domingo, 17 de agosto de 2014

Suposta materialização de Emmanuel comprova fraudes e encerra processo

MAQUETE ILUMINADA NA QUAL SE INSERE, POR COLAGEM OU PROJEÇÃO, O FAMOSO DESENHO DO ROSTO DE EMMANUEL.

Em 1954, observou-se um outro caso de suposta materialização que não mostrou, por si só, pelo menos com base no que aparece na foto, pessoas com pijamas, travesseiros ou bonecos de pano com fotos de rostos colados.

O que se vê na imagem acima é algo que parece ser um efeito de luz neon, que já era disponível naqueles tempos até para botecos, e observa-se que as vestes de suposto senador romano são desenhadas também para que seus traços se assemelhem ao do Cristo Redentor, a estátua que homenageia Jesus e é um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro, então capital federal.

Ela é atribuída ao suposto mentor - na verdade, obsessor - de Francisco Cândido Xavier, o jesuíta Emmanuel, que nos relatos oficiais teria feito uma aparição especial em Belo Horizonte, para o viúvo da jovem Irma de Castro, a Meimei, tida como "protegida" e "assistente espiritual" de Chico Xavier.

A insólita aparição teria deslumbrado Arnaldo Rocha, o viúvo de Meimei, que passou a nutrir uma simpatia por Chico e a aderir ao Espiritolicismo de maneira devota, o que não era difícil, devido às bases católicas com que se construiu o "espiritismo" brasileiro. Arnaldo dá declarações contraditórias sobre o ocorrido, dando informações diferentes sobre a estatura do suposto espírito:

"A materialização de Emmanuel foi magnífica! Emmanuel é um belíssimo tipo de homem. Atlético, alto, provavelmente 1 metro e 90 centímetros de altura. Sua voz clara, forte, baritonada, suave mas enérgica, impressionou-nos muito. O andar e os gestos elegantes, simples, porém aristocráticos. No grande e largo tórax um luzeiro multicolorido. Na mão direita, erguida, trazia uma tocha luminescente e sua presença sempre irradiava paz, harmonia, beleza e felicidade". 
(Chico Xavier - Mandato de Amor)

"Não posso deixar de mencionar as materializações de Nina Ameira, de Meimei, de minha mãe, e a fantástica materialização de Emmanuel, de cujo episódio, aliás, gosto de citar um aspecto científico da manifestação espiritual: como todo mundo sabe, o Chico era um homem baixo, mas, no momento do transe, uma luz começou a projetar um vulto luminoso de um homem de mais ou menos uns um metro e oitenta centímetros de altura, de compleição atlética, bonito, com voz enérgica e doce ao mesmo tempo, a portar uma tocha incandescente na mão".
(Carlos Alberto Braga Costa - Chico, Diálogos e Recordações)

Curiosamente, porém, a suposta aparição de Emmanuel, através de uma aparente voz a um só tempo dócil e enérgica, teria sido a última desse processo, pelo menos da série contemplada por Chico Xavier, uma vez que outras fraudes similares teriam sido feitas, em 1964 (como a que envolveu foto de John Kennedy), 1973 e 1979 (esta usando imagem do então recém-falecido Herculano Pires).

O suposto Emmanuel materializado teria recomendado a Chico Xavier não promover mais as reuniões de "materialização", solicitando para que se encerrasse o processo. Ele teria dito isso com as seguintes palavras:

"Eu não quero! Eu não quero que o Chico sirva de médium de materialização. A sua missão é a missão do Livro! Não é médium com tarefas de efeitos físicos… Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física. Mas o livro é chuva que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a suspensão destas reuniões a partir desse momento".

Por que será que veio a ordem de encerrar as sessões? Será um medo de que controvérsias desqualificassem os processos? Naquela época, já havia polêmicas suficientes em torno de Chico Xavier, diante dos herdeiros de Humberto de Campos e dos estudiosos literários que viam grandes fraudes nos livros Parnaso de Além-Túmulo e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

As supostas materializações já seriam uma forma de sensacionalismo e isso comprometeria a reputação de Chico Xavier, já um astro do "espiritismo" da FEB. Sem falar que as falsas materializações são tão grotescas que o "pedido" teria sido feito para prevenir novos escândalos.

Entendemos que Emmanuel se manifesta pessoalmente para Chico Xavier, na sua intimidade. Todavia, sua aparição teria sido falsa, uma vez que alguns aspectos contradizem a sua aparente materialização na forma de um senador romano.

Primeiro, porque o suposto Públio Lentulus que Emmanuel diz ter sido nunca existiu. Havia apenas homônimos de Públio no tempo do Império Romano, nenhum deles relacionado ao suposto senador, personagem baseado num documento apócrifo da Idade Média que, pasmem vocês, nem os católicos medievais lhe davam credibilidade.

Emmanuel também demonstrou, no livro Há 2000 Anos, uma porção de erros e omissões históricas, além de aberrantes erros de abordagem sociológica e desconhecimento da geopolítica da Judeia e de normas específicas de castas familiares adotadas pelas aristocracias romanas.

Segundo, porque a materialização "luminosa" que apareceu foi provavelmente um efeito de neon sobre um boneco construído e com a imagem do desenho do rosto de Emmanuel nele colada ou projetada, talvez um "ponto culminante" para que os envolvidos na fraude tenham que encerrá-la antes que eles tenham que ser convidados a explicar tudo nos tribunais.

Alguém certamente fez um falsete para a encenação "comovente". O boneco recebeu efeitos de iluminação em tons azuis e brancas, como se observa em foto colorizada que aparece na Internet (aqui mostramos a foto publicada originalmente, em preto e branco) e aí apareceu a imagem do rosto de Emmanuel, enquanto uma voz em off se passava por ele.

Parece algo proposital. A brincadeira da FEB que aconteceu há tempos, antes do mito de Chico Xavier, teve que ser encerrada, pelo menos a que contou com a participação do anti-médium. Possivelmente a voz em off representou Emmanuel e traduziu o conselho que o espírito teria dado a Chico na intimidade, mas lançado a público para impressionar os presentes.

Tudo isso foi feito para evitar que a farsa, levada adiante, possa oferecer munição para investigações sérias, sobretudo científicas, que desmascarassem o processo e comprometessem a ascensão de Chico Xavier.

Ele preferiu se concentrar nos livros, que já têm seus problemas, mas sem a "materialização" as coisas se complicariam menos para ele. Se bem que Chico ainda se envolveria em outra "travessura", anos depois.

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