sábado, 30 de janeiro de 2016
E tudo começou com um mero comércio de livros
Realmente, o "espiritismo" é uma religião cheia de absurdos e as pessoas não percebem isso. Acham que é a "doutrina da solidariedade" ou a "religião da bondade" e se apegam demais a seus mitos e totens, muitas vezes com cego fanatismo. Não sabem o que está por trás das aparências.
A condescendência dos "espíritas" quanto aos erros doutrinários é tanto que muitos incautos acreditam que basta ler melhor Allan Kardec, nas traduções de José Herculano Pires, que irá resolver o problema. Não vai.
Afinal, ler as traduções de Herculano Pires só é o primeiro de uma série muito longa de passos. Se as pessoas leem estas traduções, que melhor correspondem ao texto original de Kardec, mas acreditam como "legitima" a pseudo-psicografia atribuída a Humberto de Campos, isso significa que os erros continuam acontecendo.
As pessoas nem percebem que o mito de Francisco Cândido Xavier foi construído com os interesses comerciais da Federação "Espírita" Brasileira para vender livros. e que ganhou um reforço sob a influência que Malcolm Muggeridge, com seu documentário sobre Madre Teresa de Calcutá, exerceu sobre a grande mídia e o "movimento espírita".
Daí que o mito de Chico Xavier, que fascina tanta gente, não passa de uma armação que veio, primeiro, da ganância dos chefões da FEB, que queriam vender livros "em nome da caridade" e, depois, com a associação dos mesmos com os barões da grande mídia brasileira.
As pessoas deveriam parar de serem ingênuas. Afinal, se há gente que parece empolgada demais quando o lucro que "vai para a caridade" é consumado, é bom estranhar. Ninguém fica feliz demais porque uma grande soma de dinheiro se acumula para os necessitados. Se alguém fica feliz quando vê muito dinheiro em suas mãos, não é para os pobrezinhos que a maioria dessa grana irá se destinar.
Observando bem, a euforia é demais. Diz a anedota que é uma alegria maior que a festa. E se existe tanto burburinho porque os livros de Chico Xavier vendem que nem artigo de liquidação, é porque algo traiçoeiro existe. E, se em muitas atividades filantrópicas, desvia-se dinheiro e bens para o gozo ou o comércio pessoal dos poderosos, na roustanguista FEB não poderia ser diferente.
Chico Xavier era um plagiador de trechos de obras literárias e um criador de pastiches não muito sofisticado, mas correto. Podia elaborar textos rebuscados, com linguagem aparentemente erudita, mas era incapaz de fazer textos que deem prazer de ler, que sejam de fácil entendimento e expliquem muito com poucas palavras.
Pelo contrário, ele escrevia textos que tinham vícios de linguagem, passagens prolixas, narrativas pesadas. É isso que se observou no caso Humberto de Campos e só uma leitura comparativa entre o que este autor deixou em vida e as obras supostamente atribuídas a seu espírito que se desmascara a farsa. O "espírito Humberto de Campos" escreve de forma bem diferente do que o autor maranhense.
A combinação de moralismo religioso, misticismo herege e pseudociência herdados de valores medievais fazia o "espiritismo" se tornar intragável e indigesto, daí que é necessário criar um mito associado ao "amor e bondade" e que personifique, mesmo sob os preconceitos elitistas e paternalistas, uma concepção conservadora de "humildade" e "superação".
E aí o mito de Chico Xavier foi construído, aproveitando os pontos fracos de uma sociedade acomodada e radicalmente conservadora. O mito do "interiorano humilde", que as manobras da FEB tentavam colocar acima de qualquer escândalos, tentando fazê-lo imune a qualquer incidente, foi decisivo para os interesses comerciais da federação.
Chico Xavier era um roustanguista convicto, mas tinha muito medo de assumir esta postura. Na verdade, ele nunca foi "espírita" e, até 30 de junho de 2002, ele nunca foi com a cara de Allan Kardec, o qual o "médium" mineiro, no fundo, achava um "grande chato", cujos livros lhe eram de difícil compreensão.
No entanto, ele foi empurrado ao longo dos tempos para "representar a Doutrina Espírita", e seu mito se agigantou. Houve oportunidades de Chico Xavier ser desmascarado, em 1944 e 1958. Em 1944, os juízes, melindrosos com o estereótipo "humilde" do "caipira inocente", não permitiram levar adiante o processo judicial contra Chico Xavier e a FEB.
Já em 1958, as denúncias de fraude na "mediunidade", trazidas pelo sobrinho Amauri Xavier Pena, fizeram a FEB recorrer a uma campanha difamatória contra o rapaz, com o apoio de vários "espíritas" que escreveram coisas rancorosas contra o jovem, que recebeu acusações infundadas (ele era tido até como "falsificador de dinheiro"), foi maltratado num sanatório "espírita" e teria morrido envenenado, porque é difícil uma pessoa morrer com 27 anos apenas porque "bebeu demais".
Até na crise do roustanguismo quiseram salvar o "midas da FEB", como deveria ser conhecido Chico Xavier. Ele, assim como seu discípulo Divaldo Franco, forjaram falsas mensagens atribuídas ao médico Adolfo Bezerra de Menezes (que teria reencarnado pouco após 1900, como seria de pessoas como ele, provavelmente sendo uma outra pessoa ainda encarnada dos anos 1960 aos 1980, época das supostas mensagens), dizendo-se "arrependido" pelo roustanguismo.
Era uma forma dos ditos "kardecistas autênticos" - termo citado, no sentido contestatório, por Carlos Imbassahy - tomarem o poder, usando Allan Kardec apenas por uma estratégia política, já que a cúpula da FEB, centralizadora e contrária aos interesses das federações regionais, era assumidamente adepta de Jean-Baptiste Roustaing.
Aí foi outro interesse leviano. Os roustanguistas "regionais", com a adesão de Chico Xavier e Divaldo Franco, apenas se opusaram a Roustaing porque ele era o símbolo do anti-regionalismo da FEB, como se este tivesse fundado o Partido de Roustaing e os "regionais" tivessem fundado o Partido de Kardec.
Só que as próprias mensagens do suposto Bezerra de Menezes apelavam para "kardequizar" (e não "kardecizar", como seria de praxe), o que indica uma corruptela do termo "catequizar", o que comprova que o igrejismo de herança roustanguista era mantido em sua essência, com toda a alegação de "respeito e fidelidade absoluta" ao professor lionês.
Até o fato da FEB colocar alguns livros de Chico Xavier para serem publicadas em outras editoras ou, mais recentemente ainda, filmes "espíritas" não muito baratos serem integralmente disponíveis de graça no YouTube, escondem o preço do tendenciosismo, da "livre reprodução" de obras, já que as entidades "espíritas" arrumam outros modos de arrecadação financeira que possam atrair mais gente.
Portanto, são apenas jogos de interesses. E o pessoal feito bobo alegre acreditando que existam pessoas que fiquem felizes porque muito dinheiro lhes chega nas mãos para ser passado para pessoas humildes. Se isso fosse realmente verdade, teríamos sentido a diferença em todo o país, mas o problema é que a pobreza continua havendo e até se agravado nos últimos tempos.
Daí que as atividades do "movimento espírita" são dotadas do mais puro tendenciosismo, e a boa-fé de muitos faz com que não se perceba o "espírito" da coisa. Pois enquanto as pessoas acreditam inocentemente na "bondade mais pura", mal conseguem perceber que essa retórica toda não passou de um apelo para vender mais livros e enriquecer dirigentes religiosos.
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