (um misto de Aécio Neves com Luciano Huck no seu tempo) mineiro nunca foi. Vamos ao texto:
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Desinformação, cegueira e idolatria no movimento espírita
Publicado no site da ABPE, Associação Brasileira de Pedagogia Espírita
Em 2007, a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita lançou um número isolado do Jornal Mensagem, invocando a herança de Herculano Pires, para fazer uma crítica ao modismo então injetado no movimento espírita sobre as ditas crianças índigo e cristal. Demonstramos então que se tratava de um empreendimento comercial, de uma seita New Age, norte-americana, sem nenhuma base científica e que criava uma discriminação absurda entre as crianças, ao classificar algumas de índigo, outras de cristal e outras que seriam apenas normais.
Nessa ocasião, Divaldo Franco [professor, médium, auto intitulado “apóstolo do Espiritismo”] estava lançando um livro sobre o tema – apoiando a moda. Nessa publicação, não mencionamos o nome de Divaldo e nem o seu livro sobre o assunto. Mas sofremos retaliações por causa do jornal, embora ninguém tenha apresentado um único argumento contra os vários que enumeramos.
Agora, nesses últimos dias, recebemos na ABPE inúmeras mensagens, pedindo um posicionamento nosso a respeito da entrevista coletiva dada por Divaldo Franco e Haroldo Dutra [juiz de direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, palestrante e youtuber] num congresso em Goiás.
Participamos então de um texto coletivo a respeito e aprofundamos o assunto aqui no blog. Buscamos entretanto exercitar o espírito crítico com respeito humano e o discernimento equilibrado das coisas. Assim, antes de mais nada, temos de declarar que quando discordamos de uma pessoa ou fazemos uma crítica a posições ou ideias ditas por ela, isso não significa desrespeito ao ser humano.
A primeira coisa que devemos lamentar e fazer uma objeção firme é em relação à crescente partidarização que Divaldo tem assumido em suas declarações. Na citada entrevista, refere-se à república de Curitiba, comandada pelo “presidente Moro” (sic), “venerando juiz”… No mínimo, ele poderia se questionar como alguém pode ser venerando, se há inúmeras críticas de juristas internacionais e brasileiros quanto à evidente parcialidade e seletividade da “justiça” de Moro e de grande parte do judiciário no Brasil atual.
Como pode uma liderança espírita desconsiderar tudo isso e assumir o discurso da massa de manobra? Lembramos ainda a recente homenagem de Divaldo a João Dória em São Paulo, causando enorme constrangimento a todas as pessoas esclarecidas politicamente, que na ocasião estavam indignadas com a ração humana, que o prefeito estava querendo dar aos moradores de rua.
Sabemos que o país está polarizado. Por isso mesmo, nossas palavras requerem prudência, argumentação e compromisso ético. Ora, em nossa opinião, Divaldo está exercendo sua imensa influência no movimento espírita para fortalecer posições retrógradas, anti-humanitárias e o faz sem qualquer argumentação, sem qualquer aprofundamento nas questões políticas e sociais, mas de maneira superficial, mística e leviana, como fez com a ideia das crianças índigo anos atrás.
Recentemente também saiu um desenho animado calcado numa palestra de Divaldo, em que ele conta uma história absurda em que supostos espíritos judeus e muçulmanos estariam promovendo cruéis obsessões em centros espíritas, semeando a discórdia entre nós, cristãos tão bondosos! Uma ideia discriminatória e falsa. Promove a intolerância religiosa e simplesmente não tem nada a ver. Por que judeus e muçulmanos estariam preocupados conosco? Em suma, uma fantasia de mau gosto.
Outra questão que nos espanta é a maneira como Divaldo, quanto fala sobre a chamada “ideologia de gênero”. E aqui vamos nos deter um pouco mais no assunto, porque não se trata apenas de uma questão política, mas também acadêmica.
Não existe “ideologia de gênero” – este é um termo criado por setores conservadores da Igreja Católica e depois adotado pelas Igrejas Evangélicas, para colocar várias coisas num mesmo saco e torná-las todas abomináveis e ameaçadoras.
Existe sim uma área de pesquisa no mundo que se chama “Estudos de Gênero” – que teve influência de Michel Foucault, Simone de Beauvoir e Judith Buttler, que esteve recentemente no Brasil (e não tinha vindo falar sobre gênero) e quase foi linchada por fanáticos, que certamente jamais leram um livro dela.
Pois bem, os “Estudos de Gênero” se dedicam a procurar entender como se constitui a feminilidade e a masculinidade do ponto de vista social, se debruçam sobre questões de orientação sexual, hetero, homo, transsexualidade – ou seja, todos fenômenos humanos, que estão diariamente diante de nossos olhos. Podemos concordar com algumas dessas conclusões, discordar de outras, deixar em suspenso outras tantas.
Esse olhar é muito recente na história e ainda estamos apalpando questões profundas e complexas – e em nosso ponto de vista espírita, não é possível ter plena compreensão delas sem a chave da reencarnação. Uma abordagem puramente materialista jamais vai dar conta do pleno entendimento do psiquismo humano.
