O ATOR NIZO NETO, COMO SEU PTOLOMEU DA ESCOLINHA DO PROFESSOR RAIMUNDO.
A trolagem na Internet foi longe demais. Diante do drama dificílimo do ator Nizo Neto, filho de Chico Anysio com a vedete Rose Rondelli e conhecido dublador de Matthew Broderick em Curtindo a Vida Adoidado, Jon Cryer em A Garota de Rosa Shocking e Sean William Scott em American Pie, os sádicos internautas não conseguem ter um pingo de respeito.
Desde o dia 23 de fevereiro, Nizo, mais conhecido como o Seu Ptolomeu da Escolinha do Professor Raimundo e integrante do elenco do humorístico Zorra, da Rede Globo, enfrenta a dor de ter um filho desaparecido há vários dias. Rian Brito, visto pela última vez no referido dia. O corpo de Rian, que era músico, foi encontrado numa praia em Quissamã, no Norte fluminense.
Diante da natural preocupação de um pai com um filho desaparecido (antes do corpo ser encontrado), Nizo foi vítima de piadinhas grosseiras e palpites não só desnecessários como jocosos sobre o paradeiro de Rian.
Com muita razão, Nizo ficou irritado e chamou os internautas que fizeram tais "gracinhas" de imbecis. O meio-irmão e parceiro Bruno Mazzeo, solidário a Nizo, também pediu respeito aos internautas.
A trolagem foi longe demais, e isso numa época em que se divulgou a frase de Humberto Eco, falecido no mês passado, sobre a imbecilidade nas mídias sociais. Eco lamentava que, em outros tempos, o imbecil só falava em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade, mas hoje o "idiota da aldeia" quer ter o mesmo direito à palavra de um Nobel da Paz.
Eco havia dito que as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis, e o drama existente na Internet é que o idiota da aldeia foi promovido a portador da verdade. Pior: o fato de vários desses imbecis serem "divertidos" e terem "senso de humor", mesmo pessoas com algum nível de esclarecimento dão ouvidos a ele e acabam o apoiando até nas trolagens.
DEFESA DO "ESTABELECIDO" E DE PRECONCEITOS SOCIAIS
As trolagens da Internet, no Brasil, revelaram duas posturas básicas dos imbecis digitais que preferem perder o tempo humilhando os outros: uma é soar como uma espécie de "cão-de-guarda" do "estabelecido", outra é manifestar o zelo de antigos preconceitos sociais.
No primeiro caso, internautas costumam "bagunçar" contra quem não aceita medidas e fenômenos estabelecidos pelo poder da mídia, da política, da tecnocracia e do mercado. A ideia é ridicularizar quem contesta ideias e procedimentos trazidos por pessoas dotadas de status (fama, diploma, dinheiro e comando), manifestando confiança cega em modismos e pretensas novidades.
A programação "roqueira" (extremamente ruim) da FM carioca Rádio Cidade, a pintura padronizada nos ônibus (quando diferentes empresas de ônibus têm o mesmo visual), a música popularesca (como o "funk" e o "sertanejo") e a gíria "balada" popularizada por Luciano Huck são algumas das "bandeiras" defendidas pelos troleiros (trolls).
No segundo caso, os preconceitos sociais se referem a papéis pré-estabelecidos para os diversos extratos da sociedade. Para eles, negros só têm que ser jogadores de futebol e funqueiros, rebolar e tocar percussão. Nerds só podem namorar mulheres siliconadas. Gays não podem ser deputados federais, se limitando a serem estilistas de moda ou coisa parecida.
Se essas minorias sociais rompem com os papéis pré-estabelecidos pela sociedade conservadora, os troleiros partem para a agressão. Eles não toleram sequer cabelos crespos ou cacheados, que na sua cegueira preconceituosa definem como "cabelo de esponja de aço).
Ataques racistas, machistas e homofóbicos foram despejados na Internet. Personalidades como as atrizes Sheron Menezzes, Cris Vianna e Taís Araújo, a jornalista Maria Júlia Coutinho e a professora universitária Lola Aronovich foram vítimas de tais ataques.
