LAR DE FREI LUIZ, NO RIO DE JANEIRO, ONDE UM "MÉDIUM" FOI ENCONTRADO MORTO.
Na manhã de ontem, um "médium" que trabalhava em supostas cirurgias espirituais para pacientes graves, Gilberto Arruda, foi encontrado morto amarrado numa cama, apresentando sinais de espancamento e um corte no braço.
Isso ocorreu no "centro espírita" Lar de Frei Luiz, localizado na Taquara, da região de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, de onde foi divulgada uma suposta mensagem atribuída ao espírito de Cássia Eller, no mês passado. Arruda iria fazer palestras para dependentes químicos.
É a segunda morte ocorrida com um "espírita" nos últimos meses. Em Niterói, um dirigente de um "centro espírita" no bairro do Barreto foi assassinado num suposto assalto. O crime ainda está sob investigação e uma das linhas averígua se o crime teria sido uma execução.
A ocorrência se deu numa semana em que um templo de sincretismo religioso em outro bairro carioca, o Humaitá (Zona Sul), o Templo Casa do Mago, foi apedrejado, e uma menina foi espancada por dois homens na Vila da Penha, depois que ela e a família saíram de um culto de candomblé.
Na mesma semana, um jovem de 21 anos invadiu uma igreja da Carolina do Sul, nos EUA, e, depois de assistir a uma missa até o fim, atirou contra os fiéis, matando nove pessoas. Alegando prfundo ódio contra os negros que "estupravam moças brancas", o jovem, depois de capturado, assumiu a autoria da chacina. Ele teria usado um revólver que recebeu do pai como presente de aniversário.
A intolerância religiosa é um dos fatos mais condenáveis da humanidade contemporânea. Infelizmente, vivemos uma crise de valores por causa das disputas de espaço de expressão e influência na qual tendências religiosas tentam, através de retrocessos, retomar os períodos que seus adeptos aprenderam nas respectivas "escrituras".
Por isso há manifestações de intolerância aqui e ali. Grupos religiosos diversos criam padrões de retrocessos temporários que os fazem eliminar quem representasse o oposto aos seus interesses. Em outras palavras, cada seita quer retroceder ao tempo e voltar, pelo menos na essência, aos tempos considerados "áureos" registrados nos seus livros "sagrados".
É por isso, por exemplo, que o Estado Islâmico realiza ataques contra sítios históricos antigos, dos quais os seguidores do grupo jihadista (combatente) identificam a origem da civilização. É uma forma de tentar destruir as fontes de transformações sociais que contrariam as crenças dos jihadistas, saudosos dos tempos "áureos" descritos nos livros "sagrados".
O CASO "ESPÍRITA"
A crise que sofre o "movimento espírita" brasileiro pode servir de um suposto gancho para atos de intolerância religiosa. No entanto, não se pode confundir as coisas, atribuindo como intolerantes as críticas que se faz aos erros, muitos gravíssimos, cometidos pelos "espíritas" ao longo dos anos.
Condenamos a intolerância religiosa sob todos os aspectos, e achamos os atos intolerantes dos mais deploráveis, para os quais deveriam ser feitas punições previstas nas leis ou, se não for o caso, que se criem mecanismos legais que as mesmas pudessem ser realizadas, dentro da legalidade constitucional.
O que se faz, aqui neste blogue, são as críticas dos desvios que o "espiritismo" brasileiro faz, já que a doutrina em nenhum momento cumpre com rigor os ensinamentos de Allan Kardec. Perdido, desde o século XIX, num religiosismo retrógrado, baseado nos fundamentos do Catolicismo português, por sua vez baseado em dogmas da Idade Média, o "espiritismo" decai pelos próprios erros.
Há como discernir os erros do Catolicismo propriamente dito ou de seitas evangélicas, porque eles já nascem com um sistema de valores fantasioso, com o atenuante de que não se comprometem à se apropriar da Ciência e nem posarem de vanguardas espiritualistas. Se querem supremacia, não posam de "movimentos modernos", antes fossem movimentos de resgate de tradições conservadoras.
Já o "espiritismo" está relacionado a dois erros que o macularam: a tentativa de adaptar, para si, os dogmas e ritos católicos (mesmo a "água fluidificada" e o "auxílio fraterno" correspondem, respectivamente, à "água benta" e ao "confessionário" católicos), e o desconhecimento da Ciência Espírita que fez das atividades mediúnicas algo improvisado, para não dizer fraudulento.
