terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Grande Rio preocupa com número de fumantes


O Estado do Rio de Janeiro está em calamidade pública. Não por causa do rombo nos cofres públicos, na falta de segurança ou na corrupção política, mas também numa crise generalizada de valores e nos vícios que uma boa parcela de fluminenses mantém, prejudicando a imagem do povo fluminense como um todo e trazendo prejuízos sérios para o Estado.

É preocupante ver a alienação insensível de pessoas que, tomadas de uma preguiçosa alegria, parecem viver no "paraíso" mesmo diante de um cenário infernal, com clima meteorológico que lembra o de uma sauna ao ar livre, em uma região metropolitana poluída, o Grande Rio, e uma série de retrocessos que a sociedade local encara com submissão bovina, como se prejuízos do presente trouxessem benefícios futuros.

É assustador, por exemplo, ver jovens alegres no calçadão da praia, enquanto lixo é jogado em área próxima e as fezes de cachorro soltam um mau cheiro. Famílias vão para um restaurante onde na frente se estaciona um caminhão de lixo fedorento - do contrário da "preguiçosa" Salvador, os caminhões de lixo fluminenses não contam de técnicas para prevenir a exalação de mau cheiro - sem saber do risco de intoxicação alimentar pela contaminação da comida pelo ar.

Há uma anedota em que o Rio de Janeiro alterou seu nome para Riley Day Janeiro, em alusão à Síndrome de Riley Day, doença que faz a pessoa ficar insensível à dor. A indiferença dos fluminenses aos próprios problemas, cuja gravidade só admitem através da chamada mídia hegemônica, atinge níveis preocupantes, na medida em que se aceita todo tipo de retrocesso. Pior: aceita-se não apenas com resignação, mas com alegria, mesmo.

A aceitação em torno dos ônibus com pintura padronizada, que prejudica a pessoa já no seu direito de ir e vir - a medida confunde os passageiros e favorece a corrupção político-empresarial - é um dado preocupante, porque envolve os deslocamentos de muitos cidadãos, desnorteados com diferentes empresas de ônibus ostentando uma mesma identidade visual.

Espera-se que o novo secretário de Transportes, Fernando McDowell, que se afirmou contrário à medida, a cancele, criando um precedente para o país, pois a pintura padronizada nos ônibus era para ser banida em todo o país (ela já não faz sentido sequer em Curitiba e São Paulo) e não ampliada (os sistemas de ônibus de Recife e Florianópolis, por exemplo, refletem sua decadência com a adesão tardia a essa mesmice visual).

Em todo caso, o problema dos ônibus padronizados já era para afligir na saída de casa e as pessoas, mesmo sobrecarregadas de seus afazeres, aumentando o risco de embarcar num ônibus errado - o que é um perigo de proporções trágicas, como pegar um ônibus para o Jacaré pensando ser para Grajaú e deparar com um traficante no ponto de desembarque - , ficam conformadas com a situação.

O Rio de Janeiro acumula tragédias e crises severas cuja banalização deixa as pessoas insensíveis. É comum ver homens rindo dos problemas do Estado. E já se fala no risco de explodir uma rebelião de presos em Bangu ou em outro presídio carioca, o que, até o fechamento deste texto, ainda não ocorreu.

Outro dado preocupante é a alta existência de fumantes, vários deles tomados de arrogância e espírito de desrespeito. Alguns, cinicamente, apelam para o hábito de "fumar com os dedos", andando quarteirões sem tragar um cigarro, que continua soltando sua fumaça para ser inalada por um não-fumante.

Nem mesmo os recentes óbitos de atores e jornalistas de TV, mortos antes dos 70 anos e, em certos casos, no comecinho dos 60 anos de idade, sensibilizam as pessoas. Há muitos relatos de gente que, por causa do cigarro, perdeu amigos até de 38, 42 anos, mortos de repente, poucos dias depois do último contato, quando pareciam firmes e fortes.

O Rio de Janeiro virou o reduto de insensibilidade, não bastasse os casos de ataques fascistas na Internet. Por enquanto, notícias de surtos fascistas ocorrem mais em São Paulo - recentemente, um motoqueiro com camisa do grupo Abutre's agrediu uma jornalista por ela se declarar esquerdista - , mas potencialmente eles são suscetíveis de ocorrer no Rio, Estado com maior número de praticantes de cyberbullying nas mídias sociais.

No caso dos fumantes, é assustador que pessoas falem naturalmente que vão comprar cigarros, que pedem isqueiros, o que dá a impressão que, para elas, o preço do maço de cigarro é bem baratinho. Até parece que cigarro tem preço de bala, e os preços são muito generosos, num mercado em que os demais produtos custam caro, como carnes, vegetais, laticínios, cereais etc.

Outro dado alarmante é que o lobby da indústria tabagista já tenta minimizar a imagem negativa do fumo, através de comparações tendenciosas sobre o uso do açúcar, com o lema "o açúcar é o novo tabaco". Embora o pretexto seja divulgar os males do consumo excessivo de açúcar, a ideia é minimizar a gravidade do fumo, criando um "vilão tão ou mais forte" do que ele. Já não basta que uma das marcas de cigarro mais vendidas se chama Gift ("presente", em inglês)?

Dessa forma, as pessoas nem precisam mais comprar açúcar, podendo comprar muito mais cigarros. E isso cria tantos problemas, até pela arrogância dos fumantes. Nota-se a cara feia e o pouco caso com que fumantes, quando entram nos ônibus ou estabelecimentos comerciais, jogam o cigarro no chão e fazem cara feia, como se não gostassem de serem "privados" pelo "prazer" de fumar.

Consta-se que boa parte da poluição no Rio de Janeiro, que cria um desequilíbrio de proporções trágicas na meteorologia, com manhãs de calor infernal e anoitecer de temporal e trovoadas, se dá pelo entretenimento convicto do fumo, o que faz do cigarro uma espécie de "chupeta de gente grande", e da adesão ao fumo como um apego às conveniências sociais e uma expressão da insegurança de muitas pessoas.

Algo tem que ser feito. O Rio de Janeiro, Estado marcado pelo fanatismo do "sucesso" pessoal, da religião e do futebol, e considerado, ao lado de São Paulo e Paraná, o mais conservador do Brasil, sofreu retrocessos em ritmo vertiginoso, fazendo praticamente inverter sua posição que outrora era de vanguarda cultural e notável, embora imperfeito, progresso social.

Hoje o Estado do Rio de Janeiro é considerado um dos mais atrasados do Brasil, dentro de um contexto em que o Sul e Sudeste deixaram de lado seus paradigmas de modernidade e desenvolvimento social para mostrar surtos preocupantes de intolerância social e manifestações fascistas. Alguém tem que frear tudo isso, antes que o resto do Brasil pague com a fascistização do "moderno" Sul e Sudeste.

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