terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Herculano Pires classificou Divaldo Franco como "impostor" em carta para jornalista


DIVALDO FRANCO APOIOU A "FARINATA" QUE JOÃO DÓRIA JR., VERGONHOSAMENTE, LANÇOU NO VOCÊ E A PAZ E DEPOIS CANCELOU.

Poucos percebem, neste dia em que uma pequena parcela de brasileiros vai para o Campo Grande, em Salvador, para um mero entretenimento religioso que é o Você e a Paz, evento que muitos incautos pensam ser um "movimento pacifista" (se isso realmente fosse, teria cessado a guerra até lá no Oriente Médio, não é mesmo?), seu ídolo Divaldo Franco cometeu, pelo menos, dois atos deploráveis nos últimos anos.

O primeiro foi na saída de um evento "espírita" na Espanha - cujo "movimento espírita" foi acusado de censurar um professor, com um processo por "danos morais" felizmente arquivado - , quando Divaldo Franco fez seu cruel julgamento de valor contra os refugiados do Oriente Médio.

"No campo das deduções e de acordo com o meu pensamento, penso que aqueles que estão hoje, de volta à Europa, são os antigos colonizadores que deixaram, até hoje, a América Latina na miséria.
Como foi negado todo o direito aos seus residentes, como aculturaram os selvícolas, destruindo culturas veneráveis, pela Lei de Causa e Efeito aqueles estão retornando hoje à pátria, no estado de miséria, e que ameaçam os próprios países de onde saíram, para, um dia, buscarem a fortuna para o conforto europeu".

Imagine se várias famílias souberem da declaração deste "sábio" e, constrangidas, decidirem processá-lo. Embora Divaldo não tenha citado nomes, ele cometeu uma atrocidade moral, por ignorar que as reencarnações que ele atribui, ao arrepio da Ciência Espírita, além de serem muito antigas (se é que a atribuição de Divaldo seja certa, o que é bem duvidoso) estão bastante superadas.

Divaldo deixou a máscara cair e se revelou impiedoso com tal declaração, pois os refugiados do Oriente Médio nem de longe querem buscar fortunas europeias, mas apenas rotinas de paz e tranquilidade, ainda que em condições sociais modestas. A declaração de Divaldo também pode sugerir intolerância religiosa contra judeus e muçulmanos que, segundo ele, deveriam se manter presos nas áreas de conflitos e "pagarem o que merecem", dentro do mito de "provas e expiações".

O segundo ato foi a decisão pessoal de Divaldo Franco de homenagear um político decadente, o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., e permitir o lançamento oficial da "farinata", um alimento condenado por nutricionistas e ativistas sociais, na edição paulista do Você e a Paz.

Divaldo cometeu uma série de erros, da falta de firmeza em exigir a verificação técnica do alimento à permissão do uso de seu nome e do logotipo do evento por Dória Jr. no lançamento da "ração humana", sugerindo vínculo de imagem. Por sorte, Divaldo foi poupado de um escândalo sem precedentes, por causa do silêncio da imprensa. Nem a mídia de esquerda o criticou, se limitando a criticar o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, como religioso envolvido no caso.

Divaldo é visto por muitos como um "médium" mais verossímil que Francisco Cândido Xavier. Tem, em relação a Chico Xavier, o diferencial de adotar um ar mais "professoral" e "intelectualoide", embora os livros fossem de um igrejismo ainda mais carregado que o de seu amigo mineiro, que ao menos produziu arremedos de livros "científicos", "jornalísticos" e falsamente intelectualizados.

A carta que reproduziremos foi escrita pelo maior entendedor do Espiritismo no Brasil, o jornalista José Herculano Pires, para o colega Agnelo Morato. Pires é o melhor tradutor da bibliografia kardeciana e conhecedor honesto da doutrina de Allan Kardec, sem o pedantismo que os deturpadores (como os próprios Chico e Divaldo) fazem dos ensinamentos espíritas originais.

Devemos tomar cuidado porque, aparentemente, J. Herculano Pires adota uma postura solidária a Chico Xavier e Emmanuel. Mas é aquela coisa de "amigos, amigos, negócios à parte" e cremos que Herculano, embora tivesse condescendência com a obra do amigo, não compartilha necessariamente com suas crenças, sendo duas trajetórias muito diferentes entre si, como Bob Dylan e Michael Jackson, por exemplo.

Chama a atenção que Herculano trata Divaldo Franco como um impostor, e afirma que o baiano é "roustanguista confesso", ou seja, desmente a declaração que o criador do Você e a Paz deu sobre Roustaing, de que "não tinha tempo para ler sua obra". Na verdade, Divaldo não teve mesmo é tempo de ler a obra kardeciana, e vendo que as traduções mais fiéis ao texto original vêm de Herculano, aí é que o anti-médium baiano não iria reservar tempo para ler, mesmo.

