domingo, 31 de maio de 2015
O medo do esclarecimento
Nos últimos tempos, os questionamentos que se multiplicam na Internet, principalmente nas mídias sociais, andam amedrontando as pessoas. Elas se recolhem e evitam encarar textos que mostram abordagens que ameaçam suas zonas de conforto, ou então reagem com ódio e intolerância.
Que é muito comum, nas mídias sociais, acreditar no mundo da fantasia, isso é verdade. Há pessoas que desmentem crises, bastidores, realidades, e fazem a sua realidade conforme suas convicções pessoais. Expressam suas opiniões fantasiosas, quase sempre defendendo o "estabelecido", e de repente surgem uns dois, três ou cinco amigos que escrevem concordando com ele.
Muito fácil. Cria-se uma falsa unanimidade, ou algo próximo disso, porque uma "panelinha" vai defendendo a "realidade" em que acreditam, se julgando dotados de uma visão "objetiva" que na verdade só afirma aquilo que o poder da mídia, da política e do mercado impõem como "verdade", com todas as incoerências e absurdos relacionados.
Quanto, por outro lado, blogues e alguns portais informativos passam a mostrar um ponto de vista diferente do oficial e do oficioso, os internautas reagem. Quando podem argumentar, tentam usar desculpas para dizer que a versão oficial é que vale, mas quando não conseguem, partem para gozações ou xingações.
No "espiritismo" brasileiro, a manifestação de medo e desnorteamento diante das denúncias e questionamentos aprofundados faz com que os seus líderes se recolham nos "centros espíritas", para "amaldiçoar" a Internet e o "veneno" dos "irmãozinhos incomodados" que "despejam palavras maldosas" contra o "trabalho de amor" que a doutrina "realiza".
Sem poderem explicar direito as irregularidades que cometem, eles tentam desqualificar blogues e portais de Internet que questionam seus dogmas e ritos, enquanto a realidade mostra claramente que o "espiritismo" se valeu por retrocessos e procedimentos retrógrados ou fraudulentos diversos.
O que eles querem fazer ignorar é que eles não são denunciados por causa de reações de rancor ou perseguição aos "bons servidores da fé e da fraternidade", mas por conta da lógica que aponta sérias irregularidades cometidas pelo "movimento espírita", que demonstram não serem erros pontuais, mas erros cometidos pelo conjunto da obra, da cúpula às unidades regionais menores.
A época de questionamentos profundos, em diversos âmbitos, faz as pessoas verem a insegurança de suas zonas de conforto. Essa insegurança é a novidade que põe em xeque uma ilusão que prevaleceu incólume durante pelo menos 25 anos, em que pesem eventuais abalos ao longo do tempo.
Isso porque nos anos 1990, época da euforia do mercado, da mídia e da tecnocracia, da qual prevalece a visão oficial de ser uma "época de ouro" para o Brasil, diante da farra consumista, da folia do entretenimento pleno e do prestígio alto de tecnocratas e políticos que prometem o "novo eldorado" com praças embelezadas e tudo.
Tudo às custas da privatização de empresas públicas para grupos estrangeiros que demitem milhares de pais de família e cujo dinheiro vai para as contas pessoais dos políticos, "compensada" com o mascaramento de empresas de ônibus particulares com a nefasta pintura padronizada que acoberta a corrupção política e empresarial.
Claro, investe-se no pior da iniciativa privada (privatização de empresas) e no pior da iniciativa pública (intervenção "branca" nas empresas de ônibus através de um visual que destaque o poder das secretarias de Transporte), dentro de um padrão de Política e Economia que promove o desemprego e degrada os serviços de Educação e Saúde que vivem situações caóticas.
Junte-se a isso uma mídia que concentra ainda mais o poder comprando emissoras de rádio, transmitindo um jornalismo mais conservador, se atrelando a dirigentes esportivos e usando o rock como mero gancho para criar parcerias com poderosos empresários ligados a eventos internacionais.
A farra das elites, dos "senhores" do nosso dinheiro e dos nossos desejos, cria uma realidade a qual questionamentos são necessários, mas também são combatidos de uma forma ou de outra pela "patrulha do estabelecido" nas redes sociais. Ás vezes dá até a impressão que o internauta tal, por mais que pareça ser uma pessoa "comum", age como se fosse assessor de alguma instituição ou autoridade.
E isso faz com que blogues que apostam no questionamento tenham baixa frequência na Internet. E que, no mercado literário, livros que mostram profundas investigações, exceto aqueles cujos autores já possuem visibilidade suficiente para transmitir informações que contrariam as oficiais, são quase sempre discriminados e sofrem baixíssimas vendas.
Em compensação, numa sociedade em que as pessoas agora usam smartphones e tablets para "patinar" com os dedos polegar e indicador em páginas inofensivas no Facebook, uma perda de tempo que ganha a adesão assustadora de pessoas que usam a Internet para curtir o superfluo e o abertamente inútil e menos divertido do que parece.
Os livros mais vendidos envolvem religião, auto-ajuda, inexpressivas ficções de aventura e misticismo, diários sobre futilidades e frivolidades, e até mesmo trajetórias inócuas sobre cachorros que têm nomes de músicos consagrados. Nada que esclareça, palavras que se perdem em uma média de 230 páginas para nada dizer e apenas adoçar as vidas das pessoas.
O grande medo de esclarecer e de sair da zona do conforto assola a sociedade brasileira e faz com que muitos permaneçam assustados com as transformações e as graves crises vividas no Brasil. Talvez estivessem esperando por livros que falem sobre cachorrinhos chamados Cazuza e Renato Russo para se recolherem felizes nas suas confortáveis zonas, isolados na sua literatura "água com açúcar".
sábado, 30 de maio de 2015
"Desafio Charlie" e as práticas de Chico Xavier e Divaldo Franco
O QUE CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO FAZEM NÃO DIFERE MUITO DO "DESAFIO CHARLIE".
Recentemente, tornou-se fenômeno na Internet a perigosa brincadeira do "Desafio Charlie", conhecido também como o jogo do "Charlie, Charlie", que virou mania entre os jovens do mundo inteiro.
A brincadeira, que consiste em, uma folha de papel, escrever, em posição de quadrinha, as expressões "Sim" e "Não" duas vezes, posicionadas em diagonal, e entre elas colocar dois lápis, um sobre outro, em posição transversal, formando uma cruz.
Nela, é feita uma pergunta, qualquer que seja, podendo ser coisas fúteis como uma menina indagar "quando aquela colega chata vai largar aquele namorado lindo?" ou então inutilidades como "o Vasco da Gama será campeão do Brasileirão?", entre tantas outras coisas, as mais diversas.
Para responder a essas perguntas, é evocado um espírito, chamado de "Charlie", que supostamente se dispôs a dar a resposta, através do movimento do lápis posicionado em cima. Se o lápis atingir a resposta "Sim", a resposta é atribuída à opção afirmativa. Se atingir "Não", a resposta é negativa.
Em uma escola pública de Manaus, a brincadeira gerou um grande mal estar entre os alunos que se envolveram com a brincadeira. Vários estudantes ficaram traumatizados e uma garota alegou "ter visto o demônio". Várias meninas tiveram convulsões e desmaios, e outros alunos eram vistos se batendo ou se enforcando.
Duas meninas chegaram a serem socorridas, uma delas sendo levada de maca. A que não foi levada na maca dizia coisas absurdas e apelava para "ninguém deixar levar ela (sic). Muitas cenas chocam pela gravidade das obsessões.
CHICO XAVIER E SUA FORMA LEVIANA DE EVOCAR ESPÍRITOS
A prática do "Desafio Charlie" corresponde a uma modalidade de necromancia, cujo exemplo é a tábua Ouija, em que pessoas tentam a todo custo evocar espíritos do além para obter respostas sobre qualquer questão, mesmo as mais fúteis e traiçoeiras.
O caso de Manaus revela o perigo dessa brincadeira, o que indica que os espíritos zombeteiros se divertem muito com essa prática. O "movimento espírita" brasileiro, aparentemente, corrobora esse questionamento, afirmando que o "Desafio Charlie" é uma porta aberta para espíritos obsessores.
No entanto, quem pensa que o "espiritismo" brasileiro é um oásis de responsabilidade e disciplina, é bom desistir. Mesmo os "renomados" e "altamente prestigiados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco fizeram práticas não muito diferentes do "Desafio Charlie".
Chico Xavier, com as mensagens supostamente espirituais, criava um espetáculo de ostentação e exploração leviana das tragédias familiares, convidava os parentes dos entes queridos falecidos a atividades e sentimentos que não diferem muito do perigoso jogo.
Se no "Desafio Charlie" as crianças e adolescentes evocam espíritos para responderem perguntas diversas, na "psicografia" de Chico Xavier as famílias são convidadas a evocar espíritos de seus entes queridos, com a mesma histeria do jogo infanto-juvenil.
Em ambos os casos, espíritos zombeteiros se divertem muito. E, no caso de Chico Xavier, a diversão chega a ser maior ainda, pois o verniz de seriedade da "brincadeira mediúnica" - feita em completo desconhecimento da Ciência Espírita - causa muito entusiasmo nos espíritos obsessores, que podem, se for o caso, se passarem pelos entes queridos ou intuir o "médium" a produzir uma mensagem apócrifa.
As mensagens padronizadas, com aquele mesmo roteiro "morri, sofri, fui socorrido e encontrei Jesus" seguido do mesmo propagandismo religioso, escritas com a caligrafia do próprio "médium", sem apresentar uma letra confiável do suposto respectivo espírito, dão o tom leviano e fazem a "brincadeira" se tornar perigosa para os familiares.
O próprio "espiritismo" brasileiro, pela glamourização dos mortos prematuros, traz energias negativas para muitas famílias, já que não raro as mortes de jovens ocorrem quando seus familiares já seguem essa doutrina religiosa.
A indústria da "mediunidade" teve como exemplo recente um livro que seis familiares dos mortos do incêndio da Boate Kiss financiaram para divulgar supostas mensagens "espirituais". Apesar do pretexto "filantrópico", a iniciativa tem o mesmo caráter perigoso do "Desafio Charlie", tanto que foram observadas irregularidades até nas escritas e no teor das mensagens.
"DESAFIO DIVALDO"
O anti-médium baiano Divaldo Franco - aquele que é festejado com um certo exagero por uma "filantropia" que beneficia menos que 0,1% da população de Salvador e ainda quer promovê-la como uma "grande façanha mundial" - também se insere nesse contexto do "Desafio Charlie".
Isso porque Divaldo fez as mesmas atividades "mediúnicas" de Chico Xavier. Cada um poderia ser chamado de "personal Ouija", já que eles se tornam "tabuleiros humanos", dando respostas supostamente do além, que se tornam levianas tanto pela duvidosa procedência - não raro vinda das mentes dos dois "médiuns" - como pela oportunidade que abrem para a ação de obsessores.
Os dois ainda são aproveitados da projeção que têm - mesmo com Chico Xavier morto desde 2002 - para bancarem os dublês de "filósofos" num país como o Brasil, sem grandes nomes da Filosofia. E tudo isso com pseudo-sabedoria, lamentável até mesmo para servir de "filosofia de almanaque", já que tal gênero de publicação, por mais simplório que pareça, procura transmitir um saber mais útil.
Se Chico Xavier é lembrado nas mídias sociais através de suas frases dóceis vistas como "filosofia" por pessoas que não têm o hábito de ler bons livros, Divaldo Franco reforça o mito através do estereótipo do ar "professoral" e do seu pedantismo que, aliado à esperteza e sutileza discursiva, o faz pensar que é capaz de ter respostas para todas as coisas.
Tanto Chico Xavier quanto Divaldo Franco tornaram-se pseudo-sábios, mas Divaldo exerce um estereótipo mais verossímil, porém não menos hipócrita que o outro. E Divaldo se torna ele mesmo o próprio "Desafio Charlie" encarnado, através de sua pretensão de responder a tudo, nem sempre com verdadeiro entendimento e, certamente, muito aquém da doutrina kardeciana que diz seguir.
Afinal, há uma diferença muito grande entre Allan Kardec promover o debate, discutir ideias, analisar e procurar a coerência das coisas, sem a pretensão de querer ou supor entender tudo, e um Divaldo Franco com respostas prontas para todas as coisas, levando a postura do falso sábio às últimas consequências.
Divaldo Franco, dessa forma, age em completo desconhecimento da doutrina kardeciana. É risível que ele diga que "não tenha tido tempo" para ler Jean-Baptiste Roustain. Seria mais honesto que o baiano tivesse dito que nunca teve tempo para ler Allan Kardec, autor que, sinceramente, o anti-médium nunca teve a menor identificação em coisa alguma.
As respostas prontas de Divaldo Franco parecem apenas extensões do "Sim" e "Não" do "Desafio Charlie", da mesma forma que a busca de mensagens dos entes falecidos por intermédio de Divaldo e Chico Xavier têm o mesmo valor de risco que a busca de mensagens do "Charlie, Charlie", da tábua Ouija e similares. Os espíritos obsessores agradecem por tamanha espécie de diversão "espírita".
Recentemente, tornou-se fenômeno na Internet a perigosa brincadeira do "Desafio Charlie", conhecido também como o jogo do "Charlie, Charlie", que virou mania entre os jovens do mundo inteiro.
A brincadeira, que consiste em, uma folha de papel, escrever, em posição de quadrinha, as expressões "Sim" e "Não" duas vezes, posicionadas em diagonal, e entre elas colocar dois lápis, um sobre outro, em posição transversal, formando uma cruz.
Nela, é feita uma pergunta, qualquer que seja, podendo ser coisas fúteis como uma menina indagar "quando aquela colega chata vai largar aquele namorado lindo?" ou então inutilidades como "o Vasco da Gama será campeão do Brasileirão?", entre tantas outras coisas, as mais diversas.
Para responder a essas perguntas, é evocado um espírito, chamado de "Charlie", que supostamente se dispôs a dar a resposta, através do movimento do lápis posicionado em cima. Se o lápis atingir a resposta "Sim", a resposta é atribuída à opção afirmativa. Se atingir "Não", a resposta é negativa.
Em uma escola pública de Manaus, a brincadeira gerou um grande mal estar entre os alunos que se envolveram com a brincadeira. Vários estudantes ficaram traumatizados e uma garota alegou "ter visto o demônio". Várias meninas tiveram convulsões e desmaios, e outros alunos eram vistos se batendo ou se enforcando.
Duas meninas chegaram a serem socorridas, uma delas sendo levada de maca. A que não foi levada na maca dizia coisas absurdas e apelava para "ninguém deixar levar ela (sic). Muitas cenas chocam pela gravidade das obsessões.
CHICO XAVIER E SUA FORMA LEVIANA DE EVOCAR ESPÍRITOS
A prática do "Desafio Charlie" corresponde a uma modalidade de necromancia, cujo exemplo é a tábua Ouija, em que pessoas tentam a todo custo evocar espíritos do além para obter respostas sobre qualquer questão, mesmo as mais fúteis e traiçoeiras.
O caso de Manaus revela o perigo dessa brincadeira, o que indica que os espíritos zombeteiros se divertem muito com essa prática. O "movimento espírita" brasileiro, aparentemente, corrobora esse questionamento, afirmando que o "Desafio Charlie" é uma porta aberta para espíritos obsessores.
No entanto, quem pensa que o "espiritismo" brasileiro é um oásis de responsabilidade e disciplina, é bom desistir. Mesmo os "renomados" e "altamente prestigiados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco fizeram práticas não muito diferentes do "Desafio Charlie".
Chico Xavier, com as mensagens supostamente espirituais, criava um espetáculo de ostentação e exploração leviana das tragédias familiares, convidava os parentes dos entes queridos falecidos a atividades e sentimentos que não diferem muito do perigoso jogo.
Se no "Desafio Charlie" as crianças e adolescentes evocam espíritos para responderem perguntas diversas, na "psicografia" de Chico Xavier as famílias são convidadas a evocar espíritos de seus entes queridos, com a mesma histeria do jogo infanto-juvenil.
Em ambos os casos, espíritos zombeteiros se divertem muito. E, no caso de Chico Xavier, a diversão chega a ser maior ainda, pois o verniz de seriedade da "brincadeira mediúnica" - feita em completo desconhecimento da Ciência Espírita - causa muito entusiasmo nos espíritos obsessores, que podem, se for o caso, se passarem pelos entes queridos ou intuir o "médium" a produzir uma mensagem apócrifa.
As mensagens padronizadas, com aquele mesmo roteiro "morri, sofri, fui socorrido e encontrei Jesus" seguido do mesmo propagandismo religioso, escritas com a caligrafia do próprio "médium", sem apresentar uma letra confiável do suposto respectivo espírito, dão o tom leviano e fazem a "brincadeira" se tornar perigosa para os familiares.
O próprio "espiritismo" brasileiro, pela glamourização dos mortos prematuros, traz energias negativas para muitas famílias, já que não raro as mortes de jovens ocorrem quando seus familiares já seguem essa doutrina religiosa.