Mas estamos muito longe de ter gente reencarnacionista competente, fazendo pesquisa séria, para dialogar com pesquisadores com abordagens meramente sociológicas ou psicológicas. Então, nós espíritas, não temos ainda melhores respostas que os outros.
Mas dentro desse universo de questões ligadas a gênero e sexualidade há pontas de um lado e de outro.
Por exemplo, uma vantagem trazida por esse discurso contemporâneo é a busca de igualdade de direitos entre homens e mulheres (os Estudos de Gênero nascem com o feminismo e ainda estamos muito distantes de uma igualdade nesse sentido, basta ver os dados em relação à violência contra a mulher no Brasil), o chamado ao respeito à diversidade, ao respeito à dignidade de todos, incluindo os da comunidade LGBT, o entendimento de que todo ser humano tem o direito de exercitar sua sexualidade como bem entender, desde que não violente outro ser humano.
Então, de um lado, temos o Papa Francisco que diz “quem sou eu para julgar?” e, do outro, temos líderes espíritas que jamais se referem às violências praticadas contra homossexuais e travestis, contra mulheres e crianças, contra negros e pobres. Ao contrário, adotam discursos em tudo semelhantes às lideranças mais retrógradas de outras religiões: discursos que lembram Malafaias e Felicianos.
Mas ao nos alinharmos entre aqueles que defendem os direitos humanos de todos e todas, não significa, por outro lado, adotar uma teoria e prática extremista como a proposta por exemplo por alguns na Suécia, de que quando nasce uma criança, nem se dar o nome nem se vestir de menino ou menina, deixando que mais tarde ele-ela decida…
Ou ainda como se faz hoje nos Estados Unidos de realizar cirurgia de inversão de sexo, com crianças de 10, 12 anos. Obviamente que esses extremos são absurdos, embora raros, e jamais foram propostos aqui no Brasil, pois que desrespeitam a maturação psíquica da criança ainda em desenvolvimento. E são coisas de países capitalistas e não comunistas, como Divaldo anunciou na entrevista.
Esses temas são muito complexos, mobilizam paixões de um lado e de outro e esperam ainda delicados e dedicados estudos para compreendermos melhor como se dá essa integração entre heranças reencarnatórias, influências do meio social, constituição familiar, fatores genéticos… Portanto, um comedimento nas análises é muito bem vindo.
Mas o que é preciso frisar sempre é o respeito a todos e todas, o combate a qualquer forma de discriminação e violência contra quem quer que seja e seria muito bom que seguíssemos Jesus, se nos dizemos cristãos – ele não condenou os corruptos, os ladrões e os que na sua época eram considerados sexualmente desviados – as únicas pessoas com as quais ele foi duro foi justamente com os religiosos hipócritas.
O que mais aborrece a espíritas conscientes é o fato de tantos outros espíritas comprarem cegamente o que líderes assim falam. Esse é o problema da idolatria, da falta de critério e de estudo e, sobretudo, da falta das diretrizes racionais que Kardec imprimiu ao espiritismo.
Se não mudarmos o rumo, já já seremos uma nova seita.
Excesso de sofrimento torna as pessoas rancorosas e vingativas
Há um gravíssimo erro da Teologia do Sofrimento, a corrente medieval do Catolicismo que se tornou, mais do que o próprio pensamento de Allan Kardec, a base do "espiritismo" brasileiro. Esse erro consiste em dizer que o sofrimento extremo faz as pessoas se tornarem mais evoluídas, felizes, prósperas e abençoadas.
Isso é um gigantesco engano. Em primeiro lugar, não é o sofrimento que enobrece e dignifica as pessoas, mas a forma da pessoa buscar superar ou romper com o motivo desse sofrimento. Sabemos que os pregadores da Teologia do Sofrimento são pessoas de conversa mole, malabaristas das palavras que nunca tiveram um pingo do sofrimento que recomendam a outros. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Em segundo lugar, quando o sofrimento é extremo e o sofredor se sente acuado e impotente até nos seus mais extremos esforços e na sua mais perseverante fé para sair de uma limitação extrema, a pessoa passa a sentir ódio e esboçar planos de vingança e outros crimes.
É engano que o "espiritismo" brasileiro acredita, a tese de que o sofredor extremo só sofre a desgraça que tem condições de suportar. Se, para a Teologia do Sofrimento, a desgraça é um "remédio" para a pessoa, ele é dado em doses excessivas, como que numa overdose. E aí chegam os efeitos colaterais: a irritação, a depressão, o ódio, o rancor, a vingança, o mau humor.
Isso é um instinto não só animal, mas também presente na espécie humana. Os cães se tornam mais raivosos quando presos no cativeiro das casas. Gatos considerados fofos podem se tornar raivosos quando acuados. Ratinhos simpáticos podem significar um perigo quando acuados e podem reagir mordendo alguém que estiver à sua frente.
Na espécie humana, o sofrimento extremo não produz necessariamente gênios, altruístas, artistas e pessoas admiráveis. Produz tiranos, corruptos, assaltantes, estupradores, pessoas vingativas ou corruptas em geral. Em muitos casos, produz estelionatários e pessoas capazes de furtar qualquer coisa que estiver em sua frente.