Além disso, Herculano também condena a "caridade" tão festejada de Divaldo, definida pelo ilustre jornalista como "conduta condenável" e usada como "meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita". Em outra passagem, pode ser que Herculano demonstre misericórdia a Divaldo, mas o jornalista expressa claramente a preocupação pelos aspectos negativos do "médium".

Sabe-se que Divaldo obteve a risível reputação de "maior filantropo do Brasil" ajudando 0,0012% da população brasileira (isso é sinônimo de nada) e que, enquanto deixava o bairro de Pau da Lima, em Salvador, à própria sorte (ou azar), ele fazia turismo pelos países mais ricos com seu palavreado dado em palestras e conquistando os tesouros, inclusive europeus, das medalhas, diplomas, troféus e outros prêmios apenas pelo fato de ser um badalado ídolo religioso. Vamos à carta.

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(Carta endereçada ao jornalista Agnelo Morato)

Você sabe que o Chico mudou-se de Pedro Leopoldo para Uberaba, arrancado ao seio da família e à cidadezinha do seu coração por força das manobras das Trevas através do seu pobre sobrinho. Lembra-se? E não se lembra que o tópico mais importante da carta do Chico ao Jô é aquele em que ele (Chico) afirma que são essas mesmas Trevas (a mesma falange) que está agora se servindo do Divaldo? Para que fim? Para que fim?!

Muito antes do “estouro” com o Chico eu já havia sido advertido espiritualmente a respeito do médium baiano. Durante meses evitei encontrar-me com ele, pois é sempre desagradável constatar uma situação mediúnica nessas condições. Quando me encontrei, tudo se confirmou. Não tenho, pois, nenhuma prevenção pessoal, nada particular contra ele. O que tenho é zelo, é prudência, é necessidade de por-me em guarda e evitar que os outros se entreguem de olhos fechados às manobras que infelizmente se desenvolvem através da palavra ilusória desse rapaz. Espero em Deus que ele (agora roustainguista confesso e novo ídolo da FEB) ainda encontre o seu momento de despertar, antes que esta encarnação se finde.

Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita.

Você acha, Agnelo, que Emmanuel advertiria o Chico sem motivo? Que o Chico se recusaria a receber o Divaldo e escreveria uma carta como aquela ao Jô por despeito ou ciúme mediúnico? Você acredita que o Chico esteja obsedado e que o Divaldo seja uma vítima inocente? Que todas as trapaças do Divaldo sejam bênçãos do Céu para o nosso movimento? Que seja nossa obrigação acobertar e bater palmas a companheiros que têm esse procedimento, relatado acima apenas em parte?

Ainda hei de lhe contar um dia, pessoalmente, a trama que tive de ajudar alguns amigos a desfazer – uma trama maquiavélica, de tipo medieval, para pôr um “fim feliz” ao caso Chico-Divaldo, deixando o Chico na condição de ciumento e o outro na condição de vítima inocente.

Temos de ser, meu caro, mansos como as pombas, mas prudentes como as serpentes. Quem o disse foi o Cristo, que deve entender do assunto. E Kardec adverte, em “O Livro dos Espíritos”, Kardec e os Espíritos, que é obrigação dos homens de bem desmascarar os falsos profetas. Obrigação, veja bem, obrigação! Por isso não recuo diante (embora não me considere tão “de bem” assim…) diante dos casos de Divaldo, Hercílio Maes e Ramatis, Roustaing e FEB. Não será com a minha conivência que o joio sufocará o trigo da seara. Isso tem me custado caro, muito caro: mas Deus me tem ajudado a suportar o ônus. 

Sua carta é muito engraçada em certo sentido. Para defender o Divaldo você critica a minha posição em referência a três médiuns. Um é o Urbano, de quem você diz “o discutido Urbano”. Confesso que isso me surpreende. Soube, ainda em vida do Urbano, de um caso entre ele e o Russo, aí em Franca, que aliás me pareceu sem sentido. Fora disso, o que sempre vi foram demonstrações de confiança na mediunidade de Urbano, mesmo de parte daqueles que condenavam seu temperamento às vezes violento – pois a mediunidade é uma coisa e o temperamento é outra. Minha experiência de muitos anos com Urbano foi das mais felizes. Ainda não encontrei outro médium de tanta sensibilidade e que tantas provas me desse da sua legitimidade. E você deve saber que essa foi também a opinião do Schutel, do Leão Pita, do Baptista Pereira, do Odilon Negrão, do Wandick de Freitas, do Parigot de Sousa e tantos outros. Nunca o Urbano serviu de instrumento para mistificações conscientes ou para desvirtuamentos doutrinários. Tenho por ele o respeito que merecem os verdadeiros médiuns.

No caso Arigó, você diz que eu o defendi mesmo depois da sua queda. E como não fazê-lo? Ainda há pouco enviei a Matão uma entrevista, pedida pelo Jô, em que explico algo do assunto. Arigó, realmente, nos últimos tempos, deixou-se levar pelos interesses materiais, empolgou-se pelas possibilidades que se abriam diante dele, mas esteve longe de praticar os atos indígnos que lhe atribuíram os adversários. 

