quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Roustaing queria reduzir Jesus a uma farsa "fluídica"


Um dos pioneiros da deturpação ideológica do Espiritismo, e um dos "patronos" da Federação "Espírita" Brasileira, o advogado francês Jean-Baptiste Roustaing, havia lançado uma tese absurda sobre Jesus no tendencioso livro Os Quatro Evangelhos, editado até hoje pela FEB.

Segundo Roustaing (e defendido pelas outras religiões e crenças), Jesus teria sido o único homem a passar por uma evolução em "linha reta", ou seja, sem passar pelo processo evolutivo natural. Mas isso é fichinha diante do que o mesmo Roustaing, tido como "mais moderno" que Allan Kardec, teve a coragem de fazer com Jesus.

Este não teria vivido, segundo os delírios de Roustaing, na sua forma material de homem que se alimenta, sente suor e frio, se emociona e sente dor. Jesus teria sido tão somente um "corpo fluídico", um "fantasma" que apareceu para as pessoas fingindo ser um humano.

Levando em conta a tese de "corpo fluídico", Roustaing quis transformar Jesus numa ilusão, numa farsa, já que, como um "fantasma", Jesus não teria sequer sofrido as dores que sofreu, principalmente quando fez sua trágica caminhada carregando uma cruz.

A tese é tão surreal, mesmo para quem segue o Espiritolicismo, que causou violenta polêmica entre os chamados líderes espíritas, sejam eles autênticos ou não. Isso gerou divergências internas dentro da FEB, mas também gerou questionamentos firmes de verdadeiros espíritas como Angeli Torteroli, que achavam um absurdo a tese do "Jesus fluídico".

Com isso, a figura de Jean-Baptiste Roustaing passou a ser pivô de um escândalo que chegou perto de abalar as estruturas do poder espiritólico. A FEB, sem deixar rigorosamente de lado a figura de Roustaing, que na prática sempre teve preferência em relação a Allan Kardec, o advogado francês de Os Quatro Evangelhos teve que ser reservado ao forçado esquecimento.

Com isso, a distorção que a FEB fazia do Espiritismo teve que buscar novas estratégias. Allan Kardec havia ganhado traduções "catolicizadas" de Guillon Ribeiro, enquanto, com o passar dos anos, a sorte fez a FEB apostar num novo diluidor, o médium católico Chico Xavier.

Assim, a FEB tirava os anéis roustanguianos para preservar seus dedos espiritólicos. Roustaing não passou a ser repudiado, e continua sendo lançado pela editora da federação até hoje. Mas seu nome deixou de ter o destaque que havia, tamanha a repercussão negativa que passou a ter pelo chamado "movimento espírita".

Roustaing passou a se tornar incômodo com as teses de que Jesus não passou de um espectro fluídico e que os seres humanos poderiam reencarnar até como amebas. Daí a decisão dos dirigentes da FEB, a contragosto, de deixar o advogado de Bordeaux de lado.

Com isso, a deturpação do Espiritismo teve que ir para outros caminhos. Enquanto se atribuía a culpa da "catolicização" da Doutrina Espírita ao próprio Kardec - através da tradução distorcida de Guillon Ribeiro - , trabalhava-se o mito de Xavier assim que ele se ascendeu como "fenômeno de mediunidade".

Infelizmente, houve um jeito para dar sequência às distorções lançadas por Roustaing, deixando ele no discreto catálogo da FEB, e abrindo mão de humanos virando lesmas e do Jesus fantasma. Mas o Espiritismo não deixou de sucumbir a outros delírios e a uma mediunidade bagunçada e sujeita a muitas fraudes, fora aquelas que nem mediunidade de fato eram.

Desta forma, Roustaing foi como o moleque mais atrevido que atirou uma pedra no vidro da janela da casa de Allan Kardec. Sendo o mais encrenqueiro e inclinado a histórias cabeludas, Roustaing sumiu e ficou em casa, enquanto Kardec levava a culpa da traquinagem, até que Chico Xavier viesse para cumprir o essencial da missão deturpatória de Roustaing.

E assim a Doutrina Espírita feita no Brasil se reduziu a uma bagunça doutrinária que convém ser investigada e questionada pelos espíritas sérios.

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