sábado, 4 de novembro de 2017

Fascinação obsessiva faz brasileiros nunca criticarem erros dos "médiuns"

 O "ESPIRITISMO" BRASILEIRO É FAMOSO POR USAR ESSES APELOS PARA AFASTAR OS CONTESTADORES E FAZER PREVALECER A DETURPAÇÃO.

Os brasileiros têm muito medo de criticar os "médiuns espíritas". Esse medo se dá por diversas razões. Uma é a suposição de que eles mantém contatos com espíritos superiores, um mito do qual não há confirmação de ordem científica ou de outra natureza, mas é tida como certa pela alegação dos próprios "médiuns", que se deixam valer pelo prestígio religioso e pela aceitação plena das elites.

Mas a principal razão dessa falta de coragem em enfrentar os "modernos sacerdotes" da fé medieval - até parece que o termo "médium" tem uma ligação semântica com a Idade Média, período que, pelo jeito, é alvo de nostalgia de muitos brasileiros - se deve por um apelo muito conhecido, mas advertido por Allan Kardec como um meio muito perigoso de manipular e atrair o apoio das pessoas.

Trata-se de um tipo de obsessão, chamado de "fascinação" ou "fascinação obsessiva". Ele está claramente descrito em O Livro dos Médiuns. Trata-se de uma forma de controlar as pessoas usando de apelos de persuasão muito fortes, mas sem intervir, aparentemente, na consciência das vítimas.

No caso dos "médiuns" brasileiros, que são ideologicamente formados pelo igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing - desconhecido de muitos "espíritas", mas mentor de muitos paradigmas religiosos da doutrina brasileira - , a fascinação obsessiva usa como instrumento de manipulação o recurso falacioso do Argumentum Ad Passiones, conhecido como "apelo à emoção".

O Argumentum Ad Passiones, ou simplesmente Ad Passiones, é um recurso considerado falacioso pelos estudiosos da linguagem humana, e se define com apelos fortemente emotivos que servem para dominar as pessoas. No caso dos "médiuns", são apelos que, na aparência, são agradáveis e até bastante comoventes, mas que se tornam bastante perigosos e podem corromper a percepção de mundo das pessoas, não raro traindo a lógica e o bom senso.

Só para percebermos o nível de atraso em que se encontram os brasileiros, o Ad Passiones havia sido prevenido até na Antiguidade. O famoso poema Odisseia, de Homero, falava da trajetória do bravo Ulisses, que certa vez foi tentado a seguir o canto das sereias, que tomado de profunda beleza o convidava à perdição, se afogando e morrendo no esforço de segui-las.

A alegoria das sereias se substitui por outras, mais sutis e menos eróticas, adaptando o sentido de "canto de sereia" ao contexto atual, de idosos não muito atraentes fisicamente, mas estão associados a outros apelos fantásticos: paisagens floridas, céu azul com nuvens brancas, sol brilhante, passarinhos sobrevoando flores, crianças sorridentes ou, então, crianças pobres chorando.

Muitos pensam que a ausência da figura feminina ou do apelo erótico anula o caráter traiçoeiro do Ad Passiones e que os apelos trazidos pela ideologia "espírita" são profundamente salutares e edificantes. Grande engano. O sentido do "canto da sereia" serve para as pessoas se submeterem ao imaginário roustanguista que o ideário "kardecista" (termo usado como eufemismo para a deturpação do Espiritismo) oferece através de apelos supostamente mais modestos.


IMAGEM EXTRAÍDA DE ESQUEMA DIDÁTICO EXPLICANDO A FASCINAÇÃO OBSESSIVA SOB A ÓTICA DA DOUTRINA ESPÍRITA ORIGINAL.

O Brasil ainda é muito receptivo a certos fenômenos que, no Primeiro Mundo, são reconhecidamente ardilosos. A overdose de informação, que é a sobrecarga de notícias, fatos e informações que desgastam o raciocínio humano, é aceita no Brasil como se fosse "liberdade de informação" e até "amplitude de conhecimento".

A domesticação das classes populares pela indústria do entretenimento, que idiotiza o povo pobre reduzindo-o a uma multidão patética, conformada e consumista, e o submete a valores sociais e morais retrógrados, é definida pelas elites intelectuais brasileiras como um "movimento libertário popular", uma suposta "cultura das periferias" na qual acredita-se na tese de suposto (e muito falso) fortalecimento cultural das pessoas que vivem em condições de pobreza relativa ou absoluta.

