LILLYANNE - "SINTONIA" COM O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO?
Segundo notícia do Daily Record divulgada no Brasil por O Globo, uma "médium" é acusada de enviar uma mesma mensagem para clientes diferentes, através de cartas "psicográficas" atribuídas a pessoas falecidas.
Lillyanne é o nome da "vidente", que é muito conhecida por suas aparições constantes na televisão britânica. Ela foi denunciada por Karen Brannigan, escocesade 47 anos, que havia perdido a mãe em setembro de 2015 e teria recorrido à consulta da "médium" para saber se a falecida enviou alguma mensagem espiritual.
Karen era advertida pelo marido a não cometer tal "loucura", mas ela decidiu fazer a consulta. Teve que pagar o equivalente a R$ 225 para que a suposta médium se comunicasse com a mãe da escocesa. Assim que recebeu a mensagem, percebeu uma grande estranheza.
A mensagem nada tinha de familiar. Ela não viu elemento algum que pudesse lembrar a personalidade da mãe. Diante dessa reação, ela foi procurar alguém que também havia feito uma consulta a Lillyanne, e encontrou uma inglesa de Gloucestershire que apenas se identificou como Sue (nome que, ironicamente, coincide com o verbo da língua inglesa que quer dizer "entrar com processo").
Sue então mostrou a Karen a carta que a inglesa havia recebido atribuída a um ente falecido. Karen ficou surpreendida com a semelhança das cartas, sendo exatamente a mesma mensagem, havendo apenas a diferença de datas.
Diante da denúncia, a filha de Lillyanne (nome artístico da "vidente" Paula Barstow) disse que foi uma "falha administrativa e um "caso isolado". Mesmo assim, as duas lesadas resolveram processá-la por danos morais.
E NO BRASIL?
As irregularidades que foram feitas no "movimento espírita", em que a ciência de Allan Kardec é muitíssimo bajulada no discurso, mas ignorada na prática, faz com que a prática mediúnica seja ainda muito menos confiável.
O episódio britânico é muito presente, quase uma totalidade no Brasil, diferindo apenas pelos "serviços" serem sempre gratuitos - os "espíritas" têm outros meios de arrecadação financeira, como vendas de livros e o próprio lobby que trabalha com a mídia e a alta sociedade - e as mensagens sejam bastante sutis.
Mesmo figuras oficialmente tidas como "conceituadas" e "confiáveis", como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, apresentam episódios desse tipo. Chico Xavier, sobretudo, já que as mesmas denúncias contra Lillyanne também foram feitas contra o "médium" mineiro, mas como a Justiça no Brasil é frouxa, a impunidade rola solta nesse país, sobretudo quando ela repousa sob o manto da fé religiosa.
O processo de Chico Xavier era bastante sutil. Nos livros "psicográficos", havia plágios e pastiches. Nos plágios, havia o cuidado de não plagiar livros inteiros, mas apenas trechos deles, que também não eram rigorosamente copiados. Eram "reescritos" com trocas de posições entre palavras e parágrafos.
Já nas cartas "mediúnicas", o que se observa é que as mensagens são padronizadas, tendo quase sempre o mesmo apelo religioso, mas não rigorosamente copiadas. Elas variavam no aspecto formal do texto, só seguiam o mesmo roteiro, que mais parece uma adaptação do fictício drama de Nosso Lar em narrativas ligeiras e, no final, o mesmo apelo "fraterno" e "cristão".
Para "preencher" cada mensagem com a respectiva informação pessoal, há relatos de que parceiros de Chico Xavier haviam recorrido à "leitura fria", prática derivada da hipnose e do ilusionismo circense que consistia numa entrevista dada em tom intimista que colhia informações sutis do entrevistado, através de declarações, comentários e até de reações psicológicas de qualquer tipo.
Com Divaldo, identifica-se a mesma coisa, até pelo fato do baiano ser discípulo do mineiro. E tudo isso criou uma escola ruim de mediunidade, que praticamente desmoraliza esse dom, fazendo com que a comunicação com os espíritos do além, no Brasil, fosse vista como um processo duvidoso e sem confiabilidade, em que pesa a credibilidade que a prática tem entre os seguidores do "espiritismo".
Portanto, o episódio de Lillyanne talvez seja eventual em lugares como a Grã-Bretanha. Lá, em que pese obras duvidosas como A Vida Além do Véu (Life Beyond the Veil), de George Vale Owen, suposta psicografia que presumia um "mundo espiritual" em relatos fantásticos - a obra forneceu elementos para Nosso Lar - , há uma preocupação maior em se estudar a mediunidade com seriedade e cautela.
Aqui também existem pessoas preocupadas em estudar de forma séria a mediunidade, mas elas são muito mais raras e não se encontram no meio do "movimento espírita". E sofrem tanto preconceito por parte dos "espíritas", que não confundem autênticos e farsantes e acreditam que todos são "honestos", quando de detratores mais radicais, que duvidam até de um único ponto coerente trazido por Allan Kardec.
Assim, o que se observa é que, se comunicar com as almas do outro mundo é um processo raro e difícil no Primeiro Mundo, no Brasil torna-se praticamente impossível, diante das noções erradas que Chico Xavier e Divaldo Franco trouxeram com seus maus exemplos de mediunidade.
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