A indústria da "mediunidade" teve como exemplo recente um livro que seis familiares dos mortos do incêndio da Boate Kiss financiaram para divulgar supostas mensagens "espirituais". Apesar do pretexto "filantrópico", a iniciativa tem o mesmo caráter perigoso do "Desafio Charlie", tanto que foram observadas irregularidades até nas escritas e no teor das mensagens.
"DESAFIO DIVALDO"
O anti-médium baiano Divaldo Franco - aquele que é festejado com um certo exagero por uma "filantropia" que beneficia menos que 0,1% da população de Salvador e ainda quer promovê-la como uma "grande façanha mundial" - também se insere nesse contexto do "Desafio Charlie".
Isso porque Divaldo fez as mesmas atividades "mediúnicas" de Chico Xavier. Cada um poderia ser chamado de "personal Ouija", já que eles se tornam "tabuleiros humanos", dando respostas supostamente do além, que se tornam levianas tanto pela duvidosa procedência - não raro vinda das mentes dos dois "médiuns" - como pela oportunidade que abrem para a ação de obsessores.
Os dois ainda são aproveitados da projeção que têm - mesmo com Chico Xavier morto desde 2002 - para bancarem os dublês de "filósofos" num país como o Brasil, sem grandes nomes da Filosofia. E tudo isso com pseudo-sabedoria, lamentável até mesmo para servir de "filosofia de almanaque", já que tal gênero de publicação, por mais simplório que pareça, procura transmitir um saber mais útil.
Se Chico Xavier é lembrado nas mídias sociais através de suas frases dóceis vistas como "filosofia" por pessoas que não têm o hábito de ler bons livros, Divaldo Franco reforça o mito através do estereótipo do ar "professoral" e do seu pedantismo que, aliado à esperteza e sutileza discursiva, o faz pensar que é capaz de ter respostas para todas as coisas.
Tanto Chico Xavier quanto Divaldo Franco tornaram-se pseudo-sábios, mas Divaldo exerce um estereótipo mais verossímil, porém não menos hipócrita que o outro. E Divaldo se torna ele mesmo o próprio "Desafio Charlie" encarnado, através de sua pretensão de responder a tudo, nem sempre com verdadeiro entendimento e, certamente, muito aquém da doutrina kardeciana que diz seguir.
Afinal, há uma diferença muito grande entre Allan Kardec promover o debate, discutir ideias, analisar e procurar a coerência das coisas, sem a pretensão de querer ou supor entender tudo, e um Divaldo Franco com respostas prontas para todas as coisas, levando a postura do falso sábio às últimas consequências.
Divaldo Franco, dessa forma, age em completo desconhecimento da doutrina kardeciana. É risível que ele diga que "não tenha tido tempo" para ler Jean-Baptiste Roustain. Seria mais honesto que o baiano tivesse dito que nunca teve tempo para ler Allan Kardec, autor que, sinceramente, o anti-médium nunca teve a menor identificação em coisa alguma.
As respostas prontas de Divaldo Franco parecem apenas extensões do "Sim" e "Não" do "Desafio Charlie", da mesma forma que a busca de mensagens dos entes falecidos por intermédio de Divaldo e Chico Xavier têm o mesmo valor de risco que a busca de mensagens do "Charlie, Charlie", da tábua Ouija e similares. Os espíritos obsessores agradecem por tamanha espécie de diversão "espírita".
sexta-feira, 29 de maio de 2015
A mania dos brasileiros de "religiosizar" as coisas
O "DEUS" VINHO QUE DESLUMBRA MUITOS ADULTOS.
O Brasil, como um país religioso, acaba "exportando" a emoção de sua fé para coisas que vão fora do âmbito religioso. O ato de "religiosizar" as coisas se define quando a apreciação de algo vai além do simples gosto e investe numa adoração ao mesmo tempo fantasiosa, exagerada e surreal.
Não é de surpreender que o Espiritismo de Allan Kardec, movido pelo pensamento científico do professor lionês, originário de um país que vivia uma onda de movimentos filosóficos e outras tantas descobertas da área do conhecimento, reduziu-se, no Brasil, a um arremedo meramente religioso e moralista, em que a ciência é rebaixada a um sub-produto da fé religiosa.
O fato de ver certas coisas não como elas realmente são, mas como algo ao mesmo tempo "milagroso" ou "redentor" é o que se define como "religiosização", em que uma simples bebida como o vinho ou um esporte sem muito diferencial como o futebol tornam-se seus maiores exemplos.
O vinho, sabemos, é uma forma etílica do suco de uva e esta forma alcoólica é que se torna "divinizada" por seus bebedores. Já não é mais a valorização de uma bebida alcoólica, mas de uma série de simbologias místicas que acabam subestimando o fato de que o álcool engorda, causa diabetes e traz doenças graves se consumido em excesso.
O futebol é apenas um entretenimento que, como atividade esportiva, é dotada de um desempenho monocórdico do qual o momento máximo é quando o jogador chuta a bola para um espaço formado por rede e traves, que se denomina gol.
No entanto, a própria mídia esportiva acaba criando a "religião do futebol", em que o futebol deixa de ser um lazer para ser uma "doutrina de salvação", com suas partidas mais parecendo ritos religiosos e a finalidade de entretenimento corrompida com a desnecessária transformação de seus jogadores em "deuses" e do esporte em si em "batalha campal".
A "religiosização" do futebol agrada aos chefes da Federação "Espírita" Brasileira que chegaram a apostar na Copa do Brasil FIFA 2014 numa antecipação em cinco anos da "data-limite" de Chico Xavier (falecido no dia de uma das vitórias da Seleção Brasileira de Futebol neste torneio) para a transformação do Brasil em "pátria da fraternidade mundial".
Mas a Copa do Brasil gerou crise, a Seleção Brasileira sofreu uma derrota humilhante e o que se observa é um caos social que se reflete nas mídias sociais e nas ruas. Mesmo assim, a "religiosização" continua de pé, por causa da tradição conservadora que permite essa prática.
E aí temos outros exemplos de "religiosização", O BRT tornou-se a "religião da mobilidade urbana" que incluiu sobretudo as "vestes" da pintura padronizada nos ônibus, com a promessa de que um simples logotipo de prefeitura vá salvar o transporte coletivo e o suplício da confusão popular em ver diferentes empresas com a mesma pintura seja compensado por "milagres divinos" como ônibus articulados, uso de ar condicionado e veículos com chassis de indústrias suecas.
O rock também tem sua "religiosização", incluindo sua mitologia, sua falta de lógica, seu caráter piegas, pitoresco e oculto. O "mistério da fé" inclui até mesmo o desconhecimento do público brasileiro de bandas obscuras e do não-questionamento do sentido da "fé roqueira", como é, o que se trata ou qual é o seu sentido.
Essa "religiosização" se estende no plano midiático, em que uma Rádio Cidade, emissora FM do Rio de Janeiro, que nunca teve compromisso nem vocação para o rock, tem seu vínculo obsessivo ao gênero defendido por uma parcela de jovens, de maneira inexplicável, sem qualquer logica e sem qualquer tipo de coerência.
Que rock a Rádio Cidade toca? Que rock ela não toca? Seus "sacerdotes" não falam o léxico das vozes sóbrias dos radialistas roqueiros, mas o das vozes afetadas de locutores pop? Isso ocorre, mas ninguém assume nem questiona, todos aceitam como devotos hipnotizados nos ritos religiosos mais obscurantistas.
Mas o próprio Brasil tem seu patriotismo divinizado, até além da conta em relação ao famoso patriotismo religioso dos Estados Unidos da América. Isso porque o Brasil tem um tempero místico e mítico ainda maior, visto como "terra prometida" e superestimada pelo seu clima tropical considerado um dos mais agradáveis do mundo.
Afinal, não se trata apenas de ver a ideia de pátria como um ambiente social formado por um grande grupo de pessoas cuja afinidade maior é ter nascido dentro de sua extensão de terras. Trata-se de ver o Brasil como um "paraíso", além de atribuir a ele uma missão "condutora" da humanidade que a realidade revela não só exagerada mas impossível de se pôr em prática.
E aí voltamos para Chico Xavier e o "espiritismo", que manifestaram sua torcida de ver o Brasil como nação mais poderosa do mundo, simplesmente pela "arte" de tratar até mesmo as coisas e ideias laicas como se fossem religião.
A "religiosização", no entanto, promove o atraso preocupante que vive o Brasil, já que se trata de um sentimento que vai contra a razão e a coerência, dando margem a tantas injustiças e absurdos que causam tantos malefícios à sociedade.
O Brasil, como um país religioso, acaba "exportando" a emoção de sua fé para coisas que vão fora do âmbito religioso. O ato de "religiosizar" as coisas se define quando a apreciação de algo vai além do simples gosto e investe numa adoração ao mesmo tempo fantasiosa, exagerada e surreal.
Não é de surpreender que o Espiritismo de Allan Kardec, movido pelo pensamento científico do professor lionês, originário de um país que vivia uma onda de movimentos filosóficos e outras tantas descobertas da área do conhecimento, reduziu-se, no Brasil, a um arremedo meramente religioso e moralista, em que a ciência é rebaixada a um sub-produto da fé religiosa.
O fato de ver certas coisas não como elas realmente são, mas como algo ao mesmo tempo "milagroso" ou "redentor" é o que se define como "religiosização", em que uma simples bebida como o vinho ou um esporte sem muito diferencial como o futebol tornam-se seus maiores exemplos.
O vinho, sabemos, é uma forma etílica do suco de uva e esta forma alcoólica é que se torna "divinizada" por seus bebedores. Já não é mais a valorização de uma bebida alcoólica, mas de uma série de simbologias místicas que acabam subestimando o fato de que o álcool engorda, causa diabetes e traz doenças graves se consumido em excesso.
O futebol é apenas um entretenimento que, como atividade esportiva, é dotada de um desempenho monocórdico do qual o momento máximo é quando o jogador chuta a bola para um espaço formado por rede e traves, que se denomina gol.
No entanto, a própria mídia esportiva acaba criando a "religião do futebol", em que o futebol deixa de ser um lazer para ser uma "doutrina de salvação", com suas partidas mais parecendo ritos religiosos e a finalidade de entretenimento corrompida com a desnecessária transformação de seus jogadores em "deuses" e do esporte em si em "batalha campal".
A "religiosização" do futebol agrada aos chefes da Federação "Espírita" Brasileira que chegaram a apostar na Copa do Brasil FIFA 2014 numa antecipação em cinco anos da "data-limite" de Chico Xavier (falecido no dia de uma das vitórias da Seleção Brasileira de Futebol neste torneio) para a transformação do Brasil em "pátria da fraternidade mundial".
Mas a Copa do Brasil gerou crise, a Seleção Brasileira sofreu uma derrota humilhante e o que se observa é um caos social que se reflete nas mídias sociais e nas ruas. Mesmo assim, a "religiosização" continua de pé, por causa da tradição conservadora que permite essa prática.
E aí temos outros exemplos de "religiosização", O BRT tornou-se a "religião da mobilidade urbana" que incluiu sobretudo as "vestes" da pintura padronizada nos ônibus, com a promessa de que um simples logotipo de prefeitura vá salvar o transporte coletivo e o suplício da confusão popular em ver diferentes empresas com a mesma pintura seja compensado por "milagres divinos" como ônibus articulados, uso de ar condicionado e veículos com chassis de indústrias suecas.
O rock também tem sua "religiosização", incluindo sua mitologia, sua falta de lógica, seu caráter piegas, pitoresco e oculto. O "mistério da fé" inclui até mesmo o desconhecimento do público brasileiro de bandas obscuras e do não-questionamento do sentido da "fé roqueira", como é, o que se trata ou qual é o seu sentido.
Essa "religiosização" se estende no plano midiático, em que uma Rádio Cidade, emissora FM do Rio de Janeiro, que nunca teve compromisso nem vocação para o rock, tem seu vínculo obsessivo ao gênero defendido por uma parcela de jovens, de maneira inexplicável, sem qualquer logica e sem qualquer tipo de coerência.
Que rock a Rádio Cidade toca? Que rock ela não toca? Seus "sacerdotes" não falam o léxico das vozes sóbrias dos radialistas roqueiros, mas o das vozes afetadas de locutores pop? Isso ocorre, mas ninguém assume nem questiona, todos aceitam como devotos hipnotizados nos ritos religiosos mais obscurantistas.
Mas o próprio Brasil tem seu patriotismo divinizado, até além da conta em relação ao famoso patriotismo religioso dos Estados Unidos da América. Isso porque o Brasil tem um tempero místico e mítico ainda maior, visto como "terra prometida" e superestimada pelo seu clima tropical considerado um dos mais agradáveis do mundo.
Afinal, não se trata apenas de ver a ideia de pátria como um ambiente social formado por um grande grupo de pessoas cuja afinidade maior é ter nascido dentro de sua extensão de terras. Trata-se de ver o Brasil como um "paraíso", além de atribuir a ele uma missão "condutora" da humanidade que a realidade revela não só exagerada mas impossível de se pôr em prática.
E aí voltamos para Chico Xavier e o "espiritismo", que manifestaram sua torcida de ver o Brasil como nação mais poderosa do mundo, simplesmente pela "arte" de tratar até mesmo as coisas e ideias laicas como se fossem religião.
A "religiosização", no entanto, promove o atraso preocupante que vive o Brasil, já que se trata de um sentimento que vai contra a razão e a coerência, dando margem a tantas injustiças e absurdos que causam tantos malefícios à sociedade.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Perigo: místicos criam "Charlie, Charlie", variação rudimentar das tábuas Ouija
Uma nova prática perigosa de evocação de espíritos tornou-se moda entre os jovens do mundo inteiro. A brincadeira foi denominada "Charlie, Charlie" ou "Desafio Charlie" ("Charlie Challenge", em inglês) e é uma espécie de variação rudimentar das tábuas Ouija, e anda fazendo sucesso nas mídias sociais da Internet, como o Vine, Instagram, Facebook e Twitter.
Para quem não conhece, a tábua Ouija é um tabuleiro no qual existe uma combinação de número de palavras no meio, as palavras "sim" e "não" no topo e uma espécie de setinha colocada para ser movimentada pelos presentes e depois "manipulada" por um suposto espírito mediante um ritual.
Como nas brincadeiras do copo e do compasso - mais populares no Brasil do que a tábua Ouija, mas nem tanto quanto a necromancia das brincadeiras "psicográficas" de Chico Xavier - , faz-se uma pergunta ao suposto espírito e, dessa forma, o objeto é "manipulado" para que uma resposta específica seja dada pelo "fantasma".
Agora, o "Desafio Charlie" surge constituído de dois lápis - podem ser canetas ou algo parecido - que são posicionados um sobre o outro, em posição transversal que lembra uma cruz. Desta forma, o lápis de cima "flutua" de forma que possa "escolher" alternativas.
Dessa forma, se uma pergunta é feita oralmente por alguém e o lápis se move para uma das opções mostradas - na verdade as respostas "sim" e "não" escritas duas vezes em posição diagonal - , a resposta corresponde à palavra escrita.
Assim, se, por exemplo, um curioso de plantão pergunta se o Vasco da Gama será campeão do Campeonato Brasileiro de 2015 ou "dormirá" na série A para o próximo ano - hilário usar como exemplos o fanatismo do futebol, sobretudo o carioca - e o lápis de cima se posicionar para a resposta "sim", acredita-se que tenha sido o espírito Charlie que garantiu a alegria dos vascaínos.
BRINCADEIRA PERIGOSA
A necromancia, prática antiga, conhecida a partir de povos como os do Egito Antigo, é considerada perigosa, pelo risco que é a evocação irresponsável e brincalhona de espíritos do além. Através dessas práticas, é duvidoso e, podemos afirmar, impossível, que espíritos sérios tenham interesse de perder seus preciosos tempos com tais entretenimentos.
Isso se deve a muitos aspectos, como a obsessão de encarnados para desencarnados e o caráter fútil que predomina nos atos de evocação. Espíritos zombeteiros e de baixíssimo grau de evolução moral costumam se divertir com tais brincadeiras.
Apesar disso, o entretenimento das tábuas Ouija foram pesquisados com atenção e paciência pelo pedagogo Hippolyte Leon Denizard Rivail, pela inclinação que ele teve pelas ideias do magnetismo de Franz Anton Mesmer.
Rivail, com ceticismo e um senso investigativo rigoroso, ele pesquisava os fenômenos, com seu habitual senso crítico, e, a partir daí, lançava questionamentos que, depois, viriam a compor a base de seu pensamento, através do codinome Allan Kardec, sobre o delicado tema da vida espiritual.
É curioso, no entanto, que, em vez de usar o mesmo faro científico que marcou a trajetória e o trabalho do pedagogo francês, o anti-médium mineiro Chico Xavier (que nunca se interessou pelo pensamento de Kardec) preferiu deturpar a mediunidade aos níveis brincalhões comparáveis às tábuas Ouija e ao "Desafio Charlie". Criou a necromancia chiquista.
O aspecto perigoso da brincadeira pode representar algum dano moral para as pessoas, se caso ela for conduzida de forma mais leviana. Além disso, a necromancia em nada contribui para o contato saudável e proveitoso entre encarnados e desencarnados.
