sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Amauri Pena, sobrinho de Chico Xavier, denunciou o próprio tio

LUÍS DE CAMÕES TERIA SIDO USADO EM SUPOSTA PSICOGRAFIA DO SOBRINHO DE CHICO XAVIER.

Um dos escândalos que aconteceram por volta de 1958 e que tornaram-se um dos principais pontos sombrios da biografia de Chico Xavier são as denúncias feitas por Amauri Pena, seu sobrinho, aparentemente falecido depois de se envolver com alcoolismo, com 28 anos incompletos, em 1961.

Não existem, na Internet, fotos de Amauri Xavier Pena, e os dados do Wikipedia não incluem o ano de seu óbito, nem sua data, 26 de julho. E ele, por uma mera coincidência, a exemplo da dupla David Nasser e Jean Manzon, dos herdeiros de Humberto de Campos e dos católicos radicais, fez parte de uma galeria de "problemáticos" que desafiou o mito de Chico Xavier, na época.

Desses "problemáticos", falaremos noutra oportunidade. O que enfocamos aqui é o caso do sobrinho de Chico Xavier, que havia denunciado a suposta mediunidade do próprio tio como farsa. Se levarmos em conta esse caso, poderemos inferir que a mediunidade de Chico era muito menos atuante, se limitando aos contatos com Emmanuel e não se expandindo no ramo literário.

Amauri nasceu na mesma cidade de Chico, a mineira Pedro Leopoldo, filho da irmã mais velha do anti-médium, Maria Xavier. Mais tarde, sua família se mudou para Sabará, cidade da Grande Belo Horizonte e antigo núcleo de origem da capital mineira.

Já aos 13 anos, Amauri se interessava por poesia e escrevia versos. Recebeu o interesse de um "líder espírita" de Sabará, Rubens Costa Romanelli, que depois o levou ao "centro". O pai de Amauri viu no Espiritolicismo a chance de obter prosperidade social, e mais tarde Amauri teria sido envolvido em uma atividade supostamente psicográfica.

Trata-se de um livro que permanece inédito até hoje, com um título estranho, Os Cruzíladas, uma epopeia supostamente atribuída a Luís de Camões e que seguia o mesmo padrão de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho na narrativa dita "espírita" da expedição marítima de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.

Tudo indica que o livro de Chico Xavier, lançado quando Amauri era criança, teria servido de inspiração para a produção do suposto livro. O jovem, no entanto, parecia angustiado, dando a crer que o trabalho era encomendado e, ainda na adolescência, teria sofrido de depressão e depois sucumbido ao alcoolismo.

Havia indícios de que Amauri era pressionado pelos chefes "espíritas" locais a seguir os passos de seu tio famoso, para o qual era tido como sucessor. E tais pressões o angustiavam, a ponto de, certa vez, o jovem recorrer à redação do Diário de Minas para fazer sua denúncia.

"Tudo o que tenho psicografado até hoje, apesar das diferenças de estilo, foi criado por minha própria imaginação, sem que precisasse de interferência de almas de outro mundo. Depois de ter-me submetido a esse papel mistificador, durante anos, usando apenas conhecimentos literários, resolvi, por uma questão de consciência, contar toda a verdade", disse o rapaz.

Ele demonstrava indignação quanto à fama de suposto médium. "Sempre encontrei muita facilidade em imitar estilos. Por isso os espíritas diziam que tudo quanto saía do meu lápis eram mensagens ditadas pelos espíritos desencarnados. Revoltava-me contra essas afirmativas, porque nada ouvia e sentia de estranho, quando escrevia. Os espíritas, entretanto, procuravam convencer-me de que era médium".

Os "espíritas" locais queriam que Amauri assumisse as atividades "mediúnicas" e faziam pressões para que ele estivesse vinculado ao "centro espírita" local e iniciasse carreira com os supostos dons que marcaram a fama e o prestígio de seu tio.

FRAUDES

Amauri chegava mesmo a fugir de casa para não se envolver com os "espíritas" que alegravam seu pai. Quanto ao tio, ele até demonstrava afeição e respeito na condição familiar, mas no caso da mediunidade Amauri o denunciou como fraudador. Consta-se que Amauri teria em parte colaborado para a sexta edição de Parnaso de Além-Túmulo, de 1955, a considerada "definitiva".

Amauri teria sido consultado, segundo algumas fontes, para o acréscimo de poemas para a edição do livro poético, e o próprio jovem afirmava que tinha consigo uma obra idêntica, para a qual não teve qualquer contato com espíritos para fazer tal elaboração, se servindo tão somente de sua imaginação de imitar estilos.

Evidentemente, não foi somente ele quem contribuiu para os pastiches e plágios identificados no livro, até porque a publicação é anterior a seu nascimento e foi reeditada no decorrer da infância do jovem. Parnaso de Além-Túmulo teria sido escrito por Chico Xavier, não de forma psicográfica e, além disso, com a colaboração de dirigentes e de uma equipe editorial da FEB.

Amauri, no entanto, estava suficientemente crescido para colaborar com a edição "definitiva", somando-se aos envolvidos na manipulação do livro, que nada têm de mediúnico uma vez que apresenta sérias irregularidades de expressão poética que revelam uma queda de qualidade em relação ao que os autores atribuídos a essas obras faziam quando eram vivos.

A denúncia de Amauri causou um sério escândalo, mas como ele era "problemático" - bebia muito - , ele foi facilmente desqualificado pelos chefões da FEB. Seu obituário envolve informações nebulosas como internação em um sanatório "espírita" (?!) intitulado "Bezerra de Menezes" e um suposto atropelamento que tirou sua vida ainda na flor da idade.

Nem mesmo o filme Chico Xavier menciona o caso, mas apenas de forma vaga. Mas foi divulgado depois que Amauri morreu supostamente de hepatite aguda e que a FEB teve que ter jogo de cintura para abafar o caso. Por sorte, pouco depois o amigo Divaldo Franco "apunhalaria" Chico pelas costas com um plágio que teria o anti-médium mineiro como vítima. Mui amigos...

Este foi mais um caso que foi trabalhado para favorecer o mito de Chico Xavier. Desqualificou-se uma denúncia séria porque o denunciante era "bebum". Tal como o empate judicial deixado pelo caso Humberto de Campos, Chico "comeu pelas beiradas" e capitalizou as situações para se tornar um mito que hoje é cortejado até mesmo por internautas que reproduzem suas frases nas mídias sociais.

Enquanto isso, de Amauri não existem sequer fotos. O jovem tornou-se esquecido e tido como "traidor de Chico" e desprezado só porque "falhou". O fato de que, apesar do pedido de desculpas, não haver informação sobre um suposto arrependimento do jovem também o fez ficar em situação bastante negativa nos meios espiritólicos.

Mas foi a própria influência da pressão espiritólica, e do seu pouco caso de preveni-lo dos maus caminhos, que fez o jovem sucumbir ao álcool. A "doutrina de amor e luz" não ajuda as pessoas a prevenir seus erros.

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