AD PASSIONES E "BOMBARDEIO DE AMOR": A PIOR ARMADILHA DOS DETURPADORES DO ESPIRITISMO

O Ad Passiones, que é o conjunto de apelos emocionais feitos para dominar a pessoa através da produção de comoções e alegrias aparentes, é desconhecido entre os estudiosos da manipulação mental no Brasil. Mas, no exterior, é reconhecido como um tipo de falácia que exerce, de forma envolvente, a dominação de outrem, tornando as demais pessoas submissas e crédulas.

Apesar do desconhecimento da expressão Ad Passiones, processos caraterísticos desse processo falacioso são acolhidos positivamente pelos brasileiros. O apelo das "belas palavras" e das "lindas imagens", além de estórias que lembram contos de fadas de pessoas com sofrimento extremo que, em dado momento, encontram a felicidade, são encaradas sem o menor grau de desconfiança e questionamento.

Para piorar, a aceitação se estende à forma mais perigosa de Ad Passiones, o "bombardeio de amor" (em inglês, love bombing). O apelo falacioso que simula emotividade extrema e forja um aparato de acolhimento fraternal em níveis supostamente amorosos e sensíveis, que causam comoção fácil às pessoas, é definido no Primeiro Mundo como um tipo extremamente perigoso de falácia e uma das piores armadilhas usadas para dominar as pessoas.

No Brasil, porém, esse perigoso processo é aceito como se fosse uma demonstração verdadeira de fraternidade, sem que as pessoas percebam os interesses por trás de um acolhimento feito por estranhos, que tão de repente demonstram acolhimento extremo, profunda emotividade e afeição imensa. Nem sequer o ditado popular "isso é bom demais para ser verdade" chega a ser cogitado pelas vítimas que veem nessa armadilha uma "manifestação do mais imenso amor".

Entidades religiosas em geral usam o "bombardeio de amor" como um recurso para atrair fiéis. Numa sociedade em que até pessoas com relativo convívio amistoso ou conjugal se tratam com indiferença, é preocupante que muitos não conseguem estranhar a "afeição extrema" em certos ambientes, com estranhos aparentemente oferecendo o que nem seus amigos de infância são capazes de oferecer.

No caso do "espiritismo" brasileiro, o "bombardeio de amor" permite a blindagem absoluta dos "médiuns", poupando-os de escândalos mesmo quando evidências mostram alguns deles envolvidos em incidentes estranhos, como Francisco Cândido Xavier defendendo a ditadura militar e Divaldo Franco permitindo que um alimento suspeito como a "farinata" de João Dória Jr. fosse lançada durante um evento "espírita".

Ninguém tornou-se capaz de imaginar que Chico Xavier sempre foi um conservador de direita (tendência compartilhada por Divaldo Franco e João de Deus, entre outros) e Divaldo Franco teve condições para cancelar a homenagem a João Dória Jr. por causa do alimento duvidoso, mas consentiu que ele fosse lançado, com o prefeito de São Paulo usando a camiseta do Você e a Paz, com o nome do "médium" escrito, o que sugere um vínculo de imagem nunca contestado pelo famoso orador.

No caso de Chico Xavier, chegou-se a ocorrer uma gafe de uma blogueira declaradamente comunista, entusiasmada com o filme As Mães de Chico Xavier, reclamar que o filme era "boicotado" pela grande mídia, mesmo sendo uma produção da Globo Filmes (da mesma empresa da Rede Globo de Televisão). Se ela visse a entrevista de seu ídolo no programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, hoje disponível no YouTube, ela cairia da cadeira, ao ouvir os comentários anticomunistas do "médium" mineiro.

Tomadas de emoção, as pessoas não conseguem perceber as coisas e caem em contradições, incompreensões e gafes constrangedoras. Mas se até a deturpação do Espiritismo francês no Brasil, com "adaptações" feitas ao arrepio do legado kardeciano, são aceitas por muitos como "pequenos exageros movidos pelo entusiasmo da religiosidade", então a coisa fica muito, muito séria. E, portanto, da mais extrema gravidade.

Afinal, com toda a alegação de "tradições religiosas" e pelo "saudável acolhimento da fé cristã", aceita-se que o Espiritismo, no Brasil, se rebaixe a um sub-Catolicismo tão convicto que hoje caminha para recuperar, não as prometidas bases kardecianas, mas as bases decadentes do Catolicismo jesuíta que vigorou no Brasil colonial. Pelo jeito, a relação semântica de "médium" e "medieval" vai muito além do prefixo gramatical.

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