E O "MOVIMENTO ESPÍRITA"?
Evidentemente, o "movimento espírita", que tende a defender, até com muita firmeza, as atividades de Chico Xavier e Divaldo Franco - no fundo tão brincalhões quanto os jovens que fazem as brincadeiras da Ouija e do Charlie - , procura definir as referidas brincadeiras como "perigosas", mas com uma justificativa diferente.
Segundo eles, as práticas da tábua Ouija ou do Desafio Charlie são "perigosas" pelo caráter irresponsável da mediunidade usada por esses jovens, mais preocupados em perguntar aos espíritos coisas relacionadas aos interesses juvenis desses encarnados, em muitos casos coisas fúteis ou, na pior das hipóteses, até mesmo malignas ou vingativas.
O que os "espíritas" não querem admitir é a "brincadeira de adulto" que eles denominam de "mediunidade séria". Chico Xavier usurpando as famílias que perderam seus entes queridos e se aproveitando das tragédias alheias para produzir histeria sensacionalista também não é menos irresponsável que a molecada que fica gritando "Charlie, Charlie" chamando por um fantasma.
"Palavras de amor" não podem ser vistas como uma compensação "responsável", uma vez que bons sentimentos não são garantia de evitar os perigos da evocação fútil ou de qualquer tipo de fraude. Questionamentos diversos já começam a comprovar muitas fraudes cometidas por Chico Xavier, Divaldo Franco e outros, embora eles até agora não tenham um reconhecimento oficial.
Em todo caso, a evocação aleatória e fútil dos espíritos do além, seja pelo movimento de copos, lápis posicionados em forma de cruz, setinhas em tabuleiros de madeira, ou seja pela "mentiunidade" das mensagens apócrifas de apelo demasiado religioso que consistem as supostas psicografias, revelam sempre um perigo que nenhum benefício traz às pessoas. Apenas ilusão seguida de intriga e dor.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
O preocupante narcisismo provinciano do eixo RJ-SP
UMA RODOVIA, A VIA DUTRA, LIGA DOIS REDUTOS DE REACIONARISMO E SUPREMACIA DAS ELITES NO BRASIL.
Recentemente, as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo passaram a viver uma realidade estranha: redutos de visões provincianas, de manifestações reacionárias na Internet e da supremacia decisória das elites em todo o Brasil.
O Rio de Janeiro torna-se o caso ainda mais preocupante, pois o surto de provincianismo da cidade faz com que prevaleça um cenário sócio-cultural que envolve do baronato midiático à contravenção, passando pelo fisiologismo político e pela supremacia tecnocrática nas decisões feitas na região.
Focos de extremo reacionarismo, representados principalmente pela revista paulista Veja e pelo fenômeno carioca de Jair Bolsonaro - apesar dele ser paulista, tem domicílio político no Rio - , também preocupam, assim como o narcisismo em geral de cariocas e paulistas que não aceitam questionamentos a respeito do "estabelecido".
Isso é claro quando se vê, no Facebook, a regra megalomaníaca e um tanto egocêntrica que diz "se eu estou bem, tudo está bem". Pessoas que veem a realidade a partir de seus umbigos, e que não aceitam que outros apontem alguma crise aqui e ali.
Para cariocas e paulistas, o que um grupo de tecnocratas, empresários da Comunicação (sobretudo rádio e TV) e do Entretenimento e autoridades dotadas de algum projeto megalomaníaco - como o grupo político de Eduardo Paes, prefeito carioca, para reurbanizar o Rio - sempre têm razão nas suas decisões, ainda que prejudicassem muitas pessoas.
Questioná-las sempre significa provocar a reação um tanto irritada de uma "panelinha" de internautas que acham que o "estabelecido" sempre é bom. Desde a década de 1990, predominou essa visão ligada a objetivos meramente "pragmáticos", que combina projetos, ideias e fenômenos que representam o atendimento a "necessidades básicas" e um potencial de alta rentabilidade.
Culturalmente, isso se reflete desde o rock comercial divulgado pelas rádios 89 FM e Rádio Cidade até o "funk carioca", passando por outros fenômenos, símbolos e valores que, como os dois exemplos citados, levam, respectivamente, o rock e o folclore suburbano apenas ao atendimento de "necessidades" que, de tão "básicas", se tornam abaixo do básico.
Com o nivelamento de valores sociais, políticos, econômicos e culturais por baixo, durante a Era Collor, valores "pragmáticos" foram criados que passaram a decair conceitos e procedimentos de forma a combinar a mediocrização cultural com a alta rentabilidade.
E isso é feito com o respaldo de internautas tomados de complexo de superioridade. Afinal, só porque são cidadãos do eixo Rio-São Paulo, se acham com razão para tudo, se irritando quando alguém aponta algum defeito. Os empresários têm razão, os políticos têm razão, os tecnocratas têm razão, e nós temos que ficar quietos para evitar a fúria dos "cães de guarda" do "estabelecido" nas mídias sociais.
Existe a desculpa inicial de que "não é aquela maravilha, mas é melhor do que nada", que depois evolui para "até que está bom demais, pensando bem", indo para "se você não gostou, caia fora" até que venham as esperadas xingações e ofensas.
As duas regiões metropolitanas ainda são consideradas referências em todo o país. Mas as duas áreas sofreram retrocesso por assimilarem, do Norte, Nordeste e Centro-Oeste marcados pelo coronelismo dos anos 1970-1980. Isso foi dos anos 1990 em diante, quando valores midiáticos e sócio-culturais trazidos pelo coronelismo usaram a "vitrine" do eixo Rio-São Paulo para se reciclarem.
Esses valores coronelistas, que nivelavam a diversidade cultural a um nível de mediocridade para fins "pragmáticos", ameaçavam se desgastar nas capitais nordestinas, centro-ocidentais e nortistas. e por isso as elites locais, se aproveitando das relações econômicas com seus pares no Sudeste, relançavam como "novidade" esses valores desgastados que passaram a valer para todo o país.
Rádios segmentadas desapareceram e deram lugar a rádios convencionais que de forma superficial assumem relativa diferenciação. Grandes artistas perderam espaço para fetiches musicais controlados por empresários habilidosos. O jornalismo decai com veículos cada vez mais inócuos, vazios de conteúdo mas eventualmente sujeito a surtos reacionários constrangedores.
Os espaços culturais continuam, mas boa parte deles se sujeita agora ao entretenimento mais comercial, e mesmo a sofisticação cultural regrediu a conceitos "dinheiristas" de 60 anos atrás. Ver que a chamada música de qualidade hoje é um apanhado de sucessos musicais qualquer nota rearranjados com acordes de lounge ou bossa-nova, é humilhante.
O Rio de Janeiro, com a supremacia do "funk" que ameaça tirar o samba de cartaz (ou isolá-lo na apreciação privada da "galera Zona Sul") e um projeto de Urbanismo e Transportes digno de ter sido feito no período do general Emílio Médici, o provincianismo é tão grande que ídolos pop comerciais decadentes se apresentam na cidade como se fossem "coisa do outro mundo".
A Economia do Rio de Janeiro decaiu tanto que o abastecimento de produtos no mercado deixou de ter o zelo logístico de antes, causando constante falta de produtos não por conta de circunstâncias acidentais, mas por puro desleixo dos gerentes e administradores que parecem mais terem vindo de alguma zona rural de uma cidade perdida na Amazônia, dessas que não passam de satélites do poder latifundiário local.
São Paulo tem uma grande imprensa dotada de visões medievais, como a revista Veja, o jornal O Estado de São Paulo e a Jovem Pan. Rio de Janeiro tem um grupo político com ideias medievais, representados por Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho, Luiz Paulo Conde, Alexandre Sansão, Carlos Roberto Osório, Luiz Fernando Pezão, José Mariano Beltrame, entre outros.
O provincianismo é tanto que o Rio de Janeiro anda condenando a diversidade sócio-cultural de várias formas, através de ônibus com pinturas padronizadas, "rádio rock" com linguagem pop (Rádio Cidade) e "cultura popular" terceirizada e controlada por empresários-DJs espertos, como o "funk".
E isso com o fanatismo futebolista regulando as relações humanas, justamente quando o futebol carioca se reduziu a um "brinquedo" para os interesses de dirigentes esportivos. Quem não gosta de futebol é socialmente discriminado no Rio de Janeiro.
Tanto nas duas regiões metropolitanas, ocorrem mais manifestações de reacionarismo nas mídias sociais, com os ataques racistas ou homofóbicos de alguns internautas e as gozações e comentários irritados de pessoas que não gostam de ver qualquer questionamento contra o "estabelecido" no ramo do Entretenimento, na Política e na Mídia.
O mais grave é que essas regiões podem influenciar o resto do país, com esses pontos de vista bastante retrógrados, mas defendidos por combinarem projetos "pragmáticos" e esperança de alta rentabilidade para os envolvidos. A farra política, financeira e tecnocrática que mediocriza as sociedades dessas regiões preocupa pela prevalência e pela blindagem sócio-midiática nas redes sociais.
É certo que o Norte, Nordeste e Centro-Oeste começam a reagir a muitos desses arbítrios. Cansados de tanta supremacia coronelista, eles repetem o que houve, há cerca de 150 anos, com a escravidão, que começou a ser extinta nos Estados do Norte e Nordeste enquanto ainda se ampliava no "moderno" Sul e Sudeste.
Agora se observa os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo tomados de surtos provincianos de fazer qualquer acreano ficar boquiaberto. E os demais Estados do Sudeste e Sul também contagiando na onda provinciana de cariocas e fluminenses, que entre tantas aberrações faz Niterói, a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro, se contentar com sua postura subordinada e humilhante em relação à famosa cidade vizinha.
Como é que as duas maiores regiões metropolitanas do Brasil são tomadas de enormes surtos provincianos e ainda se impõem como referenciais para todo o país? E como é que a crise de valores nessas áreas ainda não pode ser questionada nas mídias sociais, sem o risco de serem duramente contestadas por internautas cariocas e paulistas que, no entanto, se comportam como se fossem jagunços do interior do Pará? Que prosperidade nacional se esperará de um contexto destes?
Recentemente, as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo passaram a viver uma realidade estranha: redutos de visões provincianas, de manifestações reacionárias na Internet e da supremacia decisória das elites em todo o Brasil.
O Rio de Janeiro torna-se o caso ainda mais preocupante, pois o surto de provincianismo da cidade faz com que prevaleça um cenário sócio-cultural que envolve do baronato midiático à contravenção, passando pelo fisiologismo político e pela supremacia tecnocrática nas decisões feitas na região.
Focos de extremo reacionarismo, representados principalmente pela revista paulista Veja e pelo fenômeno carioca de Jair Bolsonaro - apesar dele ser paulista, tem domicílio político no Rio - , também preocupam, assim como o narcisismo em geral de cariocas e paulistas que não aceitam questionamentos a respeito do "estabelecido".
Isso é claro quando se vê, no Facebook, a regra megalomaníaca e um tanto egocêntrica que diz "se eu estou bem, tudo está bem". Pessoas que veem a realidade a partir de seus umbigos, e que não aceitam que outros apontem alguma crise aqui e ali.
Para cariocas e paulistas, o que um grupo de tecnocratas, empresários da Comunicação (sobretudo rádio e TV) e do Entretenimento e autoridades dotadas de algum projeto megalomaníaco - como o grupo político de Eduardo Paes, prefeito carioca, para reurbanizar o Rio - sempre têm razão nas suas decisões, ainda que prejudicassem muitas pessoas.
Questioná-las sempre significa provocar a reação um tanto irritada de uma "panelinha" de internautas que acham que o "estabelecido" sempre é bom. Desde a década de 1990, predominou essa visão ligada a objetivos meramente "pragmáticos", que combina projetos, ideias e fenômenos que representam o atendimento a "necessidades básicas" e um potencial de alta rentabilidade.
Culturalmente, isso se reflete desde o rock comercial divulgado pelas rádios 89 FM e Rádio Cidade até o "funk carioca", passando por outros fenômenos, símbolos e valores que, como os dois exemplos citados, levam, respectivamente, o rock e o folclore suburbano apenas ao atendimento de "necessidades" que, de tão "básicas", se tornam abaixo do básico.
Com o nivelamento de valores sociais, políticos, econômicos e culturais por baixo, durante a Era Collor, valores "pragmáticos" foram criados que passaram a decair conceitos e procedimentos de forma a combinar a mediocrização cultural com a alta rentabilidade.
E isso é feito com o respaldo de internautas tomados de complexo de superioridade. Afinal, só porque são cidadãos do eixo Rio-São Paulo, se acham com razão para tudo, se irritando quando alguém aponta algum defeito. Os empresários têm razão, os políticos têm razão, os tecnocratas têm razão, e nós temos que ficar quietos para evitar a fúria dos "cães de guarda" do "estabelecido" nas mídias sociais.
Existe a desculpa inicial de que "não é aquela maravilha, mas é melhor do que nada", que depois evolui para "até que está bom demais, pensando bem", indo para "se você não gostou, caia fora" até que venham as esperadas xingações e ofensas.
As duas regiões metropolitanas ainda são consideradas referências em todo o país. Mas as duas áreas sofreram retrocesso por assimilarem, do Norte, Nordeste e Centro-Oeste marcados pelo coronelismo dos anos 1970-1980. Isso foi dos anos 1990 em diante, quando valores midiáticos e sócio-culturais trazidos pelo coronelismo usaram a "vitrine" do eixo Rio-São Paulo para se reciclarem.
Esses valores coronelistas, que nivelavam a diversidade cultural a um nível de mediocridade para fins "pragmáticos", ameaçavam se desgastar nas capitais nordestinas, centro-ocidentais e nortistas. e por isso as elites locais, se aproveitando das relações econômicas com seus pares no Sudeste, relançavam como "novidade" esses valores desgastados que passaram a valer para todo o país.
Rádios segmentadas desapareceram e deram lugar a rádios convencionais que de forma superficial assumem relativa diferenciação. Grandes artistas perderam espaço para fetiches musicais controlados por empresários habilidosos. O jornalismo decai com veículos cada vez mais inócuos, vazios de conteúdo mas eventualmente sujeito a surtos reacionários constrangedores.
Os espaços culturais continuam, mas boa parte deles se sujeita agora ao entretenimento mais comercial, e mesmo a sofisticação cultural regrediu a conceitos "dinheiristas" de 60 anos atrás. Ver que a chamada música de qualidade hoje é um apanhado de sucessos musicais qualquer nota rearranjados com acordes de lounge ou bossa-nova, é humilhante.
O Rio de Janeiro, com a supremacia do "funk" que ameaça tirar o samba de cartaz (ou isolá-lo na apreciação privada da "galera Zona Sul") e um projeto de Urbanismo e Transportes digno de ter sido feito no período do general Emílio Médici, o provincianismo é tão grande que ídolos pop comerciais decadentes se apresentam na cidade como se fossem "coisa do outro mundo".
A Economia do Rio de Janeiro decaiu tanto que o abastecimento de produtos no mercado deixou de ter o zelo logístico de antes, causando constante falta de produtos não por conta de circunstâncias acidentais, mas por puro desleixo dos gerentes e administradores que parecem mais terem vindo de alguma zona rural de uma cidade perdida na Amazônia, dessas que não passam de satélites do poder latifundiário local.
São Paulo tem uma grande imprensa dotada de visões medievais, como a revista Veja, o jornal O Estado de São Paulo e a Jovem Pan. Rio de Janeiro tem um grupo político com ideias medievais, representados por Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho, Luiz Paulo Conde, Alexandre Sansão, Carlos Roberto Osório, Luiz Fernando Pezão, José Mariano Beltrame, entre outros.
O provincianismo é tanto que o Rio de Janeiro anda condenando a diversidade sócio-cultural de várias formas, através de ônibus com pinturas padronizadas, "rádio rock" com linguagem pop (Rádio Cidade) e "cultura popular" terceirizada e controlada por empresários-DJs espertos, como o "funk".
E isso com o fanatismo futebolista regulando as relações humanas, justamente quando o futebol carioca se reduziu a um "brinquedo" para os interesses de dirigentes esportivos. Quem não gosta de futebol é socialmente discriminado no Rio de Janeiro.
Tanto nas duas regiões metropolitanas, ocorrem mais manifestações de reacionarismo nas mídias sociais, com os ataques racistas ou homofóbicos de alguns internautas e as gozações e comentários irritados de pessoas que não gostam de ver qualquer questionamento contra o "estabelecido" no ramo do Entretenimento, na Política e na Mídia.
O mais grave é que essas regiões podem influenciar o resto do país, com esses pontos de vista bastante retrógrados, mas defendidos por combinarem projetos "pragmáticos" e esperança de alta rentabilidade para os envolvidos. A farra política, financeira e tecnocrática que mediocriza as sociedades dessas regiões preocupa pela prevalência e pela blindagem sócio-midiática nas redes sociais.
É certo que o Norte, Nordeste e Centro-Oeste começam a reagir a muitos desses arbítrios. Cansados de tanta supremacia coronelista, eles repetem o que houve, há cerca de 150 anos, com a escravidão, que começou a ser extinta nos Estados do Norte e Nordeste enquanto ainda se ampliava no "moderno" Sul e Sudeste.
