quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Os "intocáveis" da bondade estereotipada


Preocupante, num país em que se criminaliza demais petistas, ladrões de galinhas, furtadores de frutas e peladeiros que quebram vidros na vizinhança, os "espíritas" cometam tantas desonestidades e sejam beneficiados pela mais absoluta impunidade.

O caso de Francisco Cândido Xavier se tornando praticamente "dono" de Humberto de Campos - a ponto do biógrafo Marcel Souto Maior definir o anti-médium como "representante" do autor maranhense - é a maior aberração que se viu em toda a História do Brasil: uma figura "de fora" que usurpa o nome de um falecido, se torna simbolicamente "dono" do legado dele e não só fica livre de punição como é elogiado e apoiado por isso.

Chico Xavier se torna surreal por isso. Ele fez das suas, fazendo pastiches literários aqui e ali, escrevendo cartas e livros da própria mente e botando como crédito de autoria os nomes dos falecidos e saiu-se bem nisso, num caso aberrante e estarrecedor de impunidade.

Essa impunidade se torna pior quando ela vai para o nível da impunidade social, que é quando o delituoso ou criminoso não só se livra das punições da lei como é aplaudido ou visto com simpatia pela sociedade.

O plagiador foi promovido até mesmo a "filósofo", num país como o Brasil, que não teve filósofos que atravessassem os tempos com visibilidade e sabedoria no nível de Sócrates, Platão, Rousseau, Hegel, Kant ou mesmo Nietzsche, e cujo público médio considera "filosofia" qualquer frase de auto-ajuda que colhem feito badameiros na Internet, pegando tanto pequenos depoimentos valiosos e grandes bobagens moralistas de quem quer que seja.

É terrível ver que o "espiritismo" virou uma religião de "intocáveis" nos quais Chico Xavier e Divaldo Franco cometem suas fraudes literárias, Divaldo ainda vem com falsetes com discursos ilustres e diz que é psicofonia, José Medrado cria quadros falsos que credita como autoria de pintores mortos e até um Alamar Régis Carvalho emprega gente sem pagar salário, e todo mundo sai ileso, adorado pelo público que dá ouvidos e olhares a todos eles.

A estratégia da bondade estereotipada é feita para assustar e intimidar questionadores e investigadores. "Seja bonzinho e todos terão medo de ti", é a recomendação que parecem receber os "espíritas". Temos que investigar toda essa técnica da bondade estereotipada, da postura de humilde que tenta amedrontar aqueles que se arriscam a alguma contestação. Mas ninguém se encoraja. Nem a Justiça.

O irônico disso tudo é que são as mesmas pessoas que criminalizam o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, até pelos acertos que ele cometeu. Se Lula der um simpático "bom dia" para certas pessoas, ele corre o risco de ser linchado. Enquanto isso, Chico Xavier plagia livros e é endeusado, e mesmo certos kardecianos legítimos não conseguem ter um questionamento firme contra ele.

Muitos se esquecem que esses mitos religiosos são construídos mediante interesses mesquinhos, objetivos comerciais e outros fins tendenciosos, que Chico Xavier personificou a deturpação da doutrina de Allan Kardec e que, só por isso, deveria ter sido descartado e condenado ao desprezo público por sua desonestidade doutrinária.

Muitos mitos foram criados mediante interesses de poder da Federação "Espírita" Brasileira, e, mais recentemente, com o apoio e a parceria, mais do que explícita, dos chefões da grande mídia manipuladora e deformadora da opinião pública, e o pessoal faz vista grossa em tudo isso.

As pessoas pensam que o mito de Chico Xavier surgiu por conta própria, sem saber que isso tem o dedo da Rede Globo que alimentou tal idolatria no auge da ditadura militar.

As pessoas ignoram que o mito de "bondade" de Chico Xavier foi trabalhado pelo Jornal Nacional e vão até nos blogues de esquerda endeusar o anti-médium, se esquecendo que ele defendeu a ditadura militar, quando parte da direita passou a se opor ao regime (inclusive Carlos Lacerda).

A situação é grave porque a Justiça dos homens acaba tendo o coração mole, o que mostra que o verniz da bondade pode ser sedutor, como vemos que o "espiritismo" também tem seus momentos de volúpia e sensualismo, vide a exploração exótica dos mortos prematuros e a sedução da "bondade" de Chico Xavier.

Isso poderia ter sido evitado se tivesse havido firmeza no caso do processo dos herdeiros de Humberto de Campos há 71 anos, porque estava evidente que o estilo dos livros que Chico Xavier lançou usando o nome do escritor maranhense não tinham a ver com ele. Uma leitura comparativa basta para derrubar a tese de que Humberto nunca teria sido capaz de escrever aqueles livros "mediúnicos".

Daí a esperteza de Chico Xavier. Alguém imaginaria, por exemplo, se Chico usasse o nome de Machado de Assis e não Humberto, ele teria saído imune do processo? A sorte foi que Humberto de Campos era bem popular, mas num nível secundário como, nos últimos tempos, temos em relação a João Ubaldo Ribeiro. Dificilmente o pessoal engoliria se Chico Xavier tivesse usado Machado, e não Humberto, para seus pastiches literários.

São manobras que mostram o quanto a visibilidade é um jogo praticado pelos "espíritas". Humberto de Campos teve menos visibilidade que Machado de Assis e, hoje então, praticamente o maranhense é esquecido. Daí que o oportunismo de Chico Xavier foi certeiro, e ainda mais quando ele foi se passar por bonzinho, forjar um ar "caridoso" de "caipira humilde", depois tornou-se o "bom velhinho" conhecido por todos e deu no que deu.

Hoje esse "espiritismo" é considerado "intocável" e ninguém investiga realidades. Os dirigentes da Federação "Espírita" Brasileira podem até acumular fortunas, comprar casas de praia nos litorais do Rio de Janeiro e São Paulo, que ninguém desconfia. Qualquer denúncia é neutralizada quando os "espíritas" mostram imagens de crianças carentes e velhinhos desamparados.

Por isso é preocupante ver que os estereótipos ligados a ideias conhecidas sobre bondade, caridade e humildade consigam intimidar e seduzir muita gente. Ver que o bom-mocismo também pode seduzir e enganar as pessoas é algo muito perigoso. Mas nem esse perigo as pessoas conseguem imaginar. Como é muito fácil ficar deslumbrado com certas coisas no Brasil.

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