Em muitos desses ataques, troleiros combinam com "amigos" em comunidades da Internet para mandar mensagens em grupo, num horário previamente marcado, forjando um bate-papo digital (chat) em que, num primeiro momento, ironias são escritas, que depois se evoluem para gozações e daí para ameaças ou ofensas ainda mais pesadas.
Os troleiros, não obstante, também organizam páginas caluniosas contra as vítimas, chegando a ponto de usar fotos pessoais destas ou copiando indevidamente textos e outras atividades relacionadas. Um exemplo do que um troleiro é capaz de fazer é reproduzir uma foto de infância da vítima com a mãe e colocar na legenda: "É essa a puta"?
Mas a coisa não pára por aí. Os psicopatas digitais chegam mesmo a ultrapassar os limites das agressões digitais, combinando com um grupo de rapazes a ir para onde seus desafetos declararam morar para intimidá-lo e esperar ele chegar para fazer alguma agressão.
TROLEIROS VIRAM "VIDRAÇA"
Fanáticos pela programação "roqueira" da Rádio Cidade - emissora que foi pioneira em ser reduto de troleiros e antecipou o reacionarismo hoje visto na Jovem Pan de São Paulo, já que os "ouvintes roqueiros" desejavam, entre outras coisas, o fechamento do Congresso Nacional e a extinção do Poder Legislativo - chegaram a divulgar uma emboscada, "convidando" desafetos a irem para uma festa onde um locutor da Rádio Cidade atuava como DJ.
Um busólogo desesperadamente fanático pela pintura padronizada nos ônibus cariocas e histérico defensor de Eduardo Paes, que em sua insanidade não aceitava sequer críticas à Transmil (extinta empresa marcada por sua frota sucateada e velha, mas controlada por "peixes grandes" da política e do Judiciário fluminenses), chegou a ir várias vezes a uma cidade onde moravam desafetos.
As visitas, no entanto, eram tão frequentes que, segundo relatos, os milicianos que controlam o sistema de vans começaram a observar o busólogo "valentão" (cuja aparência robusta seria confundível com um miliciano rival) e, sem reagir, apenas o olhavam como quem faz marcação. Segundo se diz, quase que o busólogo brigão abriu seu peito para os fuzis da "máfia das vans", já associada ao assassinato de uma juíza.
Há poucos meses, dois jovens da alta sociedade, ao verem o compositor Chico Buarque deixar um restaurante após jantar com o amigo e cineasta Cacá Diegues, cercaram o autor de "Apesar de Você" e "A Banda" através de declarações do tipo "Petista, vá morar em Paris. O PT é bandido", iniciando uma grave discussão.
Com tantos episódios desse tipo, vieram então os "engraçadinhos" que não respeitam a angústia de um pai, independente dele ser famoso ou não, sofre em ter um filho desaparecido e depois encontrado morto. Um pai assim perde o sono com tal angústia e tristeza, e os internautas não conseguem perceber isso quando despejam comentários jocosos ou irônicos.
Diante de tantas situações, os "valentões" que um dia eram os "detentores da verdade absoluta" na Internet e faziam impor seu "mundinho" de convicções pessoais e ídolos e valores pré-estabelecidos, "na moda" ou "de sucesso", passam a virar "vidraça" quando até mesmo um famoso escritor e estudioso em Comunicação chama os "miguxos" de imbecis.
Se irem longe demais, os troleiros um dia sofrerão até atentados nas ruas, sofrendo represálias pela "zoação" sem limites. Com nota zero em respeito humano, os troleiros costumam brigar com quem querem, mas receberem reações de quem não desejam nem esperam tais atitudes.
E não é pelo preconceito à histeria juvenil e nem uma declaração de um idoso defendendo velhas convicções. Até porque, mentalmente, Umberto Eco era bem mais moderno e tinha uma visão muito mais aberta que os jovens troleiros, que na verdade são pessoas de mentalidade medieval travestidas de rebeldes de discurso agressivo, vocabulário arrojado e comportamento cínico.
Na verdade, os "velhos" são os troleiros que, como lembra a letra de "A Dança", de Renato Russo, se achavam "tão modernos" por uma questão de idade, mas passando essa fase, tanto faz eles serem considerados antiquados ou não. Os troleiros de hoje são os equivalentes do deputado Eduardo Cunha amanhã.
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