DÍVIDAS MORAIS DE QUEM PREGA O SOFRIMENTO ALHEIO
Além disso, pregar o sofrimento do outro a níveis extremos faz do pregador dessa causa infeliz uma pessoa desumana e insensível. É completamente perverso alguém viver de livros fazendo apologia ao sofrimento humano, ainda que se sirva de todo um malabarismo das palavras para dar a falsa impressão de que se preocupa com o bem das pessoas.
No "espiritismo" brasileiro, é famoso o apelo de Francisco Cândido Xavier para as pessoas sofrerem caladas. Isso é muito cruel. Com isso, Chico Xavier estava se preocupando mais com o sossego dos remediados do que com a angústia dos sofredores e queria, com isso, criar um clima de felicidade forçada, como se um simulacro de felicidade fosse trazer a felicidade verdadeira. E não traz.
Para piorar, os "espíritas" que seguem essa linha de pensamento contraem muitas dívidas morais. Afinal, quem prega aos outros a aceitação do sofrimento extremo é porque nunca sofreu. É muito fácil dizer que sofrer é ótimo, que a pessoa deveria amar o sofrimento como se fosse alguém muito querido, que o sofrimento dignifica e que, quando a angústia atinge e ultrapassa os limites do insuportável, é porque a pessoa se prepara para receber as bênçãos divinas.
Quem pensa assim vive no maior conforto. O próprio Chico Xavier não tocava em dinheiro e era tratado como um rei. Os palestrantes da Teologia do Sofrimento viajam de avião primeira classe, se hospedam em hotéis confortáveis, alguns até de cinco estrelas e se tornam celebridades com seus livros. Conseguem a fortuna, os tesouros e os aplausos da Terra, e ainda têm o descaramento de se passar por "humildes, espiritualizados e modestos".
Ah, quanto são desgraçados os que lucram com o sofrimento alheio! Mil vezes desgraçados, porque vivem de recompensas, enquanto outros sofrem. Pode até ser que os sofredores possam superar suas desgraças, mas, uma vez superadas, isso faz com que os sofredores fossem mais dignos do que aqueles que lhes pedem para aceitar desgraças.
Mesmo quando um sofredor supera uma desgraça extrema, o pregador da aceitação do sofrimento nem por isso ganha a razão. Pelo contrário, a propaganda do sofrimento alheio alimenta a vaidade do pregador, que acaba se vangloriando com isso, como se o sofredor, ao superar uma desgraça, estivesse doando um troféu ao pregador do sofrimento.
O pregador, sim, acaba contraindo dívidas morais intensas e, além disso, não costuma ser honesto sequer com suas ideias. Nos primeiros livros, ele é firme e inflexível na defesa da aceitação do sofrimento por outrem. Depois, ele tenta desmentir a si mesmo, tentando dar a impressão de que ele "não fazia apologia alguma ao sofrimento" e tenta uma acrobacia de argumentos para dizer que o que ele estava pregando era a busca da felicidade.
Isso se torna deplorável, e faz o pregador da Teologia do Sofrimento ser desmascarado, quando seus primeiros livros têm o sabor amargo da postura taxativa, que vai diminuindo com o decorrer das obras. Isso não é sabedoria, porque sabemos que as posturas só mudam conforme as circunstâncias, como a má repercussão das primeiras ideias.
O que se conclui, portanto, é que pregadores assim nem de longe podem ser considerados sábios, vide o moralismo severo e impiedoso e as dissimulações que são feitas ao longo das obras para disfarçar aquilo que, em outros momentos, era explícito em suas ideias: a defesa do sofrimento do outro.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
"A caridade espírita é pouca porque há poucos recursos". Será mesmo?
O diferencial do "espiritismo" brasileiro é que ele sempre tem uma desculpa pronta para qualquer coisa. No caminho da deturpação do Espiritismo que foi longe demais, até situações complicadas são resolvidas não pela coerência ou pelo acordo, mas pela forma persuasiva das desculpas usadas.
Por exemplo. Se um tarefeiro de um "centro espírita" for acusado de estuprar ou ao menos assediar uma adolescente, um ato que se sabe de grave desrespeito à integridade física humana, o tarefeiro, mesmo assim, tende a ser inocentado, pela alegação de que a culpa "seria" da adolescente, que ofereceu as "energias tentadoras do sensualismo" que desviaram do caminho um "servidor do bem".
No que se diz à "caridade espírita", que, com base no comentário contundente do autêntico espírita José Herculano Pires sobre o verborrágico deturpador Divaldo Franco - "conduta condenável no terreno da caridade", declarou o jornalista numa carta - , serve mais para promover os "médiuns espíritas", há uma desculpa pronta para quem comprovar que os resultados dessa "caridade" são baixíssimos e bastante inexpressivos.