Agora se observa os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo tomados de surtos provincianos de fazer qualquer acreano ficar boquiaberto. E os demais Estados do Sudeste e Sul também contagiando na onda provinciana de cariocas e fluminenses, que entre tantas aberrações faz Niterói, a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro, se contentar com sua postura subordinada e humilhante em relação à famosa cidade vizinha.
Como é que as duas maiores regiões metropolitanas do Brasil são tomadas de enormes surtos provincianos e ainda se impõem como referenciais para todo o país? E como é que a crise de valores nessas áreas ainda não pode ser questionada nas mídias sociais, sem o risco de serem duramente contestadas por internautas cariocas e paulistas que, no entanto, se comportam como se fossem jagunços do interior do Pará? Que prosperidade nacional se esperará de um contexto destes?
terça-feira, 26 de maio de 2015
Também morre quem atira (ou esfaqueia, envenena etc)
HÁ QUEM DIGA QUE TIRAR A VIDA DE OUTREM SOMA "MAIS VIDA" PARA SEU PRATICANTE, COMO SE ACREDITAVA NO ANTIGO CANIBALISMO ANTROPOFÁGICO.
Na sociedade desigual brasileira em que o poder reacionário e as atividades criminosas usam o homicídio para eliminar pessoas consideradas "incômodas", há a ilusão de que aqueles que tiram a vida de outrem tornam-se eternas e invulneráveis, mesmo contraindo para si debilidades e outros riscos.
Pode não ser uma relação direta, mas num país atrasado como o Brasil, os homicidas parecem viver na ilusão de que, ao tirar a vida dos outros, "fortalecem" suas vidas somando para si a (s) "vida (s)" que exterminaram.
É uma ilusão cujo sentido tanto pode ser encontrado no antigo canibalismo antropofágico das tribos indígenas, em que "devorar o outro" garantia a absorção, pelo devorador, das caraterísticas pessoais e da força existentes nas vítimas, quanto nas pontuações obtidas em jogos eletrônicos violentos, mas existente também nas premiações do mundo do crime.
Só que os homicidas não sabem que constituem num silencioso grupo de risco da sociedade atual, cuja vulnerabilidade, altíssima, é subestimada pela mídia, que dá a falsa impressão de que, mesmo sendo um ato socialmente condenável, assassinar alguém garante ao criminoso segurança por toda a vida.
Não é bem assim. Como diz o trecho final do sucesso de O Rappa, "Hey Joe", "também morre quem atira". Por uma curiosa coincidência, a música é uma versão da homônima composição de Billy Roberts, consagrada por Jimi Hendrix Experience, cuja letra é um recado para um feminicida conjugal em fuga.
Tirar a vida do outro é o mais extremo ato egoísta que um indivíduo pode fazer, e que, por incrível que pareça, faz seu criminoso altamente vulnerável. Isso se deve a inúmeros fatores, e pode-se destacar do ineditismo de certos atos homicidas até as pressões emocionais que o criminoso terá que suportar pelo resto da vida.
No primeiro caso, o ineditismo de tirar a vida de alguém, como ocorre em casos como o feminicídio conjugal, em que homens aparentemente inofensivos tiram a vida de suas mulheres diante de uma discussão de nada, cria uma tensão emocional que libera no organismo uma substância, a adrenalina, que em doses excessivas pode influir, mais tarde, em doenças cardíacas.
No segundo caso, as pressões emocionais, de todos os lados, criam no homicida, principalmente aquele que não está na cadeia e se expõe a uma sociedade complexa na qual se insere na sua vida livre, um conflito de sensações e sentimentos que também abala seriamente a consciência e o organismo.
Em muitos casos, a má alimentação, o uso de drogas ilícitas, fumo e álcool, a ingestão excessiva de remédios e mesmo o nervosismo ao dirigir automóveis e motos pode representar um perigo para o homicida, que constantemente é pressionado pela revolta social que o atinge diretamente, em especial na sua impunidade.
O ódio extremo e a repercussão de um ato com efeitos irreversíveis cria um mal-estar emocional que abala os organismos dos homicidas, os fazem envelhecer rapidamente e sua vulnerabilidade é agravada pelo fato de que eles não costumam ligar para as graves doenças que, com o tempo, acabam contraindo, como o câncer e o infarto.
Grupos de pistoleiros geralmente usam automóveis em péssimo estado de conservação para cometerem crimes. Fogem em disparada ignorando curvas e obstáculos, e potencialmente podem sofrer um desastre de carro fatal, da mesma forma que pequenos aviões sem conservação sofrem também seus trágicos desastres aéreos.
Mas se um pistoleiro está na garupa de uma moto e atira em alguém, a fuga do veículo em altissima velocidade o faz vulnerável a uma queda no meio do caminho, com a moto em movimento, e, como se não bastasse o impacto doloroso da queda, o risco do pistoleiro morrer atropelado por um outro veículo em alta velocidade é altíssimo.
Os homicidas em geral não admitem tragédias. Cometem o ato de tirar a vida de outrem protegendo os interesses feridos de seus grupos ou sistemas de valores. Só que eles ignoram que não são deuses a definir o final da vida de outrem, e, dependendo dos casos, homicidas podem tanto serem "marcados para morrer" do que as vítimas que friamente eliminam.
Os pistoleiros de aluguel e capangas do jogo-do-bicho, por exemplo, não costumam ter uma grande expectativa de vida. Em sua maioria, morrem antes de completar 60 anos de idade, seja por conta de doenças, seja porque também são assassinados, no caso de disputas entre grupos criminosos rivais.
Os descuidos à saúde, o nervosismo das circunstâncias vividas, os conflitos e tensões de toda espécie e as revoltas vindas de outras pessoas abalam tanto a mente de um homicida que dificilmente ele, mesmo no esplendor da impunidade, possa ter uma vida muito longa, tranquila e saudável.
O moralismo "espírita", seguindo outros conceitos moralistas vigentes no país, é que trata o homicida como um "guardião ilícito" (ou seja, indesejável, mas aceitável) tanto de valores conservadores ou privilégios de poder diversos como, no caso do "espiritismo", de supostos reajustes morais ou os ditos "resgates espirituais" das vítimas, "culpabilizadas" pela moral "espírita", como no machismo, no coronelismo e na ditadura militar.
O próprio "espiritismo" prefere classificar o suicídio como "mais cruel" do que o homicídio e, com sua perspectiva penitenciária da vida material na Terra, prefere que os homicidas vivam longamente para "expiar" pelos seus erros, quando a prática mostra que a longevidade deixa a maioria dos homicidas viciados em suas paixões e vaidades pessoais e no desespero vão de salvar a reputação de suas condições meramente materiais.
Não é preciso pensar em pena-de-morte (prática deplorável e grotesca) nem em atentados ou na "justiça com as próprias mãos" para eliminar os homicidas. Eles, paradoxalmente, criam uma dupla tragédia: a tragédia "à vista" de suas vítimas e a tragédia "a prazo" contra eles mesmos.
Isso porque o homicídio, eliminando a vida da vítima, interrompe a realização de seus projetos de vida, de seus planos e, em muitos casos, de missões de transformação social. Em âmbito coletivo, o genocídio de povos judeus pelo nazismo abalou completamente as culturas de origem judia da Europa Central, conforme relatou o historiador Eric Hobsbawm.
Daí que o homicida atrai contra si todo tipo de pressão moral, que nem a impunidade o deixa imune. Pelo contrário, em muitos casos a impunidade torna-se perigosa, porque o homicida, dependendo do caso, pode também ser morto por um desconhecido, embora apenas o ritmo frenético da sociedade e de seus conflitos de valores já sejam muito fortes para o coração de um assassino.
Uma pessoa como Mark Chapman, o assassino de John Lennon, embora solicitasse várias vezes a liberdade condicional, deveria agradecer seus condenadores, porque a vida fora da cadeia, para ele, diante do fato que os Beatles têm muitos fãs exaltados, poderia representar a morte de Chapman, que teria levado de um beatlemaníaco mais desesperado outros dois tiros de revólver.
Um fato curioso é que Charles Manson, outro psicopata que deveria agradecer à prisão perpétua por ter chegado aos 80 anos de idade (fato quase impossível para um tipo como ele, de passado junkie), teve que encarar a consciência de sua tragédia depois que uma ex-namorada afirmou que se casaria com ele só para construir um mausoléu, assim que ele falecesse.
Até um feminicida conjugal pode ser morto por outro alguém, se caso esse estranho sentir um fascínio pela mulher morta pelo marido e, revoltado, decidir correr atrás dele e matá-lo. Na sociedade complexa de hoje, reações desse tipo podem existir, principalmente quando injustiças e impunidades acontecem, revoltando a sociedade ainda mais.
Tirar a vida do outro é um ato bastante arriscado, porque não se trata apenas de prejudicar alguém, mas de causar um prejuízo permanente e irreversível à vítima. Isso cria reações diversas e mesmo o organismo humano tem limites, e um homicida torna-se, na verdade, mais vulnerável a doenças e acidentes do que uma pessoa dotada de um caráter inofensivo.
Isso contraria muitas visões, independente de serem relacionadas a impunidade ou punibilidade de quem tira a vida dos outros, de que os homicidas "têm mais sorte" para lidar com doenças, imprudências no trânsito ou ameaças diversas.
A verdade é que eles sofrem com a reação da sociedade aos seus atos extremos, já que não raro a indignação contra eles é intensa e também violenta, pela irritabilidade que acontece em outras pessoas.
Daí o fato que os homicidas são um grupo de risco, e são eles mesmos que produzem a tragédia lenta que poderá ceifá-los antes da velhice plena. Matando os outros, eles se matam aos poucos, e a solução é, independente do tempo de vida que consigam alcançar, esperar começar uma nova encarnação respeitando a vida e a vontade do próximo.
Na sociedade desigual brasileira em que o poder reacionário e as atividades criminosas usam o homicídio para eliminar pessoas consideradas "incômodas", há a ilusão de que aqueles que tiram a vida de outrem tornam-se eternas e invulneráveis, mesmo contraindo para si debilidades e outros riscos.
Pode não ser uma relação direta, mas num país atrasado como o Brasil, os homicidas parecem viver na ilusão de que, ao tirar a vida dos outros, "fortalecem" suas vidas somando para si a (s) "vida (s)" que exterminaram.
É uma ilusão cujo sentido tanto pode ser encontrado no antigo canibalismo antropofágico das tribos indígenas, em que "devorar o outro" garantia a absorção, pelo devorador, das caraterísticas pessoais e da força existentes nas vítimas, quanto nas pontuações obtidas em jogos eletrônicos violentos, mas existente também nas premiações do mundo do crime.
Só que os homicidas não sabem que constituem num silencioso grupo de risco da sociedade atual, cuja vulnerabilidade, altíssima, é subestimada pela mídia, que dá a falsa impressão de que, mesmo sendo um ato socialmente condenável, assassinar alguém garante ao criminoso segurança por toda a vida.
Não é bem assim. Como diz o trecho final do sucesso de O Rappa, "Hey Joe", "também morre quem atira". Por uma curiosa coincidência, a música é uma versão da homônima composição de Billy Roberts, consagrada por Jimi Hendrix Experience, cuja letra é um recado para um feminicida conjugal em fuga.
Tirar a vida do outro é o mais extremo ato egoísta que um indivíduo pode fazer, e que, por incrível que pareça, faz seu criminoso altamente vulnerável. Isso se deve a inúmeros fatores, e pode-se destacar do ineditismo de certos atos homicidas até as pressões emocionais que o criminoso terá que suportar pelo resto da vida.
No primeiro caso, o ineditismo de tirar a vida de alguém, como ocorre em casos como o feminicídio conjugal, em que homens aparentemente inofensivos tiram a vida de suas mulheres diante de uma discussão de nada, cria uma tensão emocional que libera no organismo uma substância, a adrenalina, que em doses excessivas pode influir, mais tarde, em doenças cardíacas.
No segundo caso, as pressões emocionais, de todos os lados, criam no homicida, principalmente aquele que não está na cadeia e se expõe a uma sociedade complexa na qual se insere na sua vida livre, um conflito de sensações e sentimentos que também abala seriamente a consciência e o organismo.
Em muitos casos, a má alimentação, o uso de drogas ilícitas, fumo e álcool, a ingestão excessiva de remédios e mesmo o nervosismo ao dirigir automóveis e motos pode representar um perigo para o homicida, que constantemente é pressionado pela revolta social que o atinge diretamente, em especial na sua impunidade.
O ódio extremo e a repercussão de um ato com efeitos irreversíveis cria um mal-estar emocional que abala os organismos dos homicidas, os fazem envelhecer rapidamente e sua vulnerabilidade é agravada pelo fato de que eles não costumam ligar para as graves doenças que, com o tempo, acabam contraindo, como o câncer e o infarto.
Grupos de pistoleiros geralmente usam automóveis em péssimo estado de conservação para cometerem crimes. Fogem em disparada ignorando curvas e obstáculos, e potencialmente podem sofrer um desastre de carro fatal, da mesma forma que pequenos aviões sem conservação sofrem também seus trágicos desastres aéreos.
Mas se um pistoleiro está na garupa de uma moto e atira em alguém, a fuga do veículo em altissima velocidade o faz vulnerável a uma queda no meio do caminho, com a moto em movimento, e, como se não bastasse o impacto doloroso da queda, o risco do pistoleiro morrer atropelado por um outro veículo em alta velocidade é altíssimo.
Os homicidas em geral não admitem tragédias. Cometem o ato de tirar a vida de outrem protegendo os interesses feridos de seus grupos ou sistemas de valores. Só que eles ignoram que não são deuses a definir o final da vida de outrem, e, dependendo dos casos, homicidas podem tanto serem "marcados para morrer" do que as vítimas que friamente eliminam.
Os pistoleiros de aluguel e capangas do jogo-do-bicho, por exemplo, não costumam ter uma grande expectativa de vida. Em sua maioria, morrem antes de completar 60 anos de idade, seja por conta de doenças, seja porque também são assassinados, no caso de disputas entre grupos criminosos rivais.
Os descuidos à saúde, o nervosismo das circunstâncias vividas, os conflitos e tensões de toda espécie e as revoltas vindas de outras pessoas abalam tanto a mente de um homicida que dificilmente ele, mesmo no esplendor da impunidade, possa ter uma vida muito longa, tranquila e saudável.
O moralismo "espírita", seguindo outros conceitos moralistas vigentes no país, é que trata o homicida como um "guardião ilícito" (ou seja, indesejável, mas aceitável) tanto de valores conservadores ou privilégios de poder diversos como, no caso do "espiritismo", de supostos reajustes morais ou os ditos "resgates espirituais" das vítimas, "culpabilizadas" pela moral "espírita", como no machismo, no coronelismo e na ditadura militar.
O próprio "espiritismo" prefere classificar o suicídio como "mais cruel" do que o homicídio e, com sua perspectiva penitenciária da vida material na Terra, prefere que os homicidas vivam longamente para "expiar" pelos seus erros, quando a prática mostra que a longevidade deixa a maioria dos homicidas viciados em suas paixões e vaidades pessoais e no desespero vão de salvar a reputação de suas condições meramente materiais.
Não é preciso pensar em pena-de-morte (prática deplorável e grotesca) nem em atentados ou na "justiça com as próprias mãos" para eliminar os homicidas. Eles, paradoxalmente, criam uma dupla tragédia: a tragédia "à vista" de suas vítimas e a tragédia "a prazo" contra eles mesmos.
Isso porque o homicídio, eliminando a vida da vítima, interrompe a realização de seus projetos de vida, de seus planos e, em muitos casos, de missões de transformação social. Em âmbito coletivo, o genocídio de povos judeus pelo nazismo abalou completamente as culturas de origem judia da Europa Central, conforme relatou o historiador Eric Hobsbawm.
Daí que o homicida atrai contra si todo tipo de pressão moral, que nem a impunidade o deixa imune. Pelo contrário, em muitos casos a impunidade torna-se perigosa, porque o homicida, dependendo do caso, pode também ser morto por um desconhecido, embora apenas o ritmo frenético da sociedade e de seus conflitos de valores já sejam muito fortes para o coração de um assassino.
Uma pessoa como Mark Chapman, o assassino de John Lennon, embora solicitasse várias vezes a liberdade condicional, deveria agradecer seus condenadores, porque a vida fora da cadeia, para ele, diante do fato que os Beatles têm muitos fãs exaltados, poderia representar a morte de Chapman, que teria levado de um beatlemaníaco mais desesperado outros dois tiros de revólver.
Um fato curioso é que Charles Manson, outro psicopata que deveria agradecer à prisão perpétua por ter chegado aos 80 anos de idade (fato quase impossível para um tipo como ele, de passado junkie), teve que encarar a consciência de sua tragédia depois que uma ex-namorada afirmou que se casaria com ele só para construir um mausoléu, assim que ele falecesse.
