terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Espírito de Verdade e o desmérito da "caridade" dos deturpadores do Espiritismo

CORPO DE HOMEM ASSASSINADO É CARREGADO POR POLICIAIS E AGENTES EM UBERABA, UMA DAS CIDADES COM GRANDE ÍNDICE DE VIOLÊNCIA EM MINAS GERAIS.

Pela grandeza com que se autoproclamam os "médiuns espíritas", eles teriam transformado o Brasil num país de alto grau de desenvolvimento humano. A conversa mole que os "espíritas" brasileiros em geral têm, de que "conseguem fazer" na véspera o que "não puderam fazer" no dia seguinte, faz com que sua "caridade" seja muito mais um mito do que uma realidade e um projeto de vida.

Os "espíritas" ajudam, mas muito pouco, abaixo do que a grandeza que eles julgam ter deveria sugerir. Eles tanto falam que fazem Assistência Social (a caridade que realmente transforma), mas na prática o que eles fazem é Assistencialismo (a caridade que apenas reduz os prejuízos sem resolver profundamente o problema), fazendo muito pouco pelo próximo e se preocupando mais com a propaganda "divinizadora" dos "médiuns", os "sacerdotes sem batina" do "espiritismo à brasileira".

Locais como Abadiânia, em Goiás, Pedro Leopoldo e Uberaba, em Minas Gerais, e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, vivem do abandono, da pobreza e da violência extremas. As terras de Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco e João Teixeira de Faria, o João de Deus, nem de longe correspondem à grandeza com que os "médiuns" se autoproclamam possuir, como pretensos cidadãos do mundo e supostos ativistas sociais de alegado alto conceito.

É muito comum os "espíritas" dizerem, num dia, que "estão transformando a humanidade", que "finalmente estão realizando seu trabalho em prol da evolução planetária", e, no dia seguinte, virem com outro discurso, dizendo que "não puderam fazer o que desejavam" usando várias desculpas, que vão dos problemas financeiros à ação de "espíritos obsessores". Essa conversa é malandra e nem de longe reflete a firmeza original que foi a marca do pedagogo francês Allan Kardec.

Só no caso de Uberaba, terra adotiva de Chico Xavier, além dos altos índices de violência que preocupam a população local, é risível que, no centenário de nascimento do "médium", o ano de 2010, a cidade tenha recebido "de presente" da ONU uma queda de 106 colocações em Índice de Desenvolvimento Humano, indo do 104º lugar em 2000 para 210º uma década depois.

Não há como separar caridade de qualidade de vida, como, de maneira tão hipócrita, certos devotos religiosos pregam para acobertar os erros de seus ídolos da fé. Se o ídolo religioso que se coloca sob uma situação de grandeza não consegue trazer resultados profundos e definitivos de evolução social, só realizando num caso ou em outro, então a grandeza dele é uma farsa.

Daí um Divaldo Franco que risivelmente foi considerado "o maior filantropo do Brasil" por ajudar 0,0012% da população brasileira em mais de 60 anos de atividade. Muitos se exultam diante dos 163 mil beneficiados pela Mansão do Caminho em seis décadas, mas isso é sinônimo de nada, diante da dimensão da população brasileira e de tantos anos de ação.

Mas para um "médium" que humilhou os refugiados do Oriente Médio que buscavam uma vida de paz na Europa, acusando-os de serem "tiranos colonizadores sedentos pela retomada de riquezas" e abriu seu Você e a Paz para o lançamento de um engodo alimentar condenado por nutricionistas e ativistas sociais sérios, não é surpresa que esse papo de "maior filantropo do Brasil" é conversa para boi dormir, servindo mais para propaganda de um ídolo religioso do que para um suposto atestado de atividade filantrópica.

ATÉ PARECE QUE KARDEC PREVIU TUDO ISSO

A deturpação do Espiritismo que ganhou êxito surreal no Brasil, no qual os próprios deturpadores se julgam acima até mesmo do próprio Kardec, tenta se sustentar com a retórica de "caridade", que é uma espécie de "rouba mas faz" dos "espíritas". Ou seja, usa-se a "caridade" para justificar fraudes na "mediunidade" ou a pregação de ideias que vão contra os valores da Codificação.

