quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Madre Teresa de Calcutá e a alegria com a tragédia alheia

BRUXA DO MAR (VILÃ DE TURMA DO POPEYE) E MADRE TERESA DE CALCUTÁ - Separadas ao nascer?

Um dos pontos bastante sombrios de Madre Teresa de Calcutá, oficialmente promovida a "santa" e tida como "símbolo de caridade máxima" - e, entre os "espíritas" brasileiros, um modelo para a "caridade" de Francisco Cândido Xavier - é sua estranha alegria ao saber que milhares de seus assistidos haviam morrido devido aos descuidos diversos de higiene e falta de assistência.

Segundo Madre Teresa, ao saber que 29 mil dos enfermos e miseráveis que ela acolheu na instituição Missionárias da Caridade, haviam morrido, ela não escondeu seu entusiasmo e disse que são "mais anjos" que agora "estão mais perto de Deus".

O lado sombrio de Madre Teresa foi revelado pelo físico indiano Aroup Chatterjee, que viveu em Calcutá e lá trabalhou como médico, e escreveu o livro Mother Teresa: The Untold Story, que chegou a ser intitulado Mother Teresa: The Final Verdict, e que inspirou o documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), do jornalista inglês Christopher Hutchens.

Segundo Chatterjee, Madre Teresa, ao saber dos 29 mil mortos entre seus alojados, afirmou que havia batizado em nome de São Padro para "deixá-los entrar no céu" e disse que "é muito bonito ver as pessoas morrerem com tanta alegria". Sobre o sofrimento humano, Madre Teresa teria dito que "o mundo ganha muito" com isso.

Outro médico, o cubano Hemley González, havia trabalhado na instituição de Madre Teresa, movido pela reputação oficialmente positiva das Missionárias da Caridade. Mas logo que foi trabalhar lá, viu o que considerou uma "violação sistemática dos direitos humanos" e um "escândalo financeiro". Ele ficou chocado com o que viu nas instalações.

Segundo ele, confirmando o que já havia sido denunciado por Chatterjee e Hitchens, as seringas eram poucas e reutilizadas (algo que nivela a "caridade" de Madre Teresa ao que muitos drogados fazem em suas vidas sociais), sendo lavadas apenas com água de torneira (que não é lá aquela limpeza que se supõe, sobretudo num país como a Índia), e os pacientes só eram remediados com paracetamol e aspirina ou, quando muito, por remédios que chegavam com prazo de validade vencido.

MADRE TERESA, "ESPIRITISMO" E CHICO XAVIER

O que faz uma retrógrada figura católica, ícone da Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo, ser adotada pelos "espíritas" - que, na sua natural hipocrisia, também recorrem, mais tarde, à bajulações oportunistas a figuras progressistas como Dom Paulo Evaristo Arns e sua irmã Zilda Arns - , é algo que dá para entender, se considerarmos que o "espiritismo" brasileiro se reduziu, hoje, a uma religião ultraconservadora.

O "espiritismo", sabemos, tornou-se tão conservador que só perde em referências retrógradas às seitas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus. Enquanto esta busca um foco maior no Velho Testamento, o "espiritismo" focaliza o Novo Testamento, mas enquanto o primeiro busca uma leitura protestante dos velhos tempos bíblicos, o segundo relê a trajetória de Jesus de Nazaré sob o ponto de vista dos fundadores da Igreja Católica, como o imperador romano Constantino.

A inclinação do "espiritismo" brasileiro ao Catolicismo medieval se deu, inicialmente, pela simpatia dada pela obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing. Depois, a "catolicização" do "espiritismo" brasileiro se deu por questão de sobrevivência, para se aproximar da Igreja Católica que o protegeria da repressão policial que combatia os "centros espíritas" no país. Mas a medievalização se deu, para valer mesmo, com a adoção do católico ortodoxo Chico Xavier.

O próprio "médium" era, além de devoto de Nossa Senhora da Abadia, admirador do padre Manuel da Nóbrega, tanto que, como paranormal, o beato de Pedro Leopoldo afirmava ter mantido contatos amigáveis com o espírito do padre jesuíta, que, com base numa antiga assinatura, "E. Manoel" (Ermano Manoel, "irmão Manuel" em português arcaico), passou a ser conhecido como Emmanuel.

Chico Xavier, espécie de Aécio Neves da religião, pela blindagem ferrenha que recebe mesmo diante de revelações muitíssimo sombrias - entre elas, a de que sua alegada mediunidade teria sido um blefe - , contribuiu muito para o "espiritismo" brasileiro se afastar definitivamente de Allan Kardec (apesar das insistentes bajulações de seu nome) e recuperar as bases doutrinárias, isso sim, do Catolicismo jesuíta que dominou o Brasil no período colonial.

O próprio Chico Xavier revelou, mesmo sem assumir a Teologia do Sofrimento, ser adepto dessa corrente católica. Isso é comprovado com ideias que veiculava sobre a resignação ao sofrimento, ao mito da "abnegação": sofrer "sem demonstrar sofrimento", olhar a natureza nos momentos de agonia, não reclamar da vida e não contestar coisa alguma eram seus apelos, ditos pelas próprias palavras e, por vezes, atribuídas tendenciosamente aos "espíritos" que dizia psicografar.

A própria adoração a Chico Xavier amaldiçoa seus próprios seguidores. Em boa parte de seus seguidores, ocorrem tragédias envolvendo filhos e outros jovens, o que traz indícios de que o "médium" via com exotismo as mortes prematuras. Vários famosos que se tornaram devotos ou simpatizantes do "médium" viam algum filho morrer de forma prematura.

Infelizmente, num país completamente desinformado como o Brasil, Chico Xavier é muito mais blindado do que Madre Teresa, apesar do mito desta ser bem mais organizado do que aquele. Chico só passou a ter um mito "trabalhado de forma mais limpa" nos anos 1970, e ainda assim sob a assistência da Rede Globo de Televisão e inspirado no próprio exemplo do mito da madre trabalhado pelo jornalista britânico Malcolm Muggeridge.

Nos últimos anos, o "espiritismo" brasileiro comprova cada vez mais seu caráter ultraconservador. A condenação ao aborto, até mesmo em casos de estupro, e a culpabilização das vítimas, além de outros juízos de valor bastante severos, sangram a doutrina brasileira que tanto se alardeia em ser "esclarecedora", mas investe no mais sombrio obscurantismo.

E isso diz muito quando os "espíritas" acolhem com muito entusiasmo uma figura como Madre Teresa de Calcutá. A cada dia o "espiritismo" brasileiro desfaz a imagem tão confortável, porém irreal, de "doutrina progressista", revelando seu conteúdo medieval. A princípio isso está na Internet mas os fatos farão isso ser divulgado em breve na grande imprensa, apesar de toda blindagem que esta mantém à doutrina igrejeira.

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