Até um feminicida conjugal pode ser morto por outro alguém, se caso esse estranho sentir um fascínio pela mulher morta pelo marido e, revoltado, decidir correr atrás dele e matá-lo. Na sociedade complexa de hoje, reações desse tipo podem existir, principalmente quando injustiças e impunidades acontecem, revoltando a sociedade ainda mais.
Tirar a vida do outro é um ato bastante arriscado, porque não se trata apenas de prejudicar alguém, mas de causar um prejuízo permanente e irreversível à vítima. Isso cria reações diversas e mesmo o organismo humano tem limites, e um homicida torna-se, na verdade, mais vulnerável a doenças e acidentes do que uma pessoa dotada de um caráter inofensivo.
Isso contraria muitas visões, independente de serem relacionadas a impunidade ou punibilidade de quem tira a vida dos outros, de que os homicidas "têm mais sorte" para lidar com doenças, imprudências no trânsito ou ameaças diversas.
A verdade é que eles sofrem com a reação da sociedade aos seus atos extremos, já que não raro a indignação contra eles é intensa e também violenta, pela irritabilidade que acontece em outras pessoas.
Daí o fato que os homicidas são um grupo de risco, e são eles mesmos que produzem a tragédia lenta que poderá ceifá-los antes da velhice plena. Matando os outros, eles se matam aos poucos, e a solução é, independente do tempo de vida que consigam alcançar, esperar começar uma nova encarnação respeitando a vida e a vontade do próximo.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
O reacionarismo e ultraconservadorismo nas mídias sociais
NÃO SE ILUDA - Em comunidades como essas, reacionários podem fingir que "são contra" o reacionarismo.
O Brasil tende a se tornar um país ultraconservador. Depois de uma relativa e frágil euforia ao relativo progressismo da Era Lula, que envolvia até mesmo reacionários enrustidos que se fingiam de esquerdistas para agradar amigos ou impressionar qualquer pessoa, o reacionarismo explícito volta à moda nas chamadas redes sociais da Internet.
A "patrulha do estabelecido" age desde que a Internet ensaiou um esboço de popularização, em 2001. Eles defendem desde instituições políticas e midiáticas até valores trazidos pelo entretenimento dominante, sem falar que valores antissociais, como o racismo, chegam a ser defendidos por uma "panela" (grupo pequeno e específico) de internautas.
A completa ignorância da realidade e o desprezo aos questionamentos é um costume dessas pessoas, e, no caso dos racistas, é até chocante que eles ignorem que possam ser presos por formação de quadrilha e racismo, podendo serem presos em regime fechado.
Mas, neste caso, talvez para pessoas assim, insensíveis e fora da realidade, isso não lhes faça a menor diferença, desde que a vida nas prisões lhes permita usar o telefone celular e divulgar seus pontos de vista retrógrados nas páginas e na chamada "linha do tempo" do Facebook ou nas curtas frases do Twitter.
A onda de reacionarismo e ultraconservadorismo nas mídias sociais, em que, até mesmo no âmbito do Entretenimento, Comunicação ou mesmo Transportes, surjam "patrulhas" do "estabelecido", geralmente defendendo visões vindas "de cima", lançadas por autoridades, tecnocratas, celebridades e jornalistas dotados de grande visibilidade e poder.
Num país em que mentira é como terra, como diz o jargão gaúcho, existe de montão, as pessoas justificam seus egoísmos com alegações de pretenso altruísmo. Tenta-se justificar o pior com as melhores palavras, com os melhores argumentos. Cada um julga a "verdade" conforme seus umbigos.
As manifestações de rancor nas mídias sociais, algumas expressando intolerância social, outras defendendo corporações e valores estabelecidos, preocupa bastante e já existem declarações vingativas, odiosas, jocosas e humilhantes em diversos sentidos.
É verdade que essas reações também têm seu grau de imprudência. O violento humilhador de hoje pode ser a "vidraça" de amanhã, e quantas vezes, num mesmo grupo que provoca uma campanha depreciatória contra um internauta que discorda do "estabelecido", um dos membros torna-se inimigo do líder só porque lhe roubou a namorada ou o mais exaltado encrenqueiro é baleado por alguém que nunca viu na vida, por conta de "certos exageros"?
Evidentemente, os impulsos que a liberdade de expressão permite na Internet faz com que, paradoxalmente, pessoas com intenções antidemocráticas reajam de toda forma, O internauta reacionário, em primeira instância, torna-se ameaçador, mas ele mesmo também recebe respostas violentas e, no fim, acaba sempre contraindo alguma encrenca contra si.
Mas, independente do desfecho que o reacionário de plantão possa ter na Internet - ainda que ele esteja pouco preocupado com seu próprio prejuízo, acreditando sempre que "pode se virar em qualquer enrascada" - , é preocupante que existam manifestações desse tipo, que são efeito do medo de uma parcela da sociedade perder o conforto da "normalidade forçada" de 20 anos atrás.
Por isso notam-se os manifestos esnobes, rancorosos, vingativos e ameaçadores. Em muitos casos, os internautas reacionários ou ultraconservadores não têm medo de esconder suas identidades e, isolados no mundo virtual das mídias sociais, nos quais eles têm em mãos, na maioria das vezes, um mero telefone celular dotado de múltiplas funções, esquecem ou ignoram o risco que sofrem.
O Brasil até passa por profundas transformações. Mas elas não acontecem da maneira que os "espíritas" imaginam, até porque os fatos mostram que eles estão em desvantagem, vendo suas perspectivas criadas sob o prisma do moralismo religioso serem desmentidas pela realidade.
Da mesma forma, essas transformações deixam muitos internautas inseguros, abordagens realistas vão de encontro com suas fantasias, que esses internautas dotados de conservadorismo extremo acreditam ser "a sua realidade", mesmo que ela venha de visões utópicas de escritórios empresariais, gabinetes políticos ou departamentos de marketing de algum veículo de Comunicação.
O problema é como analisar essas transformações. O conservadorismo extremo só age em prol de seus interesses de algumas elites que se acham detentoras da verdade, e, na sua plena ignorância, acham que podem julgar a sociedade e a vida cotidiana conforme suas convicções pessoais não raro injustas, preconceituosas ou elitistas.
Fica difícil lidar com um país assim, mas o certo é que, se é recomendada a cautela dos mais coerentes, deve-se também levar em conta a vulnerabilidade dos encrenqueiros, já que, em muitos casos, a chamada "lei do retorno" não marca hora nem dia para chegar. É como diz o ditado, "cabeça quente, pé frio".
O Brasil tende a se tornar um país ultraconservador. Depois de uma relativa e frágil euforia ao relativo progressismo da Era Lula, que envolvia até mesmo reacionários enrustidos que se fingiam de esquerdistas para agradar amigos ou impressionar qualquer pessoa, o reacionarismo explícito volta à moda nas chamadas redes sociais da Internet.
A "patrulha do estabelecido" age desde que a Internet ensaiou um esboço de popularização, em 2001. Eles defendem desde instituições políticas e midiáticas até valores trazidos pelo entretenimento dominante, sem falar que valores antissociais, como o racismo, chegam a ser defendidos por uma "panela" (grupo pequeno e específico) de internautas.
A completa ignorância da realidade e o desprezo aos questionamentos é um costume dessas pessoas, e, no caso dos racistas, é até chocante que eles ignorem que possam ser presos por formação de quadrilha e racismo, podendo serem presos em regime fechado.
Mas, neste caso, talvez para pessoas assim, insensíveis e fora da realidade, isso não lhes faça a menor diferença, desde que a vida nas prisões lhes permita usar o telefone celular e divulgar seus pontos de vista retrógrados nas páginas e na chamada "linha do tempo" do Facebook ou nas curtas frases do Twitter.
A onda de reacionarismo e ultraconservadorismo nas mídias sociais, em que, até mesmo no âmbito do Entretenimento, Comunicação ou mesmo Transportes, surjam "patrulhas" do "estabelecido", geralmente defendendo visões vindas "de cima", lançadas por autoridades, tecnocratas, celebridades e jornalistas dotados de grande visibilidade e poder.
Num país em que mentira é como terra, como diz o jargão gaúcho, existe de montão, as pessoas justificam seus egoísmos com alegações de pretenso altruísmo. Tenta-se justificar o pior com as melhores palavras, com os melhores argumentos. Cada um julga a "verdade" conforme seus umbigos.
As manifestações de rancor nas mídias sociais, algumas expressando intolerância social, outras defendendo corporações e valores estabelecidos, preocupa bastante e já existem declarações vingativas, odiosas, jocosas e humilhantes em diversos sentidos.
É verdade que essas reações também têm seu grau de imprudência. O violento humilhador de hoje pode ser a "vidraça" de amanhã, e quantas vezes, num mesmo grupo que provoca uma campanha depreciatória contra um internauta que discorda do "estabelecido", um dos membros torna-se inimigo do líder só porque lhe roubou a namorada ou o mais exaltado encrenqueiro é baleado por alguém que nunca viu na vida, por conta de "certos exageros"?
Evidentemente, os impulsos que a liberdade de expressão permite na Internet faz com que, paradoxalmente, pessoas com intenções antidemocráticas reajam de toda forma, O internauta reacionário, em primeira instância, torna-se ameaçador, mas ele mesmo também recebe respostas violentas e, no fim, acaba sempre contraindo alguma encrenca contra si.
Mas, independente do desfecho que o reacionário de plantão possa ter na Internet - ainda que ele esteja pouco preocupado com seu próprio prejuízo, acreditando sempre que "pode se virar em qualquer enrascada" - , é preocupante que existam manifestações desse tipo, que são efeito do medo de uma parcela da sociedade perder o conforto da "normalidade forçada" de 20 anos atrás.
Por isso notam-se os manifestos esnobes, rancorosos, vingativos e ameaçadores. Em muitos casos, os internautas reacionários ou ultraconservadores não têm medo de esconder suas identidades e, isolados no mundo virtual das mídias sociais, nos quais eles têm em mãos, na maioria das vezes, um mero telefone celular dotado de múltiplas funções, esquecem ou ignoram o risco que sofrem.
O Brasil até passa por profundas transformações. Mas elas não acontecem da maneira que os "espíritas" imaginam, até porque os fatos mostram que eles estão em desvantagem, vendo suas perspectivas criadas sob o prisma do moralismo religioso serem desmentidas pela realidade.
Da mesma forma, essas transformações deixam muitos internautas inseguros, abordagens realistas vão de encontro com suas fantasias, que esses internautas dotados de conservadorismo extremo acreditam ser "a sua realidade", mesmo que ela venha de visões utópicas de escritórios empresariais, gabinetes políticos ou departamentos de marketing de algum veículo de Comunicação.
O problema é como analisar essas transformações. O conservadorismo extremo só age em prol de seus interesses de algumas elites que se acham detentoras da verdade, e, na sua plena ignorância, acham que podem julgar a sociedade e a vida cotidiana conforme suas convicções pessoais não raro injustas, preconceituosas ou elitistas.
Fica difícil lidar com um país assim, mas o certo é que, se é recomendada a cautela dos mais coerentes, deve-se também levar em conta a vulnerabilidade dos encrenqueiros, já que, em muitos casos, a chamada "lei do retorno" não marca hora nem dia para chegar. É como diz o ditado, "cabeça quente, pé frio".
domingo, 24 de maio de 2015
O absurdo mercado de trabalho do "Coração do Mundo"
É verdade que o mercado de trabalho é injusto em qualquer lugar, seja em Bangladesh ou na Grã-Bretanha, ainda que em países como Suíça e nas nações escandinavas hajam medidas para assegurar emprego para pessoas que não são dotadas de status quo e por isso sofrem dificuldades.
O Brasil, que o "espiritismo" jura estar destinado à promoção como "nação redentora", como o pretenso "Coração do Mundo" a comandar a humanidade futura, o mercado não só segue a cartilha dos países capitalistas, mesmo os considerados bastante desenvolvidos, como é vítima de uma série de frescuras e preconceitos locais.
Afinal, se aberrações no mercado de trabalho são capazes de existir até na Grã-Bretanha e na França, no Brasil elas encontram seu ponto máximo, dentro de um sistema de valores corrompido movido pelos jogos de interesses diversos e pelo jogo da retórica, que, com seu malabarismo discursivo, sempre justifica as piores decisões com as melhores palavras.
É bastante famoso que o mercado de trabalho brasileiro, salvo honrosas exceções, estabelece um padrão esquizofrênico de profissional que querem admitir, que combinasse submissão e independência, convencionalismo com criatividade, juventude com experiência.
Isso é um afunilamento absurdo, e cria um superprofissional do reino da fantasia. Um candidato que seja ao mesmo tempo muito jovem e bastante experiente. Imagine uma empresa que decide exigir que um candidato tenha, no máximo, 22 anos de idade, e tenha cinco anos de experiência? Ele terá que trabalhar aos 17 anos?
Ou então o caso do profissional que seja ao mesmo tempo obediente às convenções sociais e que seja também dinâmico e criativo? Uma equação possível, mas difícil de ser feita, criando no profissional um habilidoso jogo de cintura que combine autonomia e submissão com a surreal habilidade dos super-heróis de ficção.
Evidentemente, muitas empresas boicotam pessoas realmente criativas que mandam seus currículos constantemente. Acabam contratando as pessoas erradas. Contratam pessoas capazes de contar boas piadas e torcer por um time de futebol, não necessariamente o mesmo que o respectivo patrão, mas profissionalmente não fazem mais do que cumprir o receituário determinado pela empresa.
Há muitos profissionais canastrões que são verdadeiros animadores de ambientes de trabalho. Gente que já chega ao recinto com uma piada pronta, que anima os colegas logo de cara, mas que, profissionalmente, é apenas um cumpridor de deveres mediano, que pode não cometer graves erros, mas também não faz diferencial algum no mercado de trabalho.
Enquanto isso, chefes de recursos humanos das empresas rasgam currículos de candidatos que poderiam salvar uma empresa da falência, simplesmente porque viu na foto 3X4 que um aspirante não tem o rosto padrão do ator Bradley Cooper e já passou dos 40 anos de idade.
E OS CONCURSOS PÚBLICOS?
O aspecto de exigências nos concursos públicos, então, revelam o quanto não apenas os patrões da iniciativa privada vivem no mundo da fantasia e querem contratar super-heróis para suas empresas, talvez esperando que o candidato ideal venha de algum planeta equivalente a Kripton.
No serviço público, e mesmo nas organizadoras de concursos públicos, existe também as exigências absurdas, sobretudo visando a ilusão moralista de classificar o melhor conhecedor naquele que sobrecarrega os estudos pela quantidade de matérias, sem que levasse em conta sua capacidade de rendimento no aprendizado.
São muitos os concursos que, sem a mínima necessidade, exigem Matemática e Raciocínio Lógico nos seus programas. Pode ser cargo para Jornalista ou para cuidar do patrimônio histórico que as exigências matemáticas são garantidas pelo argumento moralista de que "é preciso estudar mais".
Só que sabemos que estudar mais não garante um melhor saber. Sobretudo quando pessoas têm que estudar, num prazo médio de três meses, para fingir ser um especialista naquilo que, naturalmente, não sabe. É um aprendizado à força do qual pouca coisa se aplica na função profissional, e também causa muita confusão nas questões de provas pela falta de intimidade com o assunto.
Isso se deve porque o saber forçado não se prepara para as sutilezas das questões. É difícil saber tudo em três meses, e as exigências vão além das habilidades exigidas. O programa sobrecarregado dos concursos públicos exige demais das funções, procura um super-servidor, provavelmente igualzinho ao do super-herói de Kripton, que sabe demais do desnecessário e pouco do que é necessário.
Daí os concursos que se referem a Assistente Administrativo de nível médio, cujo programa de estudo tem muito mais a ver com candidatos que são bacharéis em Direito. Ou programas para cargos de Jornalismo e Ciências Sociais que parecem dignos de Mestrandos em Matemática e exigem Informática como se os cargos fossem para Analista de Sistemas.
Imagine se uma instituição como o IPHAN vai contratar alguém desse nível. Vai acabar tendo, como servidor, alguém que conheça muito bem equações matemáticas complexas, que saiba fazer o jogo lógico de saber se A, sendo B, não é C, mas se C, não sendo A nem D e E, é F, e seja incapaz de entender o que é um inventário de um movimento cultural regional.
O mercado de trabalho, tanto no serviço público quanto na iniciativa privada, tanto nos departamentos de recursos humanos quanto nas organizadoras de concursos públicos, não entendem os talentos pessoais e as individualidades das pessoas.
Elas acabam criando dificuldades para contratar os profissionais que realmente esperam, e que estão longe de serem os super-homens que suas exigências malucas pedem. Se observarem as pessoas pelo talento real e não pelas aparências e conveniências sociais, independente do candidato ter ou não mais idade ou experiência, o mercado de trabalho poderá ser mais justo.
Tornando as exigências ao mesmo tempo mais flexíveis e realistas, as instituições poderão contratar pessoas que, embora pareçam pouco atraentes para o mercado à primeira vista, tenham maiores condições de realizar trabalhos excelentes e doar todo o seu talento e competência para exercer seus cargos de maneira surpreendentemente brilhante.
