quinta-feira, 25 de junho de 2015
Por que o "espiritismo" brasileiro se deixou falir?
Muitos ainda perguntam se a crise vivida pelo "espiritismo" brasileiro não seria "injusta" e alvo de uma campanha "difamatória" e "caluniosa" que aproveita denúncias de erros e fraudes cometidos para tentar derrubar a doutrina.
Há um novo surto de pavor diante do risco de mais uma séria crise, comparável com a de 1944, quando Chico Xavier tornou-se réu no caso Humberto de Campos, ou de 1974, auge da crise da corrente roustanguista, que fez o "espiritismo" brasileiro, pela primeira vez, jogar Jean-Baptiste Roustaing para debaixo do tapete e fingir lealdade absoluta a Allan Kardec.
Os "espíritas", em seus "centros", falam no que entendem como "maledicência" e campanha de "intolerância religiosa", e de "perseguição e desmoralização" de pessoas que "só agem pelo bem". Tentam, assim, usar o coitadismo para que se mantenha intato seu sistema de valores ao mesmo tempo conservador e desonesto.
O problema é que os "espíritas" se deixaram falir, porque sua intenção em tentar agradar a Igreja Católica adaptando "livremente" seus dogmas, ritos e ideias, e sua preguiça em estudar a fundo a Ciência Espírita, são os dois fatores cruciais de uma decadência que chegou a ser evitada algumas vezes, mas hoje parece ser bem mais difícil.
Isso se deve ao fato de que a realidade acaba cobrando o preço de certas posturas. O desprezo a Allan Kardec, tão surdo e convicto, embora nunca devidamente assumido, custou as críticas que o "movimento espírita" recebe, da contradição entre a tão alardeada "fidelidade a Kardec" e as perniciosas traições feitas à sua linha de pensamento.
Diferente de outros episódios, como a incompreensão de juízes com o caso Chico Xavier versus Humberto de Campos, ou a complacência de espíritas autênticos com o anti-médium mineiro e o anti-médium baiano Divaldo Franco, para não interferir em relações de amizade (mesmo dentro do espírito "amigos, amigos, negócios à parte"), a situação de hoje deixa os "espíritas" sem controle.
Afinal, há 40 anos atrás ainda havia a amizade entre espíritas autênticos como José Herculano Pires, Gélio Lacerda, Deolindo Amorim e outros com Chico e Divaldo, que evitaram que houvesse um racha violento entre espíritas autênticos e os espíritas-católicos.
Sem apoiar os erros que os anti-médiuns haviam cometido, os espíritas autênticos limitaram-se a fazer com que o "movimento espírita" arranjasse, na época, uma posição intermediária entre o roustanguismo ideológico e o kardecismo formal, o que parecia, em primeiro momento, criar um equilíbrio entre "científicos" e "místicos", algo que, depois, não ocorreu.
O que se fez foi abafar as polêmicas e criar um "espiritismo" que mais "faz dizer" do que realmente faz. Uma doutrina pouco comprometida com a qualidade de vida, e que no fundo apenas reduzia ou acentuava o roustanguismo, sem eliminá-lo por completo, se resultou depois de tantas polêmicas.
Isso porque, para todo caso, há a obra de Chico Xavier para "compensar" o desgaste público da figura de Jean-Baptiste Roustaing, pois Chico adaptou e "eliminou a acidez" do legado de Os Quatro Evangelhos, "humanizando" o Jesus fluídico sem que, todavia, chegasse ao Jesus histórico, e substituindo a reencarnação humana em vermes com o mito dos "animais domésticos do além".
A cúpula da Federação "Espírita" Brasileira ainda mantém a proposta roustanguista, mas fora dela o que se vê é um "espiritismo" louco, que mantém a essência de Roustaing sem evocar seu nome (visto como um "palavrão" nos meios "espíritas" que entram em contato com o público), e evoca o nome de Kardec sem a correta compreensão e assimilação de seu pensamento.
E aí acumulam-se, graças à Internet, os escândalos anteriores que hoje são divulgados em rede mundial de computadores, ao lado de incidentes mais recentes. O "espiritismo", acusado ainda de estimular o moralismo mais retrógrado e se sustentar num contexto em que a mediocridade sócio-cultural e a "religiosização" das coisas é favorecida, não consegue responder aos desafios recentes da sociedade brasileira.
Daí a dificuldade de se continuar na mesma. E o desgaste do "espiritismo" brasileiro se aprofunda diante de tantos impasses que acontecem e de um cenário relativamente amadurecido de transmissão de informações, ainda deficitário em muitos aspectos, mas já propício a muitos esclarecimentos que desqualificam as mitificações e outros erros dos "espíritas".
Por isso a situação torna-se fora do controle, mesmo quando há tentativas de reabilitar o mito de Chico Xavier nas mídias sociais, pois mesmo suas dóceis palavras não são mais do que pregações do mais retrógrado moralismo, que quase sempre destoam da doutrina de Allan Kardec. Quase tudo no "espiritismo" brasileiro tornou-se criticável. E é isso que apavora os "espíritas" hoje.
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