domingo, 28 de junho de 2015

Raul Seixas continua sendo complicado para os brasileiros

RAUL SEIXAS À FRENTE DE SEU PRIMEIRO GRUPO, RAULZITO E OS PANTERAS.

As rádios de pop adulto e as poucas emissoras de MPB autêntica que existem no país eventualmente tocam os grandes sucessos de Raul Seixas: "Gita", "Al Capone", "Sociedade Alternativa", "Tente Outra Vez", "Metamorfose Ambulante".

Aparentemente, Raul Seixas é aceito pelas famílias mais tradicionais, pelas pessoas conservadoras, e até mesmo uma dupla breganeja como Chitãozinho & Xororó tenta se autopromover usando a música "Tente Outra Vez" como inspiração para a perseverança.

Raul iria se revirar no além. Afinal, ele nunca foi com a cara dos breganejos e de tantos outros oportunistas que agora se acham "profundos admiradores" do roqueiro baiano, um dos poucos que assimilaram a contemporaneidade cultural ao conhecer o rock'n'roll de 1954-1955 através dos discos de um amigo filho de um diplomata.

Apesar da boa execução de suas músicas e da aparente banalização de seu repertório, Raul Seixas é uma personalidade bastante complexa. Morto em 1989, em 21 de agosto, aos 44 anos, ele teria feito 70 anos hoje, supostamente popularizado, mas extremamente incompreendido.

Raul Seixas é admirado pelos brasileiros convencionais por conta da sua fase mística, por suas letras aparentemente utópicas em torno da liberdade pessoal. No entanto, é a massificação de seus sucessos que dá essa impressão enganosa.

Afinal, pais conservadores que cantam músicas como "Sociedade Alternativa" ou versos como "Você será capaz de sacudir o mundo", de "Tente Outra Vez", ídolos musicais que divergem da natureza artística de Raulzito (como o roqueiro era conhecido no começo da carreira) passaram a "homenagear" o músico após o seu falecimento.

No entanto, o misticismo de Raul Seixas que tanto deslumbra as "boas famílias", sobretudo as tidas como "espiritualistas", foi apenas uma "aventura" que durou menos de uma década. Quando gravou "Maluco Beleza", em 1978, Raul já se distanciava dos temas místicos.

A música "Maluco Beleza" tem sua mensagem subestimada, uma vez que ela não é uma apologia poética à "boa loucura", mas um desabafo irônico de Raul Seixas sobre a excentricidade. A letra é um protesto e a crítica é endereçada justamente para os "caretas" que, felizes, cantarolam o verso "fazer tudo igua-uu", fazendo tudo igual como não teria recomendado o roqueiro baiano.

Exemplo fez o último parceiro de Raul Seixas, o roqueiro conterrâneo Marcelo Nova, com quem o veterano gravou A Panela do Diabo. Nova, regravando "Ouro de Tolo" em 1986, mudou o modelo de automóvel citado na música, numa "não-autorizada" intervenção na composição de Raul Seixas. Mas, com toda certeza, Raul não só aprovou como se aproximou de seu discípulo.

E aí músicas como "Muita Estrela, Pouca Constelação" e "Rock'n'Roll" passavam bem longe do famigerado misticismo poético dos anos 70, sendo duas críticas cínicas contra a mediocridade cultural da qual os acomodados "fãs tardios" de Raul se inserem.

Raul, no final de sua vida, estava cético, mas com o senso crítico bastante afiado, bem distante do estereótipo do "bom maluco" e do "admirável esotérico" que o cantor baiano é visto pelo grande público, uma imagem não raro distorcida pela mídia, sobretudo o Fantástico da Rede Globo e a revista Contigo.

DEFINITIVAMENTE, RAUL SEIXAS NÃO FOI ZÍLIO

Um dos textos mais lidos deste blogue, Raul Seixas nunca teria sido o espírito Zílio, é bastante esclarecedor e podemos garantir que, definitivamente, o roqueiro baiano nunca teria se manifestado através do suposto espírito Zílio, na suposta psicografia de Nelson Moraes.

Nelson, que não parece o tipo de pessoa que conhece e aprecia profundamente a obra de Raul Seixas, construiu seu "Raulzito" através de informações estereotipadas divulgadas na grande mídia. Em muitos aspectos, o "Zílio", pseudônimo usado para a suposta psicografia, soa infantilizado e piegas para ter sido, realmente, o espírito do roqueiro baiano.

Dois livros foram lançados, Um Roqueiro no Além e Há Dez Mil Anos - este um trocadilho meio "engraçadinho" com o nome do livro Há Dois Mil Anos, da obra de Chico Xavier - e, embora nos meios "espíritas" o nome de Raul Seixas é abertamente usurpado, fora dele o "espírito Zílio" é timidamente divulgado sem enfatizar o suposto crédito.

Zílio se expressa como uma pessoa um tanto abobalhada, religiosa demais, excessivamente mística e com uma retórica quase infantil. Seu modo de se expressar é um misto de insegurança e um estado de tolice, que destoam do Raul Seixas que se expressou nos últimos anos de vida.

Um assustado Zílio mendigando "fraternidade" não teria mesmo a ver com o Raul Seixas doente, mas cínico e altivo, que fazia suas últimas apresentações ao vivo ao lado de Marcelo Nova, chegando a aparecerem no Domingão do Faustão da TV Globo, quando, em seus primeiros meses de transmissão, ainda guardava o ranço do antigo programa de Fausto Silva, Perdidos da Noite (Record / Band).

Além disso, o trocadilho forçado das mensagens de Zílio com temas relacionados a Raul Seixas e o trocadilho de mau gosto do nome do segundo livro, Há Dez Mil Anos, forçando o vínculo de Raulzito com o "espiritismo" ultraconservador de Emmanuel e Chico Xavier, só mostram o quanto é inverídica a associação, de tão forçada que ela se mostra.

Isso mostra o quanto o sensacionalismo "mediúnico", embora atraísse muitos fãs de determinado ídolo, só reforçam a situação de desmoralização e descrédito que a prática tem no Brasil. Até pelo fato de que, num momento ou em outro, os fãs acabam reconhecendo uma fraude aqui e ali, desmascarando o suposto médium de plantão.

Com isso, Raul Seixas continua sendo muito complicado para os brasileiros. É fácil vê-lo como um místico amalucado, mas ele nunca teve a ver com isso. E Raul, embora suas músicas sejam muito tocadas nas rádios, não é devidamente entendido nem valorizado como artista, até pelo fato de que algumas de suas homenagens vêm de ídolos que Raulzito reprovaria sem hesitar.

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