sábado, 24 de janeiro de 2015

A que interessa o "espiritismo" teorizar o amor e a caridade?


Em 130 anos, nunca o "movimento espírita" brasileiro se valeu de tantos desperdícios como nas últimas décadas. Desde o "fenômeno" do anti-médium Francisco Cândido Xavier, um verdadeiro desperdício de palestras, livros e outras atividades só serviram para teorizar, com exagerada insistência, meros sentimentos de amor e caridade.

A indústria de "palavras de amor", piegas e viscosa, é alimentada ora por livros prolixos e bastante pedantes - como as obras de Emmanuel e Joana de Angelis - , ora com outros bem menos verossímeis, como livros de auto-ajuda ruins e novelas desastrosas que são produzidas sob o rótulo de "literatura espírita".

Sem terem a menor capacidade de analisar a natureza da vida espiritual a partir dos conhecimentos lançados e arduamente sistematizados por Allan Kardec, os "espíritas" brasileiros quase sempre se perdem em lições moralistas envolvendo relações familiares.

Não fosse suficiente tal equívoco, se vê também uma série de teorias feitas para promover o conformismo diante do sofrimento. Nota-se que o conformismo é usado através de eufemismos preciosistas como "resignação" e "abnegação". Se tudo de errado ocorre em sua vida, só lhe resta aceitar e rezar para você sair inteiro dessa, dizem os "bondosos espíritas".

É muita, muita teoria para nada. O "espiritismo" brasileiro tem essa mania, uma seita religiosa com cacoetes de parecer ciência sem sê-la de fato, e cria teorias sobre o amor, a caridade e a fraternidade que não passam de um engodo moralista fantasiado de análises científicas.

Tudo se perde em apelos que poderiam se resumir a poucas palavras. Quanto papel, quantas vozes, quanto dinheiro, tudo se perdeu por causa de apelos dóceis, teorias que entorpecem tanto as pessoas que elas acabam achando tudo complicado.

AMOR VIROU COISA "COMPLICADA"

Com tanta teoria e tantos "estudos" sobre o amor e a caridade, o que parecia muito simples acaba sendo visto como coisa complicada. Há casos de pessoas que, no Facebook, colocam felizes seus memes com frases de Chico Xavier, tão alegres e dóceis em transmitir "amor", mas que na vida real não suportam determinadas pessoas que lhe são companheiras só neste portal social digital.

Muito fácil. Colhe-se aquela frase bonitinha do anti-médium mineiro, geralmente de alguma comunidade dedicada a frases bonitinhas, e compartilha no seu perfil dando a impressão aos seus seguidores (os "amigos" que coleciona no Facebook) que é uma pessoa humanista, fraternal e caridosa.

Mas aí essa pessoa encontra aqueles nerds que lhe seguem no Facebook e que ela os aceitou por algum motivo gentil, e cumprimenta com muita frieza. De que adiantam as "palavras de amor" que servem de "alimento fecundo e permanente" para a alma, quando nas situações mais necessárias lhe falta o amor que, em tese, se transborda nesses "rios de águas frescas" e "mensagens fraternais"?

De tanto teorizar o amor, ele fica "complicado" porque as pessoas acabam achando que o amor é um problema complexo, uma especialidade científica, acabam acreditando que, para amar, precisa-se de muito esforço e muito sacrifício. E aí, desanimados, acabam ficando na zona confortável das relações por conveniência, das "amizades de ocasião".

Ou seja, tudo fica em vão. Analisa-se tanto o amor que ele se torna um assunto "difícil" e "desinteressante", tão "complicado" que cria uma dependência psicológica para aqueles que recorrem ao "espiritismo" para "melhorar suas vidas", tudo em vão.

É como nas drogas. Para retomar o prazer do amor, os "espíritas" precisam cada vez mais ouvir milhares de teorias sobre o amor, milhares de apelos para se amar, quando, na prática, a overdose de apelos e teorias acaba criando um cansaço psicológico que deixa as pessoas na mesma, quando muito havendo tolerância umas com as outras, mas pouca ou nenhuma afeição verdadeira.

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