quinta-feira, 24 de março de 2016
Ideias equivocadas de mediunidade
O emburrecimento é uma constante no Brasil. O rol de desinformações que envolve o "espiritismo" feito no Brasil, uma doutrina que, em tese, valoriza a busca pelo conhecimento, é tanto que os "espíritas" são os que menos estão esclarecidos sobre qualquer coisa, deixando que a doutrina originalmente codificada por Allan Kardec vire um engodo na sua "adaptação" brasileira.
A mediunidade é um exemplo de como existem ideias equivocadas e muito mal interpretadas. Essa má interpretação permite que sejam considerados "médiuns" pessoas que deixam de ser intermediárias, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que passam a ser o centro das atenções, traindo o sentido etimológico da palavra "médium".
A palavra "médium" tem origem latina, medium, que quer dizer "canal de intermediação" ou alguma coisa relacionada ao que é intermediário. A partir desta palavra, formou-se a expressão em português "meio". Há também o termo "médio", que obviamente é bem conhecido.
A deturpação do termo "médium" é, portanto, notória, e corrompe até mesmo o processo de contato espiritual de acordo com os conceitos de Comunicação. O processo de transmissão de mensagem pelo emissor (espírito), canal (médium) e receptor (pessoas vivas) é distorcido, praticamente trocando alguns papéis.
Independente de fraude (quando o "médium" inventa uma mensagem da própria mente e diz que foi um morto que transmitiu) ou não, a figura do "médium" deixa de ser intermediária. Ele passa a ser o centro das atenções, a atração principal, o dublê de pensador e de conselheiro moral, deixando de lado a função intermediária, ou seja, de "médium", sendo portanto um anti-médium.
Deste modo, no processo de "mensagens mediúnicas", o espírito falecido deixa de ser o emissor, mas o "canal" que é usado pelo "médium" para emitir sua propaganda religiosa. Ou seja, o "médium" é o emissor de mensagens de apelo religioso e o falecido (independente de fraude ou não) se reduz a um garoto-propaganda dessa propaganda igrejeira, muitas vezes subliminar.
Alguns esclarecimentos devem ser feitos sobre o sentido de "médium", para que assim se desfaçam os diversos equívocos que fazem da mediunidade feita no Brasil uma grande bagunça, se distanciando das recomendações originais de Allan Kardec.
1) MÉDIUM NÃO É AQUELE QUE, POR SI SÓ, FALA COM MORTOS
O médium verdadeiro fala com espíritos, mas o sentido da palavra se refere àquele que se torna um instrumento de contato entre um falecido e as pessoas vivas. O indivíduo que, podendo se comunicar com mortos, não exerce essa intermediação, se limitando apenas a ser um amigo do espírito falecido, não é médium, é paranormal.
2) MÉDIUM NÃO É UM PROPAGANDISTA ESPIRITUALIZADO DE APELOS IGREJISTAS
O deslumbramento religioso faz com que o sentido de "médium" se perca como um cego numa floresta, e há quem pense que "médium" é aquela figura espiritualizada que lança mensagens de apelo igrejista. Lançando mão de um suposto espírito do além, o "médium" então se torna um "publicitário" do igrejismo e o espírito do além, agindo ou não agindo, torna-se seu garoto propaganda. Isso não é mediunidade, é propagandismo religioso.
3) MÉDIUM NÃO É UM FILÓSOFO DA BOA PALAVRA
Num país de pouco hábito de leitura e que, agora, com um hábito estranho de pessoas se limitarem a ler frases de efeito de qualquer famoso ou então ler livros "água com açúcar", que trazem tudo, menos Conhecimento, Chico Xavier e Divaldo Franco são considerados "filósofos" por uma boa parcela de incautos. Se eles não podem ser considerados médiuns no sentido original do termo, também não podem ser vistos como "filósofos da boa palavra".
Afinal, a coisa que eles não fazem é trazer filosofia. Primeiro, porque as obras de Chico e Divaldo contrariam frontalmente muitos dos ensinamentos de Allan Kardec e, com isso, vão contra o tripé Ciência-Filosofia-Moral do pensamento kardeciano original, já que os dois "médiuns", ou melhor, anti-médiuns, investem no mais gosmento igrejismo ideológico.
4) MÉDIUM NÃO É A ESTRELA DO PROCESSO MEDIÚNICO
Na época de Allan Kardec, os médiuns de que o pedagogo se servia para obter mensagens do além eram pessoas tão discretas que nada faziam senão transmitir esses recados, e não faziam muito alarde para isso, nem ousavam bancar os dublês de pensadores e falsos filósofos. Eram pessoas que só faziam a tarefa que lhes cumpria fazer e ficava nisso.
O problema é que, com a ideia de transformar Chico Xavier num astro pop, o sentido de intermediação foi derrubado. "Médium", no Brasil, passou a ser a grife, o centro das atenções, o pretenso pensador, o consultor espiritual, o conselheiro moral etc. Virou estrela, e, com isso, foi para as favas o discreto papel intermediário do verdadeiro médium, que praticamente inexiste no Brasil.
Com isso, a mediunidade é distorcida e corrompida e, portanto, não dá conta do recado. E, como a prática dita "mediúnica" é, em tese, muito comum, a atividade fica desmoralizada, até pela facilidade extrema de surgirem supostos médiuns. E as fraudes são tantas que a propaganda religiosa se torna um artifício para evitar revoltas. Enquanto isso, os mortos quase não se comunicam com o Brasil.
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