REGISTRO DA POSSE DE HUMBERTO DE CAMPOS (D) NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, NO RIO DE JANEIRO, EM 1920.
A obsessão de Francisco Cândido Xavier por Humberto de Campos e por outros espíritos falecidos, agindo como uma espécie de brincadeira que até hoje é levada a sério demais, tornou-se um dos mais graves casos de apropriação de identidade de alguém na História do Brasil.
Que mesmo pessoas distantes, uma encarnada e outra desencarnada, podem se afeiçoar, isso é possível. Mas, no caso de Humberto de Campos, isso nunca aconteceu, e o Chico Xavier que chamava seus contestadores de "levianos", mostrando que o "homem chamado amor" tinha também suas palavras venenosas, mostrava que tudo que escreveu sob o nome do outro era falso.
É só pesquisar com muita atenção os livros que Humberto de Campos lançou em vida. Seu estilo era bem próprio. Referenciais culturais eruditos, narrados com um leve tom coloquial, quase sempre descontraídos, dotados de eventual humor que poderia ser brincalhão e, por vezes, sarcástico, como no polêmico Diário Secreto (Vols. 1 e 2), lançado postumamente em 1954.
Já o suposto espírito de Humberto de Campos, por sua vez, destoa completamente do estilo que marcou o escritor em vida, já que todos os textos atribuídos ao "espírito Humberto de Campos" soam excessivamente religiosos, tristonhos, cansativos e deprimentes, sem manifestar um milésimo do senso de humor que marcou a vida e obra do escritor.
Antes que analisemos a gravura acima, publicada numa reportagem de O Globo, de 25 de abril de 1935, meses após o falecimento do escritor, que foi em 05 de dezembro de 1934, com apenas 48 anos de idade, um fato explica que Chico Xavier nem de longe se preocupou em reproduzir o estilo descontraído de Humberto de Campos.
Segundo informações trazidas pela reportagem, Chico Xavier, pelo menos até 1935, só conhecia Humberto de Campos pelos artigos publicados em jornais. Nunca leu os livros do autor, e na época esperava a encomenda de dois livros que um amigo prometeu lhe enviar.
Sem apresentar provas, o livro A Vida Triunfa, de Paulo Lopes Severino, que analisa "cientificamente" as ditas psicografias de Chico Xavier, descreve que, de 45 cartas que Chico Xavier "recebeu" mostrando assinaturas, 19 (42,2%) eram diferentes, 10 (22,2%) eram semelhantes e 16 (35,6%) eram idênticas. Os dados, em si, não garantem veracidade, e a não apresentação de provas faz com que o relato seja, no mínimo, duvidoso.
Quanto às assinaturas comparadas pela reportagem de O Globo, já em 1935, quase uma década antes do caso Humberto de Campos causar problemas judiciais contra Chico e a Federação "Espírita" Brasileira, é aberrante a diferença entre as duas assinaturas, a grafada por Xavier e a do escritor em vida. Vamos reproduzir as assinaturas na imagem em destaque
Note-se que as caligrafias são extremamente diferentes, sendo, acima, a suposta assinatura do "espírito Humberto de Campos", e, abaixo, a que o verdadeiro Humberto teve em vida. O modo de escrever é completamente diferente, e a assinatura acima ainda mostra um estilo de caligrafia próximo ao de Chico Xavier quando escrevia de forma apressada.
Mesmo quando se admite "defeito no aparelho", no caso o suposto médium, era de se esperar o máximo de semelhança possível, comparável ao da assinatura que uma mesma pessoa escreve várias vezes, com suas devidas diferenças pontuais, que não comprometem os aspectos de identidade e personalidade do assinante.
Portanto, a assinatura do suposto espírito simplesmente não procede. A caligrafia é de uma diferença aberrante, assim como o estilo literário entre o suposto espírito e o legado deixado por Humberto de Campos na Terra.
São diferenças que nos fazem concluir, com segurança: Humberto de Campos nunca esteve ligado às "psicografias" que leva seu nome e que ele mesmo, cauteloso, se afastou de Chico Xavier desde os poucos meses de falecido, receoso da exploração leviana que o anti-médium fez do escritor maranhense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.