Essa desculpa consiste na falsa pobreza, em um discurso que convence a muitos: "Nossa caridade traz menos resultados porque recebemos poucos recursos, os colaboradores são escassos e os donativos se escasseiam". Tudo isso seria verdadeiro se não fossem os seguintes problemas:
1) OS "BENFEITORES" SÃO PESSOAS MUITO PRESTIGIADAS
Os "filantropos" do "espiritismo" brasileiro são pessoas muito prestigiadas e muito badaladas. Aparecem em fotos ao lado de pessoas da alta sociedade. Fazem palestras para ricos. Recebem medalhas. Os "médiuns espíritas" se julgam "cidadãos do mundo" e detentores de uma grandeza que, aparentemente, é reconhecida no mundo inteiro.
Com esses atributos, evidentemente que se espera que eles recebam as mais generosas doações financeiras e suas "casas de caridade" se transformariam em oásis de prosperidade humana. Mas as "casas de caridade" sustentadas pelos "médiuns" não trazem uma realidade excepcional, tendo uma rotina sem muita prosperidade, embora sem grave pobreza.
Portanto, a sensação de grandeza dos "médiuns espíritas" desmente seriamente a hipótese de "falta de recursos", porque a altíssima reputação, construída pela campanha midiática e faz os "médiuns" serem considerados oficialmente "unanimidade", sugere que a sociedade está disposta a jogar rios de dinheiro e de donativos para as instituições "espíritas", tamanha a solidariedade que se dá aos "médiuns".
2) "BENFEITORES" NÃO AJUDAM. A AJUDA VÊM DOS "MÉDIUNS". VÊM DOS FREQUENTADORES
O dado chocante que a propaganda "espírita" esconde é que os recursos não vêm de iniciativa dos "médiuns" nem dos membros das "casas espíritas". Eles constroem seus prestígios pela ajuda dos outros. São os frequentadores que fazem compras, gastam seu dinheiro para adquirir mantimentos e outros donativos (como cremes dentais e roupas) para as instituições "espíritas". Ou seja, os "filantropos" se reduzem a ser meros distribuidores da caridade dos outros.
Isso faz com que a "caridade" se torne limitada. Os "espíritas" não querem abrir mão de seu conforto. Há "médiuns" que vivem em lugar ignorado, um bom apartamento ou uma casinha de classe média. No seu tempo, Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, apenas não tocava em dinheiro sujo, mas era sustentado e tratado sempre de maneira confortável.
A sua pobreza foi uma realidade que morreu em 1932. Chico Xavier teve vida aristocrática nos padrões "modestos" de um ídolo religioso. Não houve denúncias de abandono ou de Chico jogado no chão sujo e molhado de um hospital público. O "médium" mineiro, portanto, não morreu pobre, ele apenas não tocava em dinheiro, até o "filho" Eurípedes Higino foi administrador de Chico no fim de carreira, quase no mesmo papel que Antônio Wantuil de Freitas teve com o "médium" antes.
Quanto à "filantropia", Chico Xavier fazia um espetáculo de pura ostentação, as "caravanas do Amor", exibidas com muito alarde e festas, mas quando se observa as coisas com atenção, todo esse estardalhaço é feito com a caridade dos outros, porque os donativos e mantimentos foram trazidos por terceiros, mas acabam servindo para a promoção pessoal do "médium", como falaremos depois.
3) A "CARIDADE" É FEITA PARA ATRAIR MAIS DINHEIRO PÚBLICO
Como instituições registradas por lei como filantrópicas, as "casas espíritas" estão isentas de pagamento de impostos. Além disso, como várias instituições religiosas, é bem fácil pedir um monte de dinheiro do qual apenas uma menor parte é destinada realmente para ações ditas filantrópicas. O resto vai para o conforto de seus membros ou mesmo dos "médiuns espíritas", que na prática são aristocratas da fé religiosa, que acumulam prêmios volumosos na vida terrena.
É fácil uma instituição "espírita", que precisa de R$ 100 mil para sustentar seus trabalhos e serviços, pedir um valor dez ou vinte vezes menor. Chegam mesmo a carregar no apelo publicitário das imagens de crianças pobres, para forçar a comoção pública dos homens do Estado e assim serem concedidas verbas públicas que, em boa parte, "permitirão", pelo "mérito de luz", que "médiuns" comprem bons carrões, bons apartamentos e viajem para fazer turismo na Europa, a pretexto de "divulgar a boa palavra cristã".
4) A CARIDADE SERVE PARA A PROMOÇÃO PESSOAL DOS "MÉDIUNS"
A "filantropia" tem poucos resultados porque não é o propósito do "espiritismo" brasileiro, que faz apologia do sofrimento humano, pedindo para os sofredores aceitarem as desgraças com resignação e sem queixumes, trazer profundas transformações sociais.
As ações de "caridade" servem mais como um gancho para os "médiuns espíritas" obterem prestígio social, se valendo de uma suposta ação generosa, feita mais para abafar as críticas feitas a eles - que incluem desde obras "mediúnicas" fake até desvios doutrinários em relação aos ensinamentos espíritas originais - do que para realizar uma transformação social na vida das pessoas pobres.
Nota-se, aliás, que, pela grandeza com que se autoproclamam os "médiuns espíritas", seria certo que eles recebessem muitos recursos e, com sua "caridade", o Brasil inteiro atingisse níveis escandinavos de vida, com profundo desenvolvimento social que faria com que os lugares protegidos tivessem baixíssimos índices de criminalidade e pobreza.
