segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016
"Espiritismo" usa intolerância religiosa como desculpa para certos incidentes
Mais um incidente atinge "centros espíritas" no Brasil. No último dia 29, na comunidade do Sobradinho II, em Brasília, um arrombamento seguido de incêndio criminoso destruiu as instalações do local e deixou uma pessoa ferida, mas sem gravidade.
O "centro" usava o nome de Auta de Souza - poetisa potiguar ususprada por Francisco Cândido Xavier para o livro Parnaso de Além-Túmulo e cuja "obra espiritual" não condiz com o estilo pessoal da falecida autora - e a perícia está investigando as causas do incêndio.
A instituição existe desde 1970. Sobradinho II é uma comunidade popular situada no Setor Oeste de Brasília. É, portanto, uma área pobre marcada pelo cotidiano suburbano de muita violência, como ocorre nas cidades-satélites (espécies de bairros) existentes na capital do país.
O filho do fundador, Guilherme Varandas, o local foi vítima de ataque outras vezes. Ele, no entanto, arrisca-se a presumir, como houve em outros casos em "centros espíritas" - como o assassinato do "médium" Gilberto Arruda, no Lar Frei Luiz, na Taquara, Zona Oeste do Rio de Janeiro, no ano passado - que os ataques são fruto de "intolerância religiosa".
"O trabalho social foi todo queimado, todas as máquinas, uma tristeza. A gente fica com o coração apertado porque denota intolerância religiosa. Nós vamos aguardar a perícia e fazer ocorrência do arrombamento, porque não é a primeira vez", alegou Varandas sobre o estado do "centro", localizado na chácara 14 do Núcleo Rural II.
"CENTRO ESPÍRITA" USAVA O NOME DE AUTA DE SOUZA, BASEADO EM UM DOS NOMES FALECIDOS USURPADOS PELA "MEDIUNIDADE" DE CHICO XAVIER.
A questão da intolerância religiosa é usada pelos "espíritas" como tentativa de comover a opinião pública para incidentes que vitimam instituições e pessoas "espíritas". Em muitos casos, os trágicos incidentes podem ter motivação comum, o que é bastante provável, ou então uma richa pessoal que nada tem a ver com o fato de pessoas não tolerarem a "doutrina de amor e luz".
Quanto ao citado caso de Gilberto Arruda, é possível que o "médium" teria sido morto por causa de alguma desavença pessoal com um paciente. Houve o caso do ataque de vandalismo ao mausoléu de Chico Xavier, em Uberaba. Pode ter sido fruto de ação comum de vândalos, que atacaram o primeiro monumento que encontrou em sua frente.
O caso do "Centro Espírita Auta de Souza" pode ter sido o caso comum de uma instituição assistencial situada numa área pobre. Como em escolas públicas, creches, e outros ambientes do gênero. O arrombamento pode ter sido cometido por marginais ou usuários de drogas, apenas pelo prazer de provocar uma desordem, não pela raiva contra um movimento religioso.
O ato é lamentável como é lamentável todo ato de vandalismo, e mostra a falta de segurança que existe durante a noite, que permitem a ação de bandidos que agem como querem, porque agem sob o escuro noturno, se aproveitando do pouco movimento de pessoas e da falta de policiamento.
Mas isso também põe os "espíritas" a pensar. Afinal, a doutrina, com sua trajetória confusa e cheia de contradições, perdida num igrejismo antiquado e sendo uma das poucas doutrinas em que o pensamento de seu precursor é simplesmente ignorado (no caso, Allan Kardec), nunca atuou para superar a situação degradante do Brasil, suas injustiças e desigualdades.
Pelo contrário. Difundindo uma forma dinamizada de Teologia do Sofrimento, através do pensamento ultraconservador de Chico Xavier, o "espiritismo" se perdeu no mesmo descaminho que hoje se denuncia contra Madre Teresa de Calcutá, outra adepta dessa ideologia.
Enquanto os "espíritas", sobretudo diante do mais entusiasmado roustanguismo, que só por volta de 1975 tornou-se dissimulado, se preocupavam em apelar para as pessoas aceitarem suas desgraças e se limitarem a fazer orações silenciosas para sair de tais problemas, as desigualdades e injustiças aumentavam no país.
Não que o "espiritismo" fosse a única força que se prometia transformar a sociedade brasileira, mas sua pretensão de adotar medidas decisivas neste sentido tornou-se uma responsabilidade que simplesmente foi muito prometida e nunca cumprida, reduzindo a "caridade" a ações paliativas ou inócuas, mesmo que pareçam bem-intencionadas e eficazes.
Quanto à nossa postura, nós, que questionamos a deturpação do "movimento espírita", rejeitamos a intolerância religiosa. O que não toleramos é a mentira, a desonestidade doutrinária, a deturpação, porque elas expressam a falsidade, que observamos não pelo impulso da raiva, mas pela pesquisa e pela análise de muitos equívocos e irregularidades.
Se isso provocaria a raiva popular contra "centros espíritas", lamentamos muito. A nossa ideia não é incitar a raiva ou a desordem, mas questionar, no âmbito das ideias, as contradições e irregularidades observadas. Condenamos todo tipo de desordem, vandalismo e vingança, porque elas são nocivas e, em relação ao propósito de indignação contra a deturpação "espírita", inúteis e estúpidas.
Nosso questionamento é no âmbito das ideias, do questionamento severo, sim, mas sem incitar a violência. E a nossa intolerância não é contra a religião, embora admitamos seu potencial de manipulação e domínio de corações e mentes, mas contra a mentira, a mistificação, a fraude e o simulacro. Respeitamos a fé, mas não quando ela passa a servir à desonestidade e à ambição.
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