domingo, 4 de janeiro de 2015

Frase de Chico Xavier: Sabedoria superior ou apologia da impunidade?


Chico Xavier era uma espécie de "AI-5 do bem". Com palavras dóceis, condenava o protesto e o questionamento, e talvez nos desaconselhasse a raciocinar, a usar o nosso dom de pensar sobre alguma coisa.

Para Chico, a "voz" mais recomendável era a do silêncio. A única lei, a do "amor". A única "razão" era a do coração. Ele, de maneira mais melíflua possível, parecia se comprazer com o sofrimento do outro com suas frases que dizem que a pessoa é mais abençoada quando vive em desgraça.

Uma frase que sintetiza a ideologia chiquista que deslumbra muita gente revela, no entanto, um grave equívoco e prova que o anti-médium mineiro nem de longe pode significar um sábio, um profeta ou cientista, e que a Doutrina Espírita no Brasil é seriamente prejudicada com esse verdadeiro tumor vindo de Pedro Leopoldo.

Mesmo doze anos após ter falecido, Francisco Cândido Xavier anda sendo badalado, promovido e repromovido por diversas manobras da Federação "Espírita" Brasileira, fazendo às vezes de "profeta dos próximos tempos" ou sendo "cientificamente provado" às custas de suas mensagens apócrifas atribuídas aos coitados dos falecidos (que não estão mais aqui para se defender".

Pois esta frase, a que sintetiza o "pensamento" de Chico Xavier, que só é considerado "filósofo" pela falta de alguém que faça uma filosofia que preste no Brasil (ao nível de Sócrates, Platão, Rousseau, Hegel etc), consiste nestas palavrinhas:

"A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior perdoa, a inferior condena. Tem coisas que o coração só fala para quem sabe escutar!"

"Filosofia" barata que não serve sequer para ilustrar encarte de farmácia, mas que é vista pelos chiquistas como se fosse "a maior das sabedorias". Pois não é difícil questionar a validade de tais frases, apenas parando para pensar se pode constatar o grave equívoco dessa "linda frase", que mais parece um convite à subserviência e à passividade.

SE UM MAU CARÁTER LHE PASSOU A PERNA, ACEITE.

CADA CASO É UM CASO

Ninguém é necessariamente dotado de sabedoria superior por deixar de julgar e condenar. Da mesma forma, ninguém é superior por tolerar e perdoar em qualquer situação. Mas, pela "linda" frase de Chico Xavier, pouco importam as leis, o raciocínio, o senso crítico.

Você só precisa ficar calado, ficar feliz da vida porque você está num sofrimento bem pesado e orar em silêncio, sorrindo. Sorrindo e orando. Orando e sorrindo. Sorrindo. Orando. Se sentindo abençoado porque está se dando mal na vida. Puro masoquismo.

Só que a realidade é bem diferente disso. As situações variam de tal forma que você não pode ficar tolerando alguém que traz muito prejuízo. Também não pode aceitar os absurdos da vida. E perdoar não é necessariamente deixar que algum algoz possa se manter em alguma vantagem ou privilégio que lhe corrompe a alma e lhe tempera a arrogância.

Chico Xavier não quer que falemos, quer que escutemos em silêncio. Que coisa "maravilhosa" que muitos acreditam: sofrer em silêncio, sorrindo, orando, ouvindo o coração bater - isso se ele não para de bater, porque o sofrimento pode gerar um infarto em dado momento - e se achando abençoado porque vive o pior dos sofrimentos.

Que receita estranha para ser humilde! Mas vindo de um Chico Xavier que condenava o governo progressista de João Goulart - um latifundiário que teve a raríssima caridade de defender a distribuição justa da terra e queria doar suas próprias fazendas para a reforma agrária - e pedia para que orássemos pelos generais da ditadura, isso faz muito sentido.

CHICO XAVIER TAMBÉM TINHA "SABEDORIA INFERIOR"

Essa "sabedoria" acaba se tornando uma apologia da impunidade. Por trás disso, a "tolerância" e o "perdão" que encantam os chiquistas e simpatizantes "independentes" do anti-médium mineiro se mostram um sentimento de complacência com os absurdos e injustiças da vida.

Não obstante, o "mentor" de Chico Xavier, o traiçoeiro Emmanuel, sempre aconselhava as pessoas a não fazer críticas, não questionar, não contestar, apenas recomendando que "amemos, oremos e acreditemos".

Vindo das profundezas trevosas do Catolicismo medieval português - que, na mesma época da Revolução Francesa, ainda queimava hereges nas ruas ou os enforcava no pátio da prisão - , Emmanuel tornou-se guia dos "modernos ideais" trazidos por um Chico Xavier que alegra e conforta as mentes infantilizadas dos incautos do Brasil e de outros países (estes em menor intensidade).

Mas Chico Xavier tinha também sua "sabedoria inferior". Sua ideologia era capaz de acusar de "tiranira romana" pessoas que sofreram infortúnios ou tragédias. Julgava e dava sua condenação, com a austeridade de um sacerdote medieval.

Em vários de seus livros, Xavier supunha encarnações anteriores para justificar os infortúnios vividos por pessoas inocentes. E sua dócil condenação era "orar em silêncio", sem queixumes. Se damos mal na vida, temos que agradecer por esta "bênção". E como ler livros de Emmanuel dá mais azar do que passar debaixo de escadas...

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