Mas até parece que o próprio Kardec previu isso, assim como os espíritos realmente benfeitores que, mesmo imperfeitos, traziam mensagens de indiscutível lucidez publicadas na bibliografia kardeciana. O Espírito da Verdade, coordenador desses trabalhos espirituais feitos por médiuns (autênticos e quase anônimos e mais humildes do que os "humildes médiuns" brasileiros que vivem do culto à personalidade) a serviço do pedagogo francês, escreveu um texto bastante consistente.

Intitulado "Trabalhadores do Senhor", o texto integra o item III das instruções dos espíritos publicadas no capítulo 20, Trabalhadores de Última Hora, do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, na tradução de José Herculano Pires.

Nele, se oferecem subsídios para um problema que mesmo os contestadores da deturpação do Espiritismo não conseguem perceber, ainda deslumbrados com a imagem "divinizada" dos "médiuns espíritas". É a "caridade" que mais serve para satisfazer o orgulho dos "benfeitores" do que para ajudar as pessoas, deixando o trabalho incompleto ou em parâmetros medíocres enquanto os "caridosos" se apressam em buscar prêmios opulentos para o muito pouco que fizeram.

O texto é surpreendente e coloca em situação vexaminosa os "médiuns" brasileiros, que descobrimos não passarem de gananciosos enrustidos, vivendo do culto à personalidade, sendo objetos da mais mórbida adoração e alvos do apego mais doentio, e compensando a falta de batina com a falsa modéstia, uma imagem "humilde" que serve mais de apelo para arrancar prêmios em diversos eventos, colecionando medalhas, diplomas, troféus pela pouca filantropia que realizam.

O segundo parágrafo desta passagem parece um recado direto aos "espíritas" brasileiros, que pedem louvores pelo quase nada que fazem e, em muitos casos, até pelo mal que provocam quando apelam aos sofredores a aceitação das desgraças, uma marca de Chico Xavier, devoto da Teologia do Sofrimento.

A ideia de que os que pediram as recompensas na Terra - a própria pretensa "luminosidade" dos "médiuns" é um prêmio terreno e não um atributo das altas esferas espirituais - não receberão as do Céu é bem ilustrativa, na derrubada das ilusões que os "espíritas" têm de que os "médiuns" ao morrerem encerrariam a missão encarnatória ou enfrentariam uma ou duas reencarnações como "missionários".

Em muitos casos, são justamente os "médiuns" os espíritos mais ordinários, os mais levianos e pretensiosos, procurando caprichar o máximo possível no seu aparato de humildade, bondade, progressismo, sem perceber o quanto isso é uma extravagância pelo avesso, pois o verniz de humildade revela também o luxo e a pompa sob novas e traiçoeiras máscaras. Vamos ao trecho do texto do Espírito de Verdade:

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III – Trabalhadores do Senhor


ESPÍRITO DE VERDADE - Paris, 1862
Publicado em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec - tradução de J. Herculano Pires

5 – Chegastes no tempo em que se cumprirão as profecias referentes à transformação da Humanidade. Felizes serão os que tiverem trabalhado o campo do Senhor com desinteresse, e movidos apenas pela caridade! Suas jornadas de trabalho serão pagas ao cêntuplo do que tenham esperado. Felizes serão os que houverem dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos, e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, na sua vinda, encontre a obra acabada”, porque a esses o Senhor dirá: Vinde a mim, vós que sois os bons servidores, vós que soubestes calar os vossos melindres e as vossas discórdias, para que a obra não sofresse!” .

Mas infelizes os que, por suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, porque a tempestade chegará e eles serão levados no turbilhão! Nessa hora clamarão: “Graça! Graça!” Mas o Senhor lhes dirá: “Por que pedis graça, se não tivestes piedade de vossos irmãos, se vos recusastes a lhes estender as mãos, e se esmagastes o fraco em vez de o socorrer? Por que pedis graça, se procurastes a recompensa nos prazeres da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebeste a vossa recompensa, de acordo com a vossa vontade. Nada mais tendes a pedir. As recompensas celestes são para aqueles que não houverem pedido recompensas da Terra”.

Deus faz, neste momento, a enumeração dos seus servidores fiéis. E já marcou pelo seu dedo os que só têm a aparência do devotamento, para que não usurpem o salário dos servidores corajosos. Porque é a esses, que não recuaram diante de sua tarefa, que vai confiar os postos mais difíceis, na grande obra da regeneração pelo Espiritismo. E estas palavras se cumprirão: “Os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros no Reino dos Céus!”.

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