sexta-feira, 12 de junho de 2015
Agora falta alguém escrever a biografia não-autorizada de Adolfo Bezerra de Menezes
Na noite de anteontem, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela permissão das biografias não-autorizadas, por nove votos a zero. Com isso, ninguém precisa pedir autorização aos biografados ou a seus herdeiros legais para produzir livros ou outros documentos que relatem suas vidas.
A situação era bastante complicada e a polêmica foi puxada pelo cantor capixaba Roberto Carlos, um dos maiores ídolos populares que, todavia, mantém um zelo excessivo pela sua imagem privada. Mesmo fatos como o acidente que o fez amputar uma das pernas ele não autoriza buscarem explicação, sendo só ele para explicar (ou nunca fazê-lo) oficialmente.
Roberto ordenou a retirada de uma biografia não-autorizada, Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César de Araújo, depois de recusar-se a dar entrevistas ao próprio escritor. Roberto ainda esteve à frente da campanha Procure Saber (que inclui medalhões da Música Popular Brasileira) que apelava para as biografias mediante autorização prévia dos biografados ou herdeiros.
É um país em que até Doca Street e Guilherme de Pádua se tornaram conhecidos pelo zelo excessivo de imagem. E que mostra o atraso do país em muitas questões, porque a autorização prévia de biografias é um problema superado no exterior, mesmo nos EUA marcado pelo sensacionalismo midiático.
E QUANTO AO DR. BEZERRA?
O "espiritismo" brasileiro é marcado pelo combate à informação fidedigna, que até pensamos se seus líderes estivessem ou não junto ao grupo do Procure Saber, e é provável que estivessem. Além de tentar abafar informações e documentos contrários a seus interesses, a Federação "Espírita" Brasileira cria uma imagem e uma blindagem tendenciosas de seus personagens e líderes.
Ao longo da trajetória da FEB, há mistérios como a morte em 1961, por demais prematura, de Amauri Pena, sobrinho de Chico Xavier, morto cedo demais para alguém que só vivia se embriagando (27 anos, quando um alcoolista de sua situação costuma morrer dez anos mais tarde).
A tragédia, nunca esclarecida, é oficialmente atribuída à hepatite, depois de uma internação em um conceituado (?) sanatório "espírita" do interior de São Paulo, até hoje existente. Há indícios de que Amauri Pena teria sido assassinado por queima-de-arquivo, já que ele ameaçou contar os bastidores das fraudes "mediúnicas" de Chico Xavier e outros figurões da FEB e do "espiritismo" mineiro.
Autores que questionavam as irregularidades de Chico Xavier, como Attila Paes Barreto e Osório Borba foram condenados ao esquecimento e o escaneamento de jornais citando seus textos é incompleto. Attila chegou a lançar um livro, O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, mas dele é difícil encontrar algum exemplar até mesmo na Internet.
Mas o caso mais famoso de omissões de informação envolve o médico, deputado e antigo presidente da FEB, Adolfo Bezerra de Menezes. Sua biografia é dotada de dados parciais e não raro fabulosos, sendo uma abordagem adocicada que não condiz aos personagens de seu tempo, como Rui Barbosa, que com todo seu prestígio nunca foi abordado somente por suas qualidades positivas.
Bezerra de Menezes é oficialmente biografado como se fosse a versão brasileira de Papai Noel, tido como um "santo" enquanto vivo, e apesar de ser um sobrenome conhecido, ninguém consegue dar um esclarecimento sobre a relação do dr. Adolfo com o resto do clã Bezerra de Menezes e qual seu parentesco com o famoso advogado Geraldo Bezerra de Menezes, assumidamente católico.
São dúvidas que não interessa à FEB resolver. Mesmo na busca do Google, predomina a biografia adocicada do dr. Bezerra de Menezes, com informações completamente parciais. Por outro lado, há até relatos fantasiosos e surreais de Bezerra, para "compensar" a ausência de informações reais, como as supostas materializações ocorridas nos últimos anos e relatadas por Divaldo Franco.
Portanto, seria uma boa pedida alguém se esforçar para dar uma pesquisa realista sobre Adolfo Bezerra de Menezes, um trabalho que fuja do parcialismo deslumbrado da FEB e que o apresente como um homem de qualidades e defeitos, e não uma figura fabulosa e glamourizada.
É bom deixar claro, entre outras coisas, que Bezerra foi responsável por introduzir o pensamento de Jean-Baptiste Roustaing no Brasil. Só esse dado já serve como uma pauta inicial para se trabalhar uma nova biografia do médico e deputado, sem as fantasias glamourizadas que cercam sua pessoa.
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