É isso que falta ao Brasil tomado de vícios moralistas e de um engenhoso jogo de aparências que nada contribuiu para seu verdadeiro progresso humano, com a viciada manutenção de jogo de interesses, conveniências sociais e zonas de conforto com fórmulas que não parecem mais bem-sucedidas como antes.
sábado, 23 de maio de 2015
"Espiritismo",vida adulta e a imaturidade moralista
O "espiritismo" brasileiro supervaloriza a instituição Família e prega a hierarquização familiar como se as posições sociais de pais e de filhos fosse algo fixo, pétreo, e que atravessa encarnações sem que as alterações sociais - os pais de hoje podem ser tio e madrinha amanhã - mudassem necessariamente as relações hierárquicas.
Existe até mesmo uma pregação moralista, na qual os filhos desobedientes serão "castigados", na próxima encarnação, sendo pais de filhos problemáticos. "Seja um bom menino hoje, obedeça o máximo que puder e até não puder, senão vai ser pai de um drogado que vai lhe furtar todos os seus pertences", é uma ameaça possível dentro dos meios "espíritas".
O "espiritismo" glamouriza o sofrimento e, juntando a isso com todo o seu desperdício de falar demais de Família e esquecer as relações com a vida espiritual - que, pasmem, não é uma especialidade confiável de nossos "espíritas" - , torna-se uma seita que ideologicamente, é muito cruel para as gerações mais jovens.
Daí, por exemplo, a espetacularização das mortes precoces, a transformação da imagem dos jovens mortos num exotismo quase sensual. Ou então a pregação de que os jovens têm que sofrer, sofrer e sofrer, até que, quando chegar o momento de terem alguma autonomia na vida, não têm mais a energia física para se divertirem e usarem a sua imaginação.
E quanto aos pais? Será que eles são realmente os portadores de presumida sabedoria, maturidade e sensatez inabalável que o "espiritismo" brasileiro, ao supervalorizar as hierarquias sociais que no fundo são restritas a aspectos bio-sociológicos da vida terrena, tanto supõe terem?
Não necessariamente. E, no caso dos pais que seguem o "espiritismo" brasileiro, a coisa se complica, porque a doutrina é uma espécie de contos de fadas para gente grande. Ela faz com que os pais acreditem em fantasias e cobrem dos filhos mais do que estes podem suportar e aguentar.
A REALIDADE DOS FILHOS
Os filhos não são uma mistura de super-heróis com animais domésticos que os pais tanto acreditam que seus descendentes diretos tenham. Filhos não vivem só num mundo de brinquedo e diversão e também nem sempre são dotados de opiniões e desejos mal formulados.
Os pais acham até que seus filhos possuem "sangue de barata" e não sofrem tristezas. Acham que, só por eles terem um lar e receberem dos pais todo o conforto do lar, os filhos não podem se entristecer ou sentir frustrações.
Os jovens rapazes se frustram porque não podem ter namoradas com a personalidade de uma Natalie Portman, enquanto atraem para si o assédio de moças de personalidade submissa, referenciais culturais lamentáveis e falta de percepção discernitiva do mundo afora. Mas os pais não entendem isso e são capazes de arrumar justamente essas moças para se casarem com os meninos.
O mercado de trabalho, com suas pressões intensas, que boicota pessoas diferenciadas porque aposta num perfil esquizofrênico de um profissional que junte mediocridade e criatividade profissional, juventude e experiência, e por isso é incapaz de aceitar pessoas que ultrapassem qualquer um desses limites.
Mas os pais não entendem isso e empurram os filhos a qualquer cilada. Em Salvador, há casos de pais de formandos em Jornalismo que os recomendam a trabalhar na Rádio Metrópole, e esnobam a recusa dos filhos como se fossem "frescuras ideológicas". "Você não tem que ter ideologia, tem que pensar é no trabalho e na renda", vocifera o pai, achando que está sendo realista com sua opinião.
Não está. Sabemos que a Rádio Metrópole, do traiçoeiro empresário e dublê de radiojornalista Mário Kertèsz - querido pelos "espíritas" por ter José Medrado como contratado - , se originou de um grave esquema de corrupção montado por ele e um comparsa depois envolvido com o "mensalão" de Marcos Valério.
Esse esquema envolveu duas empresas "fantasmas" que desviaram verbas públicas federais que seriam destinadas a obras urgentes de urbanização da capital baiana. As obras ficaram anos paralisadas e Kertèsz criou um patrimônio pessoal que o permitiu comprar ações em veículos midiáticos diversos.
Visando ser um poderoso barão da mídia local, ele chegou a ser sócio de uma emissora de rádio AM, duas de FM, uma retransmissora de rede de TV e ainda foi nomeado interventor do Jornal da Bahia, antigo periódico esquerdista, que Kertèsz fez questão de desmontar sua linha editorial e reduzir o periódico a um ridículo tabloide sensacionalista, sob a desculpa de "sanear as dívidas financeiras".
A memória curta até tentou inocentar Mário Kertèsz pelo fim do Jornal da Bahia, e mesmo os dois fundadores, João Falcão e Joca Teixeira Gomes, omitiram sua contribuição negativa temendo perder a visibilidade garantida pela Rádio Metrópole, supostamente aberta aos mais diversos segmentos da sociedade.
Mas, descrevendo isso, os pais não querem saber. Se, infelizmente, até se Fernandinho Beira-Mar fosse dono de FM e lançasse um programa sobre cuidados médicos, as melhores famílias iriam lhes dar ouvidos. Reclamar de aspectos sombrios virou "queixa ideológica" e os filhos que se recusam a compactuar com isso "perdem tempo com frescuras" que os impedem de "vencer na vida".
Os pais dificilmente entendem os direitos e desejos dos filhos. Sua prioridade é que os filhos obedeçam sempre, que se subjuguem a tudo apenas usando a esperteza e o bom humor - qualidades que, juntas, formam o paradigma do chamado "jogo de cintura" - para se darem bem na vida, aguentando qualquer mancada.
Para o moralismo "espírita", então, os jovens só podem aproveitar todo o seu tempo para se submeterem às imposições da vida, sofrerem todo tipo de pressão, perdendo uma boa oportunidade de aproveitar suas energias físicas para realizar seus desejos e potenciais, e contribuir para a transformação das vidas suas e as dos outros em sua volta.
A juventude, para tal ideologia, é apenas uma fase de cumprimento de obrigações. Só que, na medida em que o tempo passa e a meia-idade chega, por volta dos 45 anos de idade, as pessoas perdem a capacidade de se divertirem e até de saberem o que realmente querem na vida. Tornam-se pais e, vendo seus filhos jovens, esquecem os mais adultos que eles também foram filhos um dia.
Por isso, a vida adulta acaba se tornando imatura. A maior parte dos erros graves cometidos pelas pessoas é feita entre os 25 e 70 anos de idade, coisas que, dependendo do caso, são de um preocupante nível deplorável ou de uma aberrante tolice inconsequente.
Até a maioria esmagadora dos casais se unem sem que seus cônjuges realmente queiram estar juntos ou não. Mas, diante de valores sociais doentios da atualidade, o que se nota em muitos casais "modernos" é a solidão a dois e o fato de que as mulheres querem justamente ter mais tempo para ficarem sozinhas.
Nestes casos, a figura do marido, além de reduzida a de um protetor e provedor financeiro, dotado de alguma posição de poder, é também consolidada como uma figura simbólica a intimidar os pretendentes de assediar ou desejar fortemente namorarem a atraente esposa.
A vida adulta corrompe os desejos, vontades, e mesmo a compreensão discernitiva da sociedade. A rotina "pragmática", com seus vícios e frescuras, faz os adultos se tornarem mais inconsequentes do que os mais jovens. É certo que, na sociedade em que vivemos, mais menores de idade se envolvem em crimes. Mas isso é também fruto de toda a pressão imposta pela sociedade adulta.
A busca do dinheiro, a ascensão social e outros valores restritivos - até mesmo as "admiráveis" regras de etiqueta são um meio de discriminação social - fazem da vida adulta, simbolizada por pais de família tidos como "responsáveis" e "sábios", seja um antro de preconceitos, equívocos, desatenções, ilusões, fantasias, paranoias, desinteresses, preguiças, frescuras e tudo o mais de ruim.
A imaturidade moralista do "mundo" em que os pais vivem, portanto, se revela crua e preocupante já que até pessoas com mais de 55 anos com notável instrução e refinamento social são capazes de cometer crimes. Mas mesmo os que não cometem são apegados a pontos de vista e abordagens sociais antiquadas e ultrapassadas que a vaidade hierárquica imagina serem "acima dos tempos".
O "espiritismo" então piora as coisas, com suas fantasias e seu repertório moralista. Que realismo essa doutrina pode sugerir se, por exemplo, não é permitida uma biografia imparcial de Adolfo Bezerra de Menezes, que como seus contemporâneos Machado de Assis, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, tinha não só aspectos positivos mas também debilidades e falhas de conduta?
Talvez os pais pudessem entender as limitações dos filhos e a complexidade da sociedade em que se vive. Obedecer a tudo não é solução para todos os problemas, da mesma forma que combinar submissão e esperteza, que é o tal "jogo de cintura", forçando os filhos a, no âmago da tristeza, lideram com os outros como se tivessem sempre uma piada pronta para contar.
A vida é complexa e o "mundo adulto" é culpado por muitos erros e debilidades de sua natureza. Um "mundo adulto" da corrupção dos desejos, da castração de vontades, da imprudência quanto aos impulsos da raiva, da criação de preconceitos, das desconfianças, da tentação da desonestidade, da mentira e da cupidez, dos malabarismos discursivos diversos para justificar o pior com boas palavras.
O "mundo adulto" é culpado até mesmo pela criminalidade cometida pelos menores de idade, o que faz com que se torne duvidoso pedir a redução da maioridade penal, já que, por mais que os menores tenham mais consciência do crime que cometem, eles o fazem tomando como modelo o "mundo adulto" em que vivem.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
"Espiritismo", sociedade e o desprezo à diversidade e a individualidade
PADRONIZAÇÕES, CLONES, SEGREGAÇÕES - O sistema de transporte coletivo no Brasil é apenas um exemplo do desprezo à individualidade e à diversidade.
Que país pode ser democrático sem respeitar a diversidade e a individualidade? O Brasil que o "espiritismo" local supõe estar destinado a ser o "Coração do Mundo", a ponto de haver até suposta profecia anunciando a destruição do Hemisfério Norte, está muito longe de representar alguma prosperidade nesse sentido.
Nos últimos anos, o Brasil está cada vez mais exterminando a diversidade em vários aspectos. Da diversidade biológica, afetada pela destruição ambiental, à diversidade econômica, afetada pela desnacionalização do setor, pelas vendas de empresas nacionais para corporações estrangeiras, o país torna-se cada vez menos igual, porque torna-se menos diverso.
Culturalmente, o que se observa é a descontinuidade de um riquíssimo patrimônio sócio-cultural em prol de expressões que só servem ao espetáculo do comercialismo e do consumismo, sem a transmissão de conhecimento e valores edificantes para a sociedade e padronizados conforme fórmulas consideradas bem-sucedidas pelo show business.
O Brasil ainda não largou o "espírito do tempo e do lugar", que os estudiosos denominam pelo termo alemão zeitgeist, originário da Era Geisel (1974-1979), correspondente ao período em que se permitia uma democracia "pragmática", voltada apenas ao atendimento do "básico do básico", e isso após 30 anos de redemocratização.
O país enfrenta inúmeros retrocessos de ordem social, cultural, econômica, política etc. Isso reflete até mesmo na qualidade da maioria dos internautas que domina as mídias sociais, tomadas de um provincianismo atroz, que, em certos casos, cria indivíduos reacionários capazes de "zoar" com quem não concorda com sua miopia sobre algum fato, fenômeno ou decisão adotada.
De repente, veio uma onda de padronização, uniformização, mesmice. As pessoas deixaram de se mobilizar e hoje "patinam" com os dedos nas mãos no smartphone, só para ver o que seus amiguinhos postaram nas mídias sociais. De preferência, algo inofensivo, alegre, porque questionar o mundo de repente virou atitude antissocial. E isso com a democracia em que vivemos, pasmem.
O sistema neoliberal que cria um modelo de inclusão "excludente", apostando numa pseudo-cultura popularesca que deixe o povo pobre infantilizado e abobalhado, de forma que seja incapaz de participar do processo sócio-político e reivindicar qualidade de vida, distraído que está no consumismo patético daquele "artista da periferia" lançado pelas rádios FM "populares".
Aliás, no rádio vemos esse fim da diversidade. As emissoras AM estão se extinguindo aos poucos, enquanto o antes diferenciado dial FM foi invadido, nos últimos 25 anos, por clones de AM que fingem que têm grande audiência e disfarçam o baixo Ibope comprando sintonias em estabelecimentos comerciais ou em categorias profissionais como taxistas e porteiros de prédios.
Entre as FMs que são FMs mesmo, não "AMs transmitidas em FM", a diversidade acaba quando sabemos que rádios de música brega-popularesca, de pop dançante e, pasmem, até de rock - com toda a euforia de jornalistas que fingem que estas rádios são "bastante diferenciadas" - adotam rigorosamente o mesmo estilo de locução, vinhetas e grade de programação.
Nos ônibus, nota-se a prevalência de um modelo decadente em que se adotam uniformemente, e com o mesmo autoritarismo, medidas anti-populares como pintura padronizada em diferentes empresas de ônibus, dupla função do motorista-cobrador, redução de ônibus em circulação etc, que deixam passageiros confusos, motoristas estressados, ônibus superlotados e gente esperando mais tempo por um ônibus nos pontos de embarque.
Tudo isso, pasmem, é imposto de "forma responsável" e "em total respeito à democracia e ao interesse público". E Jaime Lerner, o mentor de todo esse padrão, herdeiro de uma mentalidade padronizadora vinda da ditadura militar, sendo o símbolo de uma "personalidade progressista" que ele nunca foi, mas tornou-se um mito trabalhado até em seminários sobre Tecnologia e Cidadania.
A pintura padronizada nos ônibus já mostra o quanto a diversidade é desrespeitada no país. Empresas de ônibus são proibidas de apresentar sua própria identidade visual, adotando a pintura padrão da prefeitura ou do órgão intermunicipal, confundindo os passageiros, que já não foram consultados com essa arbitrariedade que serve de véu para a corrupção político-empresarial no setor.
Da mesma forma, a pintura padronizada sugere a imagem do concedente, o poder estatal, que em vez de fiscalizar e disciplinar o transporte, exerce poder autoritário, impondo a sua imagem nas frotas de ônibus diversas, sob a desculpa de adotar pintura por "consórcio", "trajeto", "área de bairros", "tipo de ônibus" etc.
Esta medida vai contra o interesse público, um ponto a menos para a diversidade há muito abalada em nosso país. A pintura padronizada contraria princípios da livre iniciativa empresarial, vai contra a Lei de Licitações, o Código Brasileiro do Consumidor e, se analisarmos bem, representa uma violação até mesmo à Constituição Federal.
Mas, dependendo do demagógico malabarismo discursivo da autoridade correspondente - capaz de prejudicar multidões com crueldade e ainda assim jurar que está agindo "em benefício à população e respeito absoluto ao interesse público" - , pode-se rasgar a Constituição Federal e ainda assim afirmar "com toda convicção" que está "agindo em completo rigor da Lei".
Imagine se as autoridades fizessem com as pessoas o mesmo que fizeram com os ônibus. Todo mundo andará com um mesmo uniforme? As casas teriam que ser pintadas com um mesmo padrão de cores para cada área de bairros? Ou será que se agirá como no antigo apartheid da África do Sul, de triste lembrança, em que a padronização visual de pessoas obrigava a separar zonas de bairros e cidades para cada tipo de etnias?
E o que isso vai afetar no Brasil que teoricamente é marcado pela diversidade de seus povos, de sua cultura? Tudo isso afeta negativamente, na medida em que, no aspecto da Cultura, dos Transportes, da Política, da Economia, da Educação, o que há é um país em que uns poucos querem que muitos sejam "iguais" a eles ou ao que interessa a eles. O país fica desigual sendo "igual" na aparência.
"ESPIRITISMO" E INDIVIDUALIDADE
O "espiritismo" também não tem como forte a individualidade. Tanto que, com suas atividades tidas como "mediúnicas", mas completamente divorciadas da Ciência Espírita - Kardec nunca foi o forte do "movimento espírita" brasileiro - , o que se vê é a padronização de produção de mensagens que compensa a fraca ou inexistente mediunidade dos supostos médiuns.
O que se nota é quase sempre um repertório de puro panfletarismo religioso, em que o "médium", usando diferentes nomes de falecidos, escreve sempre um mesmo roteiro: o sofrimento pessoal após a morte, a internação numa colônia espiritual, a consciência da fé e o apelo para que os encarnados se unam "pela luz e amor em Cristo". Puro propagandismo religioso.
Os espíritos do além perdem o controle de suas próprias individualidades. Chegamos ao ponto de permitir que Chico Xavier seja o "dono" do legado do falecido escritor Humberto de Campos, mesmo quando sabemos que o estilo do "espírito Humberto" rigorosamente nada tem a ver com o que o escritor de O Brasil Anedótico escreveu em vida.