A realidade, porém, mostra o contrário, e locais onde se situam "casas espíritas" diversas são os que mais veem crescer e piorar a violência, seja o Jacarezinho (próximo de onde fica o Centro Tupyara) e Bento Ribeiro (onde fica o Leon Denis) no Rio de Janeiro, o Fonseca (onde fica o Centro Dr. March), em Niterói e Nordeste de Amaralina (perto de onde fica o Centro Paulo e Estêvão), em Salvador.
Locais como Uberaba e o bairro de Pau da Lima, também em Salvador, também são os que sofrem grande decadência social e onde a violência cresce de maneira descontrolada, havendo ocorrências até mesmo durante a luz do dia. Isso revela o fracasso que é a "caridade espírita", pois nem nos redutos de Chico Xavier e Divaldo Franco a melhoria veio para as populações pobres. Isso mostra o fracasso da suposta filantropia de uma doutrina deturpada que é o "espiritismo" brasileiro.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Guia do Estudante ensina mal o Espiritismo para leigos
A mídia hegemônica ensina mal o Espiritismo. A narrativa é simplória e rasteira, como se fosse um conto de fadas, quando um pedagogo francês que estudava fenômenos espirituais fundou uma doutrina, que os brasileiros temperaram com religiosidade e tudo ficou às mil maravilhas.
Engano. O "espiritismo" brasileiro, que revela suas irregularidades vergonhosas, paga o preço caro de suas más escolhas, quando a supremacia dos "místicos" que permitiu a deturpação doutrinária, criou seus efeitos danosos que hoje se voltam contra a própria doutrina brasileira, que faz de tudo para manter a deturpação em pé, mesmo sob o risco de cometer mil contradições.
Reproduzimos este texto para dar noção de como é ridícula e simplória a abordagem da grande mídia em relação ao que é o Espiritismo. Convidamos a mídia alternativa a romper com essa narrativa e evitar corroborar com esse ponto de vista, aqui trazido pela Editora Abril através do Guia do Estudante (a Abril edita a reacionária revista Veja), mas também compartilhado pela Globo, Folha, Band, Isto É e afins.
O texto mistura alhos com bugalhos, informações corretas com outras nem tanto, de forma a dar a falsa impressão de que a deturpação igrejeira feita no Brasil é uma postura de "equilíbrio entre místicos e científicos", coisa que não se vê na prática, quando ultimamente o igrejismo comprova se tornar cada vez mais forte. Sem falar que o "espiritismo" brasileiro, assim como a Abril, Globo, Folha e o resto da grande mídia, se mostra ultraconservadora ao apoiar o golpe político de 2016.
A mídia alternativa precisa denunciar a deturpação doutrinária do Espiritismo e investigar como e de que forma os brasileiros arruinam, com igrejismo de raiz roustanguista, o legado de Allan Kardec e como se mascara essa deturpação com o falso aparato de "fidelidade doutrinária".
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Allan Kardec e o espiritismo, uma religião bem brasileira
Do Guia do Estudante - Editora Abril
Às 22h30 de 17 de setembro de 1865, apenas oito anos depois da fundação oficial do espiritismo na França, foi realizada em Salvador a primeira sessão da doutrina no Brasil, liderada por um jornalista, Luís Olímpio Teles de Menezes. No mesmo ano, surgiu o primeiro centro do país. Em pouco tempo, a visão científica, filosófica e religiosa de Allan Kardec se transformaria em uma religião tipicamente brasileira, divulgada por intelectuais nas nossas maiores cidades. Anos antes de ganhar as massas com Chico Xavier, os seguidores de Kardec já tinham uma nova capital, nos trópicos.
Atualmente, o trabalho iniciado por Kardec tem 13 milhões de seguidores no mundo. A maioria, 3,8 milhões, está no Brasil. Nossos espíritas têm os melhores indicadores socioeducacionais dentre os fiéis de todas as religiões praticadas no país – 31,5% deles têm nível superior completo, segundo o IBGE. Entre 2000 e 2010, eles saltaram de 1,3% da população para 2%. O sucesso nos cinemas é resultado da boa imagem da religião: em 2010, Chico Xavier, a biografia do médium mais famoso do século 20, alcançou 3,4 milhões de espectadores e Nosso Lar, no mesmo ano, chegou a 4 milhões.
Mas o que explica essa adesão massiva a uma doutrina que se equilibra entre a religião e a ciência no maior país católico do mundo? “O Brasil tem uma tradição de religiosidade popular muito aberta ao contato com a vida após a morte e a comunicação com espíritos. As classes média e alta não podiam contar com as religiões de origem africana ou indígena como expressões formais de sua fé. O kadercismo, com seu berço francês, satisfez essa necessidade”, afirma John Monroe, historiador e professor da Universidade de Iowa.