Aqui quase nunca se estudou as práticas e fenômenos do Magnetismo de Franz Anton Mesmer, da mesma forma que a mediunidade foi feita ignorando os cuidados e recomendações do Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
Pelo contrário, a quase totalidade dos supostos médiuns têm ação mais limitada do que se pensa, e isso inclui os "renomados" Chico Xavier e Divaldo Franco. A falha consiste, sobretudo, da falta de concentração que permita exercer um verdadeiro contato com os espíritos, o que faz com que a mediunidade seja substituída pelo "jeitinho".
Assim, para o caso do suposto médium que não consegue um contato espiritual, existe a manobra de recolher informações biográficas dos falecidos e construir um texto, da mente do próprio "médium", em que um mesmo roteiro é narrado: a dor da morte repentina, a ida para ambientes sombrios, o socorro em uma colônia espiritual e o apelo religioso no final.
Isso funciona para compensar a mediunidade que não funcionou pelo apelo emotivo da religiosidade. E é isso que movimentou a popularidade do "espiritismo" brasileiro, garantindo a proteção da grande mídia, mas estabeleceu um preço muito caro para a credibilidade da doutrina brasileira.
Afinal, as irregularidades acabam vazando e, diferente dos erros de católicos e evangélicos, que se limitam apenas a formas surreais de compreensão, o "espiritismo" brasileiro adota deturpações piores sob a pretensão de abraçar a ciência, se autoproclamar intelectualizada e se autodefinir na vanguarda espiritualista.
Enquanto palestras em "centros espíritas" perdem tempo com temas que não vão muito além de um reles moralismo familiar, desconhece-se a prática espírita, tudo é feito na base do improviso e da especulação.
O que se critica dos "espíritas" é o distanciamento feito à doutrina de Allan Kardec, já que o "espiritismo" brasileiro está a anos-luz aquém do pensamento do professor lionês. As críticas enérgicas e a crise vivida no "movimento espírita", no entanto, nem de longe representam intolerância religiosa.
CRITICAR SEVERAMENTE NÃO É INTOLERÂNCIA
Se, por exemplo, reclamamos da obsessão das pessoas por Chico Xavier, é que esse endeusamento é completamente fora de lógica, até porque o anti-médium era católico fervoroso e ideologicamente ultraconservador, nada tendo a ver com o "discípulo de Kardec" e o "ativista progressista" que se atribuem a ele, junto a qualidades surreais como "filósofo", "cientista", "profeta" e tudo o mais.
Uma das críticas, por exemplo, se refere à glamourização do sofrimento de muitas mensagens do anti-médium. Afinal, que benefício traz acreditar que o sofrimento é lindo e que tenhamos que acreditar que tudo deve dar errado em nossas vidas em troca de umas "bênçãos futuras" que não temos a menor ideia do que se tratam?
Criticar severamente isso não é intolerância. Pelo contrário, talvez tivéssemos maior aceitação a essa doutrina se ela assumisse a herança de Jean-Baptiste Roustaing, presente nas obras de Chico Xavier e mesmo de Divaldo Franco, e, em vez de Espiritismo, a doutrina fosse denominada Chiquismo e se definisse como um neo-catolicismo astral e espiritualista.
O que provoca as críticas mais enérgicas é toda uma série de mistificações e moralismos que descarateriza o "espiritismo" como adaptação brasileira da doutrina de Kardec, feitas abertamente enquanto seus líderes tentam justificá-las usando Erasto, Deolindo Amorim, Herculano Pires e o próprio Kardec, que nunca aprovariam tais práticas.
Ser kardeciano na teoria e roustanguista na prática é o mal maior do "movimento espírita", presente em suas práticas diversas. E é isso que provoca a crise da doutrina e motiva as críticas mais enérgicas. Isso não é intolerância, mas uma reivindicação de coerência e autocrítica.
Se um "espírita" é vítima da violência, o criminoso que o eliminou deve responder pelas consequências e enquadrado pela punição prevista em lei. Se houve intolerância religiosa, é da parte de outras seitas, já que o que se faz aqui contra o "espiritismo" é apenas a crítica severa contra os graves erros e contradições feitos no âmbito desta doutrina.
Nossa intolerância é contra a mentira, a mistificação, o moralismo severo, o propagandismo religioso, é contra todos os desvios que fazem o "espiritismo", que se julga "tão perto" (na teoria) de Allan Kardec, ficar tão longe (na prática) de seus ensinamentos originais.
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