O TRANSEXUAL VIVIANY BELEBONI, NA POLÊMICA ANALOGIA ENTRE A PERSEGUIÇÃO A JESUS E O SOFRIMENTO DOS INDIVÍDUOS LGBT.
A Parada Gay de São Paulo aconteceu há uma semana, mas um gesto continua refletindo pelos efeitos que provocou na sociedade ainda muito atrasada que é a do Brasil. E não se fala em aspectos meramente morais, o atraso é generalizado, sob todos os aspectos.
Do deslumbramento ao mercado musical à ideia um tanto idiota de que um sistema de ônibus melhora quando diferentes empresas de ônibus usam o mesmo visual e exibem o logotipo da prefeitura ou de um órgão estadual, passando pela paranoia de alguns direitistas que acha que o Método Paulo Freire não passa de uma "máquina de fazer comunista", o Brasil está muito atrasado.
Ficamos entre um macartismo festivo, um neoliberalismo populista, uma tecnocracia messiânica e uma sociedade do espetáculo metida a ativista. A overdose de informação, um problema questionado por intelectuais conceituados no exterior, ainda é vista com deslumbramento por gente cuja atual felicidade é brincar de "curtir" mensagens nos seus smartphones.
A questão do uso de símbolos religiosos, como a atitude do transexual Viviany Beleboni, que comparou a rejeição social à sociedade LGBT (abreviatura para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros / transexuais, em certos casos valendo também a sigla LGBTT) à condenação de Jesus de Nazaré à cruz, fez o presidente da Câmara Federal, o evangélico Eduardo Cunha, querer criminalizar o que define como "cristofobia".
A "cristofobia", segundo a chamada "bancada evangélica" do Congresso Nacional, seria o uso de símbolos religiosos associados ao Cristianismo - sob os pontos de vista evangélico e católico - de maneira supostamente ofensiva. A bancada quer que a "cristofobia" seja considerada crime hediondo, o que indica a histeria que os religiosos sentem em relação a certos dogmas.
A questão da "cristofobia" chega a ser paranoica, e demonstra o fundamentalismo religioso que começa a crescer no Brasil, além de ser um estímulo à intolerância social e ao moralismo cego, em que mesmo críticas construtivas às religiões podem se tornar seriamente criminosas. O Estado laico é ameaçado de se transformar em teocrático, nas mãos das "bancadas da fé" do Poder Legislativo.
A Parada Gay nem é uma manifestação tão arrojada, assim. Se os evangélicos brasileiros, salvo exceções, parecem ainda viver nos tempos de Joseph McCarthy (1908-1957), senador norte-americano cuja histeria anti-comunista se definiu como "macartismo", a Parada Gay ainda vive de estereótipos gays de 30 anos atrás.
Gays estereotipados, que exageram nos trajes efeminados, ou lésbicas bastante agressivas no seu topless dão o tom da manifestação, num tempo em que, nos EUA, atores como Zachary Quinto, Jim Parsons, Matt Bomer, Jodie Foster e Kelly McGillis adotam uma postura homossexual discreta e sóbria, sem espetacularizar sua opção sexual com estereótipos,
Além disso, destaca-se o oportunismo da funqueira Valesca Popozuda, já que o "funk", ritmo de pop comercial de herança brega, nunca se contentou em ser o ritmo dançante que é e forjava um tendencioso ativismo como estratégia de marketing. Como toda funqueira, Valesca trabalha um estereótipo machista de "mulher sensual" mas tenta atuar como "ativista" feminista e pró-LGBT.
A atitude de Viviany, embora tenha sido forte demais e desagradasse até mesmo cristãos considerados "moderados", foi o que havia de mais autêntico e contemporâneo na manifestação, longe do clima de micareta que são as Paradas Gay realizadas no Brasil, que expressam mais uma espetacularização da causa LGBT do que um protesto contra os moralismos sociais.
NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA, O MACHISMO ERA GAY
Sem querermos detalhar demais as questões sobre liberdade sexual e afetiva no Brasil - as pessoas poderiam, sem problema algum, escolher livremente entre ser hetero e homossexual, sem serem obrigados a ficarem num lado ou em outro - , o que muitos ignoram é que foi o Catolicismo medieval que transformou o machismo numa expressão heterossexual.
Isso não é um revisionismo histórico, porque documentos da Grécia Antiga que chegaram aos nossos dias já mostravam uma realidade de homens que tratavam as mulheres como meras reprodutoras e trabalhadoras do lar e que, no entanto, se divertiam entre si, havendo carícias e beijos labiais entre esses homens.
As mulheres não eram consideradas cidadãs e não participavam das Assembleias, reuniões em praças públicas para discutir os problemas de uma cidade, naquela época. Elas não participavam sequer dos elencos de peças teatrais, e os papéis femininos eram feitos por homens fantasiados.
O machismo era claramente homossexual, e não raro homens de meia-idade tinham relações sexuais com seus alunos ou assistentes, rapazes mais jovens que seus mestres ou tutores. E isso era abertamente permitido, algo que os registros históricos da época confirmam no acervo que temos até hoje em nosso acesso.
O Catolicismo medieval é que transformou o homem machista - a origem semântica do termo "machismo" se relaciona aos homens que manifestam preferência ao universo masculino - num heterossexual forçado, a se vincular a uma companhia sexual feminina para estabelecer não só um vínculo reprodutivo e parental, mas como uma formalidade social.
O casal heterossexual, de homem e mulher, era valorizado pelos ideais medievais como um símbolo de estrutura familiar e conjugal que o velho moralismo católico romano definia como ideal para a sociedade.
Dessa maneira, as uniões espontâneas tanto entre homens e mulheres quanto entre pessoas do mesmo sexo eram desestimuladas, diante dos casamentos por conveniências que surgiram, não apenas pela iniciativa arranjada das famílias, mas pelas regras do status quo.
Isso encontra remanescentes nos dias de hoje, quando o sistema de valores empurra o ritual de conquistas amorosas para os bares e boates, criando uma discriminação e um elitismo, uma vez que nem todos têm dinheiro para irem e voltarem de táxi toda semana e gastarem ingressos com boates, comidas e bebidas.
Há também o caso dos homens que, dotados de alguma posição de comando, do diretor de TV ao empresário, passando por médicos e advogados de prestígio, que quase sempre levam a melhor nas conquistas amorosas, valendo-se do status social que possuem, prejudicando outros homens que não conseguem encontrar possibilidades de atrair as companheiras certas.
A questão de machismo e homossexualismo, religião e ateísmo, causam discussões extremas no Brasil. E isso revela o atraso que ainda se tem no caso do machismo e do moralismo religioso, que vê "cristofobia" onde não existe.
Por outro lado, a homofobia é responsável por muitos crimes que vitimam não só homossexuais como também pais que abraçam amistosamente seus filhos. Em nome dos conceitos moralistas de "família", até heterossexuais que se abraçam como manifesto de amizade e respeito são violentados.
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