Esteve em grande perigo, mas a culpa foi mais dos espíritas do que dele. Era um homem rude, semialfabetizado, vivendo num burgo medieval dominado pelo clero. As instituições espíritas em geral só se interessaram pelos resultados positivos do seu trabalho, mas não lhe deram apoio. As Federações fizeram como Pilatos: lavaram as mãos na bacia de César. Em Marília, num congresso de jovens, a FEB proibiu que fosse votada uma moção a favor dele (que estava preso em Lafaiete), mas autorizou a votação de uma moção em favor da construção da sua sede em Brasília… Isso, sim, é que é dois pesos e duas medidas. Até que Arigó resistiu muito, demorou bastante a entrar em deterioração, e só não acabou no desastre completo porque o Fritz já havia dito que, na hora perigosa, o levaria para lá.

A morte de Arigó o salvou na hora “h”, no dia “d”. Cabe-nos agora aproveitar o saldo positivo que ele deixou e que é imenso. Por sinal que os seus erros eram pessoais, individuais. Nunca Arigó tentou levar os seus erros pessoais ao meio espírita como prática e exemplo. Errou por falta de visão, por envolvimento do meio, por falta de apoio moral. Nunca tivemos, porém, no campo da intervenção cirúrgica espiritual mediunidade maior. E não seríamos nós, agora que ele se foi, que o seu caso já se encerrou, não seríamos nós que iríamos desmoralizá-lo. A mediunidade é uma coisa e o médium é outra. Mas para os jejunos no assunto as duas coisas se misturam. Acusar Arigó depois de morto, por deslizes que não chegaram a comprometer a sua mediunidade, seria dar armas aos adversários e às Trevas. Além disso, na enxurrada de mentiras e calúnias lançadas contra ele há muita incompreensão espírita. O que nos interessa em Arigó é a espantosa mediunidade que enriqueceu o patrimônio das realidades espíritas na Terra. Você queria que eu o acusasse? 

No caso do Rizzini não há também intenção malévola alguma. Rizzini é médium e bom médium. Conheço-o há tempos e já tive boas experiências com ele. Se você acha que a sua atual produção psicográfica deixa a desejar, isso não me parece motivo suficiente para que eu o ataque ou desencoraje. Rizzini está se iniciando nesse campo novo e já produziu muita coisa boa, quase excelente. Não é um fingido nem um trapaceiro, mas um espírita corajoso e que deu mostras de sua fidelidade à doutrina nas horas difíceis, quando muita gente boa se encolheu, se fechou em copas. Ele é sincero, franco, leal – e às vezes até agressivo, mas dessa agressividade que caracteriza os espíritos corajosos. Não há a menor possibilidade de compará-lo ao perigo que Divaldo representa em nosso movimento. Entre Rizzini e Divaldo há o abismo da impostura.

Perdoe-e, caro Agnelo, se acaso usei de algumas frases ou expressões que poderão impressioná-lo. Escrevo-lhe de coração aberto, de irmão para irmão, tratando de assuntos que exigem clareza, posições definidas. A hora é de transição, de confusões, e devemos manter nossa posição com segurança. Não me seria possível calar nem desconversar diante da sua “provocação”. Aqui vai a resposta, caboclo velho, o tiro de trabuco desfechado na testa, como convém quando o tocaieiro escondido na moita ameaça a caravana desprevenida.

Não me queira mal. Nem me interprete mal. Divaldo me interessa como criatura humana, como nosso irmão, pelo qual devemos orar, pedir a Deus que o livre de maior envolvimento das trevas. Estou pronto para recebê-lo para o cafezinho, principalmente na sua companhia, mas sem que você ou ele alimente a vã esperança de me arredar da posição assumida. Como você viu acima, meus motivos são fortes demais, são de rocha. 

Perdoe-me se magoei a sua sensibilidade, principalmente nesse campo tão melindroso da afetividade. Com a qual Divaldo e outros da mesma linha costumam jogar com habilidade. Não trapaceio com o coração, com o sentimento. Louvo o seu interesse fraterno pelo Divaldo – ele necessita disso, e muito. Mas entendo que o Chico também precisa da nossa fidelidade, do nosso amor, da nossa gratidão. Ele não tomaria a atitude que tomou no caso por simples leviandade. Chico é uma personalidade espiritual formada no cadinho da dor, do sacrifício. Os seus guias espirituais são bastante conhecidos de nós todos. Que direito temos nós de rejeitar a sua advertência num caso como esse? Então ele só nos serviria quando fala em coisas que nos agradam?

Recomende-me ao Novelino, a d. Aparecida, aos seus familiares e aos amigos francanos. E não se esqueça, meu caro, de que estou escrevendo francamente para um francano…


Um grande e sincero abraço do:

HERCULANO

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