Aliás, para os "espíritas", isso pouco importa. Eles não querem individualidade, querem mensagens "fraternais". Querem a água-com-açúcar das "palavras de amor" e, por isso, aceitam como "verídicas" mensagens que nada têm de individuais, mas que trazem alguma coisa "positiva" e "agradável", até mesmo "comovente".
Se para os seguidores do "espiritismo" brasileiro, tanto faz uma mensagem ser verídica só porque mostra "palavras de amor", como se isso justificasse a falsidade ideológica, então as pessoas perderam a noção do que é individualidade, diversidade e democracia.
Daí que faz sentido um país que tem uma imprensa cada vez mais reacionária e internautas expressando intolerância social e até racial. Um país que prefere formar rebanhos do que formar um povo consciente, e que ainda endeusa autoridades e tecnocratas pelos arbítrios que cometem contra a população, pelos empresários que impõem o pior entretenimento ao povo e líderes religiosos que tiveram a coragem de dizer que é "bom" sofrer "amando", como foi Chico Xavier.
Que diversidade esperaremos com isso? Nenhuma. Para piorar, o país acaba se tornando cada vez mais desigual, pois as padronizações, uniformizações e outras castrações só fazem o povo ser "igual" na aparência, na embalagem e no comportamento socialmente castrado, mas desigual e injusto no atendimento aos direitos e necessidades.
Um país "igual" na aparência, "uniforme" no sentido de "forma única", é um país desigual, pelo desrespeito à diversidade que, esta sim, é igual na essência. Respeitando as diferenças é que se valoriza um direito igual de pessoas se tornarem diferenciadas e individualizadas, com pleno atendimento às necessidades sem o "pragmatismo" das Eras Geisel, Collor e FHC e sem o endeusamento de Chico Xavier, Jaime Lerner, Roberto Campos e outros usurpadores da boa-fé.
Do jeito que está, teremos não um país diferenciado e democrático, mas um país restrito à prepotência de uns poucos diante do conformismo forçado de muitos, sem que possamos ser valorizados como indivíduos na sociedade complexa em que vivemos.
Que país pode ser democrático sem respeitar a diversidade e a individualidade? O Brasil que o "espiritismo" local supõe estar destinado a ser o "Coração do Mundo", a ponto de haver até suposta profecia anunciando a destruição do Hemisfério Norte, está muito longe de representar alguma prosperidade nesse sentido.
Nos últimos anos, o Brasil está cada vez mais exterminando a diversidade em vários aspectos. Da diversidade biológica, afetada pela destruição ambiental, à diversidade econômica, afetada pela desnacionalização do setor, pelas vendas de empresas nacionais para corporações estrangeiras, o país torna-se cada vez menos igual, porque torna-se menos diverso.
Culturalmente, o que se observa é a descontinuidade de um riquíssimo patrimônio sócio-cultural em prol de expressões que só servem ao espetáculo do comercialismo e do consumismo, sem a transmissão de conhecimento e valores edificantes para a sociedade e padronizados conforme fórmulas consideradas bem-sucedidas pelo show business.
O Brasil ainda não largou o "espírito do tempo e do lugar", que os estudiosos denominam pelo termo alemão zeitgeist, originário da Era Geisel (1974-1979), correspondente ao período em que se permitia uma democracia "pragmática", voltada apenas ao atendimento do "básico do básico", e isso após 30 anos de redemocratização.
O país enfrenta inúmeros retrocessos de ordem social, cultural, econômica, política etc. Isso reflete até mesmo na qualidade da maioria dos internautas que domina as mídias sociais, tomadas de um provincianismo atroz, que, em certos casos, cria indivíduos reacionários capazes de "zoar" com quem não concorda com sua miopia sobre algum fato, fenômeno ou decisão adotada.
De repente, veio uma onda de padronização, uniformização, mesmice. As pessoas deixaram de se mobilizar e hoje "patinam" com os dedos nas mãos no smartphone, só para ver o que seus amiguinhos postaram nas mídias sociais. De preferência, algo inofensivo, alegre, porque questionar o mundo de repente virou atitude antissocial. E isso com a democracia em que vivemos, pasmem.
O sistema neoliberal que cria um modelo de inclusão "excludente", apostando numa pseudo-cultura popularesca que deixe o povo pobre infantilizado e abobalhado, de forma que seja incapaz de participar do processo sócio-político e reivindicar qualidade de vida, distraído que está no consumismo patético daquele "artista da periferia" lançado pelas rádios FM "populares".
Aliás, no rádio vemos esse fim da diversidade. As emissoras AM estão se extinguindo aos poucos, enquanto o antes diferenciado dial FM foi invadido, nos últimos 25 anos, por clones de AM que fingem que têm grande audiência e disfarçam o baixo Ibope comprando sintonias em estabelecimentos comerciais ou em categorias profissionais como taxistas e porteiros de prédios.
Entre as FMs que são FMs mesmo, não "AMs transmitidas em FM", a diversidade acaba quando sabemos que rádios de música brega-popularesca, de pop dançante e, pasmem, até de rock - com toda a euforia de jornalistas que fingem que estas rádios são "bastante diferenciadas" - adotam rigorosamente o mesmo estilo de locução, vinhetas e grade de programação.
Nos ônibus, nota-se a prevalência de um modelo decadente em que se adotam uniformemente, e com o mesmo autoritarismo, medidas anti-populares como pintura padronizada em diferentes empresas de ônibus, dupla função do motorista-cobrador, redução de ônibus em circulação etc, que deixam passageiros confusos, motoristas estressados, ônibus superlotados e gente esperando mais tempo por um ônibus nos pontos de embarque.
Tudo isso, pasmem, é imposto de "forma responsável" e "em total respeito à democracia e ao interesse público". E Jaime Lerner, o mentor de todo esse padrão, herdeiro de uma mentalidade padronizadora vinda da ditadura militar, sendo o símbolo de uma "personalidade progressista" que ele nunca foi, mas tornou-se um mito trabalhado até em seminários sobre Tecnologia e Cidadania.
A pintura padronizada nos ônibus já mostra o quanto a diversidade é desrespeitada no país. Empresas de ônibus são proibidas de apresentar sua própria identidade visual, adotando a pintura padrão da prefeitura ou do órgão intermunicipal, confundindo os passageiros, que já não foram consultados com essa arbitrariedade que serve de véu para a corrupção político-empresarial no setor.
Da mesma forma, a pintura padronizada sugere a imagem do concedente, o poder estatal, que em vez de fiscalizar e disciplinar o transporte, exerce poder autoritário, impondo a sua imagem nas frotas de ônibus diversas, sob a desculpa de adotar pintura por "consórcio", "trajeto", "área de bairros", "tipo de ônibus" etc.
Esta medida vai contra o interesse público, um ponto a menos para a diversidade há muito abalada em nosso país. A pintura padronizada contraria princípios da livre iniciativa empresarial, vai contra a Lei de Licitações, o Código Brasileiro do Consumidor e, se analisarmos bem, representa uma violação até mesmo à Constituição Federal.
Mas, dependendo do demagógico malabarismo discursivo da autoridade correspondente - capaz de prejudicar multidões com crueldade e ainda assim jurar que está agindo "em benefício à população e respeito absoluto ao interesse público" - , pode-se rasgar a Constituição Federal e ainda assim afirmar "com toda convicção" que está "agindo em completo rigor da Lei".
Imagine se as autoridades fizessem com as pessoas o mesmo que fizeram com os ônibus. Todo mundo andará com um mesmo uniforme? As casas teriam que ser pintadas com um mesmo padrão de cores para cada área de bairros? Ou será que se agirá como no antigo apartheid da África do Sul, de triste lembrança, em que a padronização visual de pessoas obrigava a separar zonas de bairros e cidades para cada tipo de etnias?
E o que isso vai afetar no Brasil que teoricamente é marcado pela diversidade de seus povos, de sua cultura? Tudo isso afeta negativamente, na medida em que, no aspecto da Cultura, dos Transportes, da Política, da Economia, da Educação, o que há é um país em que uns poucos querem que muitos sejam "iguais" a eles ou ao que interessa a eles. O país fica desigual sendo "igual" na aparência.
"ESPIRITISMO" E INDIVIDUALIDADE
O "espiritismo" também não tem como forte a individualidade. Tanto que, com suas atividades tidas como "mediúnicas", mas completamente divorciadas da Ciência Espírita - Kardec nunca foi o forte do "movimento espírita" brasileiro - , o que se vê é a padronização de produção de mensagens que compensa a fraca ou inexistente mediunidade dos supostos médiuns.
O que se nota é quase sempre um repertório de puro panfletarismo religioso, em que o "médium", usando diferentes nomes de falecidos, escreve sempre um mesmo roteiro: o sofrimento pessoal após a morte, a internação numa colônia espiritual, a consciência da fé e o apelo para que os encarnados se unam "pela luz e amor em Cristo". Puro propagandismo religioso.
Os espíritos do além perdem o controle de suas próprias individualidades. Chegamos ao ponto de permitir que Chico Xavier seja o "dono" do legado do falecido escritor Humberto de Campos, mesmo quando sabemos que o estilo do "espírito Humberto" rigorosamente nada tem a ver com o que o escritor de O Brasil Anedótico escreveu em vida.
Aliás, para os "espíritas", isso pouco importa. Eles não querem individualidade, querem mensagens "fraternais". Querem a água-com-açúcar das "palavras de amor" e, por isso, aceitam como "verídicas" mensagens que nada têm de individuais, mas que trazem alguma coisa "positiva" e "agradável", até mesmo "comovente".
Se para os seguidores do "espiritismo" brasileiro, tanto faz uma mensagem ser verídica só porque mostra "palavras de amor", como se isso justificasse a falsidade ideológica, então as pessoas perderam a noção do que é individualidade, diversidade e democracia.
Daí que faz sentido um país que tem uma imprensa cada vez mais reacionária e internautas expressando intolerância social e até racial. Um país que prefere formar rebanhos do que formar um povo consciente, e que ainda endeusa autoridades e tecnocratas pelos arbítrios que cometem contra a população, pelos empresários que impõem o pior entretenimento ao povo e líderes religiosos que tiveram a coragem de dizer que é "bom" sofrer "amando", como foi Chico Xavier.
Que diversidade esperaremos com isso? Nenhuma. Para piorar, o país acaba se tornando cada vez mais desigual, pois as padronizações, uniformizações e outras castrações só fazem o povo ser "igual" na aparência, na embalagem e no comportamento socialmente castrado, mas desigual e injusto no atendimento aos direitos e necessidades.
Um país "igual" na aparência, "uniforme" no sentido de "forma única", é um país desigual, pelo desrespeito à diversidade que, esta sim, é igual na essência. Respeitando as diferenças é que se valoriza um direito igual de pessoas se tornarem diferenciadas e individualizadas, com pleno atendimento às necessidades sem o "pragmatismo" das Eras Geisel, Collor e FHC e sem o endeusamento de Chico Xavier, Jaime Lerner, Roberto Campos e outros usurpadores da boa-fé.
Do jeito que está, teremos não um país diferenciado e democrático, mas um país restrito à prepotência de uns poucos diante do conformismo forçado de muitos, sem que possamos ser valorizados como indivíduos na sociedade complexa em que vivemos.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
Brasil e o desequilíbrio das profissões
HÁ UMA DEMANDA ASCENDENTE PARA CARGOS COMO JUIZ E ADVOGADO NO MERCADO DE TRABALHO.
O Brasil vive uma situação de desequilíbrio no mercado de trabalho, em que as pessoas preferem desempenhar trabalhos de maior status ou, pelo menos, de relativo prestígio, em vez de pensar necessariamente em suas vocações ou na sua preocupação com a cidadania.
O mercado de trabalho torna-se caótico, hoje em dia, em que existe uma demanda excessiva para empregos de relativo prestígio, uma ascendente demanda para profissões de maior status e uma carência para funções de baixo prestígio, embora de igual serventia para a sociedade.
O país vive uma grande crise de valores que vai contra o otimismo dos religiosos, dos executivos de televisão, das celebridades e outros que se envolvem em criar uma falsa impressão de prosperidade no Brasil que, com 30 anos de redemocratização, ainda mantém conceitos e preconceitos próprios da Era Geisel.
É até de se surpreender, no pior sentido, que a influência do Partido dos Trabalhadores como detentor do Governo Federal desde 2003 não conseguiu estabelecer a esperada justiça social, preferindo que se mantenham os contextos neoliberais que pouco recuperaram dos projetos sócio-profissionais interrompidos pelo golpe militar de 1964.
Não temos mais um cenário de cursos médios profissionalizantes - antes se falavam em cursos de segundo grau - como havia antigamente, Profissões como as de cozinheiro, costureiro, engraxate, repositor de estoques de supermercado, lixeiro e jardineiro, aparentemente de baixo prestígio, deveriam ser valorizadas por suas importâncias respectivas para a sociedade.
Enquanto tais funções entram em decadência pelo sistema de valores em que se vive, a banalização de profissões como de empresário, médico, engenheiro e advogado, para não dizer jornalista e músico, está causando problemas e expressando a incompetência causada por quem não tem vocação natural para tais funções.
No quadro educacional, o declínio do ensino universitário é vergonhoso, tornando-se quase que uma pálida extensão do ensino médio. A comparação é humilhante se percebermos que, nos EUA, o ensino médio é conhecido como high school, "escola de alto nível", enquanto o Brasil enfatiza uma Universidade supervalorizada no marketing mas subestimada como programa de ensino.
Isso é mal. Os sistemas de ensino fundamental e médio (antigos primeiro e segundo grau) são quase impotentes, o ensino superior tenta se nivelar ao que as outras esferas de ensino não conseguiram exercer aos estudantes e a desqualificação da Educação reflete também no mercado de trabalho.
Junta-se os valores de status quo atuais, que misturam um aparato de pompa com objetivos "pragmáticos" (satisfazer o "básico"), misturando pretensiosismo e incompetência que fazem com que a qualidade dos profissionais caísse drasticamente.
A discriminação do conhecimento, a falta de consciência da vocação, o pretensiosismo em busca de vantagens pessoais e tantos outros desvios fazem com que o mercado de trabalho no Brasil permita a ascensão de pessoas em boa parte incompetentes.
E aí temos autoridades corruptas, profissionais pouco dedicados, e pessoas que seguem uma causa de trabalho apenas como "aventura", não tendo a vocação natural necessária. Tentam improvisar, aprendendo tardia e precariamente sua pretensa especialidade, só para permanecer na sua atividade, mas nada fazem de naturalmente correto e eficiente.
E aí, vemos essa desigualdade de políticas salariais injustas, sistema educacional deficiente, jogos de interesses pelo status quo e tantas aberrações que fazem o Brasil estar longe da tão sonhada justiça social e do equilíbrio econômico, profissional e educacional que beneficiasse a todos.
O Brasil vive uma situação de desequilíbrio no mercado de trabalho, em que as pessoas preferem desempenhar trabalhos de maior status ou, pelo menos, de relativo prestígio, em vez de pensar necessariamente em suas vocações ou na sua preocupação com a cidadania.
O mercado de trabalho torna-se caótico, hoje em dia, em que existe uma demanda excessiva para empregos de relativo prestígio, uma ascendente demanda para profissões de maior status e uma carência para funções de baixo prestígio, embora de igual serventia para a sociedade.
O país vive uma grande crise de valores que vai contra o otimismo dos religiosos, dos executivos de televisão, das celebridades e outros que se envolvem em criar uma falsa impressão de prosperidade no Brasil que, com 30 anos de redemocratização, ainda mantém conceitos e preconceitos próprios da Era Geisel.
É até de se surpreender, no pior sentido, que a influência do Partido dos Trabalhadores como detentor do Governo Federal desde 2003 não conseguiu estabelecer a esperada justiça social, preferindo que se mantenham os contextos neoliberais que pouco recuperaram dos projetos sócio-profissionais interrompidos pelo golpe militar de 1964.
Não temos mais um cenário de cursos médios profissionalizantes - antes se falavam em cursos de segundo grau - como havia antigamente, Profissões como as de cozinheiro, costureiro, engraxate, repositor de estoques de supermercado, lixeiro e jardineiro, aparentemente de baixo prestígio, deveriam ser valorizadas por suas importâncias respectivas para a sociedade.
Enquanto tais funções entram em decadência pelo sistema de valores em que se vive, a banalização de profissões como de empresário, médico, engenheiro e advogado, para não dizer jornalista e músico, está causando problemas e expressando a incompetência causada por quem não tem vocação natural para tais funções.
No quadro educacional, o declínio do ensino universitário é vergonhoso, tornando-se quase que uma pálida extensão do ensino médio. A comparação é humilhante se percebermos que, nos EUA, o ensino médio é conhecido como high school, "escola de alto nível", enquanto o Brasil enfatiza uma Universidade supervalorizada no marketing mas subestimada como programa de ensino.
