domingo, 29 de dezembro de 2013

Escritor se autopromove usurpando o prestígio de Raul Seixas

NELSON MORAES E OS LIVROS FALSAMENTE ATRIBUÍDOS AO ESPÍRITO DE RAUL SEIXAS.

Pior do que ser ignorado em vida, é ser usurpado e explorado depois da morte. Pois o roqueiro Raul Seixas, ignorado pelo mercado, mal visto pela sociedade, depois que faleceu em 21 de agosto de 1989, com apenas 44 anos, passou a ser bajulado e usurpado de maneira mais leviana do que o desprezo que sofreu em vida.

Se, aqui na Terra, Raulzito sofreu a bajulação barata e oportunista de nomes como os breganejos Chitãozinho & Xororó - que tiveram a covardia de dizer que "Tente Outra Vez", canção do baiano, inspirou a carreira dos dois canastrões musicais - e os ídolos da axé-music, que quase fizeram um tributo ao cantor (barrado judicialmente pela viúva Kika Seixas), não é diferente no Espiritolicismo.

Pois houve um caso de um suposto médium que se aproveitou do prestígio do roqueiro baiano para lançar, ao menos, dois livros supostamente atribuídos a Raulzito, usando o codinome Zílio. O "médium" em questão é o paulista Nelson Moraes, radialista, empresário editorial e terapeuta.

Ele havia lançado um livro intitulado Um Roqueiro no Além, em que o suposto Zílio narra sua suposta experiência no mundo espiritual. Nos moldes feitos pelo livro Nosso Lar pelo fictício André Luiz, "Zílio" era um roqueiro que faleceu prematuramente por causa das drogas e passou muito tempo preso ao seu túmulo.

"Zílio", tempos depois, teria sido assistido por amigos espirituais e, a partir disso, inicia sua recuperação moral, dentro das perspectivas espiritólicas de reajustes moralistas do passado através do caminho da fé mística e da conformação com os "desígnios da vida".

Com o sucesso do livro, através do chamariz do uso (indevido) do nome de Raul Seixas - "protegido" pelo pseudônimo de Zílio, escapatória para possíveis ações judiciais, a exemplo do Irmão X para Humberto de Campos, usado por Chico Xavier - , outra publicação oportunista veio à tona, Há Dez Mil Anos.

O livro até copia o título do embuste Há Dois Mil Anos, a psicografia de Chico Xavier em que Emmanuel diz ter sido um senador romano que governava a Judeia sem saber das regras de casta política do Império Romano, nem parte dos lugares e prédios de sua área e não entendia sequer de latim.

Há Dez Mil Anos, por sua vez, é uma espécie de "relato pormenorizado" de Zílio quando (supostamente) era o roqueiro Raul Seixas, num relato bastante místico, moralista e por demais religioso que destoa bastante da personalidade cética que o músico baiano teve nos seus últimos anos de vida.

A linguagem é por demais piegas, e através de Zílio é construída uma imagem quase debiloide de Raul Seixas, um "simpático esotérico" com um quê de ingênuo, pregando um moralismo religioso numa linguagem extremamente dócil e conformista.

Evidentemente a "façanha" causou uma certa controvérsia. Mas Nelson, evitando ser surpreendido por alguma ação judicial, deixou de atribuir Zílio ao espírito de Raul Seixas, e Um Roqueiro no Além foi relançado com o desenho de um rapaz qualquer com uma guitarra elétrica.

Nelson preferiu apenas difundir sua fantasia para seus pares. Ele mesmo é dono da editora Aulus, que publica os referidos livros. Para seu público, ele difunde supostas mensagens de Raulzito, com a linguagem piegas e pueril que o músico baiano não teve no final da vida. E cabe explicarmos isso em outra oportunidade.

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