Mesas que rodam
Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon em 3 de outubro de 1804 e encontrou sua vocação na Suíça. O pai, o juiz católico Jean-Baptiste-Antoine Rivail, e a mãe, a dona de casa Jeanne Duhamel, enviaram o menino Hippolyte, de apenas 10 anos, para estudar no Instituto de Yverdon, no castelo de Zahringenem, fundado e mantido pelo pedagogo Johan Heinrich Pestalozzi. Na volta, instalou-se em Paris em 1820 e, quatro anos depois, começou a dar aulas. Lecionava matemática, física, química, astronomia, anatomia e francês.
O professor convivia com problemas financeiros recorrentes. A partir da década de 1830, passou a reforçar a renda escrevendo gramáticas e aritméticas – e até mesmo uma peça, chamada Uma Paixão de Salão, levada aos palcos em 1843. Também começou a usar os conhecimentos de matemática para administrar a contabilidade de pequenas companhias, como o teatro Les Folies Marigny, nos Champs-Élysées. Ali eram realizados espetáculos muito em voga em meados do século 19 – com uma mistura de magnetismo e experiências elétricas e mecânicas.
Rivail assistia a alguns desses shows com prazer. Ele acompanhava com euforia a evolução das ciências, que pareciam prontas para explicar definitivamente o funcionamento do mundo, da vida e do além. Em 1834, em um de seus artigos defendendo as aulas de ciências para crianças, ele registrou: “Aquele que houver estudado as ciências rirá, então, da credulidade supersticiosa dos ignorantes. Não mais crerá em espectros e fantasmas. Não mais aceitará fogos- fátuos por espíritos”.
Quando as mesas rodantes ficaram famosas na França, na década de 1850, o pedagogo tinha uma explicação pronta para o fenômeno. Curioso sobre os mistérios da hipnose, do sonambulismo, do magnetismo e da eletricidade, ele dizia que os corpos reunidos geravam uma força eletromagnética extraordinariamente forte, capaz de movimentar objetos. Quando conheceu o fenômeno pessoalmente, em uma terçafeira de maio de 1855, percebeu que a explicação não era tão simples.
Foi na casa da senhora Plainemaison, na Rue Grange Batelière, número 18. Ali o professor ficou impressionado. As mensagens tinham linguagem diferente da que os médiuns usavam no dia a dia e com um grau de conhecimento da vida privada dos visitantes que não tinham como possuir. O pesquisador então elencou uma nova hipótese: a de que a realidade visível não é a única que existe. E que espíritos são tão reais quanto o mundo microscópico e as forças físicas invisíveis, como a lei da gravidade.
Leis dos espíritos
Por serem reais, apesar de invisíveis, os espíritos seguem leis, da mesma forma que os seres de carne e osso. “Entrevi naquelas aparentes futilidades qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim investigar a fundo”, ele relataria anos depois, para concluir que a força que movia aqueles móveis apresentava perguntas que mereciam resposta. “Há ou não uma força inteligente? Eis a questão. Se essa força existe, o que é? Qual será sua natureza e sua origem? Está além da humanidade?”
Durante 20 meses, o professor dedicou as horas vagas a entrevistar dez diferentes espíritos, principalmente por intermédio de três garotas, Ruth Japhet, de 20 anos (que havia enchido 50 cadernos com mensagens dos espíritos), e as irmãs Julie e Caroline Baudin, de 14 e 16 anos. Fazia a elas perguntas como “Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?” e “O que é espírito?” Na casa dos Boudin, na Rue Rochechouart, ele se apresentava todas as terças-feiras, com novas perguntas, ou as mesmas, para cruzar e checar as respostas. Ele não tinha mediunidade – aliás, foi o professor quem cunhou o termo “médium” para definir os intermediários entre os espíritos os seres humanos.
MÉTODO CIENTÍFICO
As principais explicações de Kardec para os fenômenos psíquicos e mediúnicos
Fraude: O pesquisador acreditava que os casos de truques deveriam ser sempre denunciados: “O espiritismo só terá a ganhar com o desmascaramento
dos impostores”,escreveu. Kardec dizia que médiuns que realizam espetáculos públicos pagos deveriam ser observados com suspeita redobrada.
Alucinação: O pedagogo estabelecia critérios para diferenciar alucinações e problemas mentais em geral de contatos legítimos com espíritos. Por exemplo: se uma pessoa escreve mensagens em línguas que não conhece, ou se o fenômeno físico (por exemplo, uma mesa se mexendo) foi visto por várias pessoas
Influência externa: Kardec reconhecia a possibilidade da existência de dois fenômenos psíquicos: a telepatia, que ele chamava de “reflexo do pensamento”, e a clarividência, a percepção extrassensorial de objetos à distância. Para ele, nenhuma das duas era resultado de contatos com o mundo espiritual.
Comunicação: O contato com almas desencarnadas só pode ser considerado quando as hipóteses de fraude, alucinação e influência de outras pessoas tiverem sido descartadas. As mensagens do além só poderiam ser consideradas confiáveis se fossem espontâneas e confirmadas por médiuns que não se conhecessem entre si.