Isso é mal. Os sistemas de ensino fundamental e médio (antigos primeiro e segundo grau) são quase impotentes, o ensino superior tenta se nivelar ao que as outras esferas de ensino não conseguiram exercer aos estudantes e a desqualificação da Educação reflete também no mercado de trabalho.
Junta-se os valores de status quo atuais, que misturam um aparato de pompa com objetivos "pragmáticos" (satisfazer o "básico"), misturando pretensiosismo e incompetência que fazem com que a qualidade dos profissionais caísse drasticamente.
A discriminação do conhecimento, a falta de consciência da vocação, o pretensiosismo em busca de vantagens pessoais e tantos outros desvios fazem com que o mercado de trabalho no Brasil permita a ascensão de pessoas em boa parte incompetentes.
E aí temos autoridades corruptas, profissionais pouco dedicados, e pessoas que seguem uma causa de trabalho apenas como "aventura", não tendo a vocação natural necessária. Tentam improvisar, aprendendo tardia e precariamente sua pretensa especialidade, só para permanecer na sua atividade, mas nada fazem de naturalmente correto e eficiente.
E aí, vemos essa desigualdade de políticas salariais injustas, sistema educacional deficiente, jogos de interesses pelo status quo e tantas aberrações que fazem o Brasil estar longe da tão sonhada justiça social e do equilíbrio econômico, profissional e educacional que beneficiasse a todos.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
"Espiritismo" usa moral para desviar o foco de suas responsabilidades
O "espiritismo" que se faz no Brasil perde muito tempo sendo um receituário moral, já que no fundo a doutrina se desenvolve em completa ignorância à Ciência Espirita e ao pensamento original de Allan Kardec.
A crise sofrida pelo "movimento espírita" faz mobilizar alguns palestrantes que agora falam em "coerência de conduta", remetendo às "bases" de 1975, quando a crise do roustanguismo fez a cúpula do "movimento" criar um padrão ideológico aparentemente estável e "equilibrado".
Em tese, o "espiritismo" brasileiro se fundamenta no suposto equilíbrio entre Ciência, Filosofia e Religião. Kardec pregava o equilíbrio entre Ciência, Filosofia e Moral. No seu malabarismo discursivo, porém, os "espíritas" não conseguem esconder a preferência da Religião sobre os outros dois âmbito da vida humana.
A crise motivada pelas críticas que se faz aos desvios graves da doutrina fazem até mesmo com que internautas tentem minimizar os erros, perguntando "Quem nunca erra?" que, sabemos, não passa de uma apologia malandra do erro, em vez de uma autocrítica ou uma consciência de algum defeito.
Os líderes então, nem se fala, eles tentam salvar a doutrina como podem, sem poder mais recorrer as extravagâncias que até recentemente corriam incólumes nos meios "espíritas", quando toda sorte de qualidades surreais ou procedimentos exagerados acontece na doutrina.
Por exemplo, a interpretação do sonho de Francisco Cândido Xavier em 1969 que faz setores do "movimento espírita" classificarem o anti-médium mineiro como uma espécie de "Nostradamus moderno", um cruzamento de "profeta", "cientista" e "estrategista político" não é unanimidade entre os "espíritas".
Vários setores não admitem que Chico Xavier seja promovido a qualidades subliminares, e preferem que ele seja visto tão somente como mensageiro, filantropo e (suposto) médium. Alegam que aquilo que entendem como "doutrina espírita" precisa trocar a "aventura" pelo "equilíbrio".
NÃO HÁ, EM VERDADE, EQUILÍBRIO
E o que é esse "equilíbrio"? É evitar que o "espiritismo" brasileiro se queime com posturas consideradas polêmicas. Daí um padrão que procura, na teoria, manter a doutrina com os "pés no chão", mas, como é de praxe, apenas mantém um ponto de estabilidade, evitando polêmicas.
Isso porque o "equilíbrio" consiste apenas em manter as atividades e pontos de vista considerados inócuos e aparentes. Algo que não provoque "escândalo". Daí, por exemplo, evitar a ênfase no pedantismo científico ou apostar em visões subliminares, a favor ou contra sua doutrina.
Essa corrente "equilibrada", por exemplo, não é capaz de atribuir seguramente a André Luiz qualquer pioneirismo científico, como também não aposta em profecias ou em atribuições fantásticas a seus membros, limitando-se a "rigorosamente" seguir o que a bibliografia brasileira oficial e os exemplos e atividades aparentes já mostram.
Daí o grande medo que os "espíritas" têm de ver uma mensagem espiritual atribuída a Chico Xavier. Há até mesmo um suposto médium especializado nisso, e outros supostos médiuns que alegam terem recebido mensagens de um suposto espírito do anti-médium.
Mesmo o "código secreto" que Chico Xavier deu a três amigos - uma mulher já morreu - , entre eles o filho adotivo Eurípedes Higino, é encarado com apreensão, pois há quem diga que o "maior código" do anti-médium é a sua "filantropia".
Daí a preferência de um "ponto de equilíbrio", adotando o que entendem como uma postura "equilibrada" e "realista" da "doutrina espírita", alegando estarem apenas seguindo a "mais absoluta fidelidade" a Allan Kardec, o que, sabemos, não passa de conversa para boi dormir, porque, em verdade, esse equilíbrio não existe.
CONTINUAM OS DEFEITOS
Afinal, o que eles alegam manter não é um equilíbrio entre Ciência, Filosofia e Religião / Moral, mas a prevalência da Religião sobre outras duas esferas. É reduzir o "espiritismo" a um receituário moralista, um misticismo religioso e um arremedo de filantropia que mantém toda a distância ao pensamento científico de Allan Kardec, apesar da tão alegada "fidelidade".
O que se observa é que o aspecto "moral" é um desvio de foco das responsabilidades originais do Espiritismo, que o "movimento" nunca se interessou em seguir no Brasil. O desconhecimento da Ciência Espírita continua e se admite as supostas psicografias de seus pretensos médiuns como "verdadeiras", sem muitas delongas.
Descartam-se práticas "escandalosas", como a materialização, as "profecias" e outras atividades "mais ousadas". Silencia-se sobre o assunto, para evitar os tais "dissabores". Mantém-se apenas a legitimação das "psicografias" de Chico Xavier, focalizando apenas os livros e as cartas.
Essa corrente "equilibrada" prefere descartar nomes polêmicos como Jean-Baptiste Roustaing, Amauri Pena, Otília Diogo, "Data-Limite", "crianças-índigo" e histórias surreais envolvendo Bezerra de Menezes se "materializando" para chamar a polícia e prender um grupo de estupradores que assediavam uma jovem ou para guiar caminhões de comida para dar aos pobres.
Evitando o "fantástico" que se torna por demais polêmico, isso não quer dizer que a postura "sóbria" desses setores do "movimento espírita" esteja em conformidade com o pensamento de Kardec, Pelo contrário, o distanciamento ainda é completo.
A ênfase continua sendo num religiosismo de herança católico-medieval, com seus ritos e dogmas, numa valorização exagerada e materialista dos assuntos envolvendo a instituição Família - tema associado à maioria esmagadora das palestras nos "centros espíritas" - e ao mesmo assistencialismo aparentemente terapêutico e filantrópico que se sabe.
Dessa forma, o que se vê, na verdade, não é um Espiritismo trabalhado em níveis saudáveis e equilibrados, mas apenas uma forma organizada e estável de deturpação, em que uma doutrina totalmente diferente da de Allan Kardec, ainda que usando o mesmo nome, adota uma postura estável e uniforme, muito mais para evitar polêmicas do que para criar algum tipo de coerência.
terça-feira, 19 de maio de 2015
Brasil continua basicamente como se ainda estivesse na Era Geisel
A julgar pela patrulha do estabelecido que predomina na Internet, o Brasil parece que ainda vive na Era Geisel, com seu "senso comum" perdido entre a euforia econômica do "milagre brasileiro" do governo do general Emílio Garrastazu Médici e a democracia controlada do também general Ernesto Geisel.
O Brasil, desde o AI-5, quase nunca saiu daquele padrão de comportamento, de valores e de quem detém o poder da visibilidade e de decisão na sociedade dentro de um sistema ideológico que paira entre um moralismo severo e uma tecnocracia burocrática.
Por isso o país possui um contexto inverso ao de cinquenta anos atrás. Naquela época, a ditadura militar, que se autoproclamava um governo provisório, feito apenas para completar o tempo de mandato do governo de João Goulart, interrompido pelo golpe militar de 1964, mas depois se tornou definitivo pelas pressões dos generais de linha dura, ainda permitia um arremedo de democracia.
Do contrário de hoje, em que há uma tendência de acomodação das pessoas - sobretudo quando "brincam" com a Internet nos smartphones - , havia ainda um interesse de mobilização e questionamento das pessoas, embora aparentemente, tanto hoje quanto em 1965, haja um embate entre progressistas e reacionários.
Só que, antes, os progressistas haviam perdido a causa e tentavam recuperá-la de algum modo, Hoje, são os reacionários que veem ruir todo aquele padrão de valores em que acreditam e defendem, que os fazem reagir com seu conservadorismo que varia entre a moderada indignação e a expressão de ofensas e gozações, dependendo da natureza de cada indivíduo.
O sistema de valores que existe não permite uma plena qualidade de vida. Nem mesmo a cultura permite a profundidade das expressões de grande valor, mas apenas restritas aos limites tolerados pelo comercialismo que subestima a criação humana.
Na verdade, o que prevalece hoje em dia são valores considerados "pragmáticos", que apenas atendem a necessidades básicas. É como se, em vez de qualidade de vida, tivéssemos apenas o básico de sobrevivência. Ou, como questionava Arnaldo Antunes em "Comida", dos Titãs, "Bebida é água, comida é pasto".
Em todos os casos, há a mediocrização da cultura, do cotidiano, da mobilidade urbana, do feminismo, e tudo que é reduzido a um "pragmatismo", ao "mero atendimento do básico", dentro de uma normalidade forçada em que o poder dominante de políticos, empresários, tecnocratas e celebridades não pode ser questionado.
Por isso é compreensível que apareçam reacionários na Internet, pessoas de mentalidade retrógrada, por mais que adotem a roupagem "moderna" da aparente rebeldia. Sejam eles racistas, valentões, cyberbullies, "coxinhas" e tantos outros que sentem medo de que o "estabelecido" de hoje decaia com seus totens, símbolos e valores.
O Brasil ainda está provinciano, já que pensa a modernidade como se fosse há cem anos atrás. E seus totens diversos, como instituições, personalidades e outros, de Chico Xavier a Jaime Lerner, de Luciano Huck a DJ Marlboro, da Rádio Cidade (RJ) à Rede Globo, são endeusados não por qualidades realmente brilhantes, mas pelo "pragmatismo" paliativo com que representam.
Todos esses totens, de uma forma ou de outra, estão sendo largamente questionados, mas uma parcela influente da sociedade reage a isso com indignação. E não conseguem explicar por que aceitam a pretensa superioridade desses totens, mesmo com tantas e, não raro, graves imperfeições ou sérios equívocos.
Hoje começam a ser questionados esses e outros totens, vinculados a um sistema de valores que condizia mais à democracia controlada e ao atendimento parcial das necessidades, de preferência diante de tantos transtornos, lançada pelo governo de Ernesto Geisel.
O Brasil de Geisel continuou prevalecendo, se adaptando aos tempos e apenas sendo seriamente abalado durante o governo José Sarney, porque a redemocratização trouxe a relembrança dos últimos meses do governo João Goulart, o que fez o status quo reagir com o circo midiático apostando em Fernando Collor.
Agora, mais uma vez, questiona-se o "espírito dos tempos" do "pragmatismo" da Era Geisel, das medidas nem sempre benéficas mas "necessárias", da conversa fiada de que isso ou aquilo "não é aquela maravilha, mas até que está bem assim", ou que "todos erram e ninguém é perfeito", como desculpa para tamanha mediocridade em todos os sentidos.
De "rádios rock" sem personalidade aos ônibus com pintura padronizada, da supervalorização do futebol brasileiro à subvalorização das afinidades pessoais na vida amorosa, o "Brasil pragmático" tenta resistir com toda a sua doutrina da mediocridade e do atendimento apenas às necessidades "mais básicas", com toda a sua "modernidade de gabinete".
As transformações sociais que acontecem no país, no entanto, desafiam a validade e até mesmo a sobrevida desses totens, apesar da resistência férrea de tecnocratas, autoridades, executivos etc. Uma parcela da sociedade não quer admitir isso e acha essas pressões um "grande absurdo", mas já sentem que mesmo a sua supremacia na Internet começa a diminuir. Daí seu medo.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
O Brasil e a glamourização dos erros
O Brasil se encontra numa grande crise de valores e isso faz com que haja uma grande insegurança aconteça na Internet. E isso faz com que muitos internautas fiquem agressivos porque temem que seus totens e valores, antes considerados "sagrados" pelo establishment dos anos 1990, sejam um dia reduzidos a pó.
De repente, vieram pessoas declarando, mesmo sobre o "espiritismo", a mesma apologia dos erros, perguntando "Quem nunca errou na vida?". Evidentemente, dizer que todos nós erramos é chover no molhado, daí que essa pergunta acaba sendo mais uma apologia dos erros do que uma consciência autocrítica dos mesmos.
A pergunta acaba servindo como desculpa para que certos totens sejam mantidos no seu pedestal. Perguntar "quem nunca...?" serve mais para satisfazer vaidades pessoais do que expressar alguma humildade. Acaba sendo uma grande demonstração de falsa modéstia.
Perguntas assim são dadas quando determinados totens, como políticos, celebridades, religiosos ou outras pessoas dotadas de poder e prestígio são duramente criticadas. Ninguém quer trair a sua idolatria, e usa a falsa modéstia como forma de atribuir uma "imperfeição humana" a alguém ao qual é atribuída uma "perfeição divina".
Sim, a "perfeição da imperfeição" é uma ideia maluca que vem desde os anos 1990, uma maneira de defender o "estabelecido" que expressa, não obstante, a mediocridade. Um "estabelecido" que vai contra a ética, contra a coerência, contra a qualidade de vida e outras coisas.
É aquele papo de que "não é 100%, mas é cem por cento". "Não é aquela maravilha, mas é melhor do que nada", que inclui a alegação de que tal fenômeno, ideia ou personalidade representam aquilo que é o básico de alguma causa ou tendência. Sempre a desculpa de que isso, aquilo ou alguém atendem ao "básico" das necessidades humanas.
Só que isso cria armadilhas que fazem com que o básico de hoje passe a ser visto como "sofisticado demais" e aí a vida se nivela por baixo de tal forma que, querer o básico sucessivas vezes é, na prática, querer abaixo do básico. Como andam dizendo por aí, "de básico em básico, ficamos aquém do básico".
O Brasil passou por retrocessos sucessivos. E as pessoas acabam acostumando tanto que não toleram que a normalidade forçada dos últimos 50 anos seja rompida ou questionada. Que aceitemos os totens que estão aí, os ídolos e pretensos sábios que o mercado e o status quo determinam que idolatremos, "com suas imperfeições".
No país que é paraíso astral das desculpas e meias-verdades, que é o nosso, o "espiritismo" se vale também dessas desculpas e de todo o malabarismo de palavras em que até o pior é visto como se fosse o melhor.
Dai que, mesmo com a divulgação e a denúncia de muitos e gravíssimos erros cometidos pelos "espíritas" brasileiros - alguns fariam o pastor Valdomiro Santiago cair da cadeira de tanto rir - , há quem tente alegar que "quem nunca errou que atire a primeira pedra".
O que está em jogo é a fogueira de vaidades travestida de humildade que cerca o "espiritismo" e sua capacidade de usar as palavras e os argumentos como quem mexe numa massa de modelar. Sobretudo em relação a Chico Xavier, um totem que anda bastante abalado por denúncias que vem não só de protestantes e católicos, mas também de espíritas.
A verdadeira consciência dos erros é dada de maneira discreta, e não pela revolta ostensiva movida pela vaidade ferida. O problema é que o "espiritismo" erra, erra e insiste que 75% dos seus erros são "acertos" e 20% são "coisinhas de nada", só sobrando os 5% dos quais admitem terem sido erros sérios que "não devem ser repetidos".
Vivendo sua maior crise após o declínio da adoração roustanguista, o "movimento espírita" tenta dar desculpas diversas para os erros hoje cometidos e tenta obter coerência onde não existe, E acham que estão acertando com sua deturpação grosseira da doutrina de Allan Kardec.
Daí a falta de estudo em relação à Ciência Espírita. Continuam e continuarão entendendo a mediunidade de forma improvisada, como alguém que não sabe de uma coisa e tenta entendê-la assim mesmo. Fingem fidelidade a Allan Kardec, mas continuarão traindo o seu pensamento de forma constante e permanente.
Dessa maneira, o "espiritismo" continuará "de pé" reduzindo-se a um receituário moralista religioso, com ênfase na instituição Família, e a arremedos de filantropia que não trazem soluções permanentes para a miséria que atinge as classes populares. Seus líderes julgam que isso é uma conduta "equilibrada" e "coerente", mas não é mais do que a conduta estável de uma deturpação.
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