quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

"Palavras de amor" não absolvem erros do "Espiritismo" brasileiro


Quando surgem denúncias de erros graves ou equívocos constrangedores praticados no Espiritolicismo, que é o dito "Espiritismo" brasileiro, seus adeptos se insurgem e chegam mesmo a dizer "Deixa pra lá,  o que importa são as lições de amor que a doutrina nos dá".

É o caso, por exemplo, de quando se apontam os grotescos erros históricos apontados por historiadores renomados em vários trechos do livro Há 2000 Anos, que o espírito Emmanuel havia ditado ao médium Chico Xavier em 1944.

Os leitores entusiasmados dessa duvidosa obra literária, um "novelão" malfeito de uma linguagem por demais rebuscada e retórica digna do mais retrógrado catolicismo medieval traduzido para o português, simplesmente menosprezam tais erros históricos em nome das "lições de amor" que a obra parece "inspirar".

Outros então chegam ao ridículo de indagar se os dados contidos no livro não seriam "verdadeiros", por conta de um espírito que tais pessoas acreditam ser "superior", o "guia iluminado" de Chico Xavier, a "pessoa mais bondosa" que passou pela face da Terra, na impressão dessas mesmas pessoas.

Impressões semelhantes ocorrem quando Divaldo Franco é acusado de plágio, ou de dar informações erradas em suas palestras verborrágicas, ou diante do aberrante livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, suposta psicografia montada pela FEB sob responsabilidade assumida por Chico Xavier usando o nome do escritor Humberto de Campos.

"Que importam os erros, o que importa é o amor". "Quem é que garante que eles tenham sido erros?". São reações diferentes, mas que colocam o amor acima da honestidade da razão, dentro daquilo que, no catolicismo medieval, havia sido conhecida como a supremacia da fé sobre a razão.

No catolicismo medieval, falava-se no tal "mistério da fé". Era obrigado acreditar, e não pensar. O cientista Galileu Galilei chegou a ir aos tribunais porque questionou concepções astronômicas defendidas pela "Santa Igreja" na época, começo do século XVII. Isso porque suas descobertas científicas nada tinham valor diante da fé cega defendida pelos católicos da Inquisição.

Mesmo sob o pretexto de uma "fé raciocinada" que não se observa na prática, o "Espiritismo" brasileiro também mostra um ranço de catolicismo medieval, quando tenta absolver os erros da razão em prol da "emotividade do amor, da caridade e da fraternidade".

Só que isso, mais do que significar uma adaptação "moderna" para o "mistério da fé" do catolicismo medieval, é uma amostra de conformação com a desonestidade, com a ignorância convicta e nada inocente, e com outros vícios trazidos pelo "movimento espírita".

Afinal, um livro como Há 2000 Anos, em que Emmanuel narra sua suposta passagem nos tempos de Jesus Cristo, revela-se uma fraude aberrante, porque Emmanuel, a partir dos erros históricos que transmite, desconhecendo a geografia, a geopolítica e mesmo o sistema de castas familiares adotado pelo Império Romano, acaba demonstrando que não teria vivido naqueles tempos.

Isso é desonesto, porque Emmanuel diz que foi um senador romano que nenhum documento histórico conseguiu comprovar. Pelo contrário, Emmanuel se baseou na duvidosa "epístola Lentuli", que nem a Igreja Católica, nos seus altos surtos medievais, admitia veracidade.

A "epístola", apócrifa (sem autoria creditada), só teria sido publicada a partir do século XIII, portanto bem depois da vida de Jesus. Antes disso, nenhum documento, dos que hoje restam, dá conta do tal "Públio Lentulus" que Emmanuel diz ter sido, e é pouco provável que os documentos perdidos também possam constar de tal dado.

Portanto, se aprendemos, na nossa sociedade, que a desonestidade macula qualquer sentimento de amor, por que teremos que aceitar tal defeito em relação ao "Espiritismo" brasileiro? Inútil dizer que as "lições de amor" estão acima de qualquer desonestidade ou erro histórico. Até porque desonestidade é enganar quem ama o enganador, é traição, intriga, desmoralização e gera tristeza.

No exemplo de Há 2000 Anos, Emmanuel cometeu uma grande fraude. Como foi fraudulento o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que não passou de uma reedição de uma antiga palestra e nada acrescentou de revelações ao duvidoso horizonte historiográfico brasileiro, ditado pelos burocratas do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil.

Portanto, fraudes assim não podem ser inocentadas pelas "palavras de amor" que transmitem. Isso as faz até piores, porque as "palavras de amor" servem para enfeitar a desonestidade e fazê-la palatável e apreciável para mentes sensíveis, porém pouco preparadas para discernir as coisas. Daí a imoralidade que nenhum "amor" consegue suavizar.

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