Rivail alega que teve a oportunidade de entrevistar os espíritos do filósofo Sócrates, do apóstolo de Jesus João Evangelista, do sacerdote Vicente de Paulo e do cientista e político Benjamin Franklin. Um dos interlocutores mais recorrentes era o espírito que se apresentava com o nome Zéfiro. Foi ele quem disse ao professor que o conhecia de outras encarnações, quando Rivail era um sacerdote druida chamado Allan Kardec e morador da Gália na época do imperador Júlio César, entre 58 e 44 a.C. Rivail não queria assumir a autoria da coleção de respostas – preferia se apresentar apenas como codificador e editor.
E também queria diferenciar seu trabalho pedagógico com essa nova vertente de pesquisa. Daí Rivail ter adotado o pseudônimo que se lê na capa da primeira edição de O Livro dos Espíritos: “Princípios da doutrina espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade – segundo os ensinos dados por Espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns – recebidos e coordenados por Allan Kardec”.
Os primeiros exemplares do livro deixaram a Tipografia de Beau, na cidade de Saint-Germain-en-Laye, em 18 de abril de 1857 – a data oficial do nascimento do espiritismo, nome criado por Kardec, apresentado da seguinte maneira: “A crença espírita, ou o espiritismo, consiste em acreditar nas relações entre o mundo físico e os seres do mundo invisível, ou espíritos”. Rapidamente, Kardec suplantaria Rivail em fama e reconhecimento: a primeira edição da obra inaugural do espiritismo, vendida a 3 francos a unidade, foi esgotada em dois meses.
Em 1º de abril de 1858, reuniu as dezenas de seguidores que havia arregimentado com a publicação do livro e fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Enquanto recebia visitas de médiuns, mais ou menos sérios, cartas pedindo ajuda e textos psicografados, novas traduções e edições eram publicadas. Na Espanha, o bispo de Barcelona, Antônio Palau y Termens, mandou confiscar todos os exemplares de O Livro dos Espíritos e organizou um auto de fé: as obras foram empilhadas e queimadas em praça pública. Em 1864, a Igreja Católica inseriu a obra no Index Librorum Prohibitorum, a lista de livros proibidos para seus fiéis.
BIBLIOTECA BÁSICA
Os cinco livros fundamentais para entender o espiritismo
1. O Livro dos Espíritos, 1857
Reúne as respostas de espíritos para 501 perguntas (na segunda edição, elas seriam ampliadas para 1 019 dúvidas).
2. O Livro dos Médiuns, 1861
Enquanto a obra anterior era conceitual, esta é um guia prático a todas as pessoas interessadas em desenvolver a mediunidade.
3. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 1864
Como o nome indica, revê as lições dos Evangelhos da Bíblia cristã com base nos conceitos espíritas.
4. O Céu e o Inferno, 1865
Explica a passagem da alma para outros planos, detalha o destino dos suicidas e explica os parâmetros da justiça divina.
5. A Gênese, 1868
Aborda questões filosóficas e científicas, como a origem do Universo e os milagres de Jesus, buscando respondê-las de acordo com os preceitos espíritas.
Kardec melhorou sua situação financeira com a venda de seus livros e trocou de casa diversas vezes. A última mudança seria para um terreno que ele havia comprado na Avenida Ségur para construir seis pequenas casas para seu sucessor e seguidores espíritas de poucos recursos. A residência da família ficou pronta rapidamente, mas ele não chegou a morar lá.
Depois de publicar uma segunda edição de O Livro dos Espíritos, bastante ampliada, e outros quatro livros, Kardec faleceu, aos 64 anos, por volta das 11h de 31 de março de 1869, quando um aneurisma se rompeu, um dia antes da mudança definitiva para a Avenida Ségur. Na época, ele trabalhava numa obras sobre as relações entre o magnetismo e o espiritismo. Os restos de Kardec estão no Cemitério Père-Lachaise. Na lápide, ficou gravado seu novo nome, e não Rivail, e seu lema: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar. Esta é a lei.”
Místicos x cientistas
O fundador não deixou um sucessor definido – ele previa que o espiritismo fosse conduzido por um grupo com comandantes seguindo mandatos curtos. Sua morte acabou por lançar o espiritismo num debate ferrenho: ciência ou religião?
Na Europa, venceram os partidários da tese de que os estudos do professor tinham caráter científico. Eles tinham bons motivos para isso. “Kardec foi um dos pioneiros a propor uma investigação científica, racional e baseada em fatos observáveis, das experiências espirituais. Desenvolveu todo um programa de investigação dessas experiências, ao qual deu o nome de Espiritismo”, afirma Alexander Moreira-Almeida, professor da Escola de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF. “A proposta mais ousada de Kardec foi a de naturalizar a dimensão espiritual, tornando-a, assim, passível de investigação científica.
“Hoje, entre os europeus, o kardecismo é visto como pseudorreligião. Na virada do século 20, fazia todo o sentido acreditar que os conceitos dele seriam incorporados às pesquisas do meio acadêmico”, afirma o historiador John Monroe, professor da Universidade de Iowa.
O Brasil viu a mesma divisão, e, num primeiro momento, parecia que o mesmo lado seria vencedor. Um dos mais importantes líderes do espiritismo do Brasil, o jornalista e professor italiano Afonso Angeli Torteroli, liderava os científicos e organizou o 1º Congresso Espírita Brasileiro, em 1881, no Rio de Janeiro. Foi lá que intelectuais defenderam a nova linha de pensamento – pessoas respeitáveis a ponto de terem sido recebidas pelo imperador dom Pedro II em 28 de agosto de 1881. Mas, bem de acordo com o pensamento progressista da época, os espíritas eram, em geral, republicanos e abolicionistas.
Mas foi o aspecto religioso do espiritismo que venceu. E por dois motivos. Em primeiro lugar, o lado religioso funcionava melhor para uma população ligada a um cristianismo que, em geral, convivia tranquilamente com curandeiros, benzedeiros e cartomantes. “A preocupação científica e filosófica não tem o mesmo appeal para nós como tem o lado religioso-ritualístico: tomar um passe, livrando-se das energias ruins se apresentaria como mais conveniente do que adotar uma doutrina complexas e cheia de princípios”, afirma o professor de sociologia da Universidade de Brasília Paulo César da Conceição Fernandes, em uma tese de mestrado sobre as origens da religião no Brasil.
Em segundo lugar, o mais importante líder entre os espíritas depois de Allan Kardec e antes de Chico Xavier, o ex-deputado Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, concordava com os místicos. Mas teve
também o talento de não dispensar os científicos. A Federação Espírita do Brasil, criada em 1884 pelo fotógrafo português Augusto Elias da Silva, seria presidida duas vezes pelo doutor Bezerra e estimulou a publicação de livros e textos de cunho acadêmico. “O espiritismo oferece uma orientação para a prática da mediunidade, recomendando que ela seja praticada quando contribuir para o bem e para a educação espiritual do homem”, afirma Antonio Cesar Perri de Carvalho, presidente da Federação Espírita Brasileira.
Nomes famosos da literatura nacional aderiram rápido. Os poetas Castro Alves e Augusto dos Anjos, de um lado, se aproximaram da nova religião. Já José de Alencar e Machado de Assis a atacavam – mas só depois de se darem ao trabalho de conhecê-la. Augusto dos Anjos foi o mais empolgado: em sua cidade, Engenho do Pau D’Arco, Paraíba, ele conduzia sessões, recebia espíritos e psicografava. Quando Chico Xavier nasceu, em 1910, o hábito de receber romances do além já era disseminado e se tornaria uma das marcas da nova religião, que, para muitos, já tinha muito pouco a ver com o que Kardec havia imaginado.
OITO PIONEIROS
Personagens importantes para o nascimento do espiritismo brasileiro
Luís Olímpio Teles de Menezes:
Jornalista, professor primário e funcionário da Biblioteca Pública da Bahia, organizou em Salvador a primeira sessão espírita do país, em Salvador. Também fundou o primeiro centro espírita brasileiro, o Grupo Familiar do Espiritismo.
Casimir Lieutaud:
Poeta e educador francês, conheceu o espiritismo juntamente com outros intelectuais que liam e debatiam as notícias vindas da França, incluindo o jornalista e escritor Machado de Assis. Em 1860, publicou um livro de tom espírita, Les Temps Sont Arrivés.
Antônio da Silva Neto:
Liderança espírita no Rio de Janeiro, o médico foi redator e diretor da Revista Espírita, o segundo periódico de divulgação da religião no Brasil (o primeiro, Écho d’Alêm-Tumulo, foi fundado em 1869, em Salvador, por Luís Olímpio).
Joaquim Carlos Travassos:
Ao lado do advogado e poeta Francisco Bittencourt Sampaio, o médico e político carioca participou da fundação, em 1873, da Sociedade de Estudos Espiríticos – Grupo Confúcio, o primeiro centro espírita da capital, que existiu até 1879.
Augusto Elias da Silva:
Nascido em Portugal e morando no Rio de Janeiro, o fotógrafo fundou a Federação Espírita do Brasil, em 1º de janeiro de 1884. Também fundou, um ano antes, uma publicação de divulgação da nova fé, chamada Reformador.
Antônio Luiz Sayão:
Advogado de São Paulo, aderiu ao espiritismo em 1878, quando sua esposa esteve à beira da morte. Líder da Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade, defendeu a abolição da escravatura e publicou um livro de referência, Estudos Evangélicos.
Afonso Angeli Torteroli:
O jornalista e professor italiano organizou o 1º Congresso Espírita Brasileiro, em 1881, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, criou o Centro da União Espírita do Brasil, uma primeira tentativa de organizar uma federação. Traduziu várias obras de Kardec.
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti:
Cearense com carreira política bem-sucedida como vereador e deputado, o médico, militar e escritor impediu que a Federação Espírita do Brasil entrasse em colapso, em 1895, ao assumir a presidência pela segunda vez.
Livros
Kardec: A Biografia, Marcel Souto Maior, Record, 2013
História do Espiritismo, Arthur Conan Doyle, Pensamento, 2004
ABC do Espiritismo, Victor Ribas Carneiro, Federação Espírita do Paraná, 1996
Para Entender Allan Kardec, Dora Incontri